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Pandemia acelera a substituição de humanos nas empresas globais

foto ilustrativa de um robô Foto: ABB
Em países avançados, a robotização tende a ser acelerada com o objetivo de reduzir a possibilidade de novas paralisações causadas por eventos inesperados

Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Designer do futuro

A substituição de humanos por máquinas deve ser acelerada nos próximos meses e anos, à medida que as empresas mudam do modo de sobrevivência para descobrir como operar enquanto a pandemia se arrasta. Os robôs podem substituir até 2 milhões de trabalhadores a mais nas indústrias até 2025, de acordo com um artigo recente de economistas do MIT e da Universidade de Boston. Sim a automação de serviços e do comércio e a utilização da robótica nas indústrias e na produção agrícola tendem a ser aceleradas enquanto os vírus permanecem como um desafio para o futuro do planeta.

Daniel Susskind, economista do Balliol College, da Universidade de Oxford, e autor de livros sobre o futuro do trabalho, em matéria publicada pelo site da revista Time, argumenta que “esta pandemia criou um incentivo muito forte para automatizar o trabalho dos seres humanos”. “As máquinas não adoecem, não precisam se isolar para proteger os colegas, não precisam se ausentar do trabalho”, diz o especialista. O movimento para substituir humanos por máquinas está se acelerando à medida que as empresas lutam para evitar infecções de Covid-19 no local de trabalho e para manter os custos operacionais baixos. 

Os Estados Unidos eliminaram cerca de 40 milhões de empregos no auge da pandemia e, embora alguns tenham voltado, outros nunca mais voltarão. Um grupo de economistas estima que 42% dos empregos perdidos se foram para sempre. Cerca de 400 mil empregos foram perdidos para a automação nas fábricas dos EUA de 1990 a 2007. Mas o movimento para substituir humanos por máquinas está se acelerando à medida que as empresas lutam para evitar infecções de Covid-19 no local de trabalho e para manter os custos operacionais baixos. A reportagem destaca que “um grupo de economistas estima que 42% dos empregos perdidos se foram para sempre.”

Impactos da pandemia na sociedade

A matéria chama a atenção para as etapas que foram atropeladas no processo de sobrevivência das empresas. No passado, a tecnologia era implantada aos poucos, dando aos funcionários tempo para a transição para novas funções. Aqueles que perderam o emprego podem buscar um retreinamento, talvez usando verbas rescisórias ou seguro-desemprego para encontrar trabalho em outra área. Desta vez, a mudança foi abrupta, pois os empregadores, preocupados com o Covid-19 ou sob ordens repentinas de bloqueio, correram para substituir os trabalhadores por máquinas ou software.

Não houve tempo para treinar novamente. Em vez disso, as empresas preocupadas com seus resultados deixavam os funcionários livres, e esses trabalhadores eram deixados por conta própria para encontrar maneiras de dominar novas habilidades. Eles encontraram poucas opções.

Nos Estados Unidos, a implantação de robôs em resposta ao coronavírus foi rápida. De repente, eles estavam limpando pisos de aeroportos e medindo a temperatura das pessoas. Hospitais e universidades implantaram o Sally, um robô que faz saladas criado pela empresa de tecnologia Chowbotics, para substituir os funcionários do refeitório; shoppings e estádios compraram robôs de segurança Knightscope para patrulhar imóveis vazios; empresas que fabricam suprimentos sob demanda, como camas de hospital e cotonetes, recorreram ao fornecedor de robôs industriais Yaskawa America para ajudar a aumentar a produção.

As empresas fecharam os call centers que empregam humanos no atendimento ao cliente e se voltaram para os chatbots criados pela empresa de tecnologia LivePerson ou para a plataforma Watson Assistant da AI. “Eu realmente acho que este é um novo normal – a pandemia acelerou o que iria acontecer de qualquer maneira”, disse Rob Thomas, vice-presidente sênior de nuvem e plataforma de dados da IBM, que implementa o Watson. Cerca de 100 novos clientes começaram a usar o software de março a junho.

A revolução digital rompeu paradigmas tidos como verdade nas sociedades industriais. Em teoria, a automação e a inteligência artificial deveriam libertar os humanos de tarefas perigosas ou enfadonhas para que possam assumir tarefas mais estimulantes intelectualmente, tornando as empresas mais produtivas e aumentando os salários dos trabalhadores. A revista reconhece que, no passado, os EUA responderam às mudanças tecnológicas investindo em educação.

Quando a automação mudou fundamentalmente os empregos agrícolas no final dos anos 1800 e 1900, os estados expandiram o acesso às escolas públicas. O acesso à faculdade se expandiu após a Segunda Guerra Mundial com o GI Bill, que mandou 7,8 milhões de veteranos para a escola de 1944 a 1956. Mas, desde então, o investimento americano em educação estagnou, fazendo com que os próprios trabalhadores pagassem por isso. E a ideia de educação nos Estados Unidos ainda se concentra na faculdade para jovens trabalhadores, e não na reciclagem de funcionários. O país gasta 0,1% do PIB para ajudar os trabalhadores a navegar nas transições de empregos, menos da metade do que gastava há 30 anos.

Impactos

Mesmo argumentando que a tecnologia pode criar novas funções e gerar empregos, a matéria acaba registrando a possibilidade de um déficit na balança do mercado de trabalho. Agora, ressalta, como a automação permite que as empresas façam mais com menos pessoas, as empresas de sucesso não precisam de tantos trabalhadores. A empresa mais valiosa dos Estados Unidos em 1964, a AT&T, tinha 758.611 funcionários; a empresa mais valiosa hoje, a Apple, tem cerca de 137.000 funcionários. Embora as grandes empresas de hoje ganhem bilhões de dólares, elas compartilham essa receita com menos funcionários, e uma parte maior do lucro vai para os acionistas. “Veja o modelo de negócios do Google, Facebook, Netflix. Eles não estão no negócio de criar novas tarefas para humanos ”, diz Daron Acemoglu, economista do MIT que estuda automação e empregos.

Segundo o especialista, na prática, o governo dos EUA incentiva as empresas a automatizarem, diz ele, dando incentivos fiscais para a compra de máquinas e software. Uma empresa que paga US$ 100 a um trabalhador paga 30 dólares em impostos, mas uma empresa que gasta US$ 100 em equipamentos paga cerca de três dólares em impostos. A Lei de cortes de impostos e empregos de 2017 reduziu tanto os impostos sobre as compras que “você pode realmente ganhar dinheiro comprando equipamentos”, diz Acemoglu.

Além disso, a inteligência artificial está se tornando mais hábil em trabalhos que antes eram da competência dos humanos, tornando mais difícil para os humanos ficar à frente das máquinas. O JPMorgan diz que agora tem a AI revisando contratos de empréstimos comerciais, concluindo em segundos o que costumava levar 360.000 horas do tempo dos advogados ao longo de um ano. Em maio, em meio à queda nas receitas de publicidade, a Microsoft demitiu dezenas de jornalistas do MSN e de seu serviço Microsoft News, substituindo-os por IA que pode escanear e processar conteúdo. O grupo de rádio iHeartMedia dispensou dezenas de DJs para tirar proveito de seus investimentos em tecnologia e IA. O sistema consegue transcrever entrevistas usando Otter.ai, um serviço de transcrição baseado em IA. Uma atividade que rendia um dólar por hora para humanos.

Esses avanços tornam a IA uma escolha fácil para as empresas que lutam para lidar com a pandemia. Municípios que tiveram que fechar suas instalações de reciclagem, onde os humanos trabalhavam de perto, estão usando robôs assistidos por IA para separar toneladas de plástico, papel e vidro. A AMP Robotics, empresa que fabrica esses robôs, afirma que as consultas de clientes em potencial aumentaram pelo menos cinco vezes de março a junho. No ano passado, 35 instalações de reciclagem usaram a AMP Robotics, disse o porta-voz da AMP Chris Wirth; até o final de 2020, quase 100 o farão.

Brasil: adoção lenta

Forças contrárias

  • Recuperação lenta da economia
  • Empresas descapitalizadas
  • Queda e concentração da renda
  • Ausência de políticas públicas
  • Desindustrialização acelerada
  • Ausência de políticas públicas

As tendências apontadas pela matéria da Time não se aplicam necessariamente ao mercado brasileiro, pelo menos no mesmo ritmo. A substituição de trabalhadores humanos por máquinas tende a ser mais lenta. O que não quer dizer que não vá acontecer. Em 2019, um estudo do Laboratório do Futuro, ligado ao Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), já alertava que o desemprego em massa será um dos impactos do avanço da automação no Brasil nos próximos 20 anos.

Estão em risco 9,2 milhões dos 16 milhões de empregos com carteira assinada criados no País entre 2003 e 2016. Esses postos de trabalho têm ao menos 70% de chance de sucumbirem à chegada de máquinas controladas por computadores, .

O engenheiro Yuri Lima dizia, em entrevista publicada pelo site IHU em dezembro de 2019, o debate sobre automação quanto sobre o futuro do trabalho no Brasil ainda “é muito incipiente”, se comparado com o modo como a discussão tem sido feita em países como Alemanha, Reino Unido e Japão. “Em geral, quando se vê uma discussão sobre o futuro do trabalho no Brasil, tende a ser uma importação de ideias do exterior. É preciso entender que o Brasil é muito diferente dos países economicamente desenvolvidos. Assim, a produção de conhecimento sobre o tema precisa ser feita considerando as particularidades nacionais”, diz.

A pandemia alcançou o setor produtivo brasileiro em um momento de continuidade da crise iniciada em 2014. Na média, as previsões para 2020 apontavam para um crescimento fraco ou inexistente para o desempenho do produto interno bruto brasileiro. Instituições como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que a economia brasileira deve apresentar queda de 7,4% neste ano. A retração pode ser ainda maior, se houver uma segunda onda de contaminação pelo novo coronavírus (covid-19), chegando a 9,1% de queda do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país).

Para a OCDE, a recuperação da economia será lenta e parcial, e alguns empregos e empresas serão perdidos. “O desemprego vai bater recorde histórico antes de recuar gradualmente”, avalia. Para 2021, a previsão é de crescimento de 2,4% do PIB, no cenário com duplo surto de Covid-19. No cenário com apenas uma onda de contaminação, a previsão de expansão para o próximo ano é de 4,2%, insuficiente, portanto, para reverter os prejuízos acumulados durante o período de fechamento das economias com o isolamento e restrições de funcionamento do sistema produtivo.

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