Carlos Teixeira
Radar do Futuro
“O Brasil está passando por uma grande transformação religiosa que já está impactando o presente e vai impactar ainda mais o futuro”. Diminui o número de católicos, que serão menos da metade dos brasileiros em 2022, cresce o de evangélicos, dos “sem religião” e, de forma geral, o pluralismo religioso se amplia no país. Os dados que retratam essa transformação foram apresentados pelo professor José Eustáquio Alves (ENCE/IBGE), sociólogo, doutor em demografia e professor José Eustáquio Alves, no seminário “Religião e Política: um olhar sobre o campo religioso brasileiro”, promovido em maio pela PUC-SP.
O fenômeno não é exclusivo do Brasil. “Está ocorrendo em toda a América Latina”, como mostra o levantamento “Religião na América Latina”, divulgado em 2014, pelo Instituto de Pesquisa Pew. Segundo o professor José Eustáquio, a transição religiosa estava em processo em países pequenos como Nicarágua, Honduras e Guatemala que se tornaram territórios de maioria evangélica. Entre os grandes países da América Latina, no entanto, o Brasil é onde esse fenômeno está mais avançado. “Somos ainda o maior país católico do mundo, mas a coroa do Vaticano está se transformando”, avalia o especialista em entrevista publicada no site Carta Maior.
Globalmente, também há uma revisão do papel dos deuses e das religiões. No Reino Unido, apenas 1% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos se identifica como membro da Igreja Anglicana. Um estudo da British Social Attitudes (BSA) revela que mesmo entre a população com mais de 75 anos, a faixa etária mais religiosa, apenas uma em cada três pessoas se insere no grupo dos seguidores da religião. Para a empresa responsável pela pesquisa, o declínio constante da crença religiosa entre o público britânico é uma das tendências mais importantes da história do pós-guerra.
Tendências das igrejas
Segundo o estudioso, um dos autores do estudo “Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil” (Tempo Social, 2017), o número de evangélicos deve superar o de católicos em 2032. Como resultado das tendências, fundamentadas em indicadores e estudos, já em 2022, no segundo centenário da independência do Brasil da coroa portuguesa, os católicos serão menos de 50% da população brasileira.
A transição religiosa, explica, diz respeito a quatro tendências “que vêm acontecendo há muito tempo, e de forma acelerada nos últimos anos”. São elas (1) o declínio absoluto e relativo das filiações católicas; (2) o aumento acelerado das filiações evangélicas (com diversificação das denominações e aumento dos evangélicos não institucionalizados); (3) o crescimento do percentual das religiões não cristãs; e (4) o aumento absoluto dos “sem religião”.
As quatro tendências, explica José Eustáquio, podem ser sintetizadas em duas: a mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos, com forte probabilidade de o segundo grupo ultrapassar o primeiro. E o aumento da pluralidade religiosa, com o crescimento das religiões não cristãs e dos “sem religião”.
Em resumo