Carlos Teixeira
Jornalista – Futurista I Radar do Futuro
Com inauguração prevista para o segundo semestre de 2019, o Mercado de Origem finaliza a história de um ponto de referência de várias gerações de Bel0 Horizonte, a região dos moteis, na saída da capital para o Rio de Janeiro. Curiosamente, o espaço será ocupado por um empreendimento que tem, como tendência central, o desejo crescente de setores da população pela recuperação de símbolos do passado. Uma visão idealizada de dias melhores, com maior qualidade de vida. Sem qualquer conotação de conservadorismo de costumes.
O empreendimento, que terá a primeira unidade construída no bairro Olhos D’água, às margens da BR-040, adota o conceito de mercados antigos, onde, no passado, consumidores adquiriam os produtos diretamente de produtores, sem a intermediação de comerciantes. “É um resgate da agricultura familiar”, assegura Alberto Dávila, sócio do escritório Dávila Arquitetura, que aponta para a retomada da arquitetura dos pontos de vendas em Belo Horizonte, repleta de referências aos antigos espaços mercantis da capital mineira.
O escritório de Alberto Dávila mira, então, a memória das feiras antigas. O lugar para onde convergiam os produtores, com as suas colheitas, e os consumidores. Não só um lugar de compra e venda, mas também de convivência. Os mercados, como os distritais que existiam em vários pontos da cidade, são de um tempo em que Belo Horizonte tinha uma população relativamente pequena e o País era essencialmente agrário.
As referências aos antigos mercados da capital podem ser encontradas no design do Mercado de Origem, como elementos que remetem ao Mercado Central e ao Mercado Novo, porém com inovações arquitetônicas e a modernidade dos elementos. “A fachada traz elementos diferenciados dos antigos mercados da capital, mas que podem ser lidos em outros edifícios da cidade. Outro efeito inovador é que no meio das paredes ‘cobogó’, imaginamos vitrines que conferem um toque contemporâneo surpreendente à edificação”, pontua o arquiteto.
Haverá também um terraço na fachada principal, para o qual se abrem algumas lojas com potencial para serem ocupadas por bares e restaurantes. Estas, por sua vez, terão a frente em tijolos aparentes e com a entrada protegida pelos característicos toldos que marcam cafés e mercearias europeias”, exemplifica o arquiteto Afonso Walace.
Também como tendência, o empreendimento amplia os exemplos de reaproveitamento de destinação de espaços, tendência denominada de retrofit. Um prédio de motel passa a ser um centro de compras. Assim como prédios residenciais são transformados atualmente em sede de empresas. Esta será a tônica do novo projeto que partiu de um prédio existente. O Mercado de Origem é uma ampla obra de alteração no uso. O prédio obsoleto, usado como hospedagem provisória, sai de cena e a cidade ganha um mercado que concilia tradição e inovação.
Busca por qualidade
As pesquisas para o desenvolvimento do projeto refletem a tendência de recuperação do passado como uma reação a tempos de angústia. Até chegar ao conceito do mercado de origem, o escritório fez pesquisas históricas sobre estabelecimentos antigos da capital, principalmente a antiga Feira de Amostras, localizada na Praça Rio Branco, ocupada hoje pela Rodoviária de Belo Horizonte.
Os profissionais envolvidos na pesquisa identificaram a torre de relógio – que marcava verticalmente o empreendimento, em alinhamento com o eixo da avenida Afonso Pena – como um símbolo importante naquele edifício. O conceito estará visível no estabelecimento em construção com o aproveitamento de uma caixa d’água que será transformada em torre de relógio.
Entender o nome do empreendimento é essencial para compreender as tendências. Mercado de origem reforça o movimento de novas gerações em direção a hábitos de consumo diferenciados, como se o passado fosse garantia de um mundo melhor. Como os nascidos a partir de 1985, membros da geração “X”, que só consomem produtos orgânicos certificados. “Os jovens têm outras visões do consumo, em que há valorização das experiências sensoriais”, atesta Alberto Dávila. Origem vai significar, então, a valorização do lugar e da forma como vegetais, frutas e legumes foram produzidos. E também da produção da cidade e de Minas Gerais, que também receberão atenção com a oferta do artesanato mineiro.
Prioridade do futuro centro comercial, a agricultura familiar tende a ser ainda mais valorizada nos próximos anos diante da crescente liberalização do uso de agrotóxicos a partir do governo Bolsonaro. A cada dia, há a liberação de três agrotóxicos, inclusive alguns proibidos no exterior. Além da permissão de aplicação e da mudança de prioridades, que interessa particularmente aos grandes produtores, há um processo crescente de esvaziamento dos órgãos de fiscalização das propriedades.
Espaço de negócios
Um resultado direto da flexibilização de uso de agrotóxicos será a valorização dos produtos com origem comprovada de qualidade e de sustentabilidade. O Mercado de Origem também tem como proposta ser um espaço para a troca de conhecimento e para a realização de negócios relacionados à agricultura familiar.
No local, pequenos produtores oferecerão uma ampla gama de gêneros alimentícios in natura ou processados de forma artesanal ou em pequena escala. Os produtos virão diretamente do campo para a cidade e a venda será feita ao consumidor final ou a pequenos revendedores, sem a presença de atravessadores.
A agricultura familiar é responsável por cerca de 70% dos produtos que chegam à mesa dos brasileiros. A produção artesanal de demais produtos, como adornos e acessórios, por exemplo, também possui uma grande escala em Minas Gerais. E, como a maioria da população não sabe ou não conhece a importância desses produtores, que desenvolvem seu material em pequenas propriedades e feito por pequenos grupos de pessoas, esse mercado está investindo na sua valorização.
Em resumo