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Futuro do jornalismo: o impacto das redes 5G

A banda larga 5G, por onde trafegam dados e informações, como nunca vimos antes, é, para o futuro do jornalismo, bem mais que uma internet mais veloz

A produção de matérias em terceira dimensão vai crescer Photo by My name is Yanick on Unsplash

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro

Vocês, amiga ou amigo jornalista, finalmente respiram aliviados. Acham que terão uma zona de conforto para usufruir. Foram mais de 25 anos de tempestades, desde o momento em que a internet foi introduzida em nossas vidas. Primeiro, como curiosidade. Mais tarde, como ameaça. A luta pela sobrevivência como jornalista digital, sem emprego e sem diploma, envolveu investimentos em uma dezena de certificados. Produtor de conteúdos, gestor de tráfego e de mídias sociais, copywriting e especialista em SEO e marketing digital. Além daquele velho diploma de Flash, o software de produção de vídeos que nem existe mais. Agora, parece que todos os segredos da rede mundial de comunicação digital parecem dominados. Só que não (sqn).

Depois de tudo, porém, não dá para relaxar. Há mais uma pedra a ser empurrada para o alto da montanha, onde a necessidade de obter conhecimentos inéditos vai desafiar os profissionais da comunicação. O lançamento, no final de julho, da quinta geração da internet, a 5G, cria um capítulo de surpresas da história iniciada no século passado, com a informatização. Será uma continuidade das desventuras em série, caso não se busque uma antecipação dos prováveis impactos criados pela revolução digital na sociedade.

Por que importa?

Jornalistas e publicitários terão de aprender que a novidade introduzida pelas redes 5G é bem mais do que a banda larga por onde trafegam dados e informações, como nunca vimos antes. O salto para a altíssima velocidade integra um tripé de potência tecnológica. É a base de sustentação da infraestrutura, que inclui, além da velocidade do tráfego de dados, o poder de processamento e a capacidade de armazenamento de informações em computadores espalhados pelos cantos do mundo.

Em outros termos, na primeira geração da internet andávamos de carroça, movida a cavalo, dependendo do cérebro do carroceiro para percorrer o caminho, registrado na memória. Depois de passar pelas gerações do fusca, do avião bimotor e dos grandes jatos de passageiros, inauguramos a fase em que a sociedade é movida por um avião supersônico, veloz, com inteligência artificial e dados suficientes para voar de forma autônoma. O salto da evolução das tecnologias foi mais longe do que nunca.

Considere o seguinte: há algum tempo, jornalistas produzem matérias sobre os carros sem motoristas. Os testes realizados já exploram o conhecimento disponível nas “nuvens” sobre as cidades. Ruas, relevos, semáforos. Agora, imagine a capacidade de processamento de dados e informações. Na prática, há computadores suficientes para tomar decisões com as informações disponíveis nas ruas. As redes 5G eram o elemento de infraestrutura que faltava para os veículos ganharem as ruas.

Em resumo, fechado o tripé da infraestrutura, projetos que estavam nas “pranchetas” das empresas e profissionais de TI ganham as condições ideais para acelerar. Aplicações de inteligência artificial tendem a ter saltos exponenciais, resultando no desenvolvimento de produtos de internet das coisas, cidades e residências inteligentes. No jornalismo, sistemas de produção de textos, de organização de imagens, acesso automático a bases de dados e monitoramento de acontecimentos externos com o uso de sensores.

O que muda, de fato

“Antes da banda larga 5G, fotos e vídeos eram a norma, limitados a um instantâneo no tempo ou uma perspectiva”, atesta Christian Guirnalda, Diretor dos Laboratórios 5G e Centros de Inovação da Verizon. “A enorme taxa de transferência e capacidade de resposta do 5G permite que formatos como fotogrametria capturem perfeitamente todo o contexto visual no campo, dando ao espectador a incrível capacidade de entrar e explorar a cena, como se estivesse lá.”

Você, jornalista, com uma câmera, acompanha um evento em tempo real, instantaneamente. Os conteúdos vão ser transmitidos à medida que são captados para possibilitar a imersão no ambiente dos acontecimentos. Sem aquelas interrupções ou defasagem de tempo — denominadas de latência. Ao acompanhar uma reportagem ao vivo, cada internauta escolhe a direção para onde vai olhar. O maior desafio para repórteres e editores envolve a necessidade de aprender novas formas de apresentação de notícias factuais e analíticas.

É certo que o desenvolvimento da internet facilitou a distribuição da informação. O aumento da velocidade da transmissão de grande quantidade de dados e de vídeos favorecerá muito mais o lazer, incluindo produtores de jogos, do que os jornalistas.


Quais os benefícios

A potência tecnológica disponível agora acelera o acesso a conteúdos informativos e de entretenimento. Para você, repórter, envolvido em matérias do cotidiano, a oferta de velocidade de acesso vai mudar a forma como o mundo se conecta e é apresentado aos públicos. Na constatação mais óbvia, as redes 5G favorecem a transmissão automática de fotos de alta qualidade, vídeos e áudio. Mas também imagens em terceira dimensão, 3D, com uso de realidade virtual e aumentada.

O diretor de Estratégia de Tecnologia da Globo, Raymundo Barros, avalia, em entrevistas disponíveis na internet, que a tecnologia 5G vai permitir uma maior conexão do jornalismo com a comunidade. O jornalismo local tende a ser dirigido. O padrão abre alternativas de segmentação. Por exemplo, um jornalismo mais focado em blocos de telejornal específicos para cada uma das cidades de alguma região. Como tendência relacionada com as inovações, os televisores nas casas dos consumidores podem crescer indistintamente. A TV 3.0 reforça a qualidade de imagem, da imersão e da distribuição espacial do áudio.

Vantagens da tecnologia 5G

Maior velocidade de download: A rede 5G terá capacidade de aumentar as velocidades de download em até 20 vezes (de 200 Mbps (4G) para 10 Gbps (5G)) e diminuir a latência, o tempo de resposta entre dispositivos. Essas velocidades maximizarão a experiência de navegação facilitando processos que, embora possíveis hoje, ainda apresentam dificuldades.

Hiperconectividade: A rede 5G promete a possibilidade de ter um ambiente hiperinterconectado para chegar ao ponto de ter as “cidades inteligentes”, com o apoio da internet das coisas, que vão “ajudar” a levantar as notícias e, mesmo, enviar dados para repórteres ou para as redações.

Otimização de processos: Todas as etapas do processo de produção de informações serão aceleradas. Da identificação da pauta ao acesso de dados e a geração da notícia.

Câmeras com múltiplas conexões aumentam a capacidade de transmissão, com qualidade de imagem perfeita, ao vivo.


Perguntas e respostas

Como será a cobertura de eventos públicos

Vale lembrar, primeiro, que imagens serão cada vez mais valorizadas, mesmo para veículos com origem no jornalismo impresso. Repórteres e produtores em campo podem usar drones e câmeras para capturar um local de interesse, como o ponto onde um furacão atingiu a terra. Ou os movimentos de uma manifestação ou outro evento. A transferência de imagens podem ser aproveitadas pela redação, onde editores gráficos, desenvolvedores e designers podem transformar o conteúdo em formatos 3D interativos que permitem que os leitores percorram a notícia a partir de novos pontos de vista.

Nas redações, há riscos de perda de emprego para jornalistas?

Em termos. O conceito de jornalista polivalente tende a ser aprofundado, o que pode impactar especialmente os cinegrafistas, já que o seu papel pode ser desempenhado pelo repórter. Editores seguem sendo relevantes, pois estarão na retaguarda para definir estratégias de difusão de notícias. Posições intermediárias podem ser impactadas, pois o uso de ferramentas de inteligência artificial automatiza processos de edição e veiculação dos conteúdos.

Há espaço para o jornalista no mercado?

Sim. Há uma tendência de aprofundamento da informalidade do trabalho. Mas empresas jornalísticas anda precisam deslocar pessoas para lugares específicos para realizar cobertura. Logicamente, haverá a tentação de automatizar ao máximo os processos. E há novos mercados em desenvolvimento, que vão requerer a antecipação dos profissionais de imprensa para evitar que sejam atropelados.


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