Notícias relevantes sobre saúde mental no Brasil e no mundo
Conversas sobre o futuro: sinais sobre tendências da saúde
Saúde mental é tema de destaque entre as tendências da saúde, como resultado das preocupações com os efeitos da crise climática. Leia mais nas conversas sobre o futuro
Conversas sobre o futuro: sua memória pessoal corre risco
Sem nos preparar para o futuro, corremos o risco de perder até mesmo memórias do passado. Confira o porquê nesta edição das Conversas sobre o futuro
COP28 termina com apelo à “transição” dos combustíveis fósseis
Secretário-geral da ONU diz que eliminação progressiva do principal fator causador das alterações climáticas é “inevitável”; tema foi citado pela primeira vez em uma declaração final de uma COP; negociadores concordaram em triplicar a capacidade de energias renováveis e duplicar eficiência energética até 2030.
Coworkings: novos comportamentos de trabalho segundo frequentadores
Falta de estrutura na residência, busca por maior produtividade e encontro com amigos estão entre os principais motivos para o uso de coworkings.
Cresce o número de bibliotecas no país
Segundo pesquisa do IBGE, atualmente 97% das cidades têm espaços públicos
Cresce o número de crianças acima do peso
No Brasil, as duas principais causas são má alimentação e sedentarismo
Cresce o pessimismo com cenário global
Mercados emergentes travam a expansão dos mercados, assinala relatório
Cresce procura da terceira idade por cursos profissionalizantes
Rede Microlins, que atua no setor há décadas, registrou procura maior nos cursos de informática e inglês.
Crescem casos de ataques em escolas: especialistas dizem o que fazer
Antes incomuns no país, os ataques em escolas aumentam, sinalizando crises profundas da sociedade contemporânea
Parceiros
Radar do Futuro
Há doze anos, um jovem de 23 anos invadiu a escola onde havia estudado no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, e produziu um massacre que chocou o país: armado com dois revólveres, ele disparou contra os alunos, matando doze deles e cometendo suicídio em seguida. Na época, o episódio assustador foi tratado pela imprensa como de fato era até então: algo fora do comum no Brasil. Há alguns anos, no entanto, a ocorrência de diversos casos similares tem exigido atenção das autoridades e gerado preocupação em pesquisadores, que apontam caminhos para enfrentar esse cenário.
No início de abril, uma creche em Blumenau (SC) se tornou alvo de um homem de 25 anos que tirou a vida de quatro crianças. Nesse caso, investigações preliminares não apontaram nenhum vínculo do agressor com a instituição. Há menos de dez dias, outro ataque causou uma morte e deixou cinco pessoas feridas na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo. O crime foi cometido por um de seus alunos, de 13 anos.
Nos últimos anos, outros episódios similares que tiveram grande repercussão no país também foram promovidos por estudantes ou ex-estudantes, como os registrados em Aracruz (ES) no ano passado e em Suzano (SP) em 2019.
Ataques em escolas pelo país
De acordo com mapeamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre casos de ataques em escolas por alunos ou ex-alunos, o primeiro episódio foi registrado em 2002. À época, um adolescente de 17 anos disparou contra duas colegas dentro da sala de aula de uma escola particular de Salvador. O levantamento da Unicamp deixa de fora episódios de violência não planejados, que podem ocorrer, por exemplo, em decorrência de uma briga.
Foram listadas 22 ocorrências desde 2002, sendo que em uma ocasião o ataque envolveu duas escolas. Em três episódios, o crime foi cometido em dupla. Em cinco, os atiradores se suicidaram na sequência. Ao todo, 30 pessoas morreram, sendo 23 estudantes, cinco professores e dois funcionários das escolas.
Do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados apenas nos últimos dois anos.
Extremismo de direita
A preocupação com a situação levou o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, a coordenar a criação de um grupo formado por 11 pesquisadores de universidades de diversos estados do país. No final do ano passado, eles elaboraram um documento analisando o cenário e propondo estratégias concretas para a ação governamental.
Segundo os pesquisadores, esses casos devem ser classificados como extremismo de direita, pois envolvem cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques. Esses grupos disseminam um discurso que valoriza o preconceito, a discriminação, o uso de força e que encoraja direta e indiretamente atos agressivos e violentos. Para os pesquisadores, medidas de prevenção só serão eficazes se atuarem sobre esse cenário.
“É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagens, jogos, fóruns de discussão e redes sociais”, registra o documento.
A presença de símbolos associados a ideologias de extrema-direita tem sido recorrente nestes atos violentos. O autor de um ataque realizado em fevereiro deste ano com bombas caseiras em uma escola em Monte Mor (SP), que não resultou em mortos ou feridos, vestia uma braçadeira com a suástica nazista. Artigo similar foi usado no massacre que deixou quatro mortos e diversos feridos em duas escolas de Aracruz em novembro do ano passado. O jovem responsável pelo episódio de violência usava sobre a manga de sua roupa camuflada uma braçadeira com um emblema que era usado por nazistas alemães.
Siege mask
No recente ataque registrado na Vila Sônia, em São Paulo, assim como no de Aracruz no ano passado, o autor vestia ainda uma máscara de esqueleto. Usada pelo personagem Ghost da franquia de jogos Call Of Duty, ela é conhecida como siege mask e se popularizou em fóruns de gamers extremistas para depois se tornar um aparato de identificação de simpatizantes neonazistas em todo o mundo. É hoje uma marca em atos da extrema-direita.
Ela aparece, por exemplo, em janeiro de 2021 na invasão do Capitólio, edifício que abriga o Congresso dos Estados Unidos, por uma multidão descontente com a derrota do ex-presidente Donald Trump nas eleições presidenciais do país. Esteve presente também nos atos antidemocráticos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro desse ano. Imagens de câmeras de segurança captaram a imagem de um homem utilizando a máscara em meio ao grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que depredaram o Palácio do Planalto e defendiam uma intervenção militar para depor o recém-iniciado governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo sustentam alguns pesquisadores, a siege mask foi adotada por grupos de extrema-direita por suas semelhanças com a caveira que era usada como emblema pela Totenkopf, uma divisão da SS, organização paramilitar ligada ao Partido Nazista que atuou diretamente no Holocausto. Essa máscara também está associada com o massacre realizado por uma dupla que deixou oito mortos em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano. Um dos responsáveis pelo crime a utilizava em fotos compartilhadas nas redes sociais.
“Sensação de pertencimento”
A educadora Telma Vinha, coordenadora da pesquisa realizada pela Unicamp, observa que há um perfil mais frequente entre os autores dos ataques: homens jovens brancos geralmente com baixa autoestima e sem popularidade na escola. “Não são populares na turma. Eles têm muitas relações virtuais, mas não tanto presenciais. E nutrem uma falta de perspectiva, de propósito em termos de futuro”, pontuou em entrevista levada ao ar no dia 30 de março pela TV Unicamp.
A pesquisadora também afirma ser comum a existência de transtornos mentais não diagnosticados ou sem o devido acompanhamento. Esses quadros podem se desenvolver ou se agravar pela dificuldade de relacionamento nas escolas, o que pode ocorrer, por exemplo, com os que são alvos de bullying. Alguns também vivem situações prolongadas de exposição a processos violentos em casa, incluindo negligências familiares e autoritarismo parental, o que contribuem para desenvolver um perfil de agressividade no âmbito doméstico.
Telma observa que a cooptação tem ocorrido por meio de jogos online, onde há chats paralelos. Dali, se deslocam para fóruns e redes sociais onde há incentivo de violência e discursos misóginos e racistas. No ambiente virtual, esses jovens podem experimentar uma sensação de pertencimento a um grupo que não possuem na escola. O crescimento dos ataques também tem sido relacionado como um possível desdobramentos da pandemia de covid-19. Isso porque o consumo de jogos eletrônicos cresceu durante os períodos de isolamento social, o que deixaria os jovens mais expostos à cooptação por grupos que propagam discursos de ódio.
Segundo a educadora, na maioria das vezes, não se tratam de crimes passionais, motivados unicamente por vingança ou raiva desencadeada por um tratamento recebido. Os autores planejam fazer o maior número de vítimas, pois têm como objetivo a busca por notoriedade pública e reconhecimento da comunidade virtual.
“Mesmo agindo de forma isolada, acreditam que fazem parte de um movimento, se sentem parte de algo maior”, explica.
Ela também ressalta que o Brasil não está vivendo um fenômeno isolado, mas que casos com características muito similares também estão sendo registrados em outros países.
Nos Estados Unidos, onde massacres produzidos por jovens em escolas ocorrem há mais tempo e com mais frequência, um levantamento realizado pelo jornal Washington Post mapeou 377 incidentes desde 1999. Considerando somente 2021 e 2022, foram 88, quase um quarto do total.
No Brasil, de acordo com o mapeamento da Unicamp, os ataques registrados desde 2002 aconteceram em 19 escolas públicas, entre estaduais e municipais, e em quatro particulares. Segundo Telma, os perfis das instituições são distintos. Por isso, não há razão para responsabilizá-las. Ela conta que já conheceu professores que se perguntavam se fizeram algo de errado.
“Não há nada que explique porque aconteceu em determinada escola e não em outra. Pode acontecer em qualquer lugar. Tem escolas localizadas em regiões mais violentas dos que as que foram atacadas. Ataques ocorrem em escolas com diferentes níveis de estrutura”, pondera.
Caminhos
Após os últimos ataques, o governo paulista se apressou em anunciar algumas medidas, entre elas a alocação de policiais dentro das escolas e a ampliação de investimento em um programa de mediação de conflitos nas unidades de ensino. Em Santa Catarina, o prefeito de Blumenau prometeu a criação de um protocolo de prevenção para evitar novos casos.
A repercussão dos casos recentes também levou a adoção de medidas em outros estados. O governo do Rio de Janeiro anunciou a criação de um Comitê Permanente de Segurança Escolar com representantes da Segurança Pública e da Educação para atuar na prevenção às situações de violência nas escolas públicas e privadas. Por sua vez, o governo federal criou um grupo interministerial para analisar propostas de políticas públicas.
Sociólogo defende ações emergenciais para conter violência nas escolas
Ataques a escolas, gravações com boatos, desinformação e ameaças, que “antes pareciam atitudes descoordenadas, têm se mostrado uma onda perigosa”, diz o sociólogo Rudá Ricci, pesquisador dos temas educação e cidadania.
Nessa quarta-feira (12), ele participou e foi um dos articuladores de encontro com entidades ligadas ao setor para encontrar caminhos contra a situação que tem gerado temor no Brasil. O cientista social defende a necessidade de três medidas emergenciais, que incluem “desbaratar e prender os núcleos propagadores das ameaças”, o que, para as instituições, já está sendo tratado pelo Ministério da Justiça.
As outras são “criar protocolos de orientação para pais e professores sobre como agir em casos de ameaça, violência, agressividade e incivilidade” e “criar serviço de apoio e escuta de psicólogos e assistentes sociais” para pais e profissionais da educação.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista do sociólogo:
Agência Brasil: Essas ameaças são coordenadas?
Rudá Ricci: Não podemos negar que há uma inteligência por trás disso. Há mensagens, por exemplo, sobre eventuais ataques em universidades. Ouvi áudios de uma jovem que diz ter recebido uma notícia e uma alusão aos ataques em Columbine (Estados Unidos, em 20 de abril de 1999). Essas mensagens se alastraram como ameaça a universidades brasileiras. Essas organizações extremistas no país estão querendo construir um novo 8 de janeiro de 2023 (dia de atos terroristas contra os Três Poderes). Agora, envolvendo a educação.
Agência Brasil: Quais são os principais pontos de cuidado?
Rudá Ricci: Nós temos que ter cuidado com três questões pelo menos. Em primeiro lugar, com o ambiente criado no Brasil. Temos que debelar essa ideia de que a gente resolve os problemas com as próprias mãos e que temos que ser intolerantea com quem é diferente. É preciso debelar esse clima de violência e intolerância. É a primeira medida que eu sugiro, ou seja, devemos ter uma inteligência policial e da sociedade civil articulada para identificar a origem dessas ameaças e colocar todos na cadeia.
Agência Brasil: O Estado tem agido nesse campo, certo?
Rudá Ricci: Essa é uma primeira ação urgentíssima. O Ministério da Justiça iniciou o processo com o disque-denúncia. Temos que mergulhar na Deep Web (parte da internet não encontrada pelos mecanismos de buscas). É aí que eles estão se articulando. Temos que identificar as ramificações e redes que se formaram. Temos ainda que deixar claro, inclusive para esses adolescentes que estão ameaçando, que eles vão responder por isso. Nós temos que coibir. E isso não se faz com guarda armado na frente da escola. Essa é a outra coisa que é preciso deixar claro e que nos preocupa. Temos a experiência dos Estados Unidos, onde há guarda armada no seu interior e não debelaram a violência.
Agência Brasil: Por quê?
Rudá Ricci: Porque há uma interpretação equivocada de achar que adolescentes que estão propensos a atacar se intimidam com guarda, com policiamento. É o contrário. O que sabemos hoje é que há adolescentes que estão imbuídos dessa intenção de aparecer pela violência. Eles veem a presença do guarda como desafio e, então, buscam outros tipos de estratagemas como colocar bomba em banheiro e, assim, tentar desmoralizar a segurança.
Nos Estados Unidos, as guardas armadas dentro das escolas aumentaram e até estimularam atos de violência. Nós queremos outro tipo de abordagem, que seja por meio da inteligência e não dos atos de retenção. Assim a gente pode desbaratar essa rede de ameaças nas escolas que agora, parece, está sendo objeto da extrema direita no Brasil.
Agência Brasil: Como apoiar pais e professores assustados com a situação?
Rudá Ricci: O segundo ponto é que nós temos que dar suporte aos pais e professores. Para isso, é preciso elaborar protocolos.
Agência Brasil: O que significa o protocolo?
Rudá Ricci: Significa o seguinte: diante de um boato de ameaça a uma escola, é necessária uma orientação nacional. Não pode ser um voluntarismo de um diretor de escola. Isso não resolve a onda que está se formando no Brasil ou que está se tentando formar. É preciso ter protocolo, se houver ameaça de violência, ou mesmo violência, atos de agressividade ou de incivilidade. Definir quando é motivo para fechar a escola ou suspender aula, ou quando não é.
Agência Brasil: Professor, os protocolos seriam formulados pelo Estado?
Rudá Ricci: Eu acho que quem tem que formular é a sociedade civil. E não em disputa entre políticos nas mais variadas cidades. O conhecimento para enfrentar problemas educacionais e violência envolvendo a educação está na sociedade civil.
Agência Brasil: Qual o objetivo dessas reuniões entre as entidades? É a formulação de sugestões?
Rudá Ricci: Fizemos a primeira reunião com 20 entidades e pesquisadores nacionais, de todos os estados do país. A gente precisa mapear essas ameaças, que é um dos objetivos.
Agência Brasil: O terceiro ponto é apoio psicológico, certo?
Rudá Ricci: É o seguinte: nós temos alguns países como a França que já tem, há muito tempo, serviço de apoio psicológico e assistencial, até pedagógico, também a professores. Estou sugerindo que a gente crie um serviço nacional de apoio envolvendo, por exemplo, os mais de 2,5 mil Caps (centros de Atenção Psicossocial), os Cras (centros de Referência de Assistência Social) e também as universidades, organizações não governamentais (ONG), para que pais e profissionais da educação possam ser atendidos.
É o que internacionalmente se chama política do cuidado. Há um contexto relevante a ser considerado. Ou seja, a gente cuidar de quem cuida. A Cultiva (ONG ligada à educação e cidadania que o pesquisador coordena) mostra, por exemplo, que 40% dos professores dessas redes registraram aumento de conflito intrafamiliar durante a pandemia.
Quando temos uma sociedade dessocializada, aumentamos a violência. Isso envolve angústia e a solidão. Espera-se que as escolas mudem o cenário. Quando voltamos da pandemia, pensou-se que seria necessário correr atrás dos conteúdos perdidos. Mas era muito importante que nos voltássemos mais para a humanização.
Denúncias
Informações sobre ameaças de ataques podem ser comunicadas ao canal Escola Segura, criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com SaferNet Brasil. As informações enviadas ao canal serão mantidas sob sigilo e não há identificação do denunciante.
Acesse o site para fazer uma denúncia.
Em caso de emergência, a orientação é ligar para o 190 ou para a delegacia de polícia mais próxima.
Edição: Heloisa Cristaldo e Graça Adjuto
Criador da Tesla defende renda universal básica universal
Cresce o grupo de industriais que defendem medidas de compensação para um maior desemprego
Crianças e internet: pais devem acompanhar o uso
Daniel Mello
Agência Brasil
Os pais precisam se aproximar dos filhos para evitar o uso problemático de computadores, jogos eletrônicos e celulares, defendem as especialistas que participaram na terça-feira, dia 7 de agosto, do Workshop Impactos da Exposição de Crianças e Adolescentes na Internet. O evento foi promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
“A gente não escuta os nossos filhos, não dá importância para as necessidades deles”, enfatizou a gerente da assessoria jurídica do Nic.br, Kelli Angelini. Ela citou dados levantados pela entidade que mostram que grande parte dos adolescentes de 11 a 17 anos estão expostos a conteúdos impróprios na rede. “Será que os pais estão atentos a isso? Será que os pais sabem que 27% das meninas que responderam a pesquisa já tiveram acesso a conteúdos que estão relacionados a formas de ficar mais magro?”, exemplificou.
Usos problemáticos
O mau uso das tecnologias ou o abuso de celulares e jogos eletrônicos pode levar ao desenvolvimento de diversos problemas, de acordo com a pediatra e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Evelyn Eisenstein. “Nós já estamos vendo o primeiro sintoma: transtornos de sono. Crianças que dormem menos. Crianças para dormir bem, em uma fase de crescimento, têm que dormir entre oito e nove horas. Nós temos crianças dormindo 6 horas”, destacou.
No caso dos adolescentes, a psicóloga Evelise Galvão de Carvalho disse que muitas vezes os jogos eletrônicos são uma forma de fugir das frustrações cotidianas. Garotos com dificuldade de se socializar, por exemplo, conseguem ter vidas mais atrativas no mundo virtual, de acordo com a especialista. “Quando ele chega em casa, depois da escola, ele entra no jogo e muda tudo. E dentro do jogo ele passa a ser um avatar. Dentro do jogo ele não tem idade, não envelhece, tem uma namorada há mais de um ano. Ele passa tempo com essa pessoa, fazem coisas juntos dentro do jogo”, enumerou sobre as realizações possíveis dentro do ambiente virtual.
“Embora não seja verdadeiro o que ele está vivendo, as sensações e as reações são verdadeiras, são gratificantes”, acrescenta Evelise. Jovens nesse tipo de situação estão, segundo a psicóloga, mais predispostos a estabelecer uma relação problemática com os jogos. Isso acontece quando o jovem passa a dedicar mais energia à virtualidade do que ao mundo real, deixando até obrigações de lado para jogar.
A especialista ressalta que é preciso refletir por que a vida cotidiana é tão frustrante e desanimadora para parte dos adolescentes. “Que tipo de mundo nós estamos oferecendo para as nossas crianças e adolescentes que eles estão preferindo viver em um mundo que não é real do que viver aqui com a gente?”, questiona Evelise.
Proibição
No entanto, a psicóloga se diz contrária a proibir o uso das tecnologias pelos jovens como forma de tentar contornar os problemas. “O movimento de luta contra as tecnologias é uma guerra sem fim, que a gente nunca vai ganhar. Nós vivemos em um mundo tecnológico, não tem mais volta. A tendência é ao contrário, cada vez mais a gente vai estar inserido e vivendo com essa tecnologia”, enfatizou.
“Proibir eu não estou ensinando nada”, acrescentou ao comentar a interdição do uso de celular em algumas escolas. “A gente vem em contramão de outros países que inserem os celulares nas escolas”, ressaltou.
“Não acho que seja proibir, castigar, mas ensinar sobre o uso. Dialogar. Colocar regras, limites, saber explicar para o seu filho e sua filha o uso correto”, concordou a professora Evelyn Eisenstein.
Crianças pós 2020 testemunharão maior número de eventos climáticos extremos
As crianças das gerações mais jovens estão sob a ameaça de uma “grave ameaça” de eventos climáticos extremos e à sua segurança.
Carlos Plácido Teixeira
Radar do Futuro
Uma criança nascida em 1960 teria a probabilidade de ser exposta a um fenômeno climático severo, como uma grande enchente ou um furacão, por duas vezes durante a sua infância. Uma outra nascida agora, na década de 2020, pode ser testemunha de uma quantidade de eventos catastróficos duas a sete vezes maior do que a representante da geração dos seus avós. Divulgada pelo site NPR, a projeção é da revista Science, em mais um estudo que reforça as perspectivas pessimistas para o futuro do planeta.
Segundo os cientistas, a taxa atual de aquecimento global e as políticas nacionais que não conseguem fazer os cortes necessários na poluição responsável por reter o calor tendem a garantir que os eventos climáticos, como ondas de calor, continuarão a aumentar em frequência, intensidade e duração. Isso deixa as crianças das gerações mais jovens sob a ameaça de uma “grave ameaça” à sua segurança.
O estudo analisou eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, quebras de safra, inundações, incêndios florestais e ciclones tropicais. Os pesquisadores usaram dados recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas de 2021. O relatório inclui dados e informações como a expectativa de vida global, tendências populacionais e trajetórias projetadas de temperaturas globais.
As previsões sobre o impacto dos eventos sobre a vida dos mais jovens foram considerados surpreendentes. Pense em um morador dos Estados Unidos, com 60 anos hoje. O neto dele, de seis anos, experimentará o dobro de ciclones e incêndios florestais , três vezes mais inundações de rios, quatro vezes mais quebras de safra e cinco vezes o número de secas . As ondas de calor serão o evento climático extremo mais prevalente, ocorrendo com frequência 36 vezes maior na história da criança de seis anos.
Impactos desiguais
O estudo mostra que eventos climáticos extremos podem afetar as gerações mais jovens em várias regiões do mundo de forma diferente. Pessoas com menos de 25 anos em 2020 no Oriente Médio e no Norte da África provavelmente terão mais exposição a eventos climáticos extremos em comparação com outras regiões. Os pesquisadores afirmam que, em geral, as gerações mais jovens em países de baixa renda enfrentarão a piora do clima a uma taxa mais elevada do que seus pares nos países mais ricos.
Os dados do estudo mostram como a limitação do aumento do aquecimento global e a adaptação de políticas que se alinham ao acordo climático de Paris são benéficas, argumentam os pesquisadores. Mas mesmo assim, as gerações mais jovens ainda são deixadas com “exposição a eventos extremos sem precedentes”, eles escrevem.
Jovens indignados
O site NPR destaca que o lançamento do estudo ocorre no momento em que jovens ativistas do clima se reuniam em setembro em Milão, Itália. A cúpula da Youth4Climate contou com discursos de Greta Thunberg, da Suécia, e Vanessa Nakate, de Uganda, que criticaram os líderes mundiais por não tomarem medidas significativas sobre a mudança climática.
Thunberg, 18 anos, acusou os líderes de muitas palavras vazias. “Isso é tudo que ouvimos de nossos chamados líderes: palavras. Palavras que parecem ótimas, mas até agora não levaram a nenhuma ação. Nossas esperanças e sonhos se afogam em suas palavras e promessas vazias”, disse ela. “Claro, precisamos de um diálogo construtivo, mas eles já tiveram 30 anos de blá, blá, blá. E aonde isso nos levou?”
Nakate, 24 anos, também apontou como as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente o continente africano – apesar de suas emissões de carbono serem menores do que a de todos os outros continentes, com exceção da Antártica. “Para muitos de nós, reduzir e evitar não é mais suficiente. Você não pode se adaptar a culturas, tradições e história perdidas. Você não pode se adaptar à fome. É hora de os líderes colocarem perdas e danos no centro das negociações climáticas”, afirmou Nakat.
Simplificação necessária
Articulista do NPR, Rebecca Hersher defende o combate ao “jargão climático’, salientando que cientistas passam a entender a necessidade de buscar mensagens mais claras sobre temas como aquecimento global. Segundo, Hersher, um estudo recente descobriu que alguns dos termos mais comuns na ciência do clima são confusos para o público em geral. O estudo testou palavras que são freqüentemente usadas em relatórios climáticos internacionais e concluiu que os termos mais confusos eram “mitigação”, “carbono neutro” e “transição sem precedentes”.
Um exemplo da complexidade da mensagem é identificável na frase “os humanos devem mitigar o aquecimento global buscando uma transição sem precedentes para uma economia neutra em carbono”. “Acho que a mensagem principal é evitar jargões”, diz Wändi Bruine de Bruin, cientista comportamental da Universidade do Sul da Califórnia e principal autora do estudo . “Isso inclui palavras que podem parecer que todos deveriam entendê-las.”
Por exemplo, os participantes do estudo confundiram a palavra “mitigação”, que comumente se refere a esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com a palavra “mediação”, que é uma forma de resolver disputas. E mesmo termos simples como “carbono” podem ser enganosos, concluiu o estudo. Às vezes, carbono é uma abreviatura de dióxido de carbono. Outras vezes, é usado para se referir a vários gases de efeito estufa.
Bruine de Bruin reconhece que os especialistas em um determinado campo podem não perceber quais palavras são jargões. É necessário um exercício de simplificação e de empatia, no final das contas. O estudo é a indicação mais recente de que os cientistas precisam se comunicar melhor sobre o aquecimento global, especialmente quando o público-alvo é o público em geral.
A articulista da NPR reforça que uma comunicação clara sobre o clima torna-se mais importante a cada dia porque a mudança climática está afetando todas as partes da vida na Terra. Enfermeiros, médicos, agricultores, professores, engenheiros e executivos de negócios precisam de informações confiáveis e acessíveis sobre como o aquecimento global está afetando seus pacientes, plantações, estudantes, edifícios e empresas.
E as condições climáticas extremas neste verão – de inundações a incêndios, furacões a secas – enfatizam a urgência de uma comunicação clara sobre o clima. “Acho que mais e mais pessoas estão ficando preocupadas por causa dos eventos climáticos extremos que estamos vendo ao nosso redor”, disse Bruine de Bruin. “Espero que este estudo seja útil para cientistas do clima, mas também para jornalistas e qualquer pessoa que se comunique sobre ciência do clima.”
Relatórios acessíveis
Melhor comunicação é uma prioridade para a equipe de cientistas que atualmente trabalha na próxima Avaliação do Clima Nacional, o relatório de mudança climática mais abrangente e voltado para o público dos Estados Unidos. A quinta edição da avaliação sai no final de 2023. “Você não deveria precisar de um diploma avançado ou de um anel decodificador para descobrir uma Avaliação Climática Nacional”, diz Allison Crimmins, diretora da avaliação.
Crimmins diz que uma de suas principais prioridades é tornar as informações do próximo relatório dos EUA claras para o público em geral. Os cientistas do clima e as pessoas que comunicam sobre as ciências do clima têm a responsabilidade de pensar sobre a terminologia que usam. “Enquanto a ciência sobre mudança climática avançou, também avançou a ciência da comunicação climática, especialmente como falamos sobre risco”, diz ela.
Crimmins diz que uma maneira de tornar as informações mais claras é apresentá-las de muitas maneiras diferentes. Por exemplo, um capítulo sobre a seca pode incluir um texto técnico denso com tabelas e gráficos. Essa seção seria destinada a cientistas e engenheiros. Mas a mesma informação poderia ser apresentada como um vídeo explicando como a seca afeta a agricultura em diferentes partes dos EUA, e uma postagem na mídia social com uma versão ainda mais condensada de como a mudança climática está afetando a seca.
As Nações Unidas também têm tentado tornar seus relatórios sobre mudanças climáticas mais acessíveis. O relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU tinha mais de 3.900 páginas e era altamente técnico, mas também incluía um resumo de duas páginas que afirmava os pontos principais em linguagem simples, como: “É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra. “
Mas mesmo o resumo simples está repleto de palavras que podem ser confusas. Por exemplo, uma das chamadas declarações de manchete do relatório do IPCC é: “Com o aquecimento global crescente, todas as regiões deverão experimentar mudanças múltiplas e simultâneas nos fatores de impacto climático”. Basicamente, o clima continuará mudando em todos os lugares à medida que a Terra ficar mais quente.
Criptomoedas: oportunidades para crescimento do mercado no futuro
Tasso Lago*
Doze anos após o nascimento das criptomoedas, os bancos estão incluindo as moedas digitais no rol de investimentos. Esse movimento, que responde à uma demanda originada da parte dos investidores, reforça a credibilidade do mercado de cripto e aumenta o interesse pelas moedas digitais.
Pay Pal, VISA e Tesla movimentaram o cenário de moedas digitais nos últimos dias, colaborando para uma alta de 9,17 % no mercado. O fato de as empresas investirem nesse mercado, permitindo ao cliente não só ganhar criptomoedas, mas também gastá-las dentro do próprio ecossistema, traz um hype para a tecnologia e agrega valor às organizações pela inovação. Há uma demanda de pessoas querendo usar criptomoedas como forma de pagamento. Por isso, as empresas estão criando o meio de campo para aproveitar a euforia de mercado.
É um movimento positivo e que faz sentido para o mercado financeiro por ser uma resposta a um apelo do público. Há poucos anos, era difícil imaginar o cenário atual e, certamente, alguns ainda questionam a realidade desse mercado, devido à trajetória da moeda digital.
Originalmente, o Bitcoin era negociado nas ruas, no mercado peer to peer, de pessoa para pessoa. Alguns, inclusive, ficavam na famosa Wall Street para negociar. O sistema foi crescendo e, em 2017, o Bitcoin foi listado na bolsa de Chicago, levando o mercado amador a atingir seu ápice, sendo um ponto de inflexão para se tornar um mercado profissional. Conforme o sistema foi crescendo, também passou por alguns escândalos, como o da deepweb, onde Bitcoins foram utilizadas para comprar armas e drogas por acharem que a moeda digital não era rastreada.
O caso serviu para provar o contrário, mostrando que a blockchain funciona como um livro contábil, que registra entrada e saída de fluxo, ou seja, não é possível apagar ou propinar na rede. Atualmente, já se sabe que a rede aprende rapidamente: se vê alguma criptomoeda com boa tecnologia e funcionamento, a blockchain implementa o mecanismo para melhorar o sistema; da mesma forma, se encontra uma moeda digital com desempenho ruim (seja pela tecnologia ou pela performance), consegue identificar o erro e trabalhar para que não ocorra mais.
Além da segurança proveniente da rede criptografada, o Bitcoin é um artigo deflacionário, ou seja, existirão somente 21 milhões de unidades no mundo (atingindo esse número, não será mais impresso). Hoje, estamos em 18,6 milhões de unidades emitidas e, cada vez mais, a demanda pela compra aumenta e a oferta diminui, agregando valor à moeda proporcionalmente. O Bitcoin teve crescimento de 480,04% entre outubro de 2020 e março de 2021. Atualmente, um Bitcoin equivale a R$ 337.863,27.
Vejo claramente que a tendência de ser um investimento positivo nos próximos dez anos é real. Daqui a cinco anos, esse mercado será ainda maior. Estamos em um ciclo de alta, que mais cedo ou mais tarde, sofrerá correção – ação normal em qualquer bolsa de valor no mundo, mas ainda assim, a tendência segue de alta.
Já temos ETF’s de moedas digitais, por exemplo, que facilitam a entrada de capital para o investidor leigo, permitindo-o de comprar um ticket na bolsa de valores que investirá passivamente em criptomoedas para ele (isso ocorre na bolsa de Nasdaq, na bolsa brasileira e em várias outras pelo mundo). Estamos vendo também muitas criptos chegando ao universo digital para solucionar dores do mercado tradicional. Um exemplo é o mercado de finanças descentralizadas em que a DeFi atua.
Ela possibilita que um investidor pequeno tenha acesso a investimentos antes disponíveis apenas aos grandes. Isso ocorre porque, via blockchain, é possível um aporte por ticket menor. Outra inovação das criptomoedas é a opção de monetizar através do STO, Security Token Ofering. Através da ferramenta, é possível atrair investidores com interesse em um projeto seu. Digamos que tenho um terreno em Ilhabela, no valor de R$ 10 milhões e quero construir um condomínio no local, mas não tenho caixa para isso.
Divulgo o projeto explicando o valor para a construção e mostro a projeção de valorização em R$ 40 milhões. Depois, faço tokens do projeto para chamar atenção de investidores decididos a aportar no projeto. Isso seria impossível de fazer se dependesse de um IPO, por exemplo, pois o custo desse próprio instrumento é de muitos milhões de dólares. Com o STO, um investidor ou empresário pequeno consegue se monetizar sem precisar ter um montante alto para tal.
O crescimento do mercado é, portanto, promissor, e por isso pede uma convergência entre tradicional e digital por parte das organizações para expandir as possibilidades do universo cripto. Sobre a volatilidade, que costuma assustar muitos curiosos em relação às moedas digitais, destaco que existem alternativas, afinal, são mais de 8 mil criptomoedas atualmente. Algumas criptomoedas não são voláteis, como as chamadas stablecoins, por exemplo, que por serem pareadas com o dólar e o euro, podem ser utilizadas como meio de pagamento.
*Especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move.