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Futuro do jornalismo econômico: hora de criar um novo modelo

A crise da velha imprensa favorece a inovação. O futuro do jornalismo econômico pode se libertar dos interesses do sistema financeiro

imagem de grafico de variação de ativo financeiro - foto: Pixabay
Imagem de grafico de variação de ativo financeiro – foto: Pixabay

“Lula começou mal na economia.” O mau humor da velha imprensa diante de projetos e nomes propostos pelo governo, desde a divulgação do resultado das urnas, em outubro de 2022, demonstra que o jornalismo econômico precisa de reciclagem. Também revela que jornalistas com senso crítico farão um grande favor a eles mesmos e à sociedade se romperem com o estilo ultrapassado da cobertura econômica, viciada em poucas fontes e dependentes do sistema financeiro.

É a chance de deixar o velho morrer e de nascer o novo. 

Desde a vitória do ex-presidente Lula, repórteres, colunistas e analistas vinculados aos centros de poder — o mercado — falam da “tensão do mercado”. As manchetes da velha mídia, que fazem a cabeça de seus parentes e amigos, não são uma novidade. Ao carregar tons de cinza, agradam aos seus fiéis seguidores liberais. O cenário cotidiano descrito por repórteres, editores e comentaristas, envolvidos com os mercados, reflete a defesa de interesses dos patrôes e do sistema financeiro.

Mas a rejeição ao padrão global da cobertura dos “mercados”, realizada pelos veículos impressos, rádios e TVs e portais, tende a crescer. Alguma parte da resistência ao padrão financista virá de programas independentes, transmitidos pelas mídias digitais, que ampliam a influência entre os internautas.

Jornalismo envelhecido

“O jornalismo econômico está caduco e fora da realidade”, diz o jornalista Luis Nassif, um dos profissionais de imprensa com maior conhecimento sobre o funcionamento e a mentalidade dos comandantes dos grupos brasileiros de imprensa. “Enquanto o mundo debate a expansão de gastos sociais e a tributação dos super ricos, a velha mídia brasileira insiste na cartilha neoliberal: mais juros para conter inflação e “austeridade” contra a crise – sempre com mesmas fontes e superficialidade”, aponta. 

Nassif não é uma voz isolada na avaliação. O jornalista tem o apoio de especialistas de diversas áreas da teoria e da prática da economia. E de outros campos de conhecimento em ciências sociais e humanas. Inclusive da teoria de comunicação.

O economista Fernando Nogueira da Costa questiona, em artigo no site GGN, “se já não é hora de rever os conceitos no jornalismo econômico brasileiro. Não percebe ele ser pautado por interesses escusos dos beneficiários desses juros reais maiores do mundo?” Nogueira da Costa questiona, ainda, que, mais de duas décadas após o governo tucano, o tripé macroeconômico é apresentado como imexível e os economistas “pais do Real” ainda são vistos como gurus – “exceto o dissidente André Lara Resende, honesto intelectualmente o suficiente para rever seus conceitos”. 

A imprensa é S/A

Porta-voz do sistema financeiro, com quem divide a mesma cama e as confidências, o jornalismo de economia não é inocente. A repetição das mensagens interessa aos seus parceiros e à formação de uma ideologia dominante favorável às teses do mercado.

No momento em que um governo progressista vai assumir o País, a imprensa cumpre o papel e, diariamente, relata os temores de investidores e das instituições que lidam com dinheiro, inseridos todos na caixa-preta do mercado. Em destaque, a indústria de produção de notícias fortalece a crença na existência de uma única teoria, ultraliberal. 

Agora, as fontes preferidas da imprensa salientam os “impactos negativos da perspectiva de abandono das políticas de controle das contas públicas”. Em resumo, discreto enquanto o governo Bolsonaro desconsiderava as limitações de gastos, sob o patrocínio do ministro Paulo Guedes, o teatro do mercado está de volta, com movimentos especulativos. 

No Twitter

Nos últimos 4 anos o teto de gastos foi furado 5 vezes. Vocês lembram da @folha usar o termo “gastança” na manchete de capa?

Ética e jornalisticamente questionável, a maioria absoluta das matérias não apresenta o contraponto de economistas de outras correntes da teoria econômica e de representantes de outros segmentos do mercado, como trabalhadores, por exemplo, ou da sociedade. Um comportamento que faz parte consolidado como ideologia dominante, desde o final do século passado.. 

Em 2012, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo denunciava as distorções da cobertura dos temas da economia. Em entrevistas, o economista, um dos mais respeitados intelectuais da atualidade no Brasil, revelava o desconforto em ver como, “no mercado de opiniões, prevalece a opinião de consultorias e do mercado financeiro”. Segundo ele, “no jornalismo econômico, por exemplo, as editorias de economia estão muito empenhadas em reafirmar o pensamento mais conservador e ortodoxo.”

O que fazer: por um novo jornalismo

Para quem se propõe a desenvolver um novo jornalismo, está na hora de investir em antecipação de tendências e aproveitar o fato de que o mar não está para peixe nem mesmo para os grandes nomes da imprensa especializada. Profissionais escalados durante décadas para difundir os interesses “do mercado” estão sendo compulsoriamente aposentados dos seus postos de alta visibilidade.  

Além da crise financeira por conta da concorrência com as grandes empresas de tecnologia da informação e da queda de credibilidade das marcas tradicionais da imprensa, há, hoje, várias alternativas para a criação de propostas de produção e consumo de informações de qualidade. E que atendam os interesses de todos os segmentos da população, em especial a população de baixa renda.

A diversidade de variáveis disponíveis atualmente favorece a adoção de modelos inovadores para a criação de um jornalismo econômico capaz de romper com os padrões globais. Primeiro, a crise da “velha mídia”, impactada pela perda crescente de receitas para a internet. As marcas mais tradicionais do jornalismo podem sobreviver, ainda como monopólios. Mas a influência econômica, social e política do passado foi abalada, diante da queda brutal de receitas e do desgaste de imagem da atividade.

Também está cada vez mais evidente que a disseminação de fake news e da desinformação afetou drasticamente a credibilidade da população em relação às notícias publicadas na imprensa. Enfim, há o peso das redes sociais, que acabaram com o monopólio da imprensa na produção e disseminação de notícias.

Dados: a força do jornalismo econômico do futuro 

O desenvolvimento do jornalismo econômico do futuro utiliza a tecnologia como suporte em todas as atividades, da identificação e produção de pautas até a veiculação de informações em mídias digitais.

Porém, máquinas e sistemas são ferramentas de apoio, que devem ser apropriadas pelos produtores de informações, na sociedade que transita entre revoluções. Da industrial para a digital. 

Confira forças do futuro do jornalismo econômico

Valorização das ciências sociais e humanas

Mais que o domínio de recursos tecnológicos, o futuro do jornalismo passa pela capacidade de geração de informações com base em análises que utilizam conhecimentos gerados pelas ciências sociais e humanas. É possível ir além do senso comum das análises da mídia tradicional.

Potência tecnológica 

Os saltos de poder de processamento, de armazenamento e transferência de informações, além da ampliação da base de acesso, tendem a fortalecer o jornalismo de dados. Hoje, o profissional tem como utilizar bases de dados públicas e privadas como nunca houve antes. Os argumentos das fontes do sistema financeiro poderão ser facilmente contestados com pesquisas simples.  

Redução da dependência de fontes locais ou regionais 

No passado, para ter acesso a alguma fonte, por exemplo, para a análise sobre os impactos de uma crise de matérias primas na China, um repórter seria dependente de fontes locais. Hoje, ele já tem tem acesso a uma infinidade de alternativas inclusive estrangeiros

Inteligência artificial: disponibilidade de ferramentas de análise: 

A tecnologia favorece a capacidade de  processamento dos dados e informações. O produtor de informações terá maiores possibilidades de cruzar dados e monitorar situações para produção de reportagem

Desconcentração: novos meios de comunicação

O monopólio das grandes empresas jornalísticas tende a enfrentar concorrência crescente. As instituições terão a capacidade de divulgar suas iniciativas fortalecida – toda empresa será uma empresa de mídia. 

Ferramentas para criação de bases de dados pessoais

Jornalistas terão condições para manter bases de informações pessoais, vinculadas a fontes originais.

Em resumo

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