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Um dia na vida de uma cidade brasileira em 2030

Imagem de S. Hermann / F. Richter de Pixabay 

O que vai definir o futuro das cidades em 2030 será a capacidade de resgatar a qualidade de vida de seus moradores

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro

Finalmente pudemos comemorar alguma esperança de tempos melhores para a humanidade no futuro. Estamos em 2030. De vários cantos do planeta, iniciativas sociais fortalecem o estado de espírito dos cidadãos, após anos de incertezas e expectativas frustradas. Exemplo do movimento de transformação, a intervenção urbanística na Praça Sete, ponto histórico de Belo Horizonte, inspirou projetos semelhantes em outras partes do mundo. No passado, administradores públicos e privados diziam que as cidades seriam inteligentes. Tudo bem, os espaços urbanos têm muita tecnologia e parecem reagir com alguma inteligência às demandas urbanas.

Mas as propostas criativas são mais relevantes no início da quarta década do século. Ideias que rompem com os padrões de ocupação urbana do século passado impactam o cenário e os comportamentos de toda a região central – o hipercentro – da capital do estado de Minas Gerais. A “cidadanização”, nome dado à revitalização, significou muito mais do que reformas de fachada, como em iniciativas anteriores.

“Caminhabilidade” complementa o conceito do cenário, que privilegia integralmente o pedestre. Sem o trânsito de carros particulares, com ou sem motoristas, os jardins que circundam o Pirulito, monumento histórico da capital mineira, transformam o lugar em ponto de referência e de encontro, principalmente da população local, de debates públicos, de manifestações e de relacionamento.

Cidadanização e caminhabilidade são os termos definidores do futuro das cidades

Urbanização em 2030

A valorização da cidadania marca o momento atual da capital mineira, chamada no passado de Cidade Jardim, por conta da qualidade do seu ar. A tentativa de fortalecimento de laços humanos se reflete, por exemplo, na integração da avenida Afonso Pena com áreas verdes. Um retorno à visão da qualidade de vida acima de tudo, na sociedade que tenta aprender a viver sob o signo do ócio.

Na ponta do Palácio das Artes, o Parque Central voltou a ser uma extensão aberta para a população, sem cercas. Na extremidade oposta, a antiga Rodoviária foi derrubada para dar lugar a espaços de práticas de esportes do século passado. Em quadras de futebol, vôlei e tênis, as atividades ao ar livre são parte de processos terapêuticos. O mundo enfrenta os vícios tecnológicos, causa dos maiores distúrbios mentais de indivíduos e de grupos sociais.

Em todo o trecho da avenida, de dois quilômetros e meio, prédios antigos foram adaptados como moradias, centros de convivência e pontos de cultura, educação e de debates, fazendas verticais e casas de saúde. Há projetos realmente inovadores, como estruturas de imersão em conhecimentos ancestral, com foco na evolução das ciências humanas e da natureza. O cenário da praça destaca o antigo Cine Teatro Brasil e os prédios antigos reconfigurados.

As mudanças marcam a valorização de novos modelos de organização dos espaços, depois de anos de abandono e degradação e de tentativas frustradas de revitalização. Há gente transitando. Moradores novos, de todas as idades. Residências ocupam as salas frequentadas antigamente por contadores, advogados, dentistas, exportadores de joias e negociantes de ouro, entre outros comerciantes e prestadores de serviços.

Enquanto os projetos anteriores enfatizavam o aproveitamento econômico dos ambientes, a reinvenção da cidade enfatiza verdadeiramente a valorização da cidadania. O passado, presente e futuro fazem parte de cada obra. Por trás de tudo, o conceito rejeita a geração de renda como razão da existência humana. O espaço é destinado essencialmente às pessoas.

Reconstrução do planeta

O cenário de 2030 reflete, então, a tentativa de reconstrução do planeta, abalado pelo acúmulo de tragédias da década iniciada com a pandemia. O Ocidente, em especial, teve de amargar duros aprendizados até entender que o desenvolvimento de tecnologias não seria suficiente para reverter o aumento das desigualdades. Ao contrário, a automação de atividades comerciais e a robotização das indústrias criaram um contigente enorme de pessoas despreparadas para viver em um mundo sem trabalho.

Portanto, o desafio posto para os urbanistas inclui a nocao de que as relações de trabalho são, agora, realizadas virtualmente, com apoio da internet para quem desempenha cargos de gestão, desenvolvimento de projetos ou criatividade. Parte dos 80% dos empregados em atividades rotineiras, como caixas de supermercados e de farmácias ou preparadores de sanduíches em fast-foods foram dispensados. Agora lidam com atividades precárias de sobrevivência, próximos de suas casas.

Muitos poucos trabalhadores terão salário fixo. A evolução das tecnologias não terá perdoado nem as atividades de baixa qualificação, nem os ocupantes de altos cargos executivos. Os trabalhos, quando conseguidos, serão de curto prazo, marcados por tarefas. E executados em casa ou em qualquer ambiente não corporativo. Os prestadores de serviços precisam ter custos reduzidos ao menor limite para concorrer com outras pessoas pelos trabalhos.

Impactos da virtualização nas cidades

Na terceira década, reuniões, globais, se fazem com auxílio de realidade virtual ou holografia. Robôs serão onipresentes, a realidade virtual projeta qualquer objeto. Procedimentos serão feitos por comandos de voz, não haverá telas em smartphone. Tudo é acessível em qualquer lugar em qualquer momento.

Lojas são apenas mostruários integrados ao ambiente. São pontos de apoio para as estruturas de comércio. Agora, predominam moradores. E gente que circula pelos vastos passeios em busca de cultura, de convivência e de busca de ocupação, em tempos de poucos empregos.

Os nascidos em 2012 estarão completando 18 anos, iniciando um curso universitário – se esse ainda for um parâmetro de evolução do ensino, claro. Será uma geração para quem se previu, por volta de 2010, que 65% das profissões ainda não teriam sido criadas. É certo, por exemplo, que medicina e engenharia estarão mais integradas. Estarão dividindo tarefas em cirurgias de implante de expansão de memórias pessoais.

Muitos jovens estarão resgatando cursos e ensinamentos das áreas de ciências humanas e sociais. O aumento da demanda por filosofia e a disponbilidade de tempo das pessoas darão o estímulo para a criação de arenas onde as pessoas voltarão a discutir os clássicos da antiguidade e a imaginar o mundo adiante.

Espaço urbano reconfigurado

Destaque da praça Sete, o antigo edifício do Bemge, imóvel projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e ocupado em 1953 pelos funcionários do banco estatal, finalmente abriga um projeto de revitalização com bons resultados. Reinaugurado em 2022, depois de mais de uma década de obra, com o nome de P7 Criativo – Agência deDesenvolvimento da Indústria Criativa de Minas Gerais, um polo de startups de tecnologia da informação, o edifício passou por novas adaptações. E os seus 25 andares, além de outros prédios da região, voltaram a concentrar órgãos da administração do Estado. 

A sede do Governo do Estado, inaugurada em 2010, na distante região Venda Nova, a 18 quilômetros da praça Sete, abriga um centro de segurança pública e prisão de criminosos cibernéticos.Foto: Leo Drumond/Governo de Mnas.

Do outro lado do passeio, o antigo edifício Helena Passig foi integralmente reformatado como prédio destinado ao ensino infanto-juvenil. Dos seus andares mais altos, meninos e meninas nascidas a partir de 2015 têm uma percepção diferenciada dos limites da cidade e, ao mesmo tempo, do ambiente de cultura disponível na área central.

Outros prédios históricos são, no início da quarta década do século, espaços produtores de alimentos. Fazendas verticais ocupam imóveis da região central. Outras já haviam sido criadas em bairros, inclusive em shopping centers e na praça da Savassi. Os centros comerciais se adaptam à perspectiva de envelhecimento da população, à redução das taxas de natalidade e ao baixo poder aquisitivo da maioria da população.

Seguindo a onda global, a região volta a ter o perfil de uma área residencial, e estrutura de cultura e ensino e ponto turístico. Deixou de ser uma região comercial a partir dos anos 2020, quando o comércio eletrônico se consolidou e provocou o esvaziamento definitivo de lojas. A informalidade das relações de trabalho e as tecnologias de comunicação deram fim ao sentido da existência de salas como lugares ocupados por empresas e profissionais. A internet em alta velocidade e em todas as coisas tornou irrelevante ter pontos comerciais.

O passeio ganhou “pedras” desenvolvidas em laboratórios, de biomaterias, que se recuperam instantaneamente quando algum acidente causa, por exemplo, um buraco ou outro dano. Em diferentes pontos, lojas foram transformadas em centros de resgate cultural, combinando atividades com a presença física de pessoas com projeções holográficas de história da região. O paisagismo reflete a busca tardia pela valorização das características do bioma regional.

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