A crise de credibilidade das instituições destrói a confiança nos políticos e na democracia e cria impactos negativos sobre o futuro
Carlos Teixeira
Jornalista I Futurologista
A população brasileira confia cada vez menos nas instituições. E no futuro da política, evidentemente. E a situação tende a se agravar. Segundo o Índice de Confiança na Justiça, produzido anualmente pela Escola de Direito de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (Direito SP), em 2017 houve queda na confiança da população em praticamente todas as instituições analisadas, na comparação com o relatório de 2016. As que sofreram as quedas mais acentuadas foram do Poder Executivo, com 45%, e o Congresso Nacional, com 30%.
À exceção de redes sociais, que viram a confiança subir 61% de um ano para o outro, e da Polícia, que registrou um leve incremento de 4%, a confiança do brasileiro nas outras instituições analisadas caiu. Destaques para Sindicatos (-29%), Ministério Público (-22%), Poder Judiciário (-17%), Grandes Empresas (-15%), Emissoras de TV (-9%), Igreja Católica(-7%) e Forças Armadas e Imprensa Escrita, ambas com queda de 5%.
Partidos políticos mantiveram um patamar de 7% na confiança e deixaram o posto de instituição menos confiável pelos brasileiros para o Governo Federal, com apenas 6%. Avaliado pela primeira vez, o Supremo Tribunal Federal é confiável para apenas 24% da população. O Judiciário, de uma forma geral, tende a perder a confiança de forma acelerada nos próximos anos. Seja pelas decisões que denotam, para segmentos crescentes, falta de critérios universais, seja pela “descoberta” dos excessos da estrutura do poder.
A desconfiança do brasileiro não é uma exclusividade em relação a outros países. Ao contrário, desde a década passada, a política está em crise no mundo todo enquanto “instituição” capaz de atender demandas da maior parte da população. A eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e a retirada do Reino Unido da União Econômica Europeia foram dois sinais de um acirramento da insatisfação das populações com os seus políticos. Eles não estão sendo capazes de gerar soluções. Ou são excessivamente comprometidos com interesses de grupos econômicos e políticos.
Riscos para o futuro da democracia
Um estudo em 38 países, realizado pelo Pew Research Center, instituto de pesquisa dos Estados Unidos, descobriu que há razões tranquilizadoras e, ao mesmo tempo, preocupantes, na análise sobre o futuro da democracia. Mais de metade em cada uma das nações avaliadas considera a democracia representativa uma maneira muito ou um tanto boa de governar seu país.
No entanto, em todos os países, as atitudes pró-democracia coexistem, em graus variados, com a abertura a formas não democráticas de governança, incluindo interventores como um líder forte ou um militar. Segundo o estudo, apenas 46 por cento dos americanos dizem que estão satisfeitos com o funcionamento da democracia no país.
No cenário de crise de legitimidade e de insatisfação, mas com poder suficiente para impor uma agenda de políticas econômicas liberais, que refletem as relações globais de poder, no Brasil, o governo de Michel Temer e provavelmente o próximo tenderão a ampliar o foco em reformas econômicas, de interesse de setores financeiros, em particular. O cenário do futuro da política é de prioridade para flexibilização de legislações trabalhistas e previdenciárias e cortes em áreas sociais e de infraestrutura.
Impactos sobre o futuro da política
Não haverá uma oposição com resistência suficiente para travar as propostas defendidas pela rede de sustentação dos governos, mesmo que algumas iniciativas mais impopulares cresçam de forma lenta. A austeridade, incluindo a legislação que limita os gastos públicos, como mantra, tende a provocar a redução dos investimentos em infraestrutura e a redução do papel do estado como fomentador da economia. O que só vai aumentar a insatisfação popular nos próximos anos.
O estrago na imagem da política tende a causar novos efeitos nocivos sobre a própria política. Um processo de retroalimentação. O descrédito nas instituições e nos seus representantes, os políticos, alimenta uma nova leva de políticos vinculados a interesses pessoais e paroquiais, pois o esvaziamento do caráter ideológico dos partidos tende a fortalecer escolhas baseadas em características individuais.
A descoberta provável de que a sociedade não muda como se esperava, inclusive em relação ao combate à corrupção e às soluções prometidas pelo uso de tecnologias para a representação política, tende a manter a roda quebrada. O cenário da insatisfação que se reproduz continuamente terá o combustível do desemprego elevado e sem soluções de um estado sem ações de apoio à maioria. E o crescimento da desigualdade social.
Sistema financeiro também se inquieta
A inquietação com o futuro da política é global, ao contrário do que imagina o senso comum, que não enxerga além de suas fronteiras. O Credit Suisse Research Institute (CSRI) encomendou a especialistas políticos de várias partes do mundo um estudo para examinar a perspectiva da política global. O relatório, que reflete principalmente a visão do poder econômico, especialmente financeiro, conclui que, “enquanto a economia global e os mercados financeiros emergiram de uma recessão de quase dezenas de décadas, a democracia liberal está lutando contra uma crise”. O capitalismo reconhece a sua própria crise, em síntese.
O ex-primeiro-ministro do Reino Unido, John Major, junto com outros especialistas, questiona se a política como a conhecemos vai sobreviver. Urs Rohner, presidente do Credit Suisse Research Institute e presidente do Conselho de Administração do Credit Suisse Group, pondera que “vemos as tensões surgirem entre as sociedades e o estado. O número de novas democracias estagnou em meados dos anos 2000 e, desde então, seguiu um caminho descendente. Os mercados internacionais provaram ser bastante resilientes aos eventos geopolíticos individuais, mas as conseqüências do ecossistema político em mudança provavelmente serão substanciais para o futuro “.
Para Michael O’Sullivan, diretor de investimentos da International Wealth Management, vinculado ao Credit Suisse, nos próximos dez anos, “as principais tendências políticas serão o aumento do radicalismo regional, a necessidade de os governos nos mercados emergentes satisfazerem os aspectos relevantes e políticos das aspirações de suas populações e o surgimento de metas de desenvolvimento mais equilibradas em muitos países”.
Em resumo