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As desigualdades do atendimento cirúrgico pediátrico no Brasil

Pesquisadores da UFMG identificam desigualdades que caracterizam o campo do atendimento cirúrgico pediátrico no Brasil.


Enquanto nas regiões Sul e Sudeste há quase sete cirurgiões pediátricos para cada milhão de crianças, a média não chega a três no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Nessas regiões mais pobres, muitas cidades não contam com um único hospital de referência (que presta atendimento especializado) em um raio de 120 quilômetros. Estima-se que mais de 6,5 milhões de crianças brasileiras vivam nessas localidades. É o que aponta artigo produzido com coautoria de pesquisadores da UFMG.

“Além do acesso aos cuidados, a infraestrutura hospitalar e o número de procedimentos realizados também são distribuídos de forma desigual pelo país”, afirma a consultora do Centro de Pós-graduação e Pesquisas em Administração (Cepead), núcleo da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Núbia Cristina da Silva, uma das autoras da pesquisa.

Disparities in surgical care for children across Brazil: Use of geospatial analysis foi publicado no periódico Plos One, vinculado ao projeto Public Library of Science. “Nosso trabalho teve o objetivo de caracterizar a prestação de cuidados cirúrgicos para crianças em todo o Brasil e identificar a associação entre a disponibilidade de recursos e a taxa de mortalidade, visando a fomentar a elaboração de políticas públicas de redução da mortalidade infantil”, informa Núbia Cristina da Silva.

Os autores desenvolveram um estudo ecológico transversal para analisar o atendimento cirúrgico de crianças pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de 2010 a 2015. Conforme apurado, mais de 246 mil procedimentos foram realizados em 491 hospitais de referência e 6.007 hospitais de primeiro nível – que concentra ações relacionadas à prevenção de doenças – durante o período.

Foram levadas em conta as informações referentes a todos os pacientes menores de 15 anos, disponíveis em conjuntos de dados públicos do SUS, do Banco Mundial e do IBGE. Os pesquisadores exploraram as relações entre infraestrutura, força de trabalho, acesso, taxa de procedimentos, taxa de mortalidade abaixo dos cinco anos de idade e taxa de mortalidade perioperatória – relativa ao período entre a indicação da operação e a alta do paciente.

Políticas públicas
Apendicectomia, colostomia, reparo de hérnia, laparotomia e reconstrução da parede abdominal foram os cinco procedimentos usados como referência para avaliar a prestação de cuidados cirúrgicos no sistema público de saúde. De acordo com Núbia Cristina, alguns deles nem sequer são realizados em determinadas regiões.

A administradora salienta que o país experimentou muitos progressos recentes em termos de redução da mortalidade infantil, “mas essa evolução passou por outros caminhos além do investimento em saúde, como a melhoria do saneamento básico e da educação”. Segundo Núbia Cristina, programas como os de promoção da saúde nas escolas e de consolidação do calendário vacinal são exemplos de ideias bem-sucedidas no campo do atendimento primário. “Já na questão hospitalar ainda temos muitas lacunas, sobretudo geográficas”.

A pesquisadora considera que os esforços governamentais devem se voltar, especialmente, para a região Norte do país, onde peculiaridades geográficas tornam “inatingíveis alguns parâmetros”. “Na Amazônia, seria necessário erguer hospitais no meio da floresta, em locais de dificílimo acesso, sem estradas, para atender à recomendação da distância máxima de 120 quilômetros em relação às cidades. Embora os parâmetros tenham sido bem desenhados, há ressalvas como essa, com as quais os cientistas de países desenvolvidos, que normalmente estabelecem os padrões que orientam as políticas públicas, não estão acostumados”, pondera.

Artigo: Disparities in surgical care for children across Brazil: Use of geospatial analysis
Autores: Núbia Cristina da Silva e Thiago Augusto Hernandes Rocha, da UFMG; Luciano de Andrade, da Universidade Estadual de Maringá; Dan Poenaru, do McGill University Health Centre (Canadá); Cecília Ong, João Vissoci, Emily Smith e Henry Rice, da Duke University Medical Center (EUA)

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