Carlos Teixeira
Jornalista – Radar do Futuro
Após um início de 2020 marcado por expectativas otimistas, em que o setor apostava em crescimento da economia interna e na melhora do ambiente de investimentos, o transporte ferroviário brasileiro encara a realidade adversa que impacta todo o mundo. A retração econômica afeta o setor com a convivência de dois cenários distintos nos próximos meses, podendo se estender adiante. De um lado, a crise profunda sobre o segmento dos serviços voltados para passageiros. De outro, o impacto menos significativo sobre o desempenho dos operadores de cargas, onde é possível identificar até mesmo algum otimismo diante alguns sinais futuros.
As perspectivas não tendem a ser, de fato, favoráveis em 2020, diante das incertezas econômicas no mercado interno e no mercado global. E uma recuperação pode não vir nem mesmo em 2021. Muitas dúvidas ainda cercam as análises sobre o comportamento dos mercados em função da pandemia, inclusive sobre a extensão dos seus impactos sobre investimentos, consumo, desemprego e renda. As previsões de crescimento são cada vez mais pessimistas.
Contexto
Entre os dois segmentos, os concessionárias dos serviços públicos de transporte de passageiros são, de longe, os mais prejudicados pela paralisação da economia, determinada a partir de março a partir dos decretos estaduais e municipais de adoção do isolamento. Com medo de um colapso de todo o sistema de metrôs e trens, líderes das associações de empresas e executivos percorrem os corredores de órgãos governamentais com o objetivo de obter socorro financeiro do Estado, em condições financeiras razoáveis para a manutenção de suas operações.
As perdas foram significativas. Em março deste ano, primeiro momento do isolamento, o sistema transportou 98 milhões de passageiros, contra 250 milhões do mesmo mês em 2019. Com previsões de novas quedas da movimentação, decorrentes do fechamento das atividades comerciais e de serviços não essenciais, especialmente, restou a peregrinação das lideranças por ministérios e pelo BNDES. Recebidos com promessas de atenção para os problemas, o socorro não tende a sair, sinalizando o agravamento das dificuldades para as empresas.
Para as transportadoras ferroviárias de cargas, os impactos em redução de volumes de mercadorias e, consequentemente, receitas, foram mais limitadas. Combustíveis, cimentos e siderurgia foram algumas das áreas de produção que revisaram a distribuição de seus produtos, por conta de queda da demanda no mercado interno, enquanto as previsões de safra de grãos mantém negócios e as tendências mais otimistas.
As expectativas otimistas do sistema de cargas são reforçadas, agora, pela divulgação de decisões que, pelo menos em tese, podem levar ao desenvolvimento de novos projetos e expansão da malha ferroviária. O mais relevante para os empresários foi a assinatura, no final de maio, da renovação da concessão da malha paulista, gerida pela Rumo. O efeito previsto é de aumento dos investimentos que podem levar até mesmo, segundo especialistas, a criar falta de mão de obra de engenheiros especializados nos próximos anos.
Tendências
O futuro de curto prazo do setor ferroviário depende, independente de promessas de governo, dos desdobramentos da pandemia e de seus impactos sobre a economia. A antecipação de regras de isolamento e a previsão de surtos intermitentes não oferecem garantias de que uma possibilidade de recuperação de curto prazo. Já parece evidente que os operadores de metrôs e trens de passageiros terão de se adaptar ao cenário de crise profunda e ampliada, marcado por falências, desemprego, queda da renda e aumento da degradação de patrimônio.
Para as empresas de cargas, os riscos talvez sejam maiores do que se projeta no momento, inclusive em relação ao faturamento com suas atividades. É necessário considerar que, o desempenho da economia interna tende a se manter sofrível com o prologamento dos problemas do sistema produtivo e de comercialização de bens e serviços. Afinal, a crise continuará sendo global. O impacto econômico do novo coronavírus pode atingir as exportações brasileiras fortemente, segundo um relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A queda, segundo a entidade, pode ser de até R$ 18,6 bilhões caso seja confirmada a retração de 1,1% no Produto Interno Bruto mundial.
Dependente, mais que tudo, da recuperação da China, a economia brasileira tende a sofrer os efeitos paralelos do conflito de interesses do país asiático e da China. Também a política externa, conduzida ideologicamente, tende a travar a recuperação da economia brasileira, pelo menos a curto prazo. O mundo caminha para um maior protecionismo, uma reversão das crenças sobre globalização e ausência de restrição de movimentos de mercadorias e pessoas.
Em resumo