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O novo protagonismo da ciência no pós-pandemia

Falar em evidências científicas e monitorar dados com a população deverá ficar como legado da pandemia, avalia cientista. Foto: Pixabay
Falar em evidências científicas e monitorar dados com a população deverá ficar como legado da pandemia, avalia cientista. Foto: Pixabay

Claudia Izique
Agência FAPESP

A pandemia da COVID-19 conferiu à ciência o papel de protagonista no esforço global de buscar soluções para a pior crise sanitária do último século. Mais do que isso: exigiu que a ciência estabelecesse diálogo com a sociedade para explicar conceitos e métodos próprios do universo de pesquisa, popularizando, em pouco mais de 100 dias, termos como curva exponencial, ensaios clínicos ou pré-clínicos, teste duplo-cego, entre outros. Mas como manter o protagonismo e a inserção social da ciência depois da pandemia?

Na busca de respostas para essa pergunta, dirigentes de agência de fomento, pesquisadores e secretários das áreas de ciência, tecnologia e inovação dos governos de São Paulo e do Rio Grande do Sul no seminário on-line “O novo protagonismo da Ciência”. O evento, realizado nesta quinta-feira, 18 de junho, marcou o encerramento do 3o Fórum Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais.

“Teremos que intensificar os mecanismos de comunicação com a sociedade para informar e ouvir o que ela espera da ciência”

“Teremos que intensificar os mecanismos de comunicação com a sociedade para informar e ouvir o que ela espera da ciência”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP. No caso de uma agência de fomento como a FAPESP, isso se traduz no apoio à pesquisa fundamental, mas também à pesquisa que ofereça soluções para a saúde, a indústria e a desigualdade, exemplificou.

“Na FAPESP já há um conjunto de ações que endereçam nessa direção”, completou Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação. Citou os exemplos do edital Ciência para o Desenvolvimento, lançado no final do ano passado, que articulará universidades, institutos de pesquisa e órgãos do governo na solução de problemas econômicos e sociais, e do repositório de informações clínicas de pacientes com COVID-19, lançado em parceria com o Laboratório Fleury e os hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês (leia mais em agencia.fapesp.br/31980/ e agencia.fapesp.br/33427/).

“É preciso conciliar oferta e demanda e mostrar para a sociedade o que a ciência está produzindo”, acrescentou. Em sua avaliação, se isso não ocorrer, será difícil manter o protagonismo. “A sociedade, que paga a conta, precisa enxergar o benefício que recebe.” 

Carlos Henrique de Brito Cruz, que ocupou o cargo de diretor científico da FAPESP entre 2005 e 2020, acredita que a implementação de pesquisas orientadas a soluções exigiria uma consulta à sociedade. “Para identificar problemas que motivem os pesquisadores e que levem a soluções, é preciso interagir direto com a sociedade. Os Países Baixos realizam há quatro anos, uma pesquisa com os cidadãos para saber o que é importante para sua vida.”

“Se quisermos dar à ciência protagonismo, é preciso caminhar para uma situação estratégica, em que o pesquisador mantenha acesso constante com parceiros fora da academia”, sugeriu Elizabeth Balbachevsky, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).

Integração e colaboração

“Falar em evidências científicas e monitorar dados com a população deverá ficar como legado da pandemia”, previu Patrícia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. “A integração da ciência com a aplicação em escala é fundamental.”

Ellen acredita que, no pós-pandemia, o investimento prioritário da ciência deverá ser em tecnologias para a saúde, da atenção básica à alta complexidade, treinamento avançado para saúde e tecnologia para o tratamento. “Superamos desafios operacionais e jurídicos”, disse, citando o exemplo da telemedicina.

“Precisamos da ciência durante e também precisaremos no pós-pandemia”, afirmou a secretária. No pico da doença, a saúde ficou voltada para o tratamento da COVID-19. “Teremos, por exemplo, um backlog de cirurgias. A pausa na educação precisará ser recuperada. E será preciso acelerar o trabalho educacional com as classes desfavorecidas, além de fomentar o empreendedorismo”, afirmou. “Vejo que há um movimento para voltar ao modelo de educação antigo. Não há mais retorno para o tradicional. Há uma oportunidade de repensar o modelo e sair melhor lá na frente. O vírus nos ensinou que a saída está na integração e colaboração.”

Luís da Cunha Lamb, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, considerou que, no caso específico do Brasil, ciência precisa alinhar-se a uma economia sustentada por valores intangíveis. “Embora tenhamos percebido isso nos círculos acadêmicos, não fizemos a transição para colocar essa questão como fundamental para o planejamento nacional. Pensamos a educação para um mundo industrial, focado na normatização do mercado ou na noção de horas de trabalho do taylorismo, quando as empresas de maior valor de mercado têm seus funcionários trabalhando em casa, com maior produtividade.”

O futuro da pós-graduação

A pandemia da COVID-19 também deixará um legado importante para a definição dos planos para o futuro da pesquisa e da educação. Um deles é a redução da mobilidade dos pesquisadores. “Os laboratórios terão que adotar novos designs e a colaboração internacional terá que ser feita com restrição ao movimento. Experimentos de dois países poderão ser executados nos respectivos laboratórios, com resultados compartilhados e analisados remotamente. Será preciso adaptar as atividades práticas num mundo com novos hábitos”, previu Zago.

A relação entre ciência e educação também terá que ser renovada. “A base científica do processo de educação enfraqueceu e o conteúdo dos currículos passou a dominar o ensino universitário. Com a pandemia, todos viveram a experiência de ter que buscar respostas novas, experimentais, num processo organizado que caracteriza a ciência. Isso reforçará nas universidades a busca de soluções interdisciplinares”, afirmou o presidente da FAPESP.

“É preciso mudar o perfil da pós-graduação, que não é mais um canal de formação de pesquisadores acadêmicos”, disse Balbachevsky, citando dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) que mostram que mais de 50% dos doutores formados no país desde 1996 estão em empresas ou em ambientes não acadêmicos.

Segundo ela, já há um movimento “tático que precisa virar estratégico”, definindo um perfil novo para o pesquisador: ter conhecimento especializado, domínio de recursos metodológicos, mas também flexibilidade e competência para se orientar para a solução de problemas, identificar oportunidades de aplicação do conhecimento, negociar agendas comuns e propriedade intelectual e saber se comunicar fora do ambiente acadêmico. “Estamos falando de um novo protagonismo e de um novo perfil de cientista.”

O 3o Fórum Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais foi organizado no âmbito do projeto “Indicadores de desempenho nas universidades estaduais paulistas 2022”, vinculado ao Programa FAPESP de Pesquisa em Políticas Públicas, liderado por Jacques Marcovitch.

Confira o debate:

Os demais debates do 3o Fórum Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais estão acessíveis no endereço: https://metricas.usp.br/iii-forum/.

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