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Futuro das livrarias: a crise se aprofunda

O que a crise envolvendo as livrarias Cultura e Saraiva diz sobre o futuro do setor? - foto: Pixabay
O que a crise envolvendo as livrarias Cultura e Saraiva diz sobre o futuro do setor?

Carlos Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro
As dificuldades de sobrevivência enfrentadas pelas livrarias Saraiva e Cultura colocam novas pás de cal nas esperanças de empresários e leitores que sonham em ver tempos dourados da atividade. A crise é real e sem previsão de acabar diante do processo de mudança dos mercados. E visível com o fechamento de unidades por todos os cantos do País, que já carrega a maldição da baixa tradição de leitura.
No balanço de 2018, o mercado mercado brasileiro de livros terá mais leitores, uma boa notícia ilusória, e menos livrarias. No primeiro semestre deste ano, o setor registrou faturamento 9,97% maior em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume de vendas também subiu 5,24%. A tendência é fechar o ano de 2018 com números positivos, depois da queda de 9% em 2016 e um tímido crescimento de 3% no ano passado. Por trás de números positivos, há a pior crise que o setor enfrenta nos últimos anos, com fechamento de pequenas, médias e grandes empresas.
Segundo o Panorama do Setor Cultural, feito pelo IBGE, em 2001, 42% dos municípios brasileiros tinham livrarias. O número foi reduzido para 27% em 2014. Os problemas financeiros das duas maiores redes de livrarias brasileiras conta apenas parte do cenário real do mercado. A Cultura fechou 20 livrarias e está em processo de recuperação judicial, com uma dívida com fornecedores estimada em R$ 300 milhões. A Saraiva acumula uma dívida de cerca de R$ 120 milhões, fazendo com que a empresa desista do comércio de produtos eletrônicos em suas lojas, feche pontos de venda deficitários e demita 700 funcionários.

Problemas de gestão

Parte do mercado considera que a crise é resultante de decisões administrativas das livrarias, mais do que problemas de um mercado que já é, por si só, fraco. O segmento até registrou aumento das vendas de livros em 2018, uma lenta recuperação do mercado perdido nos últimos anos. Mas o setor livreiro enfrenta, segundo a Associação Nacional do Livro, uma recessão que já vinha acontecendo há quatro anos. A Saraiva e a Cultura são apenas a ponta do iceberg. Muita gente já ficou pelo caminho, a exemplo da rede La Selva, conhecida pelas livrarias nos aeroportos. Ela não conseguiu cumprir as metas da recuperação judicial e acabou falindo.

Segundo a ANL, o Brasil tinha, em 2013, 3.095 livrarias. Hoje são cerca de 2.500. Um número baixíssimo, levando em conta que  a Unesco recomenda uma livraria para cada 10 mil habitantes. Deveríamos ter, então, pelo menos 20 mil livrarias. Uma crise tão ampla não atinge apenas as livrarias, mas também as editoras. E não faltam críticas à política nacional para o setor.

Para a Liga Brasileira de Editoras, que reúne cerca de 160 editoras independentes, o fim do Programa Nacional Biblioteca nas Escolas (PNBE), em 2014, aumentou a dependência de muitas editoras das vendas no varejo. Entre 2000 e 2014, o PNBE garantiu a compra e distribuição de 230 milhões de livros para bibliotecas escolares. Um investimento de R$ 891 milhões no período.

O problema não pode ser creditado à concorrência dos livros eletrônicos sobre os tradicionais impressos. O e-book representa 1% do total de faturamento de livros no Brasil. Os editores ressaltam que, mesmo nos Estados Unidos, a venda de e-books é menor. Concorrência mais significativa, e desleal, segundo os editores, vem dos grandes atacadistas, que vendem livros, muitas vezes apenas como chamariz para outros produtos, oferecendo descontos irreais ou até mesmo abaixo do preço de custo.

Perspectivas pessimistas

Os empresários do setor reconhecem que o segmento precisará se adaptar, com a criação de alternativas de sobrevivência. Mas não será algo fácil. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, mais da metade da população brasileira se considera leitora, embora leia menos de cinco livros por ano. A Bíblia é o preferido. Ainda segundo a pesquisa, 30% dos brasileiros adultos nunca compraram um livro.

O setor tende a sofrer com a queda da qualidade de vida da população nos próximos anos. Reivindicações de empresários por políticas públicas de apoio ao consumo tendem a cair no vazio, da ausência de prioridade para temas relacionados com cultura e educação. O segmento de didáticos, o que maior participação em faturamento, por sinal, deve sofrer uma forte crise com o corte de investimentos públicos e com a crise de estados e municípios.

 

 

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