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Energias renováveis já empregam 10,3 milhões de pessoas

A indústria de energia solar fotovoltaica é a recordista de geração de “empregos verdes”
A indústria de energia solar fotovoltaica é a recordista de geração de “empregos verdes”

José Eustáquio Diniz Alves,
[EcoDebate]

As energias renováveis são a alternativa para descarbonizar a economia e garantir o fim da hegemonia dos combustíveis fósseis, etapa essencial do processo de redução das emissões de CO2 e da mitigação dos efeitos do aquecimento global. Como se diz: o futuro será das energias renováveis, ou não haverá futuro para a humanidade.

Outro lado positivo das energias renováveis é a geração de “empregos verdes” e a possibilidade de capacitar os trabalhadores a conseguir renda e autonomia financeira em atividades mais sustentáveis e mais amigáveis ao meio ambiente. A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), divulgou o balanço para 2017, e mostrou que a indústria de energia renovável já emprega mais de 10 milhões de pessoas globalmente, adicionando mais de 500 mil empregos só no ano passado, um aumento de 5,3% em relação a 2016.

A indústria solar é responsável pela maior parcela de empregos, com a absorção de cerca de 3,4 milhões de pessoas empregadas em pesquisa, produção, instalação e manutenção de painéis solares, um aumento de 9% em relação a 2016. O setor solar é seguido por biocombustíveis líquidos, que emprega 1,9 milhão de empregos e a energia das grandes hidrelétricas, com 1,5 milhão. O relatório da IRENA constata que o emprego na indústria eólica global diminuiu ligeiramente de 2016 para 2017, diminuindo para 1,15 milhão. Os outros dados podem ser vistos no gráfico acima.

O gráfico abaixo mostra que a China lidera a geração de “empregos verdes”, com cerca de 3,9 milhões de trabalhadores ocupados na indústria de energias renováveis. Em segundo lugar, vem a União Europeia com 1,3 milhão. Os EUA estão bem abaixo da China e empregam somente 786 mil trabalhadores no setor.

O Brasil vem em terceiro lugar com 893 mil empregos. Contudo, a maioria dos empregos da indústria de energia renovável no Brasil estão no setor de biocombustíveis líquidos e grandes hidrelétricas. Houve declínio do emprego na produção de etanol. A IRENA calcula 33,7 mil empregos na energia eólica e 42 mil na energia solar (27,5 mil na manufatura e 14,5 mil na instalação).

A indústria de energia solar fotovoltaica é a recordista de geração de “empregos verdes”. Em 2017, foram adicionados quase 100 GW de novas instalações fotovoltaicas e o volume de emprego chegou a 3,4 milhões de trabalhadores, um aumento de 8,7% em relação a 2016. A China é a campeã disparada na geração de emprego na energia solar, com cerca de dois terços dos empregos do mundo. Em distantes segundo e terceiro lugares, vem Japão e EUA. Em seguida aparecem Índia, Bangladesh, Malásia, Alemanha, Filipinas, Turquia, Taiwan, Reino Unido, México e Itália, conforme o gráfico abaixo.

Nota-se que o Brasil não aparece na lista, o que reflete o atraso do país na produção de energia solar e, consequentemente, a geração de emprego é pífia. O Brasil possui um grande território e, por estar nos trópicos, tem uma insolação extremamente favorável à geração de energia solar. Por ter uma das 10 maiores economias do mundo já deveria produzir maior quantidade de energia solar, contudo, perde para países muito menores como Malásia, Filipinas e o Chile aqui na América do Sul. Neste momento que existem tantos trabalhadores desempregados, a energia solar poderia ser uma alternativa brilhante para o país, mas infelizmente os governos passados preferiram investir nas caras jazidas abissais do pré-sal.

Os dois primeiros artigos que escrevi para o Ecodebate foram sobre “empregos verdes” e “energias renováveis”, em janeiro de 2010. Em outro artigo (Alves, 23/04/2018) mostrei que as energias renováveis já estão crescendo em ritmo mais veloz do que as fontes fósseis e os investimentos em usinas eólicas e solares já superam a quantidade investida anualmente em petróleo, gás e carvão. Mas, seguindo as tendências atuais e os planos aprovados pelos diversos governos do mundo, as emissões não seriam reduzidas o suficiente para cumprir as metas do Acordo de Paris. Na trajetória de hoje, a despeito do forte crescimento da energia renovável, o planeta exauriria seu “orçamento de carbono”, permitido no cenário de 2º C, em apenas 20 anos (ou seja, 2037).

Ou seja, a energia solar tem crescido de forma muito rápida, mas seria necessário acelerar ainda mais a capacidade instalada para reduzir as emissões de CO2 e também para gerar maior volume de emprego. Isto é válido para o mundo todo, mas especialmente para o Brasil. Se houvesse mais investimentos haveria mais energia para o desenvolvimento e mais pessoas empregadas. Isto é especialmente válido neste momento de aumento do preço do petróleo no mundo.

Todo o Planeta ganharia com o avanço da energia renovável. Só falta consciência da urgência da solução solar e determinação política para a sua rápida expansão.

Referência:

ALVES, JED. Empregos verdes, Ecodebate, RJ, 25/01/2010

https://www.ecodebate.com.br/2010/01/25/empregos-verdes-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Energia renovável: um salto na evolução? Ecodebate, RJ, 29/01/2010

https://www.ecodebate.com.br/2010/01/29/energia-renovavel-um-salto-na-evolucao-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. As energias renováveis avançam, mas em ritmo insuficiente para descarbonizar a economia, Ecodebate, 23/04/2018

https://www.ecodebate.com.br/2018/04/23/as-energias-renovaveis-avancam-mas-em-ritmo-insuficiente-para-descarbonizar-a-economia-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Texto publicado originalmente no site EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/05/2018

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