Adolescente: Por que pensar o futuro
Adolescentes brasileiros, matriculados no ensino básico e médio, principalmente os nascidos após o início do século 21, membros da geração do milênio, estão expostos a desafios impostos pelas transformações que alteram o cenário de todo o planeta hoje. Vivemos tempos de incertezas. Como as apresentadas pelo Fórum Econômico Mundial, organismo que reúne lideranças econômicas e políticas internacionais. A instituição não deixa dúvidas sobre a força das inovações propagadas pela quarta revolução industrial. Com outros nomes, estudos com diferentes tons fazem alertas semelhantes. Em todos os sentidos, há cenários precariamente percebidos, ainda, por uma sociedade que não discute os rumos futuros dela própria.
Além de se submeterem à escolha de uma profissão, missão extremamente sofrida para grande parte, os jovens das novas gerações terão de encarar o fato de que o mercado de trabalho das próximas décadas será, na teoria e na prática, diferente daquele vivenciado por seus pais, avós, bisavós e tataravós, representantes das três revoluções industriais anteriores. Não só pela influência das tecnologias, mas também por questões sociais, econômicas e políticas, entre outras, que fazem o atual momento diferente.
“Se as crianças são o futuro, é essencial que se faça de tudo para que a educação delas priorize a capacitação para o que vem pela frente”, alertam especialistas em tendências de várias regiões, antenados com as distorção das sociedades que se negam a ter olhar prospectivo, diante de mudanças capazes de deixar os ambientes sociais mais instáveis e escorradios.
Sem a percepção sobre os avanços exponenciais das tecnologias e sobre os efeitos no restante dos ambientes de relacionamento humano, há a possibilidade de preparação de novas ‘safras” de profissionais dissociados das realidades. Futuros trabalhadores que, em alguns casos, desembarcarão em mercados sem identificar atividades que vão perder importância. Em outras situações, funções que chegarão à obsolescência ou à extinção. Pessoas sem capacidade, até mesmo, de antecipar as oportunidades que virão pela frente.
A dissociação evidencia-se, na realidade brasileira, nos processos de seleção para os cursos universitários. Os alunos focam os exames de seleção, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os vestibulares de escolas superiores privadas como meta desligada de questões básicas sobre o cotidiano humano. “Os jovens parecem estar aprendendo de forma reativa, como se estivessem olhando para um espelho retrovisor, quando deveriam estar aprendendo as habilidades que irão prepará-los para o futuro”, critica o futurista norte-americano Daniel Burrus, demonstrando que o problema é, na verdade, mais amplo do que possa imaginar.
Para o especialista norte-americano, “sem o começo imediato de uma abordagem antecipatória, pró-ativa, da educação atual, as crianças correm o risco de desembarcar no futuro completamente despreparados para a paisagem profissional de amanhã”. É necessário reconhecer que a tecnologia está mudando a maneira como vivemos, trabalhamos e atuamos. No jogo global, a atitude antecipatória é a única maneira de ter garantias de sobrevivência em posições de liderança, olhando para as tendências mais claras que estão moldando o futuro.
TECNOLOGIA EM TUDO
Hoje, na segunda metade da segunda década do século, jovens e seus familiares, além do sistema educacional, parecem pouco atentos ao fato de que há um amadurecimento das tecnologias disponíveis, criando condições ideais de temperatura e pressão para a implantação de uma nova estrutura do sistema produtivo. Basta olhar para qualquer smartphone ou tablet acessível à mão para entender o momento atual da infraestrutura tecnológica. O poder de processamento, a velocidade com que acessamos informações e a quantidade de conhecimentos disponíveis não deixam dúvidas de que os computadores estão completamente maduros para atender as demandas dos usuários.
A revolução tecnológica não é uma curiosidade sobre o futuro. Estudantes das etapas finais do ensino fundamental sequer imaginam, como tema de reflexão, o que seja trabalho na era digital. E mesmo os jovens do ensino médio seguem os velhos métodos de procura e definição de alternativas quando expostos aos diliemas da pesquisa sobre atividades humanas. Com mais de duas centenas de alternativas oferecidas por escolas públicas e privadas, as novas profissões seguem pouco conhecidas.
O estudo “Educação para o trabalho”, uma avaliação global elaborada pela empresa de consultoria McKinsey, realizada em 2013, diz que os dois únicos países do mundo onde universidades e escolas técnicas estão preparadas para direcionar pessoas para o trabalho são a Inglaterra e a Alemanha. Em todos os outros países, a diferença entre o que as escolas de nível médio e superior acham que elas fazem para preparar as pessoas e o que as pessoas consideram de fato importante chega para números entre 28% e 30%. Brasil e México lideram a lista de maior disparidade da distância entre o que a escola acha que fez para a pessoa ter capacidade de trabalhar e o trabalho exige de fato da pessoa.
As estratégias deficientes de escolha se manifestam, inclusive, no foco na visão imediatista, do presente, para a avaliação de alternativas. Faz parte das tradições, jovens escolherem profissões porque estão “na moda”, seguindo recomendações de gurus eventuais. Foi o que aconteceu, por exemplo, nos casos da indústria do petróleo e da construção civil, no Brasil em tempos recentes.
Em 2010, último ano do governo Lula, quando o produto interno bruto brasileiro cresceu surpreendentes 7,5%, apesar dos efeitos da crise global de 2008, houve uma corrida pelos cursos de engenharia. Com o preço do óleo nas alturas, especialistas em recolocação indicavam os dois setores como alguns dos mais promissores para os estudantes envolvidos com os vestibulares da época. Ou seja, o olhar focado no momento foi a base para a recomendação da profissão.
ADAPTAÇÃO LENTA
Os investimentos em visões de futuro são necessários, inclusive, para forçar uma adequação dos cursos superiores à velocidade de introdução das tecnologias, inovações e mudanças de funcionamento dos sistemas produtivos. A formação de profissionais é sempre mais lenta do que a capacidade de absorção dos novos trabalhadores pelo mercado de trabalho. Há uma disfunção temporal, que vai se agravar: a demanda de hoje não será a mesma de amanhã.
O jornalismo tem alguns dos exemplos sobre os impactos negativos da ausência da visão prospectiva. No início dos anos 2000, a internet já deixava clara a perspectiva de tomar espaços das mídias tradicionais, em especial dos jornais impressos. Naquela época e, em alguma medida, ainda hoje, as escolas de jornalismo mantinham suas grades curriculares com forte peso em técnicas de produção para veículos em papel.
Assim como os jornalistas, os publicitários custaram a entender que os meios digitais afetariam profundamente os seus modelos de negócios. Em alguns anos, profissionais do segmento começaram a entender, por exemplo, que definições sobre o que é um “texto ideal” ou sobre a “eficiência de uma propaganda”, com o culto ao clique como padrão, estavam sendo definidas pelos especialistas em tecnologia e em marketing.
Em 2001, a Organização Internacional do Trabalho já defendia a necessidade de melhorar a capacidade de instituições da sociedade para coletar e comunicar informação confiável e atualizada sobre as demandas do mercado de trabalho, como uma base para a orientação profissional e melhores escolhas dos interessados – população, empresas, governos e instituições de ensino, além dos estudantes, naturalmente. Segundo o estudo “O mercado de trabalho no futuro: uma discussão sobre profissões inovadoras , empreendedorismo e tendências em 2020”, a OIT reconhece que os estudos do futuro podem oferecer uma contribuição, na medida em que prospectam tendências, apontam caminhos e oferecem um referencial de discussão para o desenvolvimento de planos estratégicos para que se aja em direção ao futuro desejado.
REPENSAR
Grandes empresas, como a Petrobras, a Fiat, Usiminas e Natura continuarão a existir. Mas terão um menor número de empregados. Assim como grandes varejistas, como lojas Americanas e Magazine Luiza, envolvidas pelo comércio eletrônico. Google, Facebook e Amazon serão ainda multinacionais, com seus modelos de negócios com poucos empregados. Uber e AirBnB manterão suas marcas inovadoras, com presença mundial e pouquíssimos empregados diretos e uma multidão de indiretos, espalhados pelo mundo. Empregos escassos em um ambiente de empreendedorismo intenso e regido pela força da digitalização. Novas empresas estarão liderando segmentos desconhecidos na atualidade.
O desenho do cenário do futuro confirma a necessidade de repensar as estratégias de pesquisa e escolha da profissão das próximas gerações. Ao escolher rumos, os entrantes no mercado depois dos anos 2020 devem entender as mudanças projetadas para a forma e o conteúdo da sociedade do futuro. Mesmo profissões tradicionais, como medicina, engenharia e direito, sofrerão transformações importantes. Outras atividades podem enfrentar traumas mais radicais. Outras menos. Mas não resta dúvidas de que todas tenderão a sentir os impactos da revolução tecnológica.
Além de fatores gerados pelas inovações computacionais, há variáveis sociais, econômicas, demográficas, políticas e mercadológicas a levar em conta. É crescente, hoje, a percepção de que também muda, por exemplo, a maneira como as pessoas vão encarar o papel do trabalho. Com automação de processos e robôs em todos os setores da atividade humana, a sociedade reverá, por exemplo, a questão do tempo disponível. O ócio será um fato, confirmando as previsões apresentadas pelo sociólogo italiano Domenico de Masi que, na década de 1990, defendia a tese de que a futuro do trabalho teria a influência do aumento do tempo disponível para outras atividades além do exercício de profissões.
A existência em si de oportunidades de emprego é uma preocupação a ser considerada no contexto. A preocupação com o desemprego de jovens faz parte do radar dwe instituições como a Organização Internacional do Trabalho, o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Há alguns anos, as entidades internacionais cumprem o papel de divulgação de estudos e alertas sobre os problemas que envolverão o mundo do trabalho no futuro, exigindo a elaboração de políticas públicas para criar novas chances de trabalho para milhões de pessoas.
“Estamos à beira de uma revolução tecnológica que irá alterar fundamentalmente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, escopo e complexidade, a transformação será diferente de tudo que a humanidade tenha experimentado antes”, alerta Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial. “A juventude de hoje não enfrenta uma fácil transição do mercado de trabalho e, com a desaceleração econômica global, é provável que isso continue”, ressaltou a diretora do Departamento de Políticas de Emprego da OIT, Azita Awada.
PROCESSOS DE ESCOLHA
Uma pesquisa realizada pelo Portal Educacional em 2011 com 2 mil estudantes matriculados no terceiro ano do ensino médio constatou que a metade deles não sabia qual curso universitário escolheria no vestibular que se aproximava. Os estudantes reconheciam que a escolha entre várias profissões envolvia um enigma complexo, para o qual recebiam pouca ajuda das escolas.
Para os coordenadores do estudo, a indecisão reflete o quanto o momento ainda é subestimado em importância. “Apesar de estudarem tanto para o vestibular, eles não encaram a escolha do curso como parte do processo. O estudante é muito novo e, como não há na escola uma matéria que o prepare, adquire uma postura passiva.”
Na prática, o processo confirma que pouco mudou na forma como as pessoas escolhem as atividades que vão seguir. No passado, era possível dizer que havia poucas possibilidades de escolha. Em 1934, na primeira fase do governo de Getúlio Vargas, dez cursos marcaram a criação oficial da Universidade de São Paulo. Na sociedade ainda fortemente rural, dominada pelas elites cafeeiras, o acesso a carreiras de nível superior era um privilégio para poucos. Até o final dos anos 1800, existiam apenas 24 estabelecimentos de ensino superior no Brasil, com cerca de 10 mil estudantes. Os primeiros anos da criação da República abriram oportunidades para estabelecimentos privados de ensino superior. Até a década de 1930, existiam 133 escolas isoladas, 86 delas criadas nos anos 1920.
O Brasil de 2015 já tinha, segundo o Mapa do Ensino Superior, elaborado pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior de São Paulo (Semesp), 2.391 instituições de ensino superior, entre universidades e faculdades independentes. Do total, 301 são da rede pública e os restantes 2.090 da rede privada.
Ainda de acordo com os dados do levantamento, o número de matrículas em cursos presenciais das IES públicas e privadas do Brasil aumentou de forma expressiva nas últimas três décadas. De 2000 a 2013 chegou a crescer 129%. Em 2013 havia cerca de 1,8 milhão de alunos matriculados nas IES da rede pública (28,8%) e 4,4 milhões de alunos em instituições privadas (71,2%), totalizando 6,1 milhões de matrículas. No ano anterior, esse total era de 5,9 milhões de matrículas, das quais 1,7 milhão na rede pública e 4,2 milhões em IES privadas. Esses números representam um crescimento total de 3,8%, sendo 3,6% na rede de ensino pública e 3,9%, na rede privada.
Os números, seja da oferta de cursos, da demanda e da importância do setor educacional, contrastam com a distância que separa os estudantes das suas escolhas. O que em parte explica o elevado índice de evasão dos cursos superiores. A taxa de evasão é calculada com base nos alunos desistentes em relação ao total de alunos matriculados. Em 2013 a taxa de evasão dos cursos presenciais da rede privada no Brasil atingiu o índice de 27,4% na rede privada e 17,8% na pública. Nos cursos EAD, no mesmo ano, o índice chegou a 29,2% na rede privada e 25,6% na pública. Na rede privada, a diferença entre as modalidades de ensino presencial e EAD ficou em 1,8 pontos percentuais; na rede pública o percentual foi maior (7,8 pontos). Uma das causas das desistências é, certamente, o fato de que as escolhas são feitas sem um método adequado.
Um estudante que vive hoje o dilema da definição sobre profissão que pretende seguir passa pelas mesmas aflições que os seus pais enfrentaram. Em tempos de informações abundantes na internet e de revoluções tecnológicas, as estratégias de busca por conhecimento são essencialmente as mesmas. Testes vocacionais, visitas programadas a faculdades, palestras de profissionais experientes nas escolas. Pouco mudou. Não é à toa que as profissões mais procuradas continuam sendo aquelas pretendidas pelos antepassados. Medicina, direito, engenharia e engenharia continuam no topo das preferências.
PROJETO PIONEIRO
O desconhecimento sobre tendências do mercado de trabalho é confirmado pelos resultados de um projeto pioneiro desenvolvido pela Estação do Saber e pelo Radar do Futuro na Escola Estadual Pedro II. Em dez sessões, alunos do nono ano do curso fundamental, na faixa de idade de 14 anos, participaram de oficinas onde exercitaram atividades de autoconhecimento, com acesso a recursos de coach, com a possibilidade de pesquisar informações sobre profissões, entendendo tanto o presente como o futuro delas.
O levantamento inicial sobre o repertório de profissões conhecidas confirma a ausência de informações sobre as possibilidades oferecidas pelo mercado atual e sobre perspectivas para o futuro. Induzidos a listar as profissões que conhecem, o resultado apresenta as atividades que integram a relação dos cursos mais procurados nos vestibulares das escolas brasileiras. A tentativa de extrair uma relação de nomes de profissões desconhecidas não encontra respostas relevantes.
A observação dos comportamentos e percepções sobre o mundo revela jovens sem envolvimento com a busca de significados do trabalho para as suas vidas. Uma atividade sobre o impacto de inovações como a robótica sobre algumas funções profissionais foi capaz de gerar interesse por discussões. Mas nada que tenha aderência mais ampla dos estudantes naturalmente envolvidos em seus interesses mais imediatos. .
Projeções do futuro
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Há um certo consenso de que crianças com dez anos hoje vão se formar, em mais uns 15 anos, por volta de 2030, portanto, em profissões que sequer existem.
O futuro do trabalho é competitivo. Ninguém vai pagar alguém apenas porque a pessoa tem um diploma. A educação informal é cada vez mais acessível. A competição por empregos não será limitado ao lugar onde você mora. Para ter oportunidades de trabalho – não necessariamente de empregos – o profissional será obrigado a se destacar.
Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, cientistas do MIT, dos Estados Unidos, reconhecem que a digitalização gera um momento complexo para a humanidade, suficiente para determinar uma visão menos otimista sobre o futuro do trabalho. Segundo eles, nunca houve um momento melhor para ser um profissional com habilidades especiais. Pessoas com a “educação certa” podem usar a tecnologia para criar e aprender valor. No entanto, nunca houve também momento pior para ser um profissional com apenas habilidades comuns a oferecer. O pessimismo decorre da constatação de que computadores, robôs e outras tecnologias digitais estão adquirindo essas habilidades e talentos em velocidade extraordinária.
Há análises sobre o futuro dos empregos, impregnadas da crença otimista de que tecnologias criam tantas atividades quanto eliminam. Não é verdade mais.
Vamos ver cada vez mais coisas que se parecem com ficção científica e menos com empregos.
As máquinas passaram a ter habilidades que nunca tiveram antes: compreender, falar, ouvir, ver, responder, escrever. E estão ganhando novas habilidades.
visão otimista: a revolução tecnológica possibilita o aumento da produção, enquanto caem os preços. O volume e a qualidade continuam a crescer
reforço à tese de que teremos mais tempo disponível
momento de grande florescimento da criatividade, inclusive com o apoio de equipamentos como impressoras 3D que, na visão dele, possibilitam novas criações em massa.
reconhece dois desafios.
O primeiro, é econômico. E diz respeito ao aumento da desigualdade. Enquanto os lucros das empresas crescem ano após ano, a renda tendo a sentido contrário. Há, nos últimos 15 anos, uma redução do tamanho da classe média, pela perda de renda, em um ciclo vicioso marcado por desigualdade e polarização.
O segundo é social. A mobilidade social nos Estados Unidos hoje é menor do que a da Europa.
O palestrante da tarde, Hélio Zylberstajn, professor da USP, ressaltou que a tecnologia no trabalho está sempre avançando. Segundo ele, uma pesquisa nos EUA afirma que 47% dos empregos poderiam ser substituídos por computadores. Esse processo de computadorização teria o potencial de criar pelo menos cento e sessenta e três novas ocupações, altamente especializadas, que não existem hoje. Precisa-se conhecer o que está ocorrendo para se formular políticas públicas que deem conta do mundo atual em constante transformação, defendeu o professor.
Para entender o futuro do trabalho é necessário levar em conta a forma como a internet impacta a vida sociedadde.
cinco bilhões de pessoas vão se tornar conectadas nos próximos 20 anos
Adulteração de áudios e vídeos com uso de IA e o risco para o mundo empresarial
O eleitor é enganado, acreditando ser o candidato o emissor de mensagens que são artificialmente criadas usando o mesmo timbre, tom e o próprio jeito de falar da pessoa
Alfabetização midiática: mais que importante, é urgente
Sem estratégias de alfabetização mediática e regulamentação das mídias, o cenário de radicalismo da direita tende a se agravar
Apenas 5% das profissões serão totalmente extintas
O trabalho na era da automação
Os avanços em inteligência artificial e robótica estão provocando uma nova onda de automação, com máquinas que combinam ou superam os seres humanos numa rapidamente crescente gama de tarefas, inclusive algumas que exigem capacidades cognitivas complexas e educação de nível superior.
Esse processo superou as expectativas dos especialistas. Não é de surpreender que seus possíveis efeitos negativos sobre a quantidade e a qualidade do emprego levantaram sérias preocupações.
Ouvindo o governo do presidente Donald Trump, poderíamos pensar que o comércio continua a ser o principal motivo para a perda de empregos de manufatura nos EUA. O secretário do Tesouro de Trump, Steven Mnuchin, declarou que o possível deslocamento tecnológico dos trabalhadores “sequer está na tela do radar [do governo]”.
Entre os economistas, porém, o consenso é de que cerca de 80% da perda de empregos na indústria de transformação americana nas últimas três décadas foi resultado de mudanças tecnológicas que poupam mão de obra e incrementam a produtividade, ficando o comércio em distante segundo lugar.
A questão, então, é se estamos rumando para um futuro de desemprego, em que a tecnologia deixa muita gente desempregada, ou um “bom futuro sem empregos” , no qual um número crescente de trabalhadores não pode mais auferir uma renda de classe média, independentemente de educação e habilidades. A resposta pode ser: um pouco de cada coisa.
O estudo mais recente sobre o tema descobriu que, de 1990 a 2007, a penetração de robôs industriais prejudicou tanto o emprego como os salários.
Com base nas simulações do estudo, os robôs custam provavelmente cerca de 400 mil postos de trabalho por ano nos EUA. Muitos deles são empregos de renda média na produção, especialmente em setores como o automobilístico, de plásticos e de produtos farmacêuticos.
Claro, como salientou um recente relatório do Instituto de Política Econômica, esses não são números grandes, em comparação com a dimensão geral do mercado de trabalho americano.
Mas as perdas locais de emprego tiveram efetivamente um impacto: muitas das comunidades mais afetadas estavam nos estados do Meio-Oeste e do Sul dos Estados Unidoa, que votaram em Trump, em grande parte por suas promessas protecionistas.
À medida que a automação substitui o trabalho em um número crescente de ocupações, o impacto sobre a quantidade e a qualidade dos empregos se intensificará.
E, como mostra um estudo do McKinsey Global Institute, há muito mais espaço para tal substituição. O estudo, que abrangeu 46 países e 80% da força de trabalho mundial, descobriu que poucas ocupações, menos de 5%, poderiam ser totalmente automatizadas. Mas cerca de 60% de todas as ocupações podem ter pelo menos 30% de suas tarefas ou atividades automatizadas com base em tecnologias atuais comprovadas.
As atividades mais suscetíveis à automação em curto prazo são tarefas cognitivas rotineiras, como coleta e processamento de dados, bem como atividades manuais e físicas de rotina em ambientes estruturados e previsíveis. Tais atividades agora representam 51% dos salários nos EUA e predominam em setores que empregam grande número de
A ampla distribuição dos benefícios das máquinas inteligentes não dependerá de seu design, mas da estruturação das políticas que as cercam. Infelizmente, a equipe do presidente Donald Trump não compreendeu a mensagem trabalhadores, entre eles serviços de hotelaria e de alimentos, manufatura e varejo.
O relatório McKinsey também identificou uma correlação negativa entre, por um lado, a remuneração de tarefas e os níveis de habilidades por elas exigidas e, por outro, o potencial para sua automação.
No cômputo geral, a automação reduz a demanda por mão de obra de baixa e média habilidades em tarefas rotineiras de menor remuneração, ao mesmo tempo em que intensifica a demanda por mão de obra altamente qualificada e de alto desempenho, realizando tarefas abstratas que exigem habilidades técnicas e de resolução de problemas. Em suma, as mudanças tecnológicas tendem a privilegiar os mais capacitados.
Ao longo dos últimos 30 anos, as mudanças tecnológicas que privilegiam os mais capacitados alimentaram a polarização tanto dos empregos como dos salários, e assim os trabalhadores médios que enfrentam estagnação salarial real e os trabalhadores sem curso superior sofrem um declínio significativo em seus ganhos reais. Essa polarização alimenta a crescente desigualdade na distribuição da renda da mão de obra, o que por sua vez impulsiona o crescimento da desigualdade geral de renda dinâmica enfatizada por muitos economistas, de David Autor a Thomas Piketty.
Como Michael Spence e eu argumentamos em artigo recente, máquinas inteligentes que privilegiam as pessoas mais capacitadas e deslocam mão de obra, e a tendência para a automação, impulsionam a desigualdade de renda de várias outras maneiras.
Mudanças tecnológicas, ressaltamos Spence e eu, também produziram outra consequência amplificadora de desigualdades: elas “turbinaram” a globalização, permitindo que empresas forneçam, monitorem e coordenem processos de produção em locais distantes de forma rápida e barata com o objetivo de aproveitar menores custos trabalhistas. Diante disso, é difícil distinguir entre os efeitos da tecnologia e os efeitos da globalização sobre o emprego, os salários e a desigualdade de renda nos países desenvolvidos.
O relatório “Perspectivas Econômicas Mundiais” do FMI de abril de 2017, atribui cerca de 50% do declínio de 30 anos da participação do trabalho na renda nacional nas economias desenvolvidas ao impacto da tecnologia. A globalização, estima o FMI, contribuiu para cerca de metade do declínio.
O aumento dos temores quanto aos possíveis efeitos de ferramentas cada vez mais inteligentes sobre o emprego, salários e a desigualdade de renda resultou na defesa de políticas como um imposto sobre os robôs. No entanto, tais políticas prejudicariam a inovação e o crescimento da produtividade, a principal força por trás do aumento dos padrões de vida.
Em vez de enjaular a galinha dos ovos de ouro do progresso tecnológico, os formuladores de políticas deveriam concentrarse em medidas que ajudem os prejudicados, como programas de educação e treinamento e redes de segurança social.
Três anos atrás, argumentei que a ampla distribuição dos benefícios das máquinas inteligentes não dependerá de seu design, mas da estruturação das políticas que as cercam. A partir de então, não permaneci sozinha. Infelizmente, a equipe de Trump não compreendeu a mensagem. (Tradução de Sergio Blum)
Laura Tyson, expresidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente dos EUA, é professora da Haas School of Business da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e assessora sênior do Rock Creek Group.
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Aplicativo usa pontos de referência para ofertar imóveis
Carlos Teixeira
Radar do Futuro
Empresa tradicional no mercado imobiliário mineiro, a LAR Imóveis prepara o lançamento de um aplicativo que a empresa define como inovador. A solução, baseada em filtros de busca, possibilita ao comprador ou locador de imóveis comerciais ou residenciais identificar as ofertas disponíveis em torno de um ponto de referência. Uma escola, um clube ou um shopping, por exemplo.
O sistema é resultado de um ano de desenvolvimento, com a proposta de inovar em relação ao que existe no mercado. O cliente pesquisa a partir de um ponto específico, uma “âncora para o cliente”, segundo a definição de Hermano Rodrigues, diretor de inovação da empresa. O investimento em inovação reflete a convicção de que a digitalização amplia a influência nos processos envolvendo todos os tipos de imóveis.
Quem passou a conviver apenas agora com as imobiliárias não tem a menor ideia do que era a atividade no passado. E no que está se transformando. Hoje, as equipes são focadas em atendimento digital. E em gestores que incorporam a mudança de mentalidade empresarial, focados na antecipação das tendências que vão revolucionar o mercado.
Os administradores que estão chegando, da geração nascida e crescida no ambiente da computação e da internet, tendem a mudar as definições sobre os conceitos de imobiliárias. Agora, há mudanças de modelos de negócios como objetivo. E há a introdução da linguagem em que clientes são os leads, há jornada de compras e uma atenção especial com a experiência do cliente. A valorização da experiência do consumidor faz parte da alma do negócio.
Mudanças exponenciais
Características das corretoras imobiliárias do passado estão sendo substituídas irremediavelmente. Quando Luiz Antônio Rodrigues iniciou as atividades da LAR Imóveis, há mais de 40 anos, havia uma dependência absoluta dos classificados de jornais impressos. Os anúncios em papel representavam uma das principais fontes de despesas das imobiliárias. Plantões de corretores eram essenciais, apenas para aguardar telefonemas que podiam nem mesmo vir.
O fim da receita com os classificados representou uma parte considerável da crise atravessada pelos veículos de comunicação atualmente. E o desenvolvimento da telefonia celular e de novas mídias eliminou a dependência de corretores disponíveis em endereços físicos para receber ligações. Basta um celular para atender a qualquer momento, de qualquer lugar.
“Hoje temos maior nível de profissionalização”, reconhece Luiz Antônio Rodrigues. O empresário mantém uma rede com cinco unidades em Belo Horizonte por conta da crença, compartilhada por outros proprietários de empresas, de que ainda é necessário manter os pontos de referência para relacionamento com os clientes potenciais e os já conquistados.
O reposicionamento é essencial no atual momento em que o segmento atrai fortes interesses. Segundo especialistas, existem hoje mais de 200 startups imobiliárias recebendo investimentos e revolucionando o setor. As empresas sentem — muitas se ressentem, na verdade — das mudanças dos comportamentos. As novas gerações têm o smartphone como extensão do corpo e buscam novos modelos de trabalho e de moradia.
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