Nesta semana, as nossas conversas sobre o futuro são abertas com uma reflexão sobre a incompatibilidade entre futuristas e a generalização sobre gerações.
O que João Pedro tem em comum com o João Carlos? O primeiro é morador da favela de Santa Lucia, jovem, negro, trabalhador, sem carteira assinada. Trabalha no Sacolão da Santa Lucinha, fazendo entregas das 8h às 16h30, sem tempo de estudar, mesmo porque nem teria computador para frequentar uma aula pela internet, que também não tem em casa. O outro é jovem, branco, estudante do segundo ano do curso fundamental de um colégio de alto padrão. Atualmente, frequenta aulas virtuais usando os seus computadores, mais um tablet como segunda tela e o smartphone como terceira, morador do bairro São Bento, o bairro chique vizinho da favela de Santa Lúcia.
Para o pensamento mainstream (desculpem) de parte (considerável) de especialistas em tendências e futuros, os joões fazem parte de um mesmo grupo. São os Z, que sucederam os X, os millenials, os baby boomers. Quem se depara com várias, inúmeras matérias e artigos publicados nas mídias sobre as gerações, entende que nossos amigos acima devem ter as mesmas personalidades, as mesmas expectativas, os mesmos comportamentos. Mas, além de um primeiro nome e a idade de 16 anos, não têm nada em comum. Aliás, eu que seria da turma do boomers tenho me sentido cada vez mais deslocado.
Mirando a definição do Wikipedia, João Pedro e João Carlos são nativos digitais. “Muito familiarizados com a internet, compartilhamento de arquivos, telefones móveis, não apenas acessando a rede de suas casas, mas também pelo celular, estando assim extremamente conectados. Suas principais características são: compreensão da tecnologia e abertura social às tecnologias.” Oi, será?
Quer entender o futuro?
Se eu, jornalista, tivesse a possibilidade de dar um conselho para um futurista, diria: esquece esse trem de gerações. As generalizações sobre as tais gerações podem até ser aplicadas para grupos específicos. Não dá para dizer que os jovens, como se brasileiro fosse igual a chinês, não desejam mais ter carros. Ou que eles vão abrir mão do consumo. Que serão mais conscientes sobre temas de sustentabilidade. Ou que sonham em estudar no exterior.
Meu amigo ou minha amiga futurista deve entender que generalizações servem para esconder, não para revelar. Quando João Pedro e João Carlos são colocados como membros da mesma geração há a negação das diferenças. E o papel de quem pretende estudar o futuro é de buscar o máximo de informações possíveis, as nuances, para poder compreender os acontecimentos que vão transformar as nossas vidas.
E além disso, você, futurista, pode perder a oportunidade de conhecer o João Pedro, o nosso jovem negro, trabalhador, que, depois do expediente no sacolão, participa de reuniões para discutir e se preparar para as lutas pelos direitos dele e de seus amigos da comunidade. E que no futuro pode se revelar como um grande líder político.
Concorda? Discorda? Então mande suas opiniões pra gente conversar.
Tendências
O mundo em 2040: papel das cidades
As cidades terão um papel estratégico na viabilização de políticas públicas, mais que os governos centrais. Esta é uma das conclusões do relatório “Tendências Globais 2040: Um Mundo Mais Contestado“, publicação prospectiva principal da comunidade de inteligência dos Estados Unidos. O estudo revela um quadro de tensões em relação ao futuro.
Comércio eletrônico em alta
Descontos e promoções são os itens que mais geram interesse dos consumidores brasileiros em compras, segundo uma pesquisa realizada pelo Twitter. Para 20%, variedade de produtos é o principal chamariz das vendas pela internet, que sofre ainda com resistências. Apenas 25% dos consumidores sentem confiança absoluta em suas compras.
A pesquisa confirma que o comércio eletrônico foi grande beneficiado da pandemia, pois 67% dos respondentes declararam que passaram a comprar mais produtos e/ou serviços de forma online no período da pandemia. E, com maior variedade de ofertas e sistemas de buscas, a internet tende a manter o crescimento contínuo.
O que os brasileiros podem querer comprar
• 94% Outros produtos para casa (lençol, toalhas, edredom…)
• 91% Aparelhos eletrônicos
• 90% Itens de farmácia/drogaria
• 88% Eletrodomésticos
• 85% Vestuário
• 84% Itens de supermercado
• 81% Móveis
• 23% Imóvel
• 20% Veículos
O que os brasileiros já compram:
• 86% Vestuário
• 85% Aparelhos eletrônicos
• 69% Eletrodomésticos
• 66% Itens de farmácia/drogaria
• 64% Itens de supermercado
• 52% Outros produtos para casa (lençol, toalhas, edredom…)
• 50% Móveis
• 6% Veículos
• 5% Imóvel
Hoteis viram moradias nos Estados Unidos
As vagas em hotéis e motéis durante a pandemia de Covid-19 criaram uma oportunidade única para a expansão rápida de oferta de moradias populares em algumas das regiões mais caras dos Estados Unidos. Na Califórnia e em Nova York, legisladores agiram rapidamente com novas políticas que dão nova destinação para os imóveis que foram impactados pelas restrições ao turismo interno e internacional.
Indicadores
Tempos quentes: Canadá bate recorde e atinge 46,1º em onda de calor que também impacta os Estados Unidos. Em Moscou, na Rússia, o dia mais em para junho em 120 anos levou turistas para área glacial em busca de refresco.
Turismo em marcha lenta 2: A indústria hoteleira de Nova York não espera uma recuperação total antes de 2025.
Turismo em marcha lenta 1: Novo relatório publicado pela a Organização Mundial de Turismo da ONU revela que a distribuição desigual de vacinas em todo o mundo sinaliza que é improvável que o turismo retome a força antes de um ou dois anos.
Moda em ritmos variados: Enquanto na China as vendas de moda já se recuperam há meses e nos Estados Unidos os negócios retomam, mas em velocidade lenta, na Europa o cenário não é dos melhores. Um relatório aponta que as vendas devem permanecer entre 12% e 24% abaixo do nível de 2019.
Consumo de vídeos: Segundo uma pesquisa do ComScore, 91% dos internautas consomem vídeos online e a maior taxa de espectadores de vídeos da América Latina é no Brasil.
Crise impacta MEIS: A taxa de mortalidade é de 29% segundo dados do Sebrae. Mais de 40% dos entrevistados citaram a pandemia do coronavírus como causa do encerramento das atividades da empresa. Para 22%, a falta de capital de giro foi primordial para o fechamento do negócio. Entre as empresas que encerraram as suas atividades, cerca de 34% dos entrevistados acreditam que ter acesso a crédito poderia ter evitado o fechamento da empresa.
Insights
Abasteça-se no guarda-roupa
Quer uma moda mais sustentável? “Faça compras no próprio guarda-roupas”, diz Kim Poldner, caçadora de tendências em economia circular. Ela ressalta que o mundo produz cerca de 80 bilhões de novos itens de vestuário por ano. Para a especialista, mais do que tecnologia e inovação, transição para a economia circular passa por mudança de valores.
Mobilização contra a crise climática
Mais da metade dos professores na Inglaterra são a favor de ensinar as crianças a agirem diretamente contra as mudanças climáticas, de acordo com uma pesquisa, liderada pela Universidade de Bristol, Inglaterra. Profissionais da educação propõem um currículo de mudança climática focado em ações, incorporado em todas as disciplinas, começando com projetos de conservação no início da escola primária. A maioria (54%) também acreditava que temas em relação à participação em protestos pacíficos deveriam ser incluídos no currículo escolar.
Movimentos dos atores
Vencedores levam tudo: Kantar fecha compra da Numerator
A Kantar, empresa líder mundial em dados, insights e consultoria, concluiu hoje a aquisição da Numerator, a empresa de inteligência de mercado e consumidor com sede em Chicago da Vista Equity Partners. O negócio representa a criação de um líder global em comportamento do consumidor. A Numerator combina dados proprietários, incluindo um painel digital de mais de um milhão de consumidores dos EUA, com tecnologia avançada para criar percepções exclusivas que ajudam as empresas a entender seus clientes em tempo real e identificar oportunidades de crescimento.
A Numerator estende a liderança da Kantar em insights de consumo nos EUA e Canadá. A Divisão Worldpanel da Kantar já fornece percepções do consumidor em mais de 45 países fora da América do Norte. A combinação desses dados fornecerá insights sobre os hábitos de compra de quase cinco bilhões de consumidores em todo o mundo, informando as estratégias de crescimento das marcas líderes mundiais de bens de consumo massivo.
Em resumo