Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro
Aos 60 anos, a funcionária pública Jane Machado, de Belo Horizonte, adotou definitivamente a internet como principal meio de compra de produtos pessoais e para o dia a dia. Quando o isolamento acabar, com a redução dos riscos gerados pela pandemia, ela não tem planos de voltar a frequentar os mesmos lugares de “culto às compras”, apesar de ser, como ela mesma se define, uma consumidora compulsiva. Há uma revolução nas relações de consumo no futuro. Para os empresários, a consequência natural é a necessidade de adotar novos modelos de negócios.
Confirmada por vários estudos, uma pesquisa do Instituto Locomotiva sobre o interesse de consumo durante a pandemia revela que a funcionária pública faz parte de um movimento amplo. Ela está fora do grupo de pessoas angustiadas com o isolamento, enquanto aguardam a volta dos bares e dos restaurantes. E nem está entre os que sonham com a abertura dos shoppings. O estudo, que ouviu a opinião de 2.006 pessoas em 72 cidades de todo o Brasil, identificou que 50% dos entrevistados que costumavam ir a livrarias ou papelarias não pretendem voltar a ter esse hábito novamente.
O percentual é elevado também em interessados em artigos para criança (49%), petshops (44%) e em lojas de departamento (41%). “Eu não tenho dúvida nenhuma de que (a compra online) veio para ficar. Nós tivemos pessoas que não compravam, passaram a comprar; e pessoas que só compravam algumas categorias e passaram a comprar outras categorias. E a frequência de quem já comprava cresceu também”, avalia Renato Meirelles, presidente do instituto .
Mudanças de modelos de negócios
Segundo o especialista, o novo patamar alcançando pelas lojas online irá forçar uma integração das lojas físicas com elas. “A experiência nessas lojas (físicas) vai mudar, então será um espaço para experimentação, será um espaço onde a experiência de compra vai ganhar força.” Vamos começar a ter consumidores que vão comprar pela internet, e retirar na loja. E comprar na loja e pedir para entregar em casa. Vamos ter a transformação de grandes hipermercados, por exemplo, em minicentros de distribuição, de produtos e serviços. Na prática, o século 21 do ponto de vista do varejo começa agora”, acrescentou.
A crise provocou uma digitalização rápida nos negócios para evitar o fechamento de milhares de empresas. Empresários investiram em redes sociais, sites e outras soluções para melhorar o posicionamento orgânico, gerar mais tráfego e atender a demanda que ficou concentrada em pedidos online ou por telefone. No contexto do futuro, o empresário devem buscar reposicionamento para entender as tendências de comportamento que também mudam por outros fatores, seja pela adoção de novos hábitos, descoberta de alternativas ou, evidentemente, perda de renda, fator que terá alto impacto no curto prazo.
“Durante mais de três meses, as pessoas passaram a digitalizar uma série de processos de compra. Isso fez com que a modalidade online se tornasse mais funcional. A experiência de compra vai passar a contar muito mais para justificar a ida do consumidor a uma loja física”, destacou Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. De acordo com a pesquisa, 10% dos entrevistados não compravam online, 45% compravam ocasionalmente, 24% eram consumidores ativos online, enquanto que 11% declararam que reduziram o consumo online. Apenas 10% dos ouvidos disseram que não tiveram ainda uma experiência de compra pela internet.
“Eu não tenho dúvida nenhuma de que [a compra online] veio para ficar. Nós tivemos pessoas que não compravam, passaram a comprar; e pessoas que só compravam algumas categorias e passaram a comprar outras categorias. E a frequência de quem já comprava cresceu também”.
Renato Meireles, presidente do Instituto Locomotiva
Em resumo