Grandes empresas investem pesadamente em projetos de uso da impressão 3D
Carlos Teixeira
Radar do Futuruo
Segredo guardado e sete chaves, a Grendene desenvolve um novo modelo de negócios baseado no uso da impressão 3D. Em mais algum tempo, o consumidor, com o auxílio da realidade virtual, imagina e desenha uma sandália Melissa em casa e busca na loja, onde a peça é produzida por impressoras 3D.
O projeto vem sendo relatado em reuniões das entidades do setor de vestuário. O investimento possibilitará à empresa reduzir o número de fábricas ao transferir a responsabilidade da produção para os lojistas. Os comerciantes também serão obrigados a mudar os seus próprios modelos de negócios.A iniciativa sinaliza que a adoção das novas tecnologias está sendo levada a sério pela indústria de vestuário em geral.
A novidade tem importância especial por sinalizar que a impressão 3D deixa de ser uma novidade palpável. A tecnologia assume papel efetivo nos planos dos fabricantes de calçados, assim como de outros setores do vestuário. A revolução das indústrias com o uso de tecnologais está chegando a setores cada vez mais próximos do consumidor final. Nos Estados Unidos, uma startup, a Feetz, já desenvolve a produção toda baseada em impressoras 3D. O consumidor baixa um aplicativo e faz o pedido. A popularização é questão de pouco tempo.
Muitos projetos ainda são experimentais, de fato. Mas até 2020 é possível imaginar a introdução dos equipamentos em lojas inovadoras, inicialmente. Em mais 10 anos, consumidores estarão aptos a imprimir os seus próprios calçados em casa, seja para uso pessoal ou para o desenvolvimento de um novo mercado focado na produção caseira para fornecimento a consumidores de redes destes fabricantes.
Em abril, a Adidas lançou um ténis com a sola feita em impressora 3D, em uma preparação para que o produto entre em escala de produção em massa no ano que vem. O anúncio é parte de estratégia da companhia alemã de reagir mais rapidamente às mudanças na moda e criar mais produtos personalizados.
A Adidas já permite que os clientes escolham a cor e estampa de calçados encomendados online, mas o novo método de impressão 3D pode acelerar pequenas produções como edições limitadas, e mesmo projetar solas projetadas especificamente para suportar o peso de uma pessoa.
Rivais como Nike, Under Armour e New Balance também estão experimentando a impressão 3D, mas até agora têm usado a tecnologia apenas na produção de protótipos, calçados personalizados para atletas patrocinados e produtos de alto valor.
Roupas
Em diferentes partes do mundo, os desfiles mais recentes do circuito de moda incluem, agora, apresentações de iniciativas destinadas à introdução de impressão 3D no cenário da produção. Em Israel, a designer israelense Danit Peleg, de 28 anos fez o primeiro desfile de moda com roupas inteiramente produzidas por impressora em três dimensões (3D). Iniciativa destinada ao encerramento de um curso de pós-graduação de moda, a apresentação contribuiu para consolidar a expectativa de que brevemente as pessoas poderão deixar as sacolas de compras de lado para voltar a produzir dentro de casa. E nem vai ser preciso saber técnicas de costura, basta um clique em uma impressora 3D para customizar as peças e montar o visual completo.
Experiências
Foram nove meses de pesquisa e desenvolvimento, mais de 2000 horas para imprimir todas as peças – cerca de 400 horas por equipamento. “Eu não sabia nada sobre a impressão 3D quando comecei o meu projeto, e havia desafios diferentes que eu tinha que resolver ao longo do caminho. O principal desafio foi encontrar os filamentos certos para imprimir. A propriedade chave para um têxtil é a flexibilidade, e foi realmente difícil encontrar filamentos que eram flexíveis e realmente confortável no corpo.
Durante um mês, eu experimentei um material chamado PLA, que era muito rígido e quebrável. O momento decisivo foi quando fui apresentada ao FilaFlex, o filamento que acabei usando para minha coleção. É extremamente flexível, forte e sustentável. E foi realmente novo, eles tinham acabado de lançar o filamento quando eu o descobri. Meu têxtil acabou por ser flexível, divertido e fluido”, declarou a designer. A demora na produção de cada item ainda é um ponto que precisa de melhorias.
A criação de uma jaqueta, por exemplo, pode chegar a até 300 horas (cerca de 12 dias). Ou seja, ainda não é para as pessoas que decidem tudo em cima da hora. Mas as máquinas estão se tornando cada vez mais rápidas e baratas, assim como o material utilizado. O mercado aposta que em 10 anos elas estarão dentro de casa como um item necessário, no mesmo patamar de um forno de micro-ondas ou uma televisão. O avanço da manufatura aditiva ainda promete muitas inovações
A consultoria Wohlers Associates, especializada em impressão 3D, estima que a indústria vai mais que quadruplicar as vendas para US$ 26 bilhões em 2022, guiada principalmente por encomendas do setor automotivo, de saúde, dentário e de jóias.A tecnologia é o futuro e nós precisamos estar sempre abertos. Eu acredito que essas inovações chegam como uma forma de valorizar o designer. Nós vamos poder parar com aquela ideia de copiar e conseguir criar novidades na essência”, disse a estilista, que teve uma experiência express com a nova tecnologia. “Quando a gente começou o projeto, eu confesso que fiquei assustada. É tudo muito novo. Ainda mais da forma com que fizemos. Esse era um trabalho para ser desenvolvido durante um ano. Porém, tudo foi feito em três semanas”, revelou.