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O futuro da oncologia: o que é e como funciona a medicina personalizada

Por mais que muitas vezes se fale na busca de uma “cura para o câncer” como se essa fosse uma doença única, o termo é usado como um guarda-chuva para designar mais de 200 tipos diferentes de câncer. Mais do que um santo-graal da medicina moderna, a busca por formas de curar e impedir o avanço de tumores já é um objetivo antigo.

Historicamente, a oncologia, especialidade médica dedicada ao estudo e tratamento do câncer, teve como primeira forma de abordagem a cirurgia. Em uma realidade de milhares de anos atrás, antes mesmo da descoberta da anestesia e da assepsia, as cirurgias oncológicas possuíam baixos índices de cura acompanhados por altas taxas de morbidade e mortalidade.

Foi apenas o passar dos anos, acompanhado pelo desenvolvimento técnico-científico, que a oncologia pôde se desenvolver e buscar taxas de sucesso cada vez maiores. Estes saltos foram, sobretudo, impulsionados pela evolução de outras áreas da medicina, como microscopia, anatomia patológica, anestesiologia, radiologia, radioterapia e quimioterapia. Agora, os especialistas que atuam na luta contra o câncer podem estar em vias de se prepararem para mais um salto, talvez o mais importante até então: a medicina personalizada.

Uma nova medicina

Segundo médico patologista e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Clovis Klock, a medicina personalizada dentro da oncologia é apontada como o futuro para o tratamento do câncer. “Sem dúvida, quando falamos em oncologia, é o que podemos chamar de nova medicina. Isso se aplica principalmente a patologia, que encontra na medicina personalizada um leque muito grande para diagnóstico”, afirma.

O patologista é o responsável pelo diagnóstico microscópico dos cânceres. Analisando o material proveniente das cirurgias ou as biópsias dos tumores com a ajuda do microscópio, ele redige um laudo anatomopatológico, em que várias características desse câncer serão descritas: dentre as quais podemos destacar o tipo histológico, o grau de diferenciação, se há invasão vascular e como estão as margens cirúrgicas. Com a medicina personalizada, isso deve ir mais além

“Ela permite que o profissional dite os rumos que serão tomados para o combate da doença. A tendência é de que boa parte dos cânceres possam ser tratados de forma personalizada. Hoje há alguns tumores para os quais usamos esses protocolos e a tendência é ampliar essa prática, principalmente em casos quando os tumores não respondem aos métodos terapeúticos aplicados atualmente”, ressalta.

Entendendo o inimigo

O segredo para acessar tanta informação? Segundo a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Katia Ramos Moreira Leite, a chave para isso está em técnicas específicas chamadas de Patologia Molecular e Imuno-histoquimica. De maneira geral, elas permitem a descrição das anormalidades específicas em genes responsáveis pelo controle da proliferação, morte e instabilidade celular. É a identificação das anormalidades que favorecem o crescimento e a progressão do câncer que traz a oportunidade do desenvolvimento de moléculas capazes de controlar essas alterações.

“Mutações, translocações, perdas e amplificações de genes importantes para o funcionamento das células podem ser avaliadas por testes moleculares, são conhecidos como biomarcadores de comportamento e, mais importante, de resposta às novas terapias alvo-moleculares. Os tumores são diagnosticados não mais como antigamente, quando a sua origem era o elemento mais importante. Hoje a caracterização das anormalidades moleculares é mais importante e revela a etiologia da neoplasia que pode ser tratada de modo específico”, ressalta.

Assim, o diagnóstico informado pela medicina personalizada permite que a luta contra o câncer seja mais fácil. “Com esse diagnóstico ainda mais preciso e tratamentos também mais direcionados, podemos esperar melhor prognóstico para muitos tipos de tumores que hoje têm mortalidade alta, melhorando a sobrevida do paciente”, explica Katia.

Um tratamento para chamar de seu

Assim como no caso das infecções, que antigamente eram todas tratadas com o uso de sangrias, uma vez que não havia conhecimento detalhado sobre o que causava as doenças, a oncologia tem passado pela mesma revolução. Ao descobrir informações específicas sobre uma neoplasia, graças à ajuda da medicina personalizada, é possível traçar um tratamento mais específico com grandes chances de respostas positivas e menos efeitos colaterais.

“As técnicas de Patologia Molecular e a Imuno-histoquimica, aliadas à medicina personalizada, abrem as portas para esse campo muito amplo para a Patologia. Podemos inclusive traçar um panorama histórico. Antigamente, o médico patologista era aquele que atuava apenas nos bastidores, sem contato com ninguém e apenas em seu laboratório ao microscópio. Hoje chegamos a um papel de protagonista, em que o patologista é um dos atores das equipes multidisciplinares, passando de um diagnóstico puro para peça chave na definição do prognóstico e indicação da melhor conduta terapêutica. A medicina personalizada coloca esse profissional em uma posição de destaque, pois muitas vezes é ele quem vai ditar os rumos a serem tomados pelos tratamentos mais modernos”, finaliza Clovis Klock.

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