Carlos Teixeira
Jornalista I Futurista
Eles são muitos. Mais exatamente, com 4,69 milhões de pessoas, a atividade lidera o ranking de categorias com o maior número de trabalhadores no Brasil. E são numerosos em outras partes do planeta. Mesmo que não tenham qualquer consciência sobre o futuro, estão pressionados por ameaças crescentes de morrer. A sobrevivência está por um fio.
Estamos falando dos auxiliares administrativos, grupo de alto risco no mercado de trabalho. Nos próximos anos, seus trabalhadores tendem a sofrer fortemente o impacto das mudanças no ambiente econômico que vem cortando empregos pelo mundo. Transformações puxadas especialmente pelas tecnologias. Mas também por novas propostas de gestão e por prioridades públicas e privadas. Segundo o relatório intitulado “O Futuro do Emprego: Quão suscetíveis são os empregos para a informatização?“, a função tem uma probabilidade de 96% de desaparecer nos próximos anos, por conta da influência crescente de inovações como a automação de serviços.
Na prática, o corte do número de assistentes administrativos já está sendo efetivado em instituições de todos os tipos e tamanhos. Mesmo o setor público, que representa 26% das contratações totais dos trabalhadores, tem claramente reduzido os seus contingentes. Em alguns setores do Judiciário, os concursos para contratação de novos funcionários estão suspensos, enquanto são reforçados os investimentos em informatização de atividades.
O principal problema enfrentado por esses empregados de apoio nas organizações privadas e públicas é a definição da atividade como tipicamente marcada por rotinas. Uma das muitas descrições disponíveis na internet diz que auxiliar administrativo “prestar apoio na área administrativa de uma empresa, auxiliando o administrador em suas tarefas rotineiras e no controle da gestão financeira, administração e organização de arquivos, gerência de informações e revisão de documentos, entre outras atividades.”
Interesses econômicos
Imagine os funcionários próximos de você e pense se é possível descrever facilmente suas atividades. Processos descritos por ações simples, como controle de contas e de estoques, pagamento e emissão de notas, atendimento de telefones e a clientes são alvos fáceis para os especialistas em desenvolvimento de sistemas informatizados.
Rotinas, em síntese, atraem os profissionais da área de ciência da computação interessados em desenvolver novos produtos capazes de aumentar os ganhos empresariais com a redução dos custos de produção. Considere a intensificação da busca por produtividade como uma das principais forças do futuro no cenário de competição da nova economia, comandada pela informatização de tudo.
Investir em automação de processos gerenciais será uma questão de sobrevivência para as empresas nos próximos anos. A perspectiva de aumento do número de desempregados e o aumento da concentração de renda e da miséria, como um fenômeno global, reconhecido pelo Fórum Econômico Mundial, vão forçar as empresas a reduzir ao máximo aos custos para dar conta de competir nos mercados locais.
Quem não produzir mais com menor número de empregados estará fadado a perder competitividade. E os empregos com maior qualificação tendem a ser preservados, enquanto funções de apoio vão sendo cortadas. Assim, mesmo em uma indústria, haverá mais engenheiros industriais, com forte formação em programação, do que auxiliares para providenciar reposição de peças, atividade potencialmente automatizável.
Brasil: mudanças lentas
No Brasil, por questões sociais, econômicas e sociais específicas, a velocidade de substituição de humanos por sistemas e máquinas pode ser mais lenta do que em outras partes do mundo. O baixo custo da mão-de-obra no país tende a contribui para a possibilidade de transferir para alguém, um assistente contratado, fazer por você, empresário ou chefe de departamento, aquilo que você mesmo poderia fazer.
Custo de mão-de-obra é uma variável que joga a favor preservação e da continuidade da existência de empregos dos assistentes administrativos nos próximos anos. Pelo menos no curto prazo. Imagine a situação em que o empresário considere razoável remunerar um funcionário para receber, organizar e encaminhar documentos. Então, tudo bem, o trabalhador e sua função estarão preservados. Mas, em tese, hoje, já é possível automatizar quase integralmente as funções dos trabalhadores do segmento.
Como sobreviver
Compreender, atualizar competências e antecipar tendências são expressões definidoras das prioridades que devem ser levadas em conta por assistentes administrativos interessados assegurar oportunidades de trabalho no cenário do mercado de trabalho dos próximos anos. O trabalhador acomodado, que acredita que não time que está vencendo, pode ser surpreendido a qualquer momento.
Empregados dos departamentos de administração devem entender que múltiplas mudanças estão ocorrendo ao mesmo tempo, muito além de fatores tecnológicos. Há um novo cenário se consolidando — consolidando, veja bem — sob a influência da denominada quarta revolução industrial. O resultado das transformações profundas será um “novo normal”, um padrão de funcionamento diferente do modelo herdado do século passado, formador das escolas de gestão.
As relações de trabalho estão mudando, assim como uma nova ética do sistema produtivo e mudanças nas relações de trabalho, que estimulam a precariedade e a flexibilidade de vínculos empregatícios. Além de fatores demográficos, como o envelhecimento da população e, inclusive, mudanças climáticas e ambientais. Compreender a complexidade do funcionamento da sociedade será cada vez mais necessário.
A compreensão da realidade e de si próprio é a etapa necessária para a busca por atualização de conhecimentos. Não é à toa que o mesmo Fórum Econômico Mundial citado acima defende que espírito crítico e capacidade de resolução de problemas complexos são habilidade determinantes na formação dos profissionais que desejam ter oportunidades futuras de trabalho.
Espírito crítico é necessário, inclusive, para compreender que as soluções não serão simples. Não basta, por exemplo, considerar que a mera atualização tecnológica seja suficiente para abrir oportunidades. A competência do uso de ferramentas de informática tradicionais não será suficiente. Não basta aprender a lidar com planilhas e processadores de textos.
O auxiliar administrativo deve compreender que seus principais “concorrentes” são recursos como a inteligência artificial, assistentes virtuais e aplicativos gerais de gestão, que viabilizam a digitalização dos serviços. A visão estratégica, antecipatória, é essencial nesse processo, inclusive para dar conta de transformar as tecnologias de concorrentes em ferramentas de trabalho. O que apenas reforça o tamanho do desafio a ser enfrentado pela categoria.
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