A aceleração da implantação de tecnologias no mercado de saúde teve o impulso adicional pelos problemas gerados pela pandemia do Covid-19
Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro
As healthtechs brasileiras, empresas de tecnologia que desenvolvem inovações para o segmento de saúde, aceleraram a corrida pelas oportunidades no primeiro semestre do ano. No primeiro trimestre de 2021, o segmento arrecadou US$ 91,7 milhões investimentos, quantia equivale a 85% do total investido em 2020. Valor 324% maior em comparação ao mesmo período de 2020. O número de startups na área de saúde cresceu 118% entre 2018 e 2020 e hoje soma mais de 900 negócios, mais da metade com menos de cinco anos de criação. Desde 2014 já foram investidos mais de 430 milhões de dólares nas startups brasileiras dessa área.
Os dados do HealthTech Report 2020, estudo produzido pela plataforma de inovação Distrito, apontam para a força do novo segmento de mercado, que ganhou impulso extra com a pandemia. O vírus teve o poder de esvaziar laboratórios, hospitais e consultórios médicos. Investidores, empresas e profissionais, diante do estímulo de crise, apostaram alto em novos sistemas de atendimento aos pacientes e de apoio ao funcionamento da infraestrutura do mercado. O cenário armado mostra que, no mundo todo, existem 41 healthtechs unicórnios, startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares.
Cenário favorável
- Maturidade tecnológica
- Base de usuários crescente
- Geração em busca de saúde
- Crise dos sistemas tradicionais de assistência
- Queda da renda da população
- Necessidade de otimização de custos pelas instituições
O crescimento mostra que o fenômeno das heathtechs se consolida como tendência, não só como efeito da demanda e dos novos hábitos impostos aos hábitos individuais e coletivos durante o período da pandemia. A necessidade de afastamento e isolamento e os hospitais cheios de novos casos foram de fato, uma força de peso na aceleração dos processos de inovação, que vai se manter. Há os efeitos colaterais positivos para empresas de TI, como o fato de que a telemedicina foi experimentada por médicos e pacientes, possibilitando o conhecimento de suas reais possibilidades e adoção de novos hábitos. Houve o rompimento de resistências, que só seriam quebradas com algum esforço ao longo dos próximos anos.
Modelos de negócios
O mercado descobriu que não precisaria esperar a implantação de redes de internet com velocidade 5G. “Muitos dos conceitos, como as que colocam o paciente no centro das relações, já existiam há algum tempo. O que mudou foram as condições atuais” atesta o médico Alexandre Pinto Colho. Vivendo o desafio comum aos profissionais de extrair informações claras sobre os seus problemas, o médico se envolveu na criação de sua própria startup de saúde, com a criação da plataforma iHeathy.
O sistema explora, o conceito de self-care, ou seja, o autocuidado e a prevenção. Em síntese, a plataforma ajuda médicos e pacientes, ao contribuir para a gestão de informações relacionadas com a saúde. E não só a física, mas também a mental e o conceito de saúde global, com a aplicação de novas estratégias, como a gameficação, a alternativa inovadora de criar modelos que misturam desafios e a atenção.
O cenário econômico também tende ter um papel importante para as heathtechs. Em um dos exemplos mais evidentes, as contribuem devem contribuir para soluções diante das dificuldades de manutenção de planos de saúde, cada vez mais caros. Mesmo tendo alguma recuperação de receita em 2020, estimulada também pela pandemia, os intermediários entre pacientes e profissionais de saúde estão em uma situação pouco confortável. Muitos brasileiros têm optado por novas soluções do mercado, que oferecem saúde de qualidade a um preço mais acessível.
Virtualização
Como alternativa que tende a crescer com a queda da renda do brasileiro nos próximos anos, o modelo de negócios freemium da ViBe se concentra em oferecer atenção primária de qualidade à população. A plataforma oferece consultas virtuais agendadas e on-demand com clínicos gerais, psicólogos e nutricionistas, bem como Linhas de Cuidado (Digital Therapeutics) para gerenciamento de cuidados crônicos – tudo integrado com prontuários eletrônicos e equipamentos e roupas — wearables — de bem-estar e de gestão de saúde.
Também aproveitando a onda e surfando nas oportunidades dos investimentos, a healthtech Suprevida, que está há um ano no mercado, viu seus números dispararem na pandemia. A plataforma digital, que oferece produtos, serviços e informações de saúde para pessoas com necessidades registrou crescimento de 10 vezes no faturamento e no número de pedidos em 2020. Em 2019, quando iniciou a operação, Rodrigo Correia da Silva, CEO da startup, aportou mais de 620 mil reais e focou em fechar parcerias com distribuidores para atender clientes de todo o país. Intuitivo, o executivo acertou em cheio.
Quase um ano depois, a pandemia chegou, fechou as portas do comércio e a Suprevida se apresentou com uma alternativa digital segura e eficaz para aqueles que precisam de todos os tipos de produtos médicos, mas não podem – e nem devem – sair de casa ou não são atendidos fora das grandes capitais. “Mesmo com o distanciamento social e a quarentena, a Suprevida permitiu que as pessoas continuassem comprando seus itens de cuidados médicos com segurança”, assegura Rodrigo.
Um dos diferenciais da plataforma é o espaço que traz conteúdo de saúde e a indicação de profissionais da área, de acordo com o local onde o interessado mora. Ou seja, enfermeiros, cuidadores, fisioterapeutas, entre outros, se cadastram e as pessoas que precisam falar com aquela especialidade podem agendar uma teleconsulta ou consulta física através da página, de forma simples e rápida. São mais de 400 profissões especializados em cuidados espalhados pelas cidades brasileiras.
Conexão de redes
No cenário das inovações esperadas para o mercado de saúde, as parcerias terão papel especial. Como a Vidia, plataforma digital que conecta hospitais particulares com pacientes que necessitam de cirurgia eletiva. O sistema passou a oferecer, a partir de agora, o benefício para que seus clientes realizem seus exames diagnósticos pré-cirúrgicos com a Dasa , a maior rede de saúde integrada do país. São mais de 100 unidades espalhadas por São Paulo, e os clientes da Vidia poderão escolher aquela que lhes for mais conveniente.
É importante ressaltar que o laboratório de análises clínicas e de imagem escolhido- Delboni ou Lavoisier – para realização dos exames dependerá do pacote selecionado pelo paciente. “Todas as cirurgias que intermediamos são oferecidas em pacotes que incluem todo o cuidado que os clientes precisam: exames, consultas, equipe médica e estadia no hospital, tudo para garantir que nosso cliente não tenha surpresas no final. Ele sabe exatamente quanto vai gastar, desde a primeira consulta”, afirma Thiago Bonini, CEO e co-fundador da Vidia.
Seguindo raciocínio semelhante, a VidaClass utiliza os recursos online para conectar médicos, dentistas, laboratórios, clínicas e farmácias aos pacientes. Com um custo acessível para quem não tem acesso ao plano de saúde, a plataforma oferece uma série de benefícios aos seus clientes como consultas presenciais e por telemedicina, exames e serviços que garantem internação hospitalar, vida e assistência, além de produtos que disponibilizam descontos e entrega à domicílio de medicamentos.
Em crescimento, a VidaClass já é responsável pelo agendamento de mais de 10 mil consultas e estima 40 mil cadastrados. “É um avanço na tecnologia, que veio para melhorar a saúde, de forma em que beneficia o médico e o paciente, pela velocidade do serviço, agendamentos em tempo real, além de contribuir na obtenção de diagnóstico mais rápido e por tratamentos mais eficazes”, explica Vitor Moura, CEO da Vida Class. Com a pandemia, o modelo de negócio cresceu ao beneficiar a relação entre o médico e paciente passou por inúmeras mudanças, principalmente com os novos protocolos que restringe o contato entre as pessoas, proporcionando um aumento na procura por telemedicina, que segundo o Ministério da Saúde, teve mais de 1 milhão de atendimentos em todo o país.
Parcerias e segmentação
O mercado tende a adotar o conceito de super plataformas, onde os pacientes dos serviços de saúde encontram variedade de opções para as suas demandas. Do atendimento especializado ao homem, à mulher ou à criança até demandas específicas, mesmo a digitalização vai reproduzir o ambiente institucional, com a união de forças, mesmo com plataformas independentes. Será uma solução para o excesso de oferta no futuro, diante da corrida descontrolada pelo ouro da saúde. Os especialistas estarão à frente dos novos projetos digitais.
Recém-lançada em meio à pandemia e com um aporte de R$ 1,4 milhão, a Omens, criada pela dupla de franceses, Olivier Capoulade e Morgan Autret, dirigiu suas estratégias para o foco em segmentos específicos de oportunidades. Recentemente, a startup fez, em parceria com o Instituto Datafolha, um levantamento sobre problemas sexuais e constatou que o homem tem resistência para buscar ajuda profissional. O levantamento revela que 64% dos homens com disfunção não procuram auxílio médico e 60% deles não conversam com ninguém sobre o assunto.
A plataforma que oferece atendimento e conteúdo inovador, inicialmente voltada para saúde íntima e mental com foco em homens entre 18 e 80+anos. A healthtech tem curadoria apurada de médicos urologistas e psicólogos, e agora projeta um novo momento: ampliar o hall de especialidades e serviços.
Na linha da identificação de nichos que mesclam segmentação e parcerias e preenchimento de brechas de mercado, a plataforma MedAssist foi desenvolvida com a visão de carência das pequenas cidades, que não dispõem de ortopedistas de plantão nos seus hospitais públicos ou particulares, sendo necessário transferir para as grandes cidades os pacientes acometidos com traumas ortopédicos de qualquer espécie. Estas transferências geram desgastes aos pacientes, gastos e perda de receita ao município ou hospitais.
Os ortopedistas Drs. Nilo Neto e Thiago Friques, idealizaram e desenvolveram um aplicativo de interconsulta entre médicos generalistas e médicos ortopedistas. O MedAssist possibilita a criação do Serviço de Ortopedia e Traumatologia 24hs por dia, com alta resolutividade e já com operação financeira positiva desde o primeiro mês de implementação.
Mais histórias
Fundada em 2017, a Carefy possui uma tecnologia para gerenciar e monitorar de forma abrangente as internações com foco na melhoria do atendimento e formalização dos processos, analisando a auditoria de contas e sinalizando possíveis inconsistências que podem interferir na sinistralidade. A solução consiste em um aplicativo móvel que permite o acompanhamento da evolução clínica, comunicação entre equipes de auditores e autorizações, tudo em tempo real e de forma centralizada. A plataforma faz parte do ranking Top 10 HealthTechs da 100 Open Startups.
A Starbem, fornecedora de serviços de telessaúde, acaba de ingressar na Rede Brasil do Pacto Global, iniciativa da Nações Unidas (ONU) que mobiliza a comunidade empresarial na adoção e promoção, em suas práticas de negócios, de Dez Princípios universalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. As práticas de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG), se tornaram uma das mais importantes estratégias para empresas que buscam diferenciação, inovação e reconhecimento no mercado.
Academia da Pele Primeira healthtech brasileira criada para democratizar o autocuidado e trazer soluções no mercado de estética e saúde da beleza. Fundada pelo Cirurgião Plástico, Dr. Eduardo Kanashiro, tem sete unidades em São Paulo e está em constante expansão.
A healthtech Sami é uma operadora de planos de saúde com foco inicial em pequenas e médias empresas (PMEs) e profissionais liberais que alia tecnologia ao cuidado preventivo e à atenção primária para mudar o cenário da saúde brasileira. Criada em 2018, a empresa já recebeu mais de R﹩ 90 milhões em investimentos.
A Dandelin, uma plataforma que conecta pacientes a médicos com base no conceito de economia compartilhada, teve um aumento de 405% no seu faturamento do último ano. O crescimento da empresa refletiu no mês de abril, onde a quantidade de atendimento efetivo foi quase 4 vezes maior em relação ao mesmo mês de 2020.
A Pixeon atua no mercado de tecnologia com amplo portfólio de soluções de software para área da saúde, ocupando posição de liderança no mercado de healthtech no Brasil e um dos principais players da América Latina.
A Hilab desenvolveu o laboratório portátil Hilab, que realiza testes rápidos com resultados em até 15 minutos. Fundada pelos empreendedores Marcus Figueredo e Sérgio Rogal, respectivamente CEO e CTO, a Hilab começou com poucos recursos e com o propósito de reinventar a tecnologia médica, criando produtos e soluções que ajudem a democratizar o acesso à saúde.
Criada em junho de 2020, com atuação em São Paulo, a ISA Home Lab é um laboratório 100% digital com o propósito de transformar a experiência de realizar exames de análises clínicas. Com um processo simples e totalmente online, a startup coleta as amostras no lugar que for mais conveniente para o paciente, seja na casa, trabalho ou outro local adequado. Assim, evita deslocamento, filas e aumenta a conveniência.
A Pipo Saúde, startup de gestão de benefícios que nasceu com o objetivo de otimizar e facilitar a relação do RH de empresas com planos e serviços de saúde. Com um ano de existência, entre os meses de janeiro a outubro de 2020, a startup passou a atender 7 mil vidas, apesar da recessão. Hoje na Pipo Saúde 27% dos funcionários são negros ou pardos e 5% são trans, e pretendem crescer esse número. Entre outras iniciativas, hoje eles trabalham em equidade de gênero com sendo 58% mulheres e 42% homens. Neste ano, a Pipo Saúde.
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