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O que esperar do mundo pós-covid-19

Não existe setor econômico, independentemente de suas proporções, que não precise investir em uma transformação digital Pixabay.
Não existe setor econômico, independentemente de suas proporções, que não precise investir em uma transformação digital Foto: Pixabay.

Marcelo Souza *

O mundo que vinha sofrendo transformações profundas frente às mega tendências que nos foram apresentadas como sendo a quarta revolução industrial, ganhou, infelizmente, um inimigo muito forte. O coronavírus mostrou, assim como as empresas unicórnios, um crescimento em escala exponencial, assumindo notoriedade de proporções mundiais. A Covid-19 está agindo como um catalisador de mudanças e, sem dúvida, quando essa pandemia for controlada, teremos uma nova realidade no nosso dia a dia, um “novo normal”. Não é possível prever o futuro, contudo, com o passar do tempo e com mais dados e análises, é possível predizer cenários que enfrentaremos no pós-pandemia.

Já estava evidente, mas o fato de que que não existem negócios que sejam totalmente imunes ao momento, fica ainda mais claro. A era das startups, empresas que com pouco capital conseguem assumir dimensões comerciais inimagináveis, veio com tudo e ganhará ainda mais força. Não existe setor econômico, independentemente de suas proporções, que não precise investir em uma transformação digital. Não há mais espaço para o “jeitinho” ou para a famosa “gambiarra” no que tange o mundo digital das organizações. É necessário colocar esse tópico na pauta de estratégia, pois empresas competentes digitalmente e com plataformas sólidas , serão as que sobreviverão e ganharão espaço no pós-COVID-19.

Varejo

Passa por uma mudança acelerada. O e-commerce, que já vinha ganhando escala minuto a minuto, deixa de ser uma segunda opção ou meramente base de consulta de preços, e assume a preferência na opinião das pessoas. Espaços físicos serão substituídos pelas lojas conceito e de experimentação, hubs de “faça você mesmo”, ou seja, serão espaços de vivência e não prioritariamente de compras. As marcas migrarão mais rápido do que se imaginava para o online.

Na China a Starbucks já reabriu 95% das suas lojas, contudo registra redução de 40% nas vendas, se comparado com o números anteriores ao coronavírus. As pessoas não consomem mais na loja, elas compram e vão embora, forçando a famosa cafeteria a rever seu modelo de negócio. Os maiores varejistas americanos registram uma redução de 1 milhão de postos de trabalho e as previsões mostram que com a retomada das atividades normais, devem readmitir somente 85%. O comércio tradicional encolherá e isso é uma tendência mundial.

Mobilidade

O setor também sentirá radicalmente o impacto das mudanças após o isolamento imposto pelo vírus percebeu-se que viagens de negócios ou a presença no escritório podem ser facilmente substituídas pelas video calls. Viagens de lazer tendem a acontecer em locais com a possibilidade de contato com a natureza e baixa concentração de pessoas. A maneira de se relacionar em nossos trabalhos mudará de tal maneira que veremos livros referenciando a história em “Antes do coronavírus” e “Depois do coronavírus”. Isso levará a novas técnicas de liderança.

Educação

Está passando por uma quebra de paradigma muito intensa. Os cursos online estão sendo provados no meio da crise e gerarão uma revolução sem precedentes no setor e na forma como se aprende. Com o encapsulamento, aumentou-se muito a geração de conteúdos de boa qualidade e de baixo custo cursos presenciais seguirão a tendência do varejo, passando a ser muito fortes na experiência, e a perda de importância da posse de um certificado, que já ocorrendo nos últimos anos, será ainda mais intensa. As empresas de educação e agências reguladoras do setor, como o MEC, precisarão se conectar com o mercado de maneira ativa, entender as novas necessidades para fornecer os conteúdos necessários para o pós-COVID-19, que estará distante do que as universidades entregaram até então.

Operações

Deixamos o estoque just in time e entra o just in case. Empresas aprenderam que longas cadeias de suprimentos são vulneráveis em situações como essa em que estamos vivendo, assim tendem a terem estoques maiores e a impressão 3D, ganhará um mercado promissor, a fim de reduzir os custos de armazenamento.

Os EUA desenvolveram uma cadeia de suprimentos muito sólida e ajustada com a Ásia, em especial a China, nas últimas décadas e, apesar de terem sido negócios lucrativos, levaram os americanos a perderem capacidade tecnológica de fabricação. No pós-COVID-19, a globalização será vista com um olhar mais protecionista pelas nações que sentiram o desabastecimento com o lockdown, assim veremos fortes mudanças nas relações políticas internacionais.

Saúde

Assim como a grande revolução nos sistemas de educação, na saúde não será diferente. Startups de setor estão com alta demanda de trabalho, plataformas de consulta e inteligência artificial para diagnóstico são apenas algumas das novidades no pós-COVID-19. Em função da escalabilidade, consultas tendem a ficar mais baratas e ágeis, levando atendimento de qualidade para todos. Direitos individuais x saúde será um dos grandes debates no mundo pós-COVID-19.

A medida em que rastrear individualmente as pessoas é uma maneira eficaz no controle de epidemias, mesmo infringindo a liberdade por ser uma ferramenta muito poderosa a ser usada pelos governos no monitoramento, trará grandes discussões sobre os modelos sociais que estamos habituados. O pós-Covid-19 tende a intensificar pesquisas e sistemas de prevenção contra ameaças reais que nos mostraram o quanto somos vulneráveis.

Trabalho

Naturalmente passará por intensa e profunda transformação, forçando pessoas empregadas atualmente a repensar suas carreiras e, até mesmo, sua futura profissão. Assim como o fórum econômico mundial menciona sobre estratégia de aprendizagem das top 10 competências para essa década, será necessário se atualizar o tempo todo, pois tarefas que fazíamos há anos sofrerão mudanças. A capacitação e reciclagem nos treinamentos será contínua termos como “ex-aluno” deixarão de existir, pois cada pessoa precisará se atualizar e capacitar constantemente ou estará desempregada.

Por fim, o momento em que estamos vivendo não pode ser encarado como uma simples fase na qual se corta custos e espera passar, mas como um marco dolorido de transição onde se fazem necessários investimentos estratégicos em novas áreas, novas tecnologias e novos modelos de negócios, pois com as mudanças muitas oportunidades serão criadas para as empresas que agirem rápido e consciência clara do que está acontecendo. O pós-COVID-19 será um renascer, um mundo novo. Não é possível prever exatamente como, mas temos que estar abertos e preparados para nos adaptar com agilidade para o “novo normal”.


  • Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox, pioneira na reciclagem de refrigeradores com destruição dos gases do efeito estufa.

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