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Notas econômicas: 23 a 27 de novembro de 2020

Fim da contribuição sindical é um posso importante para a modernização da economia Foto: Camila Domingues/ Palácio Piratini
Passado o período eleitoral, a equipe econômica espera uma melhoria no funcionamento da economia, inclusive com geração de empregos.

Acontecimentos que marcaram o noticiário político e econômico da semana

O que vem por aí: incertezas contaminam o cenário futuro

A Cúpula de Líderes da COP26, em Glasgow, não eliminou o cenário de incertezas sobre a questão ambiental. A brasileira, Txai Suruí reivindicou a herança de seus antepassados

A Cúpula de Líderes da COP26, em Glasgow, não eliminou o cenário de incertezas sobre a questão ambiental. Fpto: A brasileira, Txai Suruí reivindicou a herança de seus antepassados
Foto: Fotos Públicas – fotospublicas.com

Calor excessivo e chuvas intensas atestam mudanças no comportamento do clima

“Nós temos ferramentas para avaliar como o clima tem evoluído e tudo indica que os relatórios do IPCC estão certos em apontar que ele tem mudado”, avalia Côrtes

Notas de Conjuntura: 22 de setembro de 2024

A decadência da política tradicional, com violência e ausência de debates de qualidade, é destaque nas Notas de Conjuntura.

Notas econômicas: 2 a 6 de agosto de 2021

Coleta de informações semanais feita pelo Economista Paulo Roberto Bretas

Com queda das médias móveis de internações e mortes, o Brasil retoma atividades, mas sem que o clima de insatisfações e dúvidas seja eliminado. Em diferentes regiões do País, professores protestam contra o retorno das aulas presenciais, sem que as medidas de segurança tenham sido adotadas. O medo é justificável. Novas cepas do Covid-19, como a Delta e Gama, causam preocupações, por conta da agressividade e do poder de expansão. Ainda mais em ambientes sem proteção. Na política, o ambiente segue tenso. As regras perdem relevância. Rejeitada pela comissão especial da Câmara dos Deputados, proposta do voto impresso será analisada no plenário. Mesmo desgastado, o governo mostra que as negociações com o “Centrão” geram favoráveis para os seus planos. As privatizações avançam, sem um amplo debate com a sociedade.

Foto  Alexandre Linares / Sindsep 

Economia e Finanças

Taxa Selic: O Copom elevou a taxa básica de juros de 4,25% para 5,25% ao ano. Esse é o maior patamar desde setembro de 2019, quando estava em 5,5%. A alta de 1 ponto percentual da Selic era esperada pelo mercado financeiro, apesar de o comitê ter indicado que elevaria os juros em 0,75 ponto porcentual na reunião anterior, realizada em 15 e 16 de junho. (Poder 360)
Capacidade Instalada da Indústria: A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) subiu para 82,9% em junho e se encontra no maior patamar desde 2013. São dois meses consecutivos de alta e quatro meses de UCI acima de 80%, diz a CNI, destacando que a “UCI segue elevada, refletindo o aquecimento da indústria”. O indicador está 9,1 pontos percentuais acima do registrado em junho de 2020. (Valor)

Faturamento Real da Indústria: O faturamento real da indústria caiu 0,9% em junho, na comparação com o mês anterior, considerando dados dessazonalizados. Enquanto isso, as horas trabalhadas na produção subiram 0,3% na mesma base de comparação, interrompendo a sequência de quedas observada desde fevereiro. Os indicadores foram divulgados dia 02-08-2021 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). (Valor)

Papelão Ondulado: A expedição de papelão ondulado, usado na fabricação de embalagens, teve em junho o melhor mês, inclusive superando o volume de junho de 2018, quando houve a recomposição dos despachos após a paralisação dos serviços de transporte de cargas em maio daquele ano, informou a Associação Brasileira de Embalagens Em Papel (Empapel). Foram expedidas 329.757 toneladas de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado. Foi também a 12ª vez consecutiva em que o crescimento interanual do volume expedido é recorde (Valor)

Juros no Brasil: A taxa de juros no Brasil é mais elevada do que no resto do mundo. Os Estados Unidos e o Japão têm dívidas na faixa de 100% a 150% do PIB, mas a taxa de juros nesses países é zero. Aqui no Brasil a taxa chegou a 5,25%. A expectativa do mercado é que a taxa continuará subindo até chegar próxima a 7% este ano. (Valor)
Ataque às Criptomoedas: O presidente da Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA), Gary Gensler, disse que os investidores precisam de mais proteção no mercado de criptomoedas, que está “repleto de fraudes, golpes e abusos”, segundo ele. (Valor)

Open Banking: O Open Banking, previsto para o mês que vem, tem o potencial de aumentar a concorrência e turbinar o volume de crédito no país. Cálculos do mercado apontam para um crescimento de 30% no volume de empréstimos e financiamentos concedidos. Mas, ao contrário do PIX, os avanços serão graduais, ao longo de dois, três anos. Com essa abertura, qualquer banco poderá ter o histórico do cliente, o que permitiria uma oferta maior de crédito para a população (Estadão) (Meio)

Spread Bancário: A margem cobrada pelos bancos no crédito caiu ao menor nível em oito anos. O spread bancário médio, diferença entre a taxa praticada pelas instituições financeiras nas concessões de empréstimos e a taxa de captação de recursos, ficou em 14,5 pontos percentuais. No entanto, segundo economistas, o ciclo de alta da Selic e o fim das linhas de crédito emergenciais criadas durante a pandemia devem pressionar o spread novamente para cima. (Valor Investe) (Meio)

Indústria Parada: Pressionada por alta de custos, falta de insumos e demanda fraca, a indústria pisou no freio e ficou estagnada em junho. Analistas ainda veem espaço para crescimento da produção no segundo semestre, mas o dinamismo deverá ser menor num cenário que conta ainda com inflação e desemprego elevados. (Valor)

Desemprego Seguirá em Alta: Apesar da perspectiva de melhora em população ocupada no mercado de trabalho nos próximos meses, a taxa de desemprego deve se manter alta no segundo semestre. Esse é o entendimento de Rodolpho Tobler, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao comentar a alta de 1,6 ponto, a quarta consecutiva, no Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) de junho a julho, para 89,2 pontos, anunciada hoje pela fundação. (Valor)

Previsões do Morgan Stanley 1: O Banco Morgan Stanley revisou sua previsão de crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB) brasileiro neste ano de 4,2% para 5,5% e diz ver “o ímpeto continuando em 2022”, ainda que tenha ajustado a projeção de 2,7% para 2,5%. A mediana do boletim Focus aponta para altas de 5,3% em 2021 e 2,1% em 2022. (Valor)

Previsões do Morgan Stanley 2: O Morgan Stanley revisou sua projeção para a inflação cheia de 2021 de 6,2% para 6,9%, “devido a outro aumento nas tarifas de energia elétrica, impacto negativo sobre a inflação de alimentos do mau tempo no Sul do Brasil, bem como aumento da inflação de serviços”. (Valor)

Deterioração do Risco Fiscal 1: Impulsionada por uma discussão atabalhoada em torno do problema dos precatórios (as dívidas judiciais que o governo é obrigado a pagar), agravada por um excessivamente generoso Refis, aprovado pelo Senado e relatado pelo próprio líder do governo, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), o Executivo e sua base no Congresso deram uma contribuição relevante para deteriorar os mercados de juros, câmbio e a própria bolsa. E não podemos esquecer da confusão que tomou conta da reforma do Imposto de Renda e a estranha pressa do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), em colocar um texto que não está maduro e traz muitos riscos – fiscais e tributários – em votação. (Valor)

Deterioração do Risco Fiscal 2: Se no início do pregão de ontem o bom humor era dominante nos negócios, após a divulgação do balanço da Petrobras e o tom mais duro do Copom na condução da política monetária, o clima nos mercados azedou de vez no início da tarde de 06-08-2021. O reflexo do sentimento avesso a risco se deu, em especial, no mercado de juros. Atingidas em cheio pelos riscos fiscais, as taxas futuras dispararam e levaram junto o dólar, que fechou em alta, e o Ibovespa, que encerrou o dia em queda. Em um momento no qual o mercado continua bastante sensível aos riscos fiscais, o parecer do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), sobre o novo Refis detonou uma forte aversão a risco, que fez as taxas futuras dispararem e a queda do dólar foi abandonada. (Valor)

Finanças Públicas

Balança Comercial: A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 7,395 bilhões em julho, aumento de 1,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, pela média diária, segundo números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. Nos primeiros sete meses de 2021, o saldo acumulado está positivo em US$ 44,126 bilhões, aumento de 48,6% sobre o mesmo período de 2020. (Valor)

Sugestão de Emitir Moeda: Em vez de parcelar o pagamento de precatórios ao longo de vários anos, a União deveria emitir moeda como forma de cumprir seus compromissos financeiros, inclusive com uma possível versão reformulada do Bolsa Família, sustenta o especialista em finanças públicas Raul Velloso. O volume de precatórios — dívidas decorrentes de decisão judicial — previsto para 2022 está próximo de R$ 90 bilhões, o que motivou um esforço político do Ministério da Economia para reduzir este montante. (Valor)

Fugindo do Teto de Gastos 1: O governo vai propor a criação de um “Fundo de Liquidação de Passivos da União” para pagar parte dos precatórios (dívidas decorrentes de decisões judiciais) sem a limitação do teto de gastos. A medida é parte da saída para resolver a bomba fiscal que se aproximava de R$ 90 bilhões e deve constar de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) a ser enviada nos próximos dias, confirmou a Casa Civil da Presidência. (Valor)

Fugindo do Teto de Gastos 2: O novo fundo será abastecido com recursos de venda de imóveis da União ou de rendimentos de fundos imobiliários com esses ativos; dividendos de estatais; privatizações ou vendas de participações minoritários em empresas; concessões; antecipação de valores dos contratos de partilha do pré-sal e os ganhos do primeiro ano de redução de benefícios tributários, que o governo precisa propor. (Valor)

Concessões: Depois da Infra Week em abril, que teve 28 ativos leiloados com sucesso por três dias seguidos, o Ministério da Infraestrutura prepara agora um “mês das superconcessões”. Serão oferecidos à iniciativa privada projetos que devem receber mais de R$ 23 bilhões em investimentos. O cardápio inclui a relicitação da Presidente Dutra (Rio-São Paulo) e o maior arrendamento portuário das últimas duas décadas, além da BR-381 em Minas Gerais, conhecida como “rodovia da morte” e com a promessa de ser duplicada. (Valor)

Inflação

Causas da Inflação: Para Raul Veloso, especialista em finanças públicas, o que causa inflação no Brasil é a economia superaquecida; choque nos preços das commodities e no câmbio; e expectativas desfavoráveis e desenfreadas. (Valor)

Meio Ambiente, Sustentabilidade e Energia

Grilagem e Desmatamento: Apontado como estímulo à grilagem e ao desmatamento, o projeto que amplia o tamanho de imóveis rurais em terras públicas que podem ser regularizados por autodeclaração foi aprovado na Câmara e vai agora ao Senado. (G1) (Meio)

Emissário Especial: Em uma nova articulação para contornar o governo Bolsonaro nas negociações sobre meio ambiente, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, escalou um emissário para se reunir com governadores da Amazônia e discutir projetos de preservação do bioma. No encontro de chefes de Estado realizada em abril, Bolsonaro prometeu acabar com o desmatamento ilegal até 2030 e atingir a neutralidade climática até 2050. Mas, na prática, o Brasil tem registrado números que mostram o avanço do desmatamento na Amazônia. (Valor)

Agenda Verde, Carvão e Desmatamento: Alok Sharma, o britânico que preside a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a CoP-26, reuniu-se com oito representantes de movimentos sociais, empresariais e ambientalistas, no Brasil. O político britânico, que tem dito que o fim do uso do carvão no mundo “é nossa última esperança”, ouviu que “desmatamento é igual a carvão” e que ambos sabotam os objetivos do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a níveis bem abaixo de 2°C mirando 1,5°C. (Valor)

Ambiente Social, Emprego e Renda

Taxa de Desemprego: A taxa de desemprego do país ficou praticamente estável no trimestre até maio, em 14,6%, ante 14,7% nos três meses até abril, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada na sexta-feira pelo IBGE. (Valor)

Taxa de Subutilização: A taxa de subutilização (desocupados, subocupados e força potencial) é elevada (29,3%), sendo que quase 7,4 milhões trabalhavam menos horas do que gostariam. Isso mostra a baixa qualidade dos empregos gerados (Valor)

Índice de Gerentes de Compras: A atividade da indústria brasileira continuou a crescer em julho, com aumento de produção e estoques de bens acabados e também de empregos. A escassez de insumos diminuiu no mês. É o que mostra o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), da IHS Markit. O indicador subiu de 56,4 em junho para 56,7 em julho, maior nível em cinco meses. Leituras acima de 50 apontam expansão da atividade. (Valor)

Custos de Produção: Os custos de produção da indústria brasileira continuaram a subir “substancialmente” por causa da depreciação do câmbio e do aumento dos preços em dólar das matérias-primas. (Valor)

Demanda por Talentos 1: Serviços financeiros, tecnologia, e-business/e-commerce, saúde e construção são as cinco áreas que mais estão contratando hoje no Brasil e que devem seguir aquecidas até o fim do ano, segundo o relatório “Demanda por talentos no cenário atual”, elaborado pela consultoria global de recrutamento especializado Robert Half. (Valor)

Demanda por Talentos 2: O relatório também traz as habilidades mais demandadas atualmente no mercado de trabalho brasileiro. Para os recrutadores entrevistados, os maiores impactos da abrupta digitalização foram o aprimoramento de habilidades estratégicas e de planejamento, a necessidade de uma comunicação mais assertiva e colaborativa com a equipe, capacidade de trabalhar de forma mais flexível/remota e o surgimento de novas responsabilidades (mais técnicas e complexas). As soft skills seguem em alta, com destaque para comunicação, liderança, visão do negócio e pensamento criativo. (Valor)

Ausência de Bancarização: Ainda existem 34 milhões de brasileiros sem conta bancária ou que a usam com pouca frequência. São, majoritariamente do interior, mulheres, mais jovens, das classes D e E e menos escolarizados, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. (Valor investe) (Meio)

Endividamento Recorde 1: O percentual de brasileiros endividados bateu recorde em julho, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O índice chegou a 71,4%, o maior da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2010. (Valor)

Endividamento Recorde 2: Em julho de 2020, 67,4% dos brasileiros estavam endividados e em junho de 2021, 69,7%. Para a CNC, o quadro reflete avanço inflacionário no período, que restringe orçamento das famílias e estimula novas tomadas de empréstimo para compor a renda. (Valor)

Endividamento Recorde 3: A parcela de endividados que declaram atraso ao cumprir pagamentos subiu de 25,1% em junho para 25,6% em julho, mas ainda está abaixo de julho de 2020 (26,3%). A parcela de inadimplentes que informaram não ter condição de quitar suas dívidas passou de 10,8% para 10,9% na primeira comparação. Em julho de 2020, essa fatia era de 12%. (Valor)

Endividamento Recorde 4: Entre as famílias que recebem até dez salários mínimos, o índice subiu de 70,7% em junho para 72,6% em julho e também bateu recorde. No mesmo mês do ano passado, havia ficado em 69%. (Valor)

Comprometimento da Renda: A parcela de renda das famílias comprometida com pagamento de dívidas ficou em 30,5% do total do orçamento em julho, segundo a última edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Foi a maior proporção desde novembro de 2017 (30,6%). (Valor)

Governo e Ambiente Político

Tales Faria: “Bolsonaro fez toda sua carreira política jogando truco, e muitas vezes blefando aos berros. Mas a verdade é que ele sempre acaba recuando quando é enfrentado por um oponente que se mostra de fato mais forte. Já os ministros do Supremo jogam pôquer. Quando enxergam um blefe, pagam para ver, mesmo que silenciosamente. Pois bem, chegou a hora de o presidente da República recuar novamente, ou colocar suas cartas na mesa. Nas duas hipóteses, o mais provável é que ele acabe derrotado. Agora, ou mais tarde.” (UOL) (Meio)

Derrota do Governo 1: Numa das mais expressivas derrotas do governo Bolsonaro na Câmara, a comissão especial que analisava a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso rejeitou por 23 votos a 11 o parecer do relator Filipe Barros (PSL-PR), favorável à mudança. Agora, um novo relator será escolhido e deve propor o arquivamento da proposta, que será votado hoje. Integrantes da base governista, PSL, PP, Republicanos, PTB e Podemos orientaram voto em favor do voto impresso. PT, PL, PSD, MDB, DEM, PSDB, PSB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede foram contra. Cidadania e Novo não quiseram assumir uma posição e liberaram as bancadas. (Globo) (Meio)

Derrota do Governo 2: Mesmo com a derrota esmagadora na comissão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, aventa a possibilidade de levar a PEC ao plenário da Câmara. Ele afirma que as comissões são opinativas, não terminativas, e que o Regimento permite levar a plenário pautas rejeitadas em comissões. A oposição admite que a possibilidade existe, mas acha improvável que o governo consiga amealhar 308 votos em dois turnos para aprovar uma mudança na Constituição rejeitada pelos partidos. (Folha) (Meio)

Se Não Tem Distritão: Na dificuldade de aprovar na Câmara a proposta do “distritão”, a relatora Renata Abreu (Pode-SP) passou a discutir uma outra proposta também encarada como retrocesso. A volta das coligações em eleições proporcionais. Até 2017, quando essas coligações foram proibidas, partidos inexpressivos podiam se escorar no cociente eleitoral de legendas maiores para conseguir suplências ou mesmo vagas no Legislativo. Nas eleições de 2020, eles tiveram que contar somente com a própria musculatura. Junto com a cláusula de barreira, o fim das coligações proporcionais é apontado como crucial para reduzir a fragmentação partidária e melhorar a governabilidade. (G1) (Meio)

Se as eleições fossem hoje: O ex-presidente Lula (PT) venceria, hoje, no segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por 52% a 32%, segundo levantamento do PoderData. Há duas notícias aí. A primeira é a confirmação da vantagem de Lula. A segunda é que ela parou de crescer. Em relação à última pesquisa, o petista caiu dois pontos, dentro da margem de erro, enquanto o presidente obteve o mesmo número. No primeiro turno, Lula chegaria em primeiro com 39%, seguido de Bolsonaro, com 25%. Somados, todos os demais candidatos têm os mesmos 25% do presidente. O que não para de crescer é a rejeição a Bolsonaro: 61% dos entrevistados não votariam nele de jeito nenhum. Eram 56% em julho. Lula tem a menor rejeição, 34%. (Poder360) (Meio)

Desfeita Diplomática: No sábado, 31-07-2021, em pleno clima de campanha antecipada, Bolsonaro já havia ameaçado as eleições durante uma ‘motociata’ em Presidente Prudente (SP). O evento, inclusive, marcou uma desfeita diplomática sem precedentes. Enquanto passeava de moto, Bolsonaro, embora convidado, não compareceu nem mandou representante à reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, destruído por um incêndio em 2015. Além do anfitrião João Doria, estavam presentes os presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e o de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, além dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer. (Folha) (Meio)

Restrição ao Twiter: Uma portaria do Exército reduziu drasticamente o acesso dos generais ao Twitter em seus comandos. Embora a Arma tenha equipes dedicadas à divulgação em redes sociais, a ação direta de oficiais de alta patente comentando, compartilhando e tuitando preocupou o Comando. Agora, somente os oito generais de quatro estrelas responsáveis pelos comandos de área e o Comandante do Exército tuítam pela instituição. (Revista Sociedade Militar) (Meio)

República em Crise: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu por unanimidade abrir um inquérito administrativo contra Jair Bolsonaro por seus sistemáticos ataques às urnas eletrônicas. O inquérito não tem como resultar em punição ao presidente, mas pode municiar ações futuras movidas por partidos ou pelo MP Eleitoral. Também por unanimidade, o TSE pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) inclua Bolsonaro no inquérito sobre fake news. Ao longo os últimos anos, o presidente fez acusações constantes de fraudes nas eleições de 2014 e 2018, mas na última quinta-feira, 29-07-2021, admitiu não ter provas, o que não o impediu de continuar atacando as urnas eletrônicas e condicionando as eleições de 2022 à adoção do voto impresso, já considerado inconstitucional pelo Supremo. Todos os ex-presidentes do TSE desde 1988 e a atual cúpula da Corte divulgaram uma carta aberta em defesa do modelo eletrônico de votação usado no Brasil desde 1996. (G1) (Meio)

Regime de Privilégios: Como se não bastassem os gordos valores recebidos por pensionistas e militares de alta patente, viúvas e filhos de oficiais generais que integraram o STM usam brechas na lei para receber até 31% a mais. (Folha) (Meio)

Nova âncora: O governo esperar aprovar uma segunda geração de arcabouço fiscal, no qual a dívida atuará como âncora. A ideia é que seja estabelecida uma trajetória de médio e longo prazos para a dívida pública. As metas de resultado primário (receita menos despesas, exceto gastos com juro) serão definidas a cada ano, tendo em vista atingir o nível de endividamento previsto para aquele ano. (Valor)

Supremo Investiga Bolsonaro: O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre Moraes aceitou a notícia-crime enviada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e incluiu o presidente Bolsonaro no inquérito das fake news por seus constantes ataques sem provas ao sistema de votação brasileiro. A decisão de Moraes elencou onze possíveis crimes cometidos pelo presidente, incluindo calúnia, denunciação caluniosa e três artigos previstos na Lei de Segurança Nacional, a mesma que o governo usou contra opositores. Moraes pediu um parecer à Procuradoria-Geral da República (PGR), e é aí que a coisa complica. O procurador-geral Augusto Aras se notabilizou como escudo do presidente e já tentou várias vezes barrar o inquérito das fake news. (G1) (Meio)

Novo Bolsa Família: O presidente Jair Bolsonaro confirmou que o programa social que será lançado pelo governo em substituição ao Bolsa Família se chamará Auxílio Brasil e terá no mínimo 50% de reajuste. O novo nome já era citado por interlocutores do presidente e foi anunciado durante a posse do novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, durante solenidade no Palácio do Planalto.
Tendências do Eleitorado Evangélico: Quase metade dos eleitores que se declaram evangélicos (45%) votaria em Jair Bolsonaro se as eleições fossem hoje. Entre os católicos, 39% votariam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dado é de pesquisa PoderData realizada de 2 a 4 de agosto de 2021. O petista lidera em todas as religiões, exceto entre os evangélicos. Tem a maior preferência entre os que se declaram pertencentes à umbanda ou ao candomblé. Nesse grupo, 78% votariam em Lula. (Poder 360)

Ambiente tecnológico

Inteligência Artificial: Um tribunal federal australiano decidiu que a inteligência artificial pode ser reconhecida como um inventor. No centro da sua decisão está o DABUS um sistema de IA capaz de criar suas próprias invenções de forma autônoma. Suas criações já incluem um contêiner ajustável para alimentos e um sinalizador de emergência. As suas patentes já foram registradas nos EUA, Japão, África do Sul, Índia e Israel. No entanto, apenas os sul-africanos aprovaram o pedido, enquanto as chances de aprovação em outros países são mínimas. (Morning Brew) (Meio)

Hackers Chineses: Grupos de hackers apoiados pelo estado chinês se infiltraram em pelo menos cinco empresas globais de telecomunicações e roubaram registros telefônicos e dados de localização, de acordo com pesquisadores de segurança cibernética. Os hackers agiram no Sudeste Asiático de 2017 a 2021, em alguns casos explorando vulnerabilidades de segurança nos servidores Microsoft Exchange para obter acesso aos sistemas internos das empresas de telecomunicações, segundo novo relatório publicado pela empresa de segurança americana Cybereason. (Valor)

Bluetooth e Internet da Coisas: O Bluetooth vai muito além de conectar o notebook à impressora ou ao fone de ouvido. Atualmente, a tecnologia tem sido usada para criar ecossistemas de Internet das Coisas (IoT) para automatizar ambientes de trabalho com menor interferência humana possível. Enquanto dispositivos IoT conectados por uma rede Wi-Fi exigem a intervenção de um humano para funcionar, como um comando de voz, numa rede em malha Bluetooth isso ocorre totalmente de forma automatizada. Dessa forma, o escritório se torna muito mais inteligente. (Meio)

Ambiente Empresarial

LGPD: As empresas brasileiras já podem sofrer sanções pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Agora, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) poderá aplicar penalidades a quem descumprir a lei que entrou em vigor em setembro de 2020. No entanto, neste primeiro momento, as primeiras sanções devem ser apenas advertências, já que multas ainda devem demorar para ocorrer porque não foi publicado o documento que estabelece como elas serão calculadas. (G1) (Meio)

Selo Brasileiro de Indicação Geográfica 1: O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançou uma pesquisa inédita para mapear o interesse de empreendedores de pequeno e médio porte em todo o país de vender produtos típicos regionais. O levantamento faz parte do trabalho de estruturação do Selo Brasileiro de Indicação Geográfica, com a participação do Ministério da Agricultura. (Valor)

Selo Brasileiro de Indicação Geográfica 2: O registro da indicação geográfica permite atestar a procedência do produto, valorizando a cultura local e ajudando a fomentar atividades turísticas. O público-alvo do levantamento inclui minimercados, mercearias, delicatessen, lojas de produtos alimentícios naturais e orgânicos, padarias, confeitarias, lanchonetes, lojas de bebidas, chocolaterias, cafeterias, mini-torrefações, restaurantes, lojas de artesanato, presentes, objetos decorativos, cerâmicas e joalherias. (Valor)

Principais Desafios: Segundo o relatório “Demanda por talentos no cenário atual”, elaborado pela consultoria global de recrutamento especializado Robert Half, os principais desafios das empresas em relação às equipes são qualificar e treinar os empregados diante das novas necessidades do negócio, encontrar candidatos qualificados e manter processos seletivos e de onboarding remotos. (Valor)

Transformações Digitais: As organizações estão dedicando mais tempo, esforço e capital para se transformarem digitalmente. Alguns alcançam resultados significativos. Outras, no entanto, veem menos impacto. Essa diferença tem um motivo: a adoção de uma cultura digital e ágil. A transformação digital não pode ficar apenas nas mãos de ferramentas digitais. Ela precisa vir com insights e toda uma gestão por trás que apoie os colaboradores e deem autonomia para eles inovarem e implementarem mudanças na empresa. (Meio)

Vendas pelo Twitter: Um novo recurso de compras começará a ser testado no Twitter. As marcas poderão exibir os seus catálogos no topo do seu perfil e as compras poderão ser feitas pela própria plataforma. A nova funcionalidade surge para competir com Facebook e Instagram. No entanto, o novo recurso do Twitter, por enquanto, só estará disponível nos EUA para algumas marcas. (Folha) (Meio)

Produção Industrial: A produção da indústria brasileira ficou estável em junho, frente a maio, segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em maio, o indicador teve alta de 1,4%, após três quedas seguidas, e se equiparou ao patamar do pré-pandemia, em fevereiro de 2020, que foi mantido com a variação nula de junho. (Valor)

Startups Brasileiras: Depois de registrarem o melhor semestre da história para investimentos, as startups brasileiras seguem acumulando bons números. Durante o mês de julho, captaram, juntas, mais de US$ 484 milhões em investimentos, um volume 35% superior ao mesmo período do ano passado. (Exame) (Meio)

Investimentos da Gerdau em Minas: A Gerdau anunciou um plano de investimentos de R$ 6 bilhões em Minas Gerais, a serem aplicados ao longo de cinco anos. Os recursos serão usados para modernização, atualização tecnológica e ampliação das operações locais. A expectativa da companhia é gerar 6 mil novos postos de trabalho diretos e indiretos com os investimentos. O plano contempla a modernização das plantas de Ouro Branco, Barão de Cocais, Divinópolis e Sete Lagoas. (Valor)

Venda de Veículos: Como reflexo, principalmente, da escassez de semicondutores na indústria, a venda de veículos em julho praticamente não cresceu em comparação com o mesmo mês do ano passado e caiu em relação ao volume de junho. Em julho foram licenciados 175,5 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Isso representou um ligeiro aumento, de 0,6%, em relação ao mesmo mês de 2020. Na comparação com junho houve uma retração de 3,8%. (Valor)


Notas econômicas

Fontes: Jornal Valor, Folha, Estadão, IstoÉ, Exame, Canal Meio Newsletter, Carta Capital, Poder 360, Revista Sociedade Militar, UOL, Morning Brew e G1.

Crescem casos de ataques em escolas: especialistas dizem o que fazer

Antes incomuns no país, os ataques em escolas aumentam, sinalizando crises profundas da sociedade contemporânea

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Há doze anos, um jovem de 23 anos invadiu a escola onde havia estudado no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, e produziu um massacre que chocou o país: armado com dois revólveres, ele disparou contra os alunos, matando doze deles e cometendo suicídio em seguida. Na época, o episódio assustador foi tratado pela imprensa como de fato era até então: algo fora do comum no Brasil. Há alguns anos, no entanto, a ocorrência de diversos casos similares tem exigido atenção das autoridades e gerado preocupação em pesquisadores, que apontam caminhos para enfrentar esse cenário.

No início de abril, uma creche em Blumenau (SC) se tornou alvo de um homem de 25 anos que tirou a vida de quatro crianças. Nesse caso, investigações preliminares não apontaram nenhum vínculo do agressor com a instituição. Há menos de dez dias, outro ataque causou uma morte e deixou cinco pessoas feridas na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo. O crime foi cometido por um de seus alunos, de 13 anos.

Nos últimos anos, outros episódios similares que tiveram grande repercussão no país também foram promovidos por estudantes ou ex-estudantes, como os registrados em Aracruz (ES) no ano passado e em Suzano (SP) em 2019.

Ataques em escolas pelo país

De acordo com mapeamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre casos de ataques em escolas por alunos ou ex-alunos, o primeiro episódio foi registrado em 2002. À época, um adolescente de 17 anos disparou contra duas colegas dentro da sala de aula de uma escola particular de Salvador. O levantamento da Unicamp deixa de fora episódios de violência não planejados, que podem ocorrer, por exemplo, em decorrência de uma briga.

Foram listadas 22 ocorrências desde 2002, sendo que em uma ocasião o ataque envolveu duas escolas. Em três episódios, o crime foi cometido em dupla. Em cinco, os atiradores se suicidaram na sequência. Ao todo, 30 pessoas morreram, sendo 23 estudantes, cinco professores e dois funcionários das escolas.

Do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados apenas nos últimos dois anos.

Extremismo de direita

A preocupação com a situação levou o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, a coordenar a criação de um grupo formado por 11 pesquisadores de universidades de diversos estados do país. No final do ano passado, eles elaboraram um documento analisando o cenário e propondo estratégias concretas para a ação governamental.

Segundo os pesquisadores, esses casos devem ser classificados como extremismo de direita, pois envolvem cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques. Esses grupos disseminam um discurso que valoriza o preconceito, a discriminação, o uso de força e que encoraja direta e indiretamente atos agressivos e violentos. Para os pesquisadores, medidas de prevenção só serão eficazes se atuarem sobre esse cenário.

“É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagens, jogos, fóruns de discussão e redes sociais”, registra o documento.

A presença de símbolos associados a ideologias de extrema-direita tem sido recorrente nestes atos violentos. O autor de um ataque realizado em fevereiro deste ano com bombas caseiras em uma escola em Monte Mor (SP), que não resultou em mortos ou feridos, vestia uma braçadeira com a suástica nazista. Artigo similar foi usado no massacre que deixou quatro mortos e diversos feridos em duas escolas de Aracruz em novembro do ano passado. O jovem responsável pelo episódio de violência usava sobre a manga de sua roupa camuflada uma braçadeira com um emblema que era usado por nazistas alemães.

Siege mask

No recente ataque registrado na Vila Sônia, em São Paulo, assim como no de Aracruz no ano passado, o autor vestia ainda uma máscara de esqueleto. Usada pelo personagem Ghost da franquia de jogos Call Of Duty, ela é conhecida como siege mask e se popularizou em fóruns de gamers extremistas para depois se tornar um aparato de identificação de simpatizantes neonazistas em todo o mundo. É hoje uma marca em atos da extrema-direita.

Ela aparece, por exemplo, em janeiro de 2021 na invasão do Capitólio, edifício que abriga o Congresso dos Estados Unidos, por uma multidão descontente com a derrota do ex-presidente Donald Trump nas eleições presidenciais do país. Esteve presente também nos atos antidemocráticos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro desse ano. Imagens de câmeras de segurança captaram a imagem de um homem utilizando a máscara em meio ao grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que depredaram o Palácio do Planalto e defendiam uma intervenção militar para depor o recém-iniciado governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo sustentam alguns pesquisadores, a siege mask foi adotada por grupos de extrema-direita por suas semelhanças com a caveira que era usada como emblema pela Totenkopf, uma divisão da SS, organização paramilitar ligada ao Partido Nazista que atuou diretamente no Holocausto. Essa máscara também está associada com o massacre realizado por uma dupla que deixou oito mortos em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano. Um dos responsáveis pelo crime a utilizava em fotos compartilhadas nas redes sociais.

“Sensação de pertencimento”

A educadora Telma Vinha, coordenadora da pesquisa realizada pela Unicamp, observa que há um perfil mais frequente entre os autores dos ataques: homens jovens brancos geralmente com baixa autoestima e sem popularidade na escola. “Não são populares na turma. Eles têm muitas relações virtuais, mas não tanto presenciais. E nutrem uma falta de perspectiva, de propósito em termos de futuro”, pontuou em entrevista levada ao ar no dia 30 de março pela TV Unicamp.

A pesquisadora também afirma ser comum a existência de transtornos mentais não diagnosticados ou sem o devido acompanhamento. Esses quadros podem se desenvolver ou se agravar pela dificuldade de relacionamento nas escolas, o que pode ocorrer, por exemplo, com os que são alvos de bullying. Alguns também vivem situações prolongadas de exposição a processos violentos em casa, incluindo negligências familiares e autoritarismo parental, o que contribuem para desenvolver um perfil de agressividade no âmbito doméstico.

Telma observa que a cooptação tem ocorrido por meio de jogos online, onde há chats paralelos. Dali, se deslocam para fóruns e redes sociais onde há incentivo de violência e discursos misóginos e racistas. No ambiente virtual, esses jovens podem experimentar uma sensação de pertencimento a um grupo que não possuem na escola. O crescimento dos ataques também tem sido relacionado como um possível desdobramentos da pandemia de covid-19. Isso porque o consumo de jogos eletrônicos cresceu durante os períodos de isolamento social, o que deixaria os jovens mais expostos à cooptação por grupos que propagam discursos de ódio.

Segundo a educadora, na maioria das vezes, não se tratam de crimes passionais, motivados unicamente por vingança ou raiva desencadeada por um tratamento recebido. Os autores planejam fazer o maior número de vítimas, pois têm como objetivo a busca por notoriedade pública e reconhecimento da comunidade virtual.

“Mesmo agindo de forma isolada, acreditam que fazem parte de um movimento, se sentem parte de algo maior”, explica.

Ela também ressalta que o Brasil não está vivendo um fenômeno isolado, mas que casos com características muito similares também estão sendo registrados em outros países.

Nos Estados Unidos, onde massacres produzidos por jovens em escolas ocorrem há mais tempo e com mais frequência, um levantamento realizado pelo jornal Washington Post mapeou 377 incidentes desde 1999. Considerando somente 2021 e 2022, foram 88, quase um quarto do total.

No Brasil, de acordo com o mapeamento da Unicamp, os ataques registrados desde 2002 aconteceram em 19 escolas públicas, entre estaduais e municipais, e em quatro particulares. Segundo Telma, os perfis das instituições são distintos. Por isso, não há razão para responsabilizá-las. Ela conta que já conheceu professores que se perguntavam se fizeram algo de errado.

“Não há nada que explique porque aconteceu em determinada escola e não em outra. Pode acontecer em qualquer lugar. Tem escolas localizadas em regiões mais violentas dos que as que foram atacadas. Ataques ocorrem em escolas com diferentes níveis de estrutura”, pondera.

Caminhos

Após os últimos ataques, o governo paulista se apressou em anunciar algumas medidas, entre elas a alocação de policiais dentro das escolas e a ampliação de investimento em um programa de mediação de conflitos nas unidades de ensino. Em Santa Catarina, o prefeito de Blumenau prometeu a criação de um protocolo de prevenção para evitar novos casos.

A repercussão dos casos recentes também levou a adoção de medidas em outros estados. O governo do Rio de Janeiro anunciou a criação de um Comitê Permanente de Segurança Escolar com representantes da Segurança Pública e da Educação para atuar na prevenção às situações de violência nas escolas públicas e privadas. Por sua vez, o governo federal criou um grupo interministerial para analisar propostas de políticas públicas.

Sociólogo defende ações emergenciais para conter violência nas escolas

Ataques a escolas, gravações com boatos, desinformação e ameaças, que “antes pareciam atitudes descoordenadas, têm se mostrado uma onda perigosa”, diz o sociólogo Rudá Ricci, pesquisador dos temas educação e cidadania.

Nessa quarta-feira (12), ele participou e foi um dos articuladores de encontro com entidades ligadas ao setor para encontrar caminhos contra a situação que tem gerado temor no Brasil. O cientista social defende a necessidade de três medidas emergenciais, que incluem “desbaratar e prender os núcleos propagadores das ameaças”, o que, para as instituições, já está sendo tratado pelo Ministério da Justiça.

As outras são “criar protocolos de orientação para pais e professores sobre como agir em casos de ameaça,  violência,  agressividade e incivilidade” e “criar serviço de apoio e escuta de psicólogos e assistentes sociais” para pais e profissionais da educação.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista do sociólogo:

Agência Brasil: Essas ameaças são coordenadas?
Rudá Ricci: Não podemos negar que há uma inteligência por trás disso. Há mensagens, por exemplo, sobre eventuais ataques em universidades. Ouvi áudios de uma jovem que diz ter recebido uma notícia e uma alusão aos ataques em Columbine (Estados Unidos, em 20 de abril de 1999). Essas mensagens se alastraram como ameaça a universidades brasileiras. Essas organizações extremistas no país estão querendo construir um novo 8 de janeiro de 2023 (dia de atos terroristas contra os Três Poderes). Agora, envolvendo a educação.

Agência Brasil: Quais são os principais pontos de cuidado?
Rudá Ricci: Nós temos que ter cuidado com três questões pelo menos. Em primeiro lugar, com o ambiente criado no Brasil. Temos que debelar essa ideia de que a gente resolve os problemas com as próprias mãos e que temos que ser intolerantea com quem é diferente. É preciso debelar esse clima de violência e intolerância. É a primeira medida que eu sugiro, ou seja, devemos ter uma inteligência policial e da sociedade civil articulada para identificar a origem dessas ameaças e colocar todos na cadeia.

Agência Brasil: O Estado tem agido nesse campo, certo?
Rudá Ricci: Essa é uma primeira ação urgentíssima. O Ministério da Justiça iniciou o processo com o disque-denúncia. Temos que mergulhar na Deep Web (parte da internet não encontrada pelos mecanismos de buscas). É aí que eles estão se articulando. Temos que identificar as ramificações e redes que se formaram. Temos ainda que deixar claro, inclusive para esses adolescentes que estão ameaçando, que eles vão responder por isso. Nós temos que coibir. E isso não se faz com guarda armado na frente da escola. Essa é a outra coisa que é preciso deixar claro e que nos preocupa. Temos a experiência dos Estados Unidos, onde há guarda armada no seu interior e não debelaram a violência. 

Agência Brasil: Por quê?
Rudá Ricci: Porque há uma interpretação equivocada de achar que adolescentes que estão propensos a atacar se intimidam com guarda, com policiamento. É o contrário. O que sabemos hoje é que há adolescentes que estão imbuídos dessa intenção de aparecer pela violência. Eles veem a presença do guarda como desafio e, então, buscam outros tipos de estratagemas como colocar bomba em banheiro e, assim, tentar desmoralizar a segurança. 

Nos Estados Unidos, as guardas armadas dentro das escolas aumentaram e até estimularam atos de violência. Nós queremos outro tipo de abordagem, que seja por meio da inteligência e não dos atos de retenção. Assim a gente pode desbaratar essa rede de ameaças nas escolas que agora, parece, está sendo objeto da extrema direita no Brasil.

Agência Brasil: Como apoiar pais e professores assustados com a situação?
Rudá Ricci: O segundo ponto é que nós temos que dar suporte aos pais e professores. Para isso, é preciso elaborar protocolos.

Agência Brasil: O que significa o protocolo?
Rudá Ricci: Significa o seguinte: diante de um boato de ameaça a uma escola, é necessária uma orientação nacional. Não pode ser um voluntarismo de um diretor de escola. Isso não resolve a onda que está se formando no Brasil ou que está se tentando formar. É preciso ter protocolo, se houver ameaça de violência, ou mesmo violência, atos de agressividade ou de incivilidade. Definir quando é motivo para fechar a escola ou suspender aula, ou quando não é.

Agência Brasil: Professor, os protocolos seriam formulados pelo Estado?
Rudá Ricci: Eu acho que quem tem que formular é a sociedade civil. E não em disputa entre políticos nas mais variadas cidades. O conhecimento para enfrentar problemas educacionais e violência envolvendo a educação está na sociedade civil. 

Agência Brasil: Qual o objetivo dessas reuniões entre as entidades? É a formulação de sugestões?
Rudá Ricci: Fizemos a primeira reunião com 20 entidades e pesquisadores nacionais, de todos os estados do país. A gente precisa mapear essas ameaças, que é um dos objetivos. 

Agência Brasil: O terceiro ponto é apoio psicológico, certo?
Rudá Ricci: É o seguinte: nós temos alguns países como a França que já tem, há muito tempo, serviço de apoio psicológico e assistencial, até pedagógico, também a professores. Estou sugerindo que a gente crie um serviço nacional de apoio envolvendo, por exemplo, os mais de 2,5 mil Caps (centros de Atenção Psicossocial), os Cras (centros de Referência de Assistência Social) e também as universidades, organizações não governamentais (ONG), para que pais e profissionais da educação possam ser atendidos. 

É o que internacionalmente se chama política do cuidado. Há um contexto relevante a ser considerado. Ou seja, a gente cuidar de quem cuida. A Cultiva (ONG ligada à educação e cidadania que o pesquisador coordena) mostra, por exemplo, que 40% dos professores dessas redes registraram aumento de conflito intrafamiliar durante a pandemia. 

Quando temos uma sociedade dessocializada, aumentamos a violência. Isso envolve angústia e a solidão. Espera-se que as escolas mudem o cenário. Quando voltamos da pandemia, pensou-se que seria necessário correr atrás dos conteúdos perdidos. Mas era muito importante que nos voltássemos mais para a humanização.

Denúncias

Informações sobre ameaças de ataques podem ser comunicadas ao canal Escola Segura, criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com SaferNet Brasil. As informações enviadas ao canal serão mantidas sob sigilo e não há identificação do denunciante.

Acesse o site para fazer uma denúncia.

Em caso de emergência, a orientação é ligar para o 190 ou para a delegacia de polícia mais próxima.


Edição: Heloisa Cristaldo e Graça Adjuto

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Cerimônia de diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin como Presidente e Vice-Presidente da República – 12/12/2022 Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Fotospublicas.com
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notas econômicas
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Só no primeiro trimestre deste ano, os acordos de fusões e aquisições atingiram US$ 1,1 trilhão, um recorde para início de ano desde 1998

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Notas Econômicas: 7 a 11 de março de 2022

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O quadro político, econômico e social no Brasil tende a se complicar nos próximos meses. O conflito na Eurásia é mais uma força a somar às diversas que já compunham o quadro tenso do curto prazo no País. O aumento do petróleo no mercado internacional espalha os seus efeitos. A Petrobras anunciou aumento de 25% do diesel e de 19% da gasolina. Enquanto os donos de automóveis corriam para filas de abastecimento nos postos de combustíveis, caminhoneiros, motoristas de aplicativos e entregadores de delivery mostraram disposição de sair da passividade. Os transportadores de mercadorias iniciaram paralisações.

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