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Profissões antigas resistem aos processos automatizados

Em um prédio do centro de Belo Horizonte, a dispensa de quatro ascensoristas foi um dos temas centrais da assembleia geral dos proprietários dos imóveis. Diante dos apertos da economia brasileira, a proposta era a realização de cortes. Afinal, reconhecia o sindico, os elevadores já têm recursos automáticos suficientes para funcionar sem a necessidade de alguém para administrar subidas e descidas pelos andares. No final das contas, a decisão foi adiada. 

Exemplos como esse são cada vez mais frequentes nas cidades brasileiras. As mudanças, que podem levar à extinção de algumas profissões, nem sempre são rápidas. E sempre pode haver os sobreviventes, como atesta matéria publicada pelo site do Correio de Uberlândia, que identificou profissionais que permanecem na ativa em funções com alto potencial de desaparecimento. 

Os avanços da tecnologia, que ocorrem cada vez mais rapidamente, fazem com que surjam profissões – naturalmente movidas por novas demandas, ao mesmo tempo em que provocam a extinção de várias outras funções. Com os processos automatizados e a produção em série, é raro achar atividades que dependam, fundamentalmente, de habilidades artesanais, como a produção de uma peça de roupa masculina ou mesmo a fundição de ouro e prata. No entanto, mesmo com a modernidade, algumas profissões vindas de séculos passados conseguiram atravessar os tempos e permanecem sendo executadas ainda hoje. O CORREIO de Uberlândia foi às ruas para encontrar esses profissionais e ouvir deles quais foram as principais mudanças ao longo dos anos.

Alfaiate

João Batista da Silva, conhecido em Uberlândia como JB Alfaiate, tinha 11 anos quando começou a trabalhar como alfaiate. “Naquela época, crianças trabalhavam e meu pai me arranjou um emprego em um bar. Um alfaiate que frequentava o local me viu, me achou esperto e quis me levar. Meu pai deixou e, com 15 anos, vesti o primeiro terno que fiz na vida”, disse. Nos anos de 1950, quando JB começou a investir no ofício, a demanda por ternos fabricados sob medida era comum. “Políticos, advogados, autoridades sempre mandavam fazer as roupas. Cheguei a ter mais de mil clientes, criei família com a alfaiataria. Levantava antes de o sol nascer para cortar os serviços, porque, depois que eu abria as portas, não era mais possível fazer nada. A alfaiataria lotava”, disse.

Hoje em dia, depois de mais de meio século de trabalho e com 85 anos de vida, ele conta que o movimento caiu. “A maioria prefere roupas prontas, mas tem sempre aquele cliente que ainda gosta de lembrar os velhos tempos e manda fazer um terno. Minha clientela atravessou gerações e ainda hoje atendo filhos e netos de homens que foram meus clientes. O público é de pessoas que ainda mantêm a tradição ou então de gente que quer ternos em medidas especiais, porque não os encontra prontos.”

Ourives

Também foi observando o trabalho de outros profissionais que Geovane Felipe dos Santos, de 42 anos, se tornou ourives há mais de três décadas. “Minha mãe trabalhava em casa de família e os patrões procuravam um menino que pudesse limpar as peças da oficina de joias deles. Ela sugeriu que me contratassem e eu fui. Ficava olhando curioso e um dia disse para o ourives que sabia soldar correntinhas. Ele me desafiou, dizendo que se eu soldasse, ele me contrataria para auxiliar. No dia seguinte, comecei a fazer consertos e, aos poucos, fui aperfeiçoando. Montei oficina em casa enquanto trabalhava para joalherias e, há seis anos, comecei apenas a prestar serviços, na minha própria oficina”. Ele disse que, apesar de estar em extinção, a profissão ainda tem mercado. “Muitas empresas segmentam a fabricação, então, é raro encontrar alguém que pegue a pepita de ouro e transforme em pedra, mas ainda há mercado. Trabalho de 7h às 21h de segunda a sexta, e amo o que faço”, disse.

Engraxate

Foi com pouco mais de 10 anos que Jovair Machado Lemes, de 55 anos, aprendeu a ser engraxate. “Era uma época em que criança podia trabalhar, inclusive para ajudar em casa, e o que tinha para fazer era isso. Várias crianças eram engraxates na praça Tubal Vilela. A maioria dos homens importantes, como gerentes de bancos e políticos, gostava de manter os sapatos limpos e lustrados e paravam na praça para a gente engraxar. Era muito comum, e a maioria dos trabalhadores era criança mesmo”, disse.

Ao longo da vida, Lemes foi conciliando o ofício com outros trabalhos, para criar a família, até que, há 20 anos, passou a dedicar-se exclusivamente à engraxataria. “Hoje, a quantidade de serviço que tenho é muito menor do que antes, porque é bem menos gente que usa sapato social e, com a crise, os que usam preferem engraxar em casa mesmo. Mas é um bom trabalho, conheço muitas pessoas, converso com várias delas o dia todo. Facilita o contato com os outros”, afirmou.

Sapateiro

O interesse por ter uma profissão foi o que motivou Francisco de Assis Pereira Rodrigues a procurar, ainda na infância, uma forma de aprender o ofício de sapateiro. “Sou de Ituiutaba e, com mais ou menos 10 anos, fiz curso técnico para ser sapateiro em uma escola na minha cidade. Aos 11, me mudei para Uberlândia em busca de emprego e fui morar com uma tia e trabalhar em fábricas. Aprendi a costurar e a fazer todo o processo do sapato, porque na minha cidade, sabia só o básico, o início. Aos poucos, fui progredindo. Houve um tempo em que a gente fabricava direto para o cliente, depois foram abrindo muitas lojas e começamos a vender para elas. Montei uma fábrica, mas quebrei no início dos anos 2000 e voltei a trabalhar para outras pessoas. Aos poucos, fui me reerguendo. Hoje tenho outra fábrica em sociedade com um amigo, e presto serviço para vários estabelecimentos da cidade”, disse.

Ele conta que se especializou em sapatos femininos, por causa da possibilidade de criar modelos. “É como se fosse uma folha em branco, posso fazer o desenho que eu quiser. Modelo o sapato desde a forma até a finalização. Fiz botinas e outros sapatos masculinos muitos anos, mas me especializei somente nos femininos, porque é o público que mais compra e porque há mais variedade.

A cearense Helena Mororó de Araújo tinha 18 anos recém-completos quando foi contratada para ser ascensorista em uma companhia telefônica no Rio de Janeiro, no início dos anos 1980. Na década seguinte, ela mudou-se para Uberlândia com o marido e os filhos e começou a trabalhar na mesma profissão em um edifício no hipercentro da cidade, onde permanece até hoje, aos 56 anos. “Estou há 17 anos como ascensorista aqui, e amo o que eu faço. A vida de dentro do elevador é boa, conheço várias pessoas, converso com muita gente todos os dias. É um trabalho que não dá para ser exercido quando se está com problema, porque você não aguenta ficar dentro do elevador, puxando assunto o tempo todo, pensando em outra coisa”, disse.

Segundo ela, apesar da tecnologia, seu trabalho é importante. Hoje, os aparelhos estão modernos, quase conversam com as pessoas, anunciam o andar e são bem fáceis de serem operados. “Mas ainda tem muitas pessoas que preferem e precisam de um ascensorista. Muitos não prestam atenção no que a máquina fala, outros têm medo ou pânico de altura e de lugares fechados, e meu papel é acalmar essas pessoas. Há crianças que entram gritando de medo. Sem uma pessoa lá, isso seria ainda pior, porque seria só a frieza da máquina. O ascensorista humaniza o elevador.”

 

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