Até o dia 10 de cada mês, análises especiais sobre acontecimentos de relevância e o vem por aí, no futuro
CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro
O segundo semestre de 2022 será um período de oportunidades de grande aprendizado para os especialistas das áreas de ciências sociais e de humanas, atentos aos acontecimentos do planeta. Não necessariamente para ganhar dinheiro. Mas pela abundância de acontecimentos prováveis, capazes de gerar novos estudos sobre o comportamento da civilização. Sem saídas de curto prazo para as crises econômica, política, social e sanitária, o mundo tende ao conflito crescente. No Brasil, há eleições em contraste com inflação e aumento da pobreza. Pratos cheios para sociólogos, cientistas políticos, especialistas em direito, historiadores e psicólogos, entre outros expostos às ações humanas.
Em julho: anote
Eleições presidenciais no Brasil, risco fiscal elevado, recessão nos Estados Unidos e crescimento do PIB brasileiro são as palavras-chaves da especulação financeira durante o mês.
CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro
As eleições serão um manancial de novos dados sobre o conservadorismo saído das sombras no governo de Michel Temer. E que avançou vários passos a mais com Jair Bolsonaro na presidência. A edição de 2022 da pesquisa “Cara da Democracia” confirma um perfil de eleitorado brasileiro com opiniões majoritariamente de direita, conservadoras ou linha-dura. O estudo, desenvolvido por especialistas das universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj, destaca, na autodeclaração dos entrevistados, que a direita hoje representa praticamente o dobro da esquerda (30% a 16%). E os temas polêmicos, como maioridade penal, legalização do aborto e militarização de escolas, entre outros, refletem essa divisão.
E daí?
Pelo lado positivo, por assim dizer, vale constatar que o comportamento dos conservadores diante de uma provável derrota em outubro vai inspirar a realização de estudos sobre a sociedade do século 21. Uma sociedade que nenhum cientista teria imaginado há uns 15 anos. Os pesquisadores terão novos dados compreender o momento global de crise da democracia e do acirramento do ambiente de tensão entre grupos sociais. Em qualquer cenário imaginado, a herança das eleições será negativa.
Faltando três meses para as eleições para presidência e para os legislativos federal e estaduais, o Brasil tem a garantia de mais um espetáculo de acirramento das tensões. Será um período em que o governo de Jair Bolsonaro e seus apoiadores farão de tudo para inviabilizar a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mantém a liderança nas pesquisas de intenção de votos. Um ambiente agravado pelo incitamento à violência individual, que já começa a aparecer e causar apreensão.
Com desvantagem entre eleitores e atordoado diante da ineficácia das iniciativas destinadas a melhorar a imagem, o governo continua a perder força de mobilização. Há um desalento entre os eleitores de centro e de direita. Segundo a imprensa, o presidente sente que está isolado e fraco. Nem mesmo o pacote emergencial de benefícios sociais, avaliado em R$ 40 bilhões, tende a melhorar o desempenho nas pesquisas.
O aumento do Auxílio Brasil e o repasse de recursos para motoristas de caminhões e para taxistas são vistos como essenciais pelos apoiadores. Mas cientistas políticos como Felipe Nunes, diretor da empresa de pesquisas Quaest, entrevistado pelo site UOL, avaliam que os impactos devem ser nulos.
Compreenda os interesses da imprensa
Bom momento para entender também os compromissos da imprensa comercial com o País. Como a mídia age diante da ausência de um candidato da terceira-via. Sem uma outro nome viável para disputar com Lula e Bolsonaro, no cenário provável a tendência será de manutenção das apostas no atual governo, mesmo que o comportamento gere impactos negativos no futuro.
Tendências
Cenário global
Em julho, os cenários econômico, político e social do planeta continuam apresentando perspectivas negativas para os 99% da população que não fazem parte do grupo dos bilionários. A recessão nos mercados produtivos e a inflação mundial recorde são os indicadores mais fortes da crise persistente. Um dado merece destaque: nos Estados Unidos, a inflação alcançou a taxa de 8,6%, a maior dos últimos 40 anos.
Os países alinhados com os interesses dos Estados Unidos amargam efeitos negativos de medidas tomadas contra a Rússia, em guerra contra a Ucrânia. Na nova edição da guerra fria, em tempos digitais, os apoiadores do espírito belicista da OTAN enfrentam crescentes problemas econômicos e sociais. As sanções, embargos e o confisco das reservas internacionais mostraram pouco impacto na vida do presidente russo, Vladimir Putin.
Não há um horizonte de curto prazo de solução para a crise. As consequências do disparo dos preços da energia nos Estados Unidos e na Europa, com a gasolina ficando mais cara no mundo inteiro. Países emergentes e em desenvolvimento na América Latina, África e Ásia seguirão pagando a conta. Como subproduto da guerra, à inflação de energia somou-se a de alimentos.
E daí
Escassez de energia, precarização das condições de vida e fome são forças crescentes na definição do futuro dos países. Há um retrocesso civilizatório, que vai vai ser sentido inclusive pelas populações de países ricos. Por exemplo, na Alemanha. A redução do fornecimento de gás para os consumidores alemães, nos últimos dias, forçou o país, motor econômico da Europa, a intensificar seu protocolo de emergência energética e conclamar a população a economizar energia.
Diversas autoridades do setor industrial alemão alertaram o chanceler Olaf Scholz sobre o risco de cadeias inteiras serem prejudicadas diante da escassez provocada pelas sanções ocidentais ao gás russo. Alumínio, vidro, indústria química podem ser algumas áreas em colapso, com consequências enormes para toda a economia e empregos na Alemanha.
O próximo passo da crise de abastecimento de energia na Alemanha é o racionamento, no momento em que o inverno da Europa se aproxima.
China: esforço por recuperação
A China prepara a criação de um fundo de investimento em infraestrutura de 500 bilhões de yuans (US$ 74,69 bilhões) para revitalizar a economia. O setor de serviços do país asiático expandiu-se no ritmo mais rápido em um ano em junho, em meio ao afrouxamento dos bloqueios da Covid.
Visão prospectiva
Onda conservadora é tema de preocupação global
Pelo menos três decisões recentes da Suprema Corte dos Estados Unidos viraram assunto nos principais veículos de notícias do mundo. Ao retirar a garantia do direito ao aborto, uma das iniciativas, demonstra o avanço da “onda conservadora” nos EUA. A começar pela questão do direito ao aborto no país, que foi revisto pela corte nesta semana.
A partir de agora, os estados americanos poderão voltar a proibir o aborto em seus territórios. Outra decisão da corte diz respeito ao repasse de dinheiro público a escolas com caráter eminentemente religioso. A Suprema Corte decidiu que, no estado do Maine, esse repasse de dinheiro não pode ser proibido. E por último, a Suprema Corte tomou uma decisão que aumenta o acesso ao porte de armas no estado de Nova York.
A decisão da Justiça norte-americana acendeu o alerta para a fragilidade dos direitos femininos adquiridos nas últimas décadas no mundo. Em entrevista para o site da RFI, reproduzida pelo UOL, Irene Tolleret, integrante do Comitê Feminino do Parlamento Europeu, assinala que Estados Unidos, Brasil e União Europeia são regiões onde movimentos de ultra-conservadores, de direita, se tornam cada vez mais poderosos e mais altos na hierarquia do poder.
A Polônia restringiu recentemente o acesso ao aborto autorizado juridicamente, em casos de feto com má-formação. A Hungria, governada pela extrema direita, tenta a todo custo colocar barreiras para reduzir sua procura, obrigando as candidatas a justificarem a escolha por uma “crise grave” e passarem por entrevistas com assistentes sociais antes de terem o direito garantido.
E daí?
A radicalização de movimentos de extrema-direita vai ser expandida diante da ausência de soluções para a crise do capitalismo. Há resistências, como no caso do governo francês, que pretende aprovar um projeto para incluir em sua Constituição o direito à escolha sobre a continuidade de uma gravidez.
Enquanto isso …
O interesse pelo assunto LGBTQIA+ em 2022 é o maior dos últimos 18 anos para o período de janeiro a junho, segundo o Google Trends, serviço de análise de tendências da big tech norte-americana. Segundo o levantamento, o uso da busca para descobertas pessoais tem tem sido cada vez mais frequente. Na pergunta “como saber se sou…”, quatro dos 15 termos mais buscados nos últimos 12 meses são orientações sexuais: “bi”, “gay”, “lésbica” e “assexual”. O Brasil é o 3º país do mundo que mais buscou por LGBTQIA+ nos últimos 12 meses.
Mais: o que vem por aí
5G no Brasil – Próxima geração da internet móvel, a tecnologia 5G pura começa a ser implantada no Brasil. O acesso oferece velocidade média de 1 Gigabit (Gbps), dez vezes superior ao sinal 4G, com a possibilidade de chegar a até 20 Gbps. O sinal tem menor latência (atraso) na transmissão dos dados. Um arquivo de 5G pode ser baixado em cerca de 40 segundos nesse sistema.
Hábitos de alimentação – O brasileiro tem trocado as refeições por lanches, e um dos fatores que ajudam a explicar essa mudança é a alta no preço dos alimentos. Isso é o que apontou uma pesquisa de consumo, feita pela Kantar. A pesquisa Consumer Insights 2022 apontou que, enquanto o valor médio de uma refeição completa girava em torno de R$ 43,94 nos primeiros três meses desse ano, o gasto médio com os snacks (lanches e petiscos) era quase quatro vezes menor, em torno de R$ 10,43.
Prevenção – A disparada de casos da monkeypox, ou varíola do macaco, está gerando uma reação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou uma nova reunião com membros do Comitê de Emergência da entidade para avaliar a situação do surto da doença. Os casos globais da doença, segundo Adhanom, já somam mais de 6 mil, com a Europa concentrando 80% deles.
Prejuízos para crianças – Uma criança brasileira nascida em 2019 deve alcançar em média apenas 60% do seu capital humano potencial ao completar 18 anos, calcula estudo inédito do Banco Mundial. Isso significa que 40% de todo o talento brasileiro é deixado de lado, na média nacional.
Demissões em startups – Analistas e consultores alegam que desafios econômicos do contexto global, com incertezas elevadas por conta da inflação global, aumento de juros e empobrecimento das populações, explicam as demissões em massa de startups globais. As empresas inovadoras de base tecnológica dizem que o processo ocorre por conta de ajustes, organizações e mudanças de prioridades.
Escassez de água na Europa: Secas severas e chuvas escassas forçaram restrições de água nos países do sul da Europa. As alterações climáticas estão impactando todo o continente.
Em resumo