O fim do jornalismo impresso foi antecipado. E está próximo
A pandemia, economia fraca, perda de receita e custos de produção de notícias em alta tendem a antecipar o fim do jornalismo impresso
O futuro chegou: 5 segmentos tradicionais que estão em transformação digital
A tecnologia veio para impulsionar a transformação digital, desde o financiamento de automóvel a conveniência de condomínio e serviços para pets
O futuro da educação física: o que é importante saber
A consciência crescente da população sobre a importância de cuidar da saúde sinaliza um bom futuro da educação física. Mas há riscos tambem
O futuro da educação não está distante
Os desafios e o discurso, agora, são outros. Para quem não entendeu ainda, o futuro da educação já chegou!
O futuro da indústria química
Como em diversos setores da economia, as empresas químicas enfrentam um dos maiores desafios impostos pelo mercado do século 21: compreender e trabalhar com a evolução das tecnologias exponenciais. Manufatura 3D, nanotecnologia, bioinformática, robótica e inteligência artificial são alguns exemplos das tecnologias mais avançadas à disposição da indústria mundial, com características em comum, como a digitalização de processos, o alto desempenho e preços cada vez mais acessíveis. O domínio destas tecnologias oferece diferencial estratégico para as empresas, com potencial para mudanças disruptivas na indústria química.
As novas tecnologias permitem identificar rotas alternativas e criar produtos e processos mais eficientes e sustentáveis. Em mercado globalizado, a inovação tem papel central nos resultados das organizações. Investir na área de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) pode ser o melhor caminho para descobrir melhores soluções para clientes, fornecedores e demais públicos de interesse.
No entanto, a simples atuação da área de P&D pode ser insuficiente para acompanhar a evolução das tecnologias exponenciais nos negócios. Parcerias entre grandes empresas e as startups, com investimentos e apoio interno, são boa opção para descobrir tendências e oportunidades para a inovação. O mercado brasileiro conta com dezenas de programas para capacitação de pequenos empreendedores, onde estes encontram a expertise e o network necessários para expandir os seus negócios.
Um dos cases de inovação mais bem-sucedidos da indústria química nos últimos anos, o plástico verde, feito a partir do etanol da cana-de-açúcar – matéria-prima renovável – chegou à Estação Espacial Internacional, em 2016, após parceria entre a indústria brasileira e startup norte-americana especializada em impressão 3D. A resina verde é capaz de capturar 2,7 toneladas de CO2 da atmosfera para cada tonelada produzida, contribuindo para a redução da emissão dos gases de efeito estufa.
O polietileno verde está abrindo novas fronteiras de mercado com a colaboração das tecnologias exponenciais. As impressoras 3D são grande oportunidade para a cadeia do plástico e a resina verde já é uma das melhores matérias-primas para a produção de objetos 3D, unindo tecnologia e sustentabilidade. Este exemplo reforça a importância de as empresas encontrarem o seu DNA de inovação, estimulando a criação de produtos e modelos de negócio – em prol de pessoas, organizações e meio ambiente. Esta é parte da fórmula que pode levar a indústria brasileira à liderança de novos mercados no futuro.
Patrick Teyssonneyre é diretor de inovação e tecnologia da Braskem.
O futuro da moda é circular?
É possível imaginar um novo sistema de produção de bens e serviços, que leve em conta as demandas da sociedade.
Moda circular: o conceito que vai revolucionar o futuro da moda
Até recentemente, a indústria da moda tinha sido baseada no modelo linear de ‘pegar, fazer e descartar’, tornando-a a segunda indústria mais poluente do planeta. Mas o impacto da moda linear como conhecemos atualmente pode estar com os dias contatos: quem chega como uma alternativa mais inteligente para a cadeia produtiva é a moda circular.
O que é moda circular?
Introduzido pela primeira vez em 2014, na Suécia, pelo então coordenador de sustentabilidade ambiental da H&M, Felix Ockborn, o termo moda circular é inspirado nos conceitos de ‘economia circular’ e ‘moda sustentável’.
Baseado no framework de economia circular da Fundação Ellen MacArthur, a definição de moda circular cunhada pela Dra. Anna Brismar, do site CircularFashion.com, é:
A moda circular pode ser definida como roupas, sapatos ou acessórios que são concebidos, selecionados, produzidos e fornecidos com a intenção de serem usados e circularem de forma responsável e eficaz na sociedade pelo maior tempo possível na sua forma mais valiosa e, daí em diante, retornarem seguramente para a biosfera quando não mais de uso.
Os 16 princípios da moda circular
O conceito de moda circular é composto por 16 princípios que compreendem o ciclo completo de vida de um produto, do design, seleção de materiais, transporte, armazenamento, marketing e vendas, até a fase de uso e descarte. São eles:
- Design com propósito
- Design com foco na longevidade
- Design levando em consideração a eficiência de recursos
- Design com foco na biodegrabilidade
- Design com foco na reciclabilidade
- Origem e produção locais
- Origem e produção sem toxicidade
- Origem e produção mais eficientes
- Origem e produção renováveis
- Origem e produção com boa ética
- Oferta de serviços que apoiem o ciclo de vida dos produtos
- Reuso, reciclagem e compostagem de todos os restos
- Colaboração abrangente entre todos os stakeholders da cadeia produtiva
- Uso, lavagem e conserto com cuidado
- Aluguel, empréstimo, trocas, segunda-mão ou redesign como alternativas mais sustentáveis ao invés de comprar algo novo
- Compras focadas em qualidade ao invés de quantidade
Enquanto os primeiros treze princípios são definidos com base na perspectiva dos produtores, os demais focam na perspectiva dos consumidores. O princípio 12 (Reuso, reciclagem e compostagem de todos os restos), no entanto, também é bastante relevante do ponto de vista dos consumidores.
Mas o que esses princípios significam na prática?
Em outras palavras, a moda circular defende que produtos de moda devem ser criados levando em conta alguns fatores como longevidade, eficiência de recursos, não-toxidade, biodegradabilidade, reciclabilidade e ética em mente. Da mesma maneira, eles devem ser originados e produzidos a partir de recursos locais, não-tóxicos, renováveis, biodegradáveis e recicláveis, assim como práticas eficientes, seguras e éticas.
Além disso, quando se trata do uso, os produtos devem ser utilizados pelo maior tempo possível, tomando cuidados para preservá-los, consertando, remodelando e compartilhando o mesmo item com outras pessoas (através de troca, empréstimo, aluguel etc.). Além do mais, os produtos devem ser redesenhados para dar vida nova aos materiais e componentes. Por último, os materiais e componentes devem ser reciclados e reusados na fabricação de novos produtos. Se estes artigos não servirem para reciclagem, o material biológico deve então ser usado na compostagem para se tornar nutrientes para plantas e outros organismos vivos do ecossistema.
De maneira geral, o ciclo de vida dos produtos não deve causar nenhum impacto ambiental ou sócio-econômico, mas ao invés disso, contribuir para um desenvolvimento positivo e bem-estar dos ecossistemas e sociedades.
Algumas estratégias-chave para permitir uma vida longa e maximizar a circular de produtos e materiais na sociedade são:
- Criar produtos que possam facilmente ser desmontados/remodelados a fim de facilitar o reparo, redesign, reuso e, eventualmente, a reciclagem dos materiais;
- Criar produtos que possuam estilo atemporal, usando materiais de alta qualidade e construção durável a fim de maximizar a durabilidade, longevidade e atratividade para vários usuários;
- Preferencialmente, criar produtos sob demanda (ex.: roupas sob-encomenda ou alfaiataria) a fim de maximizar a frequência de uso e a vida útil dos produtos (focando na durabilidade prolongada que produtos com tal apego emocional possuem);
- Criar produtos que busquem maximizar a eficiência de recursos, por exemplo, usando práticas efetivas de corte (para diminuir o desperdício), design modular, combinações limitadas de materiais e evitando detalhes supérfluos;
- Escolher materiais que sejam puros (não-tóxicos), de alta qualidade, orgânicos, reciclados ou biodegradáveis, que assim possam ser processados de maneira segura, usados, reusados e, eventualmente, reciclados ou compostados ao final da vida útil;
- Selecionar, produzir, transportar e distribuir primariamente com energia renovável, alta eficiência de recursos e produção mínima de lixo, a fim de minimizar os impactos ambientais e a extração de recursos virgens e fósseis;
- Consertar, reusar, recuperar e/ou reciclar todos os materiais ao longo da cadeia de suprimentos;
- Oferecer serviços aos consumidores que permitam conservar os produtos por mais tempo, como reparos, redesign, roupas de segunda-mão, empréstimo ou troca, a fim de estender a vida útil dos produtos ou materiais;
- Recuperar produtos indesejados através de esquemas de devolução, a fim de assegurar que estes produtos e seus materiais possam ser reusados e reciclados da melhor maneira possível dentro de um ponto de vista ético, sócio-econômico e ambiental.
Felizmente, muitas empresas já estão começando a incorporar os princípios da moda circular em suas suas coleções, como a própria H&M, que lançou coleções produzidas a partir de material orgânico, ao mesmo tempo em que implementouum esquema de retorno de peças em algumas de suas lojas.
Embora ainda exista um longo caminho a ser percorrido, felizmente já sabemos por onde começar.
Quer saber mais sobre moda circular? Visite os sites Circular Fashion e também da Fundação Ellen MacArthur.
Leitura relacionada: Economia colaborativa na moda: essa onda pega?
Evelise Biviatello
Digital Marketer por profissão, empreendedora por paixão e autora por diversão, atualmente se divide entre Suécia e Dinamarca após ter morado na China e Brasil. É co-fundadora do Trocaria e carrega a missão de conscientizar e inspirar acerca de uma moda mais sustentável e colaborativa.
O futuro da oncologia: o que é e como funciona a medicina personalizada
Por mais que muitas vezes se fale na busca de uma “cura para o câncer” como se essa fosse uma doença única, o termo é usado como um guarda-chuva para designar mais de 200 tipos diferentes de câncer. Mais do que um santo-graal da medicina moderna, a busca por formas de curar e impedir o avanço de tumores já é um objetivo antigo.
Historicamente, a oncologia, especialidade médica dedicada ao estudo e tratamento do câncer, teve como primeira forma de abordagem a cirurgia. Em uma realidade de milhares de anos atrás, antes mesmo da descoberta da anestesia e da assepsia, as cirurgias oncológicas possuíam baixos índices de cura acompanhados por altas taxas de morbidade e mortalidade.
Foi apenas o passar dos anos, acompanhado pelo desenvolvimento técnico-científico, que a oncologia pôde se desenvolver e buscar taxas de sucesso cada vez maiores. Estes saltos foram, sobretudo, impulsionados pela evolução de outras áreas da medicina, como microscopia, anatomia patológica, anestesiologia, radiologia, radioterapia e quimioterapia. Agora, os especialistas que atuam na luta contra o câncer podem estar em vias de se prepararem para mais um salto, talvez o mais importante até então: a medicina personalizada.
Uma nova medicina
Segundo médico patologista e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Clovis Klock, a medicina personalizada dentro da oncologia é apontada como o futuro para o tratamento do câncer. “Sem dúvida, quando falamos em oncologia, é o que podemos chamar de nova medicina. Isso se aplica principalmente a patologia, que encontra na medicina personalizada um leque muito grande para diagnóstico”, afirma.
O patologista é o responsável pelo diagnóstico microscópico dos cânceres. Analisando o material proveniente das cirurgias ou as biópsias dos tumores com a ajuda do microscópio, ele redige um laudo anatomopatológico, em que várias características desse câncer serão descritas: dentre as quais podemos destacar o tipo histológico, o grau de diferenciação, se há invasão vascular e como estão as margens cirúrgicas. Com a medicina personalizada, isso deve ir mais além
“Ela permite que o profissional dite os rumos que serão tomados para o combate da doença. A tendência é de que boa parte dos cânceres possam ser tratados de forma personalizada. Hoje há alguns tumores para os quais usamos esses protocolos e a tendência é ampliar essa prática, principalmente em casos quando os tumores não respondem aos métodos terapeúticos aplicados atualmente”, ressalta.
Entendendo o inimigo
O segredo para acessar tanta informação? Segundo a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Katia Ramos Moreira Leite, a chave para isso está em técnicas específicas chamadas de Patologia Molecular e Imuno-histoquimica. De maneira geral, elas permitem a descrição das anormalidades específicas em genes responsáveis pelo controle da proliferação, morte e instabilidade celular. É a identificação das anormalidades que favorecem o crescimento e a progressão do câncer que traz a oportunidade do desenvolvimento de moléculas capazes de controlar essas alterações.
“Mutações, translocações, perdas e amplificações de genes importantes para o funcionamento das células podem ser avaliadas por testes moleculares, são conhecidos como biomarcadores de comportamento e, mais importante, de resposta às novas terapias alvo-moleculares. Os tumores são diagnosticados não mais como antigamente, quando a sua origem era o elemento mais importante. Hoje a caracterização das anormalidades moleculares é mais importante e revela a etiologia da neoplasia que pode ser tratada de modo específico”, ressalta.
Assim, o diagnóstico informado pela medicina personalizada permite que a luta contra o câncer seja mais fácil. “Com esse diagnóstico ainda mais preciso e tratamentos também mais direcionados, podemos esperar melhor prognóstico para muitos tipos de tumores que hoje têm mortalidade alta, melhorando a sobrevida do paciente”, explica Katia.
Um tratamento para chamar de seu
Assim como no caso das infecções, que antigamente eram todas tratadas com o uso de sangrias, uma vez que não havia conhecimento detalhado sobre o que causava as doenças, a oncologia tem passado pela mesma revolução. Ao descobrir informações específicas sobre uma neoplasia, graças à ajuda da medicina personalizada, é possível traçar um tratamento mais específico com grandes chances de respostas positivas e menos efeitos colaterais.
“As técnicas de Patologia Molecular e a Imuno-histoquimica, aliadas à medicina personalizada, abrem as portas para esse campo muito amplo para a Patologia. Podemos inclusive traçar um panorama histórico. Antigamente, o médico patologista era aquele que atuava apenas nos bastidores, sem contato com ninguém e apenas em seu laboratório ao microscópio. Hoje chegamos a um papel de protagonista, em que o patologista é um dos atores das equipes multidisciplinares, passando de um diagnóstico puro para peça chave na definição do prognóstico e indicação da melhor conduta terapêutica. A medicina personalizada coloca esse profissional em uma posição de destaque, pois muitas vezes é ele quem vai ditar os rumos a serem tomados pelos tratamentos mais modernos”, finaliza Clovis Klock.
O futuro da psicologia: otimismo na era do desalento
Nos próximos anos, o futuro da psicologia tende a ser de demanda crescente diante das angústias geradas pelas incertezas dos indivíduos e da sociedade
O futuro do economista: a profissão no final da década
A pergunta é da mãe da Aline, que deseja saber tendências da profissão: o futuro do economista é favorável?
O futuro do ensino do direito
Dúvidas, desafios e o breve relato de uma experiência
Estamos nos aproximando do antes longínquo ano de 2020. O Século XX agora pertence aos livros de história, acompanhado de muitas das ideias, certezas, práticas e instituições que, há 20 ou 30 anos, pareciam imutáveis. No campo jurídico, percebem-se mudanças substanciais, como a judicialização da Política, a politização do Direito, um enorme e eficaz incremento no combate à corrupção, a sedimentação das técnicas alternativas de resolução de conflitos, a consagração da jurisdição constitucional, dentre tantas outras. Especificamente quanto aos desafios na prática cotidiana do Direito, relembrem-se o processo eletrônico, a massificação das relações jurídicas, a facilidade no acesso à informação, a linguagem menos rebuscada, a revolução da brevidade, a interdisciplinaridade, a velocidade das alterações normativas e jurisprudenciais e a atuação colaborativa e orientada ao consenso.
Não são pequenas as mudanças. Aqueles que, como eu, frequentaram os Cursos de Direito na década de 90 do Século passado, já não reconhecem aquilo que estudaram e aprenderam nos quatro ou cinco anos que passaram na Faculdade. A realidade é outra. O conteúdo é diferente. Exigem-se novas habilidades do profissional jurídico, que lida com desafios impensáveis há bem pouco tempo.
É inegável, nesse contexto, que os Bacharéis de hoje encaram questões distintas e mais complexas do que aquelas enfrentadas pelos recém-formados de alguns anos atrás. A vida profissional desses jovens não será nada fácil. O conhecimento adquirido na Faculdade deve ser suficiente para um ou dois anos de atividades profissional, e olhe lá. Títulos de pós-graduação, mestrado e doutorado tornam-se cada dia mais exigidos, especialmente para aqueles que sonham com a vida acadêmica. Não saber uma língua estrangeira, especialmente o inglês, já é quase inaceitável para alguém que almeje sucesso. Um mercado privado ultracompetitivo espera pelos novos formados. O exame da OAB não será moleza. O sonho dourado da aprovação em um concurso público, em tempos de crise fiscal, menos oportunidades e grande concorrência, mostra-se um desafio heroico.
Diante desse quadro, um leitor mais atento já fará as inevitáveis perguntas: e as Faculdades de Direito, como estão preparando esses estudantes, em sua maioria jovens na casa dos vinte e poucos anos, para desafios profissionais tão intensos? Será que o nosso modelo de ensino jurídico atende a essa importante missão? Como as nossas Instituições de Ensino Superior estão se atualizando e oferendo uma preparação adequada e moderna para os seus estudantes?
São indagações importantes e muito necessárias. Contudo, em vez de ficar tentando refletir em demasia a respeito dessas perguntas, permanecer na inércia absoluta, adotar um tom pessimista ou, então, oferecer explicações puramente teóricas, vamos relatar um pouco da experiência por que passamos na Escola de Direito de Brasília – EDB/IDP recentemente. Essa breve exposição talvez ajude o leitor a compreender parte dos desafios que se apresentam para o ensino jurídico brasileiro, algumas tendências importantes que já podem ser constatadas e, por fim, as soluções que, acertadamente ou não, estamos tentando implementar na nossa Faculdade. Ao final, espero que possamos ter aprofundado a discussão sem, pretensiosamente, oferecer um manual recheado de ideias e propostas inovadoras e infalíveis.
Ao longo de 2016, instituímos uma Comissão de Modernização do Curso de Direito, que, composta por três professores, ficou responsável pela avaliação da nossa graduação, com a sugestão de eventuais mudanças tendentes a atualizar o curso em todos os aspectos que se entendesse necessário. Esse Colegiado promoveu as reuniões pertinentes, dialogando com os alunos, professores, colaboradores e direção da instituição. Houve conversas e reuniões com especialistas externos e bate papos informais com integrantes de outras faculdades que passaram por um processo semelhante. Também foi realizado um ciclo de debates ao longo de três dias na Escola. O grupo de participantes foi composto por convidados externos (pesquisadores, professores, advogados, representantes de ONGs, autoridades públicas, dentre outros), que deram a sua contribuição sobre os desafios atuais do ensino jurídico e os caminhos que devem ser trilhados para a oferta de um ambiente acadêmico moderno, vibrante e qualificado.
Após a conclusão dos trabalhos, a Comissão de Modernização apresentou o relatório de suas atividades à Direção Acadêmica da EBD/IDP que, imediatamente, em conjunto com a Coordenação do Curso de Direito, começou a implementar as medidas necessárias a partir dos diagnósticos que recebeu. O que segue abaixo é um breve relato dessas conclusões alcançadas no âmbito da Comissão e das medidas que foram adotadas até aqui, com a missão de conferir-se ao ensino oferecido na nossa Faculdade uma roupagem moderna e condizente, ainda que em mínima medida, com os desafios que serão enfrentados pelos nossos alunos quando deixarem a instituição.
Em primeiro lugar, concluiu-se o óbvio. O ensino jurídico, seja na sua perspectiva estritamente metodológica, seja, ainda, quanto ao conteúdo oferecido aos alunos, precisa ser revisto. Contrariamente às aulas totalmente expositivas, a participação do aluno precisa ser incentivada, tanto no que se refere ao diálogo com o professor, quanto no que tange à sua interação com os colegas. O aluno deve fazer parte do processo de aprendizado de forma ativa, com uma necessária modificação na apreensão do conteúdo e no método de avaliação dos discentes. Além disso, mais importante que o conteúdo assimilado, é o desenvolvimento de novas habilidades pelo aluno. Talentos de natureza crítica, comunicativa e analítica devem ser incentivados. A criatividade do aluno deve ser potencializada. A capacidade de interação (networking skills) com seus próprios colegas, com os professores e com representantes acadêmicos de outras áreas deve ser desenvolvida. Aliás, um trabalho de pesquisa realizado já na década de 70 pelo economista americano James Heckman, ganhador do prêmio Nobel de Economia, mostrava essa realidade. O desenvolvimento de uma personalidade curiosa, capaz de trabalhar em grupo e com habilidades organizacionais é muito mais importante do que a matéria efetivamente oferecida aos estudantes. Ou seja, cuida-se do desenvolvimento de talentos totalmente diversos, mais complexos e duradouros do que a simples memorização de um vasto conteúdo.
Nesse contexto, como segundo diagnóstico, vem a necessidade de empoderamento do aluno na escolha de seu percurso formativo. Vive-se em um mundo de verticalização do conhecimento. Os aspectos teóricos aprendidos na Faculdade duram pouquíssimos anos e pedem rápida atualização. A ideia de uma abordagem horizontal, ampla e genérica, numa infrutífera tentativa de ensinar aos alunos um pouco de cada área do Direito, mostra-se ultrapassada. Se o objetivo é o desenvolvimento de habilidades específicas, a matéria ensinada, ainda que importante, perde a relevância de antes. Além disso, o processo de amadurecimento pessoal, acadêmico e profissional do estudante reclama um certo distanciamento do corpo docente e da Direção da Faculdade no processo de formação do aluno, especificamente no que se refere aos conteúdos que serão a ele ensinados. A independência, maturidade, capacidade de escolha, responsabilidade pessoal, proatividade e outras qualidades tão necessárias em um profissional moderno demandam que o estudante seja, em alguma medida, livre e responsável pela escolha de seu caminho, com a necessária orientação dos professores e da Direção da Escola. Impõe-se, também, a observância de um período inicial de adaptação e fluência, no qual a tutela docente mostra-se imprescindível. Em síntese: a partir de um certo ponto, mais disciplinas optativas, menos obrigatórias.
Ainda como desdobramento desse novo processo metodológico, em terceiro lugar, surge a interdisciplinaridade. Um profissional verdadeiramente moderno e preparado para lidar com a realidade de um mercado extremamente competitivo e complexo deve ter habilidades interdisciplinares. As diversas áreas do conhecimento se interelacionam e dessa relação específica emerge um conteúdo completamente novo. É preciso estar preparado para isso. Aqui, uma vez mais, vale muito o desenvolvimento de uma habilidade especial, consistente na compreensão da dinâmica e do diálogo entre setores tão específicos, como Direito, Psicologia, Filosofia, Economia e Sociologia, entre outros. Não se trata apenas de ensinar essas matérias na Faculdade. Cuida-se de mostrar a sua interação e desenvolver a capacidade de permanente conjugação entre tais disciplinas. O sistema de conhecimento que deve ser apreendido pelo aluno é integrado por variadas áreas extremamente fluidas, sem que se saiba exatamente as fronteiras que as separam. Além disso, a própria interação entre as diversas áreas do Direito deve ser compreendida pelo aluno nessa mesma perspectiva.
Uma quarta conclusão que se alcançou consiste na necessidade de maior integração entre os discentes. Não se cuida, apenas, de promover-se a coesão das turmas ou de realizarem-se seminários e eventos no âmbito da instituição. Essas são práticas relevantes, mas o objetivo em si demanda uma abordagem mais ousada, no sentido de permitir que alunos de semestres diferentes e, por evidente, com graus de amadurecimento pessoal e acadêmico distintos, possam interagir dentro de sala de aula. Se o escopo maior é o desenvolvimento de habilidades, muitas delas de caráter interpessoal, é legítima essa interação, especialmente porque o grau de assimilação dessas habilidades é diferente em cada aluno, não podendo, de forma geral, ser categorizada na clássica figura do semestre letivo. Um estudante do oitavo semestre pode ter muito a aprender, por exemplo, com um colega do terceiro, observadas, por evidente, certas cautelas no exame da progressão do aprendizado de cada um deles.
A internacionalização da Faculdade, e por consequência de seus alunos, é outro desafio. Não é necessário qualquer comentário a respeito das repercussões que a globalização trouxe para as atividades profissionais em geral, e para o Direito em particular. Oferecer aos seus estudantes uma experiência mais global, mais rica, é uma missão e uma clara obrigação da Faculdade. Significa lançar um olhar para além das fronteiras do País e do Direito nacional. Representa um ensino diferente, verdadeiramente internacional e menos autocentrado. A vinda de palestrantes estrangeiros é fundamental. A interação com instituições do exterior é muito relevante. Períodos de estudo fora do País são recomendáveis para os nossos alunos. Disciplinas e trabalhos de conclusão em língua estrangeira devem ser algo natural, legítimo e incentivado.
Embora o conteúdo oferecido aos alunos deixe de ser a única preocupação da Faculdade, ele ainda é um dos aspectos centrais da pesquisa e do ensino existentes no âmbito da instituição. É preciso, nesse sentido, rever os temas abordados. Disciplinas tradicionais talvez já não sejam mais absolutamente obrigatórias. Vive-se o mundo jurídico da responsabilidade civil exacerbada, da defesa do consumidor, dos crimes econômicos, da proteção ao meio ambiente, da judicialização da Política, da politização do Direito, do compliance, das formas alternativas de resolução de conflitos, da concorrência internacional, dentre outros temas muito interessantes, novos e seguidamente desprestigiados nos currículos acadêmicos. É preciso sabedoria para reconhecer que determinadas matérias, por mais importantes que ainda sejam, perderam o seu anterior protagonismo. É necessário, sobretudo, coragem para implementar as medidas e substituições necessárias em prol de um conteúdo mais moderno e condizente com a prática jurídica atual.
Finalmente, a responsabilidade social. A formação do aluno deve ser necessariamente a formação do ser humano e do cidadão. Não se trata apenas de entregar ao mundo bons profissionais, mas pessoas melhores, cientes de seu papel social e da necessidade de devolver à comunidade parte dos que lhes foi dado. Esse deve ser um compromisso fundamental das faculdades de direito, talvez o maior de todos. Uma vez mais, essa específica formação está associada ao desenvolvimento de habilidades especiais, treinando-se profissionais emocionalmente inteligentes, cognitivamente preparados e socialmente conscientes. Incutir nos alunos uma formação ética e responsável é uma tarefa diária. Nasce na sala de aula, passa pelas avaliações, cresce nas relações entre os variados atores da instituição e amadurece nos projetos desenvolvidos pela escola. É mais que uma missão. É uma cultura organizacional, prestigiada obsessivamente pela sua direção, seus colaboradores e professores.
A respeito dessa temática em torno da responsabilidade social, assume especial relevância a prática jurídica. É preciso prestigiá-la e desenvolvê-la, não apenas como método de aprendizado. O estudante precisa compreender a importância de seu papel social, independentemente do caminho que venha a escolher. A prática moderna envolve uma efetiva outorga de autonomia ao aluno, caracterizando-se pela entrega do problema a ele, que fica responsável pela sua solução. Essa metodologia traduz-se necessariamente no rompimento da bolha institucional e acadêmica que supostamente protege o aluno. É preciso sair da faculdade e ver o mundo real, nos sentidos figurado e literal. Além disso, o desenvolvimento de habilidade tão específica requer, por evidente, o engajamento do estudante. Isso pode demandar projetos mais interessantes e cujo alcance se revele mais amplo. Uma boa dose de realidade, de autonomia e de desafio é parte importante da receita. Em síntese: visitas externas, liberdade no trato com o cliente, independência na condução dos casos e litigância estratégica com repercussão geral. É essencialmente disso que se precisa.
Feitos esses diagnósticos, vem a parte mais difícil do problema. Que soluções apresentar? Como implementá-las? Como vencer as resistências naturais, fruto do conservadorismo humano? Que argumentos usar para aqueles que resistem pelo medo da perda de poder, da competição, da necessidade de aprendizado ou simplesmente do novo, qualquer que seja ele? Como e por onde começar?
A Escola de Direito de Brasília reconhece que esse é um trabalho longo e complexo, sujeito a todo tipo de obstáculo e a alguns equívocos, que são parte necessária do amadurecimento e da modernização da instituição, bem como daqueles que a integram. O maior inimigo é a inércia. Foi preciso agir rápido, começar por algum lugar.
Em tal contexto, promoveu-se, nos últimos meses, uma profunda reformulação curricular e metodológica no âmbito da instituição. Passou-se de 3% para 20% de disciplinas optativas. Novos professores foram agregados ao quadro docente. Matérias antes intocáveis deixaram de ser obrigatórias. Novas matérias foram apresentadas. Instituíram-se cinco Seminários Interdisciplinares, com conteúdos diferentes à livre escolha dos alunos. Eles contam com ao menos dois professores em sala de aula. Esses docentes são de áreas distintas do Direito ou mesmo de fora do Direito. Há, por exemplo, um Seminário Interdisciplinar sobre Bioética, comandado por um Professor de Direito Civil e um Educador especializado em Filosofia. Existem, agora, disciplinas em inglês, potencializando-se um processo de internacionalização que já se faz presente há alguns anos. As disciplinas optativas e os Seminários Interdisciplinares podem ser frequentados por alunos de diferentes semestres, com algum cuidado na verificação dos pré-requisitos. O Núcleo de Prática Jurídica foi reformulado e conta agora com duas Clínicas Especiais, uma delas sobre direitos fundamentais e a outra sobre habilidades específicas do profissional do Direito. Além disso, visitas regulares aos presídios locais e acompanhamento de casos de presos estão sendo incrementados. São mudanças importantes, feitas com a velocidade necessária. O aprimoramento nos parece evidente: (a) um ambiente acadêmico mais integrado, (b) maior liberdade e engajamento dos alunos, (c) mais entusiasmo de todos os participantes, (d) interação entre os estudantes de variados semestres e entre os próprios professores, (e) aprofundamento do processo de internacionalização, (f) mudanças metodológicas relevantes em sala de aula, dentre outros aspectos.
É inegável, contudo, que ainda há muito a fazer. Os diagnósticos, fruto de um trabalho árduo, transparente e plural, estão em nossas mãos. As soluções ainda estão sendo construídas, é verdade. Acreditamos, de todo modo, que a mudança mais importante já está acontecendo. Ela é silenciosa, intangível, quase imperceptível. Trata-se do amadurecimento de uma cultura de ensino totalmente voltada ao aluno, à sua formação humana e profissional. Cuida-se de incutirem-se em nossos estudantes habilidades específicas, potencializando a sua inteligência emocional, maturidade, criatividade, análise crítica e responsabilidade social, sem se esquecer do conhecimento técnico, evidentemente. Temos ainda um longo caminho, mas seguimos avançando.
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Marcelo Proença é doutor em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), é procurador do Distrito Federal, advogado e coordenador do Curso de Graduação da Escola de Direito de Brasília – EDB/IDP
O futuro do transporte público com a integração da tecnologia
Através de um QR Code, o passageiro do transporte público evita o contato com dinheiro, otimiza o pagamento e colabora com o meio ambiente
O futuro dos diretores de finanças
Só empresas muito grandes, com estratégias diferenciadas, têm diretores de tecnologia, CIOs,
daí, a necessidade dos diretores de finanças terem a visão sobre as tecnologias.
Posso simular cenários instantâneos
Tecnologias como big data analytics, inteligência artificial e blockchain
> Abraçar o digital: os CFOs precisam desenvolver um conhecimento mais profundo do panorama tecnológico digital e aprender a “falar digital”. O componente tecnológico dos processos de negócios não pode mais ficar isolado, e o CFO precisará ter a capacidade de avaliar todo o escopo da tecnologia digital na sua área de atuação.
> Desenvolver competências em finanças: conforme a área financeira dialoga mais com a liderança da empresa, haverá cada vez mais necessidade entre os profissionais financeiros de competências que apoiem a análise e o uso da tecnologia digital.
> As novas ferramentas têm de ser acompanhadas pela renovação da visão do CFO, além da capacitação da equipe de finanças em termos de processamento analítico, conhecimento de estatística e também de relacionamento. O intuito dessas tecnologias é liberar o tempo dos profissionais, para que estes possam dedicar-se mais ao entendimento do negócio.
O futuro por meio da conectividade
Tecnologia das coisas: o futuro por meio da conectividade