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Geopolítica: a guerra fria ganha um novo capítulo com um ator decadente

A humanidade convive com a nova guerra fria, em que os Estados Unidos repetem estratégias para manter em ação a máquina de produção de conflitos

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guerra fria e as vítimas de sempre: foto de prédio antigo, não identificado, com placa bem vindos refugiados
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Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro

O cenário geopolítico dos próximos anos já começou com o aumento das análises sobre o retorno do tema da Guerra Fria. A criação do ambiente de confronto pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, é caracterizado, agora, pelas provocações contra a Rússia, que desavisados ou mal intencionados acham que ainda é a União Soviética. A China é o alvo central da criação do clima de instabilidade na região da Ásia, claro. Os norte-americanos mantém o discurso de defensores da liberdade contra países autoritários. Na prática, o pano de fundo do cenário de tensões inclui o reconhecimento de que, em até 10 anos, o país asiático ocupará a liderança no ranking de poder econômico global.

Especialistas em política internacional acreditam que o império tenta, a todo custo, desviar atenções sobre a sua decadência, diante do reconhecimento de que enfrenta problemas variados. O país perdeu força. E sofre com a crescente desigualdade de renda e aumento da miséria no ambiente interno. Além da fragilidade de seu sistema produtivo, desde os anos 1990, quando as suas indústrias foram transferidas para a China e outros países asiáticos.

Então, velhas lideranças recorrem a receitas tradicionais para iludir a opinião pública global. Conflitos fora das fronteiras são prioritários para a tentativa de manter o poder e a influência como força econômica e política hegemônica no planeta. Porém, nem mesmo em alguns países aliados mais próximos, as populações acreditam na possibilidade de manutenção do poderio dos norte-americanos. Por exemplo, para uma parte dos europeus, os Estados Unidos estarão “politicamente quebrados” em uma década, segundo uma pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, da sigla em inglês). Mais de 15 mil pessoas entrevistadas, em 11 países da região, mostraram a descrença sobre a possibilidade de retomada da influência política e econômica dos EUA.

A pesquisa mostra que as atitudes dos europeus em relação aos Estados Unidos sofreram grandes mudança. A maioria dos entrevistados nos principais países da União Europeia agora pensam que o sistema político norte-americano está quebrado. A Europa não deveria, então, confiar apenas nos aliados do outro lado do Atlântico para defender o modelo dominante. Para a população ouvida, os sistemas da UE e os próprios países integrantes da comunidade têm melhores condições de manter as estruturas de poder funcionando. Até consideram Berlim, em vez de Washington, o parceiro mais importante.

Analógico x digital

Além de ter a imagem de império hegemônico e saudável comprometida, os Estados Unidos terão outros desafios na condução de uma nova guerra. Há condições diferentes daquelas que existiam no cenário do período da União Soviética. Os especialistas em relações internacionais ligados ao Conselho Europeu reconhecem que “os líderes europeus e americanos podem falhar quando descobrirem que não têm um consenso social por trás deles”.

Até agora, são apenas as instituições europeias, e não os habitantes europeus, que estão interessados em ver o mundo de amanhã como um sistema crescente de competição entre países com diferentes sistemas. E com a China como líder. Para levar adiante uma nova “guerra fria” é necessário reconhecer que há mudanças no acesso às informações e no comportamento dos cidadãos. Inclusive na consciência possível de que, para uma maior parte da população, talvez não adiante um discurso anticomunista ou contra alguma forma de autoritarismo, artifício utilizado pelos Estados Unidos e aliados com o objetivo de criar intrigas e guerras, como em outros tempos de guerra fria.

Os europeus reconhecem o império decadente (Foto: reprodução YouTube

Há consequências geopolíticas para a fraqueza norte-americana. A maioria acredita que a China será mais poderosa que os EUA dentro de uma década e gostaria que seu país permanecesse neutro em um conflito entre as duas superpotências.

Dois terços dos inquiridos consideram que a UE deve desenvolver as suas capacidades de defesa. Representantes do Conselho de Relações Exteriores dizem que há uma tendência de renascimento do “atlantismo”.

Mas Washington não pode tomar como certo o alinhamento europeu contra a China. “A opinião pública terá um efeito maior no relacionamento do que antes e precisa ser levada em consideração”, avaliam os analistas vinculados à ECFR, uma instituição com traços conservadores.

Outro mundo, outra guerra fria

O mundo mudou, mesmo que velhos métodos e problemas ainda insistam em permanecer vivos. Para começar, os Estados Unidos perderam poder e são uma nação com fragilidades. Os norte-americanos continuam movidos pela indústria da guerra para defender os interesses de seus grupos econômicos e políticos. E, neste momento, o aparato da indústria das armas deve estar comemorando a possibilidade de novos conflitos, enquanto formadores de opinião alinhados aplicam os conceitos de guerra “de espectro total” ou “híbrida” para assegurar a emissão de bombas ideológicas.

Mesmo com esforços para se aproximar do Ocidente depois do fim da União Soviética em agosto de 1991, a Rússia permanece eleita como inimiga. A Rússia é, na prática, um país capitalista. Mas para garantir a existência de inimigos, também vale recorrer aos velhos bordões na disputa pelo domínio ideológico. O presidente dos EUA, Joe Biden, repetidamente classifica a rivalidade de seu país com a China como uma batalha entre democracia e autocracia. No que é seguido pela imprensa ocidental e os governantes de outros países.

É uma premissa falsa, que se propaga com o apoio do aparato de comunicação dos aliados. As placas sobre missão e valor na porta das redações da imprensa ocidental deixam claro que a mídia serve para servir a um lado. Shlomo Ben-Ami, ex-ministro das Relações Exteriores de Israel, e vice-presidente do Centro Internacional de Toledo para a Paz, define a narrativa do confronto entre a águia da liberdade e o mal dos inimigos como imprecisa. Os Estados Unidos e a China competem por mercados. Não por modelos econômicos e políticos. O ex-ministro do país aliado avalia que os EUA não deveriam tentar ‘derrotar’ a China, como fizeram com a União Soviética, porque, antes de tudo, a China não está em busca de espalhar ‘socialismo com características chinesas’ pelo mundo.

Cientistas políticos e sociais atestam que o mundo desconhece em profundidade os planos da China para o futuro. O sistema político do país asiático não se enquadra nas definições tradicionais do Ocidente. As estratégias e os conceitos são capazes de gerar longas de discussão. Comunista, socialista de mercado, capitalista de mercado, social-capitalista. Independente das definições, nas últimas décadas do século passado empresas dos países de todas as regiões transferiram as suas fábricas para a China porque procuravam mão de obra barata.

Não só as norte-americanas, mas também europeias e brasileiras. E até recentemente, China e os EUA eram os maiores colaboradores um do outro em termos de coautoria de artigos científicos publicados. O declínio das parcerias ocorre atualmente por conta de mudanças de atitudes aceleradas no governo Trump e mantidas com Joe Biden, que estimulam reações xenofóbicas em relação aos russos e asiáticos.

O que está em jogo é a incerteza sobre a capacidade dos Estados Unidos obter alguma vitória com as estratégias de uma guerra fria, mesmo repaginada. E sem eliminar a percepção de sua própria decadência. Os seus aliados vão querer saber se será possível manter a posição hegemônica, eliminando a China e Rússia como forças econômicas e políticas capazes de dividir o mundo, e ao mesmo tempo voltar a se fortalecer como força econômica e política.

O know-how chinês continua sendo um grande atrativo para as empresas americanas. “A maioria das empresas da Fortune 500 tem bases de P&D na China. É impossível pensar em dissociação aqui.

Sciense Business

“Algumas empresas britânicas e internacionais agora dependem do acesso aos mercados chineses e parecem dispostas a fazer o que Pequim exigir para manter sua presença na China”, relata a matéria “Uma nova guerra fria? A relação da Grã-Bretanha é muito mais complexa“, publicada pelo site The Guardian. No cenário da economia digital, as cadeias de suprimentos e os mercados financeiros garantem que as nações sejam muito mais interdependentes. Mesmo que os militares dos Estados Unidos, a manutenção de uma guerra quente ou fria contra os inimigos tende a ser mais complexa.

Em resumo

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