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O que influenciadores dizem sobre o futuro

Na relação entre influenciadores e seguidores, o conservadorismo tende a sair ganhando - imagem: Pixabay
Na relação entre influenciadores e seguidores, o conservadorismo tende a sair ganhando

Carlos Teixeira
Jornalista I Futurista – Radar do Futuro

Para quem se interessa em entender o futuro, vale a pena acompanhar e ampliar as reflexões sobre o papel e os sinais espalhados pelos influenciadores digitais, os líderes de audiência dos anos 2010. Seu filhos adolescentes, netos ou sobrinhos ou algum jovem próximo a você são os seguidores de tais pessoas que conseguem atrair legiões nas mídias digitais, em canais como YouTube, Twitter e Instagram. E que apontam para uma sociedade mais conservadora em questões políticas, econômicas e sociais.

Segundo a pesquisa “Influenciadores Digitais”, do Instituto QualiBest,  os líderes das mídias sociais são, hoje, a segunda fonte de informações para a tomada de decisão na compra de um produto. Eles são referência para 50% dos 3022 que participaram do estudo. Perdem em poder de indução de decisões apenas para amigos e parentes, citados por 56% dos respondentes. Para Daniela Malouf, diretora-geral do Instituto QualiBest, blogueiros, youtubers e podcasters que já estão próximos de tomar a liderança absoluta nos corações e mentes dos internautas.

Segundo a pesquisa mais recente sobre os maiores influenciadores do Brasil – realizada em março e maio deste ano, 71% das pessoas seguem algum influenciador. Entre as mídias sociais, Facebook e Youtube ainda são as mais utilizadas – 92% e 90%, respectivamente. E também as mais preferidas – com o Instagram em terceiro lugar, nas duas categorias.

Perigos da influência

Indicado como influenciador digital pelo Instituto QualiBest, em uma categoria de ciência e curiosidades, o neurocientista Pedro Calabrez aproveitou o momento para identificar os riscos envolvidos na relação entre pessoas com algum nível de carisma e seus seguidores. Em um vídeo publicado no Youtube, sob o título “Os perigos da influência“,  o professor especializado em comportamentos cita experiências clássicas na área de psicologia para apontar tendências inerentes à humanidade de seguir pessoas de referência.

A preocupação é justa. Afinal, assinala Calabrez, as experiências descritas no vídeo reforçam a compreensão de que o ser humano tem uma forte vocação a seguir “comportamentos de manada”. “Quando gostamos de algo ou de alguém reduzimos o nosso senso crítico”, afirma, propondo que as pessoas precisam lutar contra a irracionalidade de alguns comportamentos.

A preocupação é ainda mais justa quando se percebe que o  médico Denis Furtado, o “dr. Bumbum”, denunciado pela imprudência e morte de uma bancária, fez fama na internet, com um contingente considerável de seguidores.  Assim como Júlio Cocielo, 25 anos, um jovem que causou polêmica ao postar um comentário racista durante a Copa do Mundo de Futebol, no Twitter.

Ele disse que o jogador da seleção francesa Kylian Mbappé, que é negro, “conseguiria fazer uns arrastão top na praia”. Foi uma referência ao jogo entre França e Argentina da Copa do Mundo, no qual o atacante fez dois dos quatro gols da vitória francesa — o placar final foi 4 a 3 para o time europeu.

O post foi condenado por internautas, que vasculharam o perfil de Cocielo e encontraram mensagens ofensivas de anos anteriores. Em 2013, o mesmo influenciador publicou, em mais uma mensagem repleta de preconceitos, que só seria possível deixar de fazer piadas de negros caso eles fossem exterminados.

Foi necessário um escorregão maior para que os patrocinadores dos espetáculos protagonizados por tais pessoas concluíssem que mantinham atores de baixa qualidade em seu elenco de apoiados. Alguma coisa deu errada para os dois. O médico e o racista. Porém, não e possível deixar de levar em conta que o modelito que mistura preconceitos e culto a celebridades prossegue como padrão de comportamento social, capaz de sinalizar muito sobre o que vem por aí.

Contrapontos da diversidade

Eles são muitos. E compartilham a liderança das listas com artistas e esportistas. Gente que sabe explorar o vazio de conteúdos com piadas, ironia e ódio forma um contingente enorme nas mídias sociais. Mas há algo de novo no ambiente. Há pouco mais de uma década, a maior parte da população tinha acesso a uma quantidade mínima de referências entre celebridades. Mais exatamente, algumas poucas pessoas eram reconhecidas como famosas para tribos restritas. Era o ator da novela, o político, o empresário rico, os cantores e cantoras definidos pela indústria cultural. Nada mais.

Hoje, como vantagem inegável, entre os influenciadores é possível encontrar, além do neurocientista Pedro Calabrez citado acima, filósofos, sociólogos, cientistas políticos, economistas e psicólogos dispostos a apresentar conceitos e ideias. Especialistas que atendem a anseios por respostas para angústias, interesses por conhecimentos e posição política, entre outras demandas. Mas que estão em posições de desvantagem dos rankings de mais seguidos.

O perfil diverso dos influenciadores diante dos seguidores — ou influenciados — revela que encontraremos uma população mais complexa do que as definições disponíveis, e limitantes, sobre gerações do milênio ou “x” ou “y” ou “z”. Haverá os radicais, os de direita ou de esquerda. Os intelectuais e os pragmáticos. Mas há uma forte tendência de aumento do conservadorismo, uma contradição frente ao aumento do acesso a informações propiciado pela internet. Algo que fica bem evidente quando se avalia os líderes de audiência atuais. 

Uma pesquisa apresentada em abril pelo Ibope reforça a tese de que o País se torna mais conservador, principalmente entre os mais escolarizados. E entre os que possuem cursos universitários. A proporção da população defensora de teses moralistas e punitivistas para solucionar os problemas do mundo saltou de 49% em 2010 e chegou a 55% em 2018. Não existem dados que confirmem a conclusão, mas os resultados parecem coerentes com o aumento do poder de interação dos influenciadores.

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