A dúvida é revelada por uma médica que enfrenta restrições de equipe e sobrecarga de trabalho. O futuro da pediatria já está sendo determinado pelas mudanças demográficas?

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro
Pediatra da rede pública do estado onde reside, a médica Ana Cláudia revela que, em um dos hospitais onde trabalha, o departamento de recursos humanos anuncia que não pretende contratar novos profissionais de saúde. A administração alega que o número de partos vem caindo nos últimos tempos, como decorrência do processo de mudanças demográficas.
“Até que ponto esse processo é real?”, questiona Ana Cláudia. Aos 31 anos, ela atua na área hospitalar, em maternidades, como especialista em neonatalogia, área da pediatria que cuida dos recém-nascidos, desde o momento do nascimento até os primeiros 28 dias de vida, com foco em cuidados e tratamento de bebês, incluindo os que apresentam problemas de saúde ou prematuros.
Resposta: desafios da pediatria neonatal em tempos de mudanças demográficas
De fato, há uma queda contínua no número de partos nas maternidades brasileiras. Em 2023, o país registrou 2,52 milhões de nascimentos, representando uma redução de 0,7% em relação a 2022. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que este foi o quinto ano consecutivo de declínio, resultando no menor número de nascimentos desde 1976.
A tendência demográfica impacta diretamente a demanda por atendimentos obstétricos e pediátricos nas maternidades, tanto públicas quanto privadas. O cenário inclui mudanças no perfil etário das mães, com aumento da maternidade entre mulheres com mais de 30 anos e diminuição entre adolescentes. Entre 2015 e 2022, o número de nascimentos de mães entre 15 e 19 anos caiu de 520.864 para 301.313, uma redução de aproximadamente 42% .
As justificativas para os cortes são válidas?
Em tese, sim. Mas não completamente..Questões relacionadas com gestão têm maior peso. É importante ressaltar a instabilidade financeiras das instituições de saúde, especialmente as públicas e as privadas que dependem de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Periodicamente, hospitais filantrópicos anunciam situação pré-falimentar.
Agora mesmo, em maio de 2025, administradores de hospitais anunciam “riscos de colapso por falta de recursos”. Problemas financeiros ocorrem em função de atrasos de transferência do Ministério da Saúde. Atrasos da aprovação do orçamento federal de 2025 causam impactos nas estruturas de sasúde. E há um ciclo de crises que reflete as instabilidades econômicas, políticas e sociais do país.

Quais são as principais ameaças e oportunidades criadas pelas mudanças demográficas?
Pensando em médio e longo prazos, a principal ameaça é a diminuição da demanda por serviços pediátricos tradicionais, o que pode impactar a sustentabilidade de algumas unidades. Por outro lado, há oportunidades significativas, como a possibilidade de focar em cuidados mais personalizados, prevenção de doenças e acompanhamento do desenvolvimento infantil de forma mais próxima e eficaz.
Como a tecnologia pode influenciar positivamente ou negativamente a prática pediátrica?
A tecnologia oferece ferramentas valiosas, como a telessaúde, que amplia o acesso a cuidados médicos, especialmente em áreas remotas . Aplicativos de saúde móvel (M-Health) permitem monitoramento contínuo e educação em saúde . No entanto, é crucial garantir que essas tecnologias sejam utilizadas de forma ética e complementem, e não substituam, o contato humano essencial na pediatria.
Jornalista: Diante desse cenário, que estratégias a senhora considera mais eficazes para se adaptar às novas tendências na pediatria?
É fundamental investir em educação continuada para acompanhar as inovações tecnológicas e científicas. Além disso, fortalecer a comunicação com as famílias, promovendo a saúde preventiva e o desenvolvimento integral das crianças, é essencial. A colaboração interdisciplinar e o uso responsável da tecnologia podem aprimorar significativamente a qualidade do atendimento pediátrico.
Em resumo
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