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Afinal, por que não sou um futurista?

Mulher protesta na rua, reivindicando ser ouvida pela sociedade.
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Futurista ou jornalista? Artigo avalia diferenças sobre a formação e estratégias de quem antecipa tendências

Com alguma frequência, pessoas me perguntam se sou um futurista. A resposta é negativa. Até cheguei a assinar alguns textos como analista de tendências ou futurista em jornais por onde passei. Achei que poderia me credenciar com a experiência e a trajetória como profissional de mídia impressa e, posteriormente, digital. Acumulei conhecimentos como especialista em cobertura econômica e formação em inteligência de mercado. Após algum tempo da criação do meu site, o Radar do Futuro, em 2010, pensei em adotar o título. Mas não levei adiante. Não me senti à vontade na roupa que experimentei.

Hoje, prefiro considerar que sou um jornalista que tem como foco produção de conteúdos que favorecem a identificação das tendências que impactam o futuro das profissões, de setores e da sociedade. De forma direta ou indireta, estou envolvido com a temática do futuro há umas três décadas. Em meados da década de 1980, me interessei pelo tema dos sistemas de inteligência de marketing e teoria de sistemas. Uma combinação que, mesmo sem consciência, induzia a uma visão prospectiva.

No início dos anos 1990, caminhei em direção ao jornalismo econômico, que levou à cobertura de finanças e negócios. Cheguei a escrever alguns textos sobre temas setoriais com viés de futuro. E trabalhei na área de inteligência estratégica de uma grande indústria têxtil. Em tempos analógicos, simbolizados por máquinas de escrever, ligações telefônicas controladas nas redações e fotos em filmes e viagens de carro, eu fazia estudos sobre mercados e perspectivas de mudanças.

A chegada da internet possibilitou sonhar com o meu primeiro projeto na área de estudos sobre tendências. Registrei o domínio “Instituto do Futuro”, em 2000. A precariedade da internet, em “html puro”, não permitia grandes sonhos. E tinha os empregos e outros projetos para levar adiante, como jornalista de jornais impressos e assessoria de imprensa.

Em 2010, criei o Radar do Futuro. Que só foi acelerado de verdade a partir de 2016, quando completei 60 anos e fiquei só por conta do site. Sem a obrigatoriedade de ser uma fonte de recursos, desenvolvi conteúdos entre o prazer da escrita e o desejo de aprendizado. Então, pude ampliar o envolvimento com teorias e práticas, inclusive com a incorporação de métodos de estudos sobre o futuro e a criação de processos próprios. Hoje, o Radar do Futuro está maduro e entra em nova fase, ainda merecendo ajustes, é claro.

Ser ou não ser futurista

Imagino que já ficou claro. Não sou um futurista ou futurólogo, mesmo tendo atributos para tanto. Fiz alguns cursos, estudei em livros. Absorvi conhecimentos. Sigo como autodidata. Mas, como disse acima, prefiro, hoje, me identificar como um jornalista que tem como foco o estudo sobre os impactos das mudanças sociais, econômicas, políticas, ambientais, culturais e tecnológicas sobre o futuro das atividades humanas e da sociedade como um todo. Eu quero contribuir para que as pessoas possam entender as mudanças a partir da compreensão das complexidades envolvidas na evolução da história da humanidade.

Cabe uma distinção, que também justifica o meu desinteresse pelo carimbo curricular. Não me vejo como parte da tribo dos futuristas. Vejo os especialistas em estudos sobre o futuro com um viés excessivamente focado no espírito empreendedor do discurso dominante, com algumas poucas exceções. O que pode ser explicado pela origem acadêmica da maioria, com formação em áreas de negócios, incluindo faculdades de publicidade, administração de empresas, marketing e economia. E também direito e medicina.

Em síntese, pessoas com visão de mundo generalista e reduzida formação ou crença nas ciências sociais e humanas. O que tende a explicar o viés otimista de quem considera normal ou positivo o fato de um engenheiro dirigir um Uber. Como se ali houvesse um exemplo de empreendedorismo. Sem o viés social, o aumento do desemprego, com a desregulamentação irrestrita das leis de trabalho, é apenas oportunidade para as pessoas ficarem livres de patrões. Sem visão histórica e de contradições dos sistemas de produção, há quem compara eventos da revolução industrial, mecânica, com o atual momento, digital, como se tivessem pesos semelhantes.

Mas é a turma das áreas de tecnologia e ciências exatas que recebe destaque especial como os visionários. Alguns dos principais nomes entre os futuristas estão hoje vinculados às grandes empresas de tecnologia, como Google, Microsoft, Facebook e Tesla. Delas saem os “evangelistas”, especialistas com discurso afinado para construir quase sempre uma imagem favorável sobre os impactos das tecnologias sobre o futuro das pessoas e da humanidade. E conseguem.

Não é à toa que a Singularity University, um centro de estudos vinculado aos futuristas do Vale do Silício, nos Estados Unidos, consegue atrair admiradores apaixonados. De qualquer forma, não existem cursos destinados à formação universitária no Brasil, seja em graduação ou pós-graduação. Há cursos complementares, formais e informais, que ensinam conhecimentos de técnicas e conceitos diversos sobre o tema. O interessado encontra uma grande informalidade e iniciativas dispersas. Como aquelas que possibilitam que muita gente se transforme em coach de alguma coisa, bastando para isso um tanto de cara de pau.

Entre utopias e distopias

Eis que, por coincidência, esbarro em uma frase do poeta português José Saramago no Twitter. ”Os únicos interessados em mudar o mundo são os pessimistas, porque os otimistas estão encantados com o que há.” Estamos juntos na crença de que antecipação de tendências requer senso crítico e doses de pessimismo para enfrentar o fato de que grandes mudanças da humanidade andam a passo de tartaruga, enquanto a tecnologia avança na velocidade de foguetes hipersônicos.

Futuristas ou futurólogos são otimistas. Como eles afirmam em suas apresentações, para pensar como um deles é importante considerar a capacidade de construir futuros melhores. Para que isso seja possível, temos que começar a fazer algo já. As pessoas associam o futuro a previsão. “A futurologia é, então, uma ciência que tem a habilidade de ensinar as pessoas como devem agir agora para criar o futuro que querem”, afirmam. A meritocracia e o individualismo seguem se impondo como o modo de pensar dominante.

Voltando às ciências sociais, ninguém constrói um novo futuro sem a anuência, por exemplo, dos 1% que continuam a aumentar a concentração de renda enquanto cresce a miséria do mundo, como denunciam organismos como a Oxfam. “A crise provocada pela pandemia expôs nossa fragilidade coletiva e a incapacidade da nossa economia profundamente desigual trabalhar para todos”, afirmou a entidade em seu relatório mais recente, do início do ano. Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, destacou que “A pandemia escancarou as desigualdades – no Brasil e no mundo. É revoltante ver um pequeno grupo de privilegiados acumular tanto em meio a uma das piores crises globais já ocorridas na história”.

Mas para uma parte da comunidade dos futuristas, o mundo é outro. A ser construído com tecnologia e viagens em ambientes sem conflitos. Ao ser questionados sobre a desigualdade social da sociedade, são capazes de dizer que a disparidade tem diminuído por conta da tecnologia. “Hoje, mesmo aquelas pessoas que não sabem ler e escrever estão no WhatsApp, porque lá podem mandar áudio, foto, vídeo. Caminhamos muito mais para um mundo de abundância que de escassez”, dizem os consultores e consultoras em suas apresentações empresariais.

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