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A revolução mundial dos transplantes avança e traz esperança

Cirurgias de transplantes de órgãos como mãos e rostos, transferidos de um morto para um vivo, tendem a se beneficiar da evolução das técnicas de implante

Carlos Plácido Teixeira

A revolução no mundo dos transplantes traz esperança para quem depende de um para viver. Morador de Nova Jersey, nos Estados Unidos, de 22 anos, Joe DiMeo está reaprendendo a sorrir, piscar, beliscar e apertar. O motivo da comemoração é o fato de que, há quase seis meses, ele passou por um transplante de rosto e mãos. A intervenção cirúrgica com resultados praticamente inéditos ocorreu em agosto passado, dois anos depois de um acidente de carro que provocou nele queimaduras graves. O jovem teve 80% do corpo queimado. E acabou sendo personagem de um feito histórico para a evolução da medicina e das possibilidades dos transplantes.

Eventos semelhantes tendem a ocorrer com frequência até o final da atual década. Em algum momento dos próximos anos, haverá mais e mais estudantes de medicina interessados na especialidade aparentemente estranha. Algo que na ficção literária e cinematográfica deu origem a personagens como Frankstein e a diferentes versões de ciborgues.

Os campos de cirurgias de transplantes de órgãos externos, como mãos, rostos e pernas, transferidos de um morto para um vivo, tendem a se beneficiar da evolução das técnicas de implante, conhecimentos sobre rejeição e do corpo humano, de ferramentas, medicamentos, de tecnologias e novos materiais cirúrgicos, entre outros fatores.

A medicina regenerativa vai entrar na fase em que o gráfico exponencial se acelera, como ocorreu com as tecnologias digitais. Transplantes simultâneos de face e duas mãos só foram tentados duas vezes antes. A primeira tentativa foi em 2009 em um paciente em Paris que morreu cerca de um mês depois de complicações. Dois anos depois, os médicos de Boston tentaram novamente em uma mulher que foi atacada por um chimpanzé, mas no final das contas tiveram que remover as mãos transplantadas dias depois.

Evolução

Matéria publicada pelo site Financial Times relata que o primeiro transplante de órgão humano bem-sucedido foi realizado em Boston, também nos Estados Unidos. Em 1954, Richard Herrick, de 23 anos, recebeu um rim. A intervenção realizada pelo cirurgião Joseph Murray deu início a uma das maiores histórias de sucesso da medicina do século XX. Os transplantes de órgãos salvariam milhares de vidas e transformariam centenas de milhares de outras. Murray ganhou o Prêmio Nobel por seu trabalho pioneiro.

“Este campo da medicina é uma grande promessa para o futuro”, afirma o autor do texto, Robert Lecher, vice-diretor de saúde do King’s College London e presidente da Academia de Ciências Médicas britânica. Ele destaca que houve um longo caminho desde a primeira cirurgia realizada, quando o órgão transplantado precisava ser, necessariamente, de um gêmeo idêntico para garantir a sobrevivência de um paciente.

“À medida que o progresso é feito na promoção da tolerância imunológica e em persuadir os tecidos a se regenerar, as pessoas que tinham que suportar doenças crônicas debilitantes podem, em vez disso, desfrutar de uma nova vida”, assinala Lecher.

O salto do número de transplantes comprova que a aceleração das condições que vão estimular a revolução nessa área. Os cirurgiões norte-americanos realizaram pelo menos 18 transplantes de rosto e 35 transplantes de mão, de acordo com a United Network for Organ Sharing, ou UNOS, que supervisiona o sistema de transplante do país. Mesmo que a prudência seja um fato e especialistas afirmem, com cautela, que que a cirurgia de DiMeo, na NYU Langone Health, foi um sucesso, eles avisam que vai demorar um pouco para ter certeza.

“O fato de eles terem conseguido é fenomenal”, disse Bohdan Pomahac, cirurgião do Hospital Brigham and Women’s de Boston que liderou a segunda tentativa. “Sei em primeira mão que é incrivelmente complicado. É um tremendo sucesso.” Para divulgar a iniciativa bem-sucedida, o médico Eduardo Rodriguez fez Joe DiMeo demonstrar a flexibilidade em suas novas mãos em 25 de janeiro de 2021, na NYU Langone Health, em Nova York.

Rodriguez liderou uma equipe cirúrgica que amputou as duas mãos de DiMeo, substituindo-as no meio do antebraço e conectando nervos, vasos sanguíneos e 21 tendões com suturas finas como cabelos. DiMeo tomará medicamentos por toda a vida para evitar a rejeição dos transplantes, bem como reabilitação contínua para ganhar sensação e função em seu novo rosto e mãos.

História do transplante

“Eu sabia que seriam passos de bebê até o fim”, disse DiMeo à The Associated Press. “Você precisa ter muita motivação, muita paciência. E precisa se manter forte em tudo.” Em 2018, DiMeo adormeceu ao volante depois de trabalhar no turno da noite como testador de produtos para uma empresa farmacêutica. O carro bateu em um meio-fio e em um poste, capotou e explodiu em chamas. Outro motorista que viu o acidente parou para resgatar DiMeo.

Ele passou meses em coma induzido clinicamente e, depois, por 20 cirurgias reconstrutivas e múltiplos enxertos de pele para tratar suas extensas queimaduras de terceiro grau. Quando ficou claro que as cirurgias convencionais não poderiam ajudá-lo a recuperar a visão completa ou o uso das mãos, a equipe médica de DiMeo começou a se preparar para o transplante de risco no início de 2019. “São provavelmente os mais incomuns”, disse o Dr. David Klassen, diretor médico da UNOS.

Quase imediatamente, a equipe da NYU encontrou desafios, incluindo encontrar um doador. Os médicos estimaram que ele tinha apenas 6% de chance de encontrar um compatível com seu sistema imunológico. Eles também queriam encontrar alguém com o mesmo gênero, tom de pele e domínio de mão.

Então, durante a busca por um doador, a pandemia emergiu e as doações de órgãos despencaram. Com o avanço da doença na cidade de Nova York, os membros da unidade de transplante foram designados para trabalhar no enfrentamento da Covid-19.

No início de agosto, a equipe finalmente identificou um doador em Delaware e concluiu o procedimento de 23 horas alguns dias depois. Eles amputaram ambas as mãos de DiMeo, substituindo-as no antebraço e conectando nervos, vasos sanguíneos e 21 tendões com suturas finas como cabelos. Eles também transplantaram um rosto inteiro, incluindo testa, sobrancelhas, nariz, pálpebras, lábios, orelhas e ossos faciais subjacentes.

“A possibilidade de sucesso com base no histórico parecia pequena”, disse o médico Eduardo Rodriguez, que liderou a equipe médica de mais de 140 pessoas. “Não é que alguém já tenha feito isso muitas vezes antes e temos uma espécie de cronograma, uma receita a seguir.”

Até agora, DiMeo não deu sinais de rejeitar seu novo rosto ou mãos, afirmou Rodriguez, que revelou detalhes do transplante. Desde que deixou o hospital em novembro, DiMeo está em reabilitação intensiva, dedicando horas diárias à terapia física, ocupacional e fonoaudiológica. “A reabilitação foi muito intensa”, disse DiMeo, e envolveu muito “treinamento para fazer as coisas por conta própria novamente”.

Durante uma sessão recente, ele praticou levantar as sobrancelhas, abrir e fechar os olhos, franzir a boca, levantar o polegar e assobiar. DiMeo pode sentir sua nova testa e mãos ficarem frias, e muitas vezes estende a mão para afastar seus longos cabelos do rosto.

DiMeo, que mora com seus pais, agora pode se vestir e se alimentar. Ele joga sinuca e brinca com seu cachorro Buster. Outrora, um ávido frequentador de academias, DiMeo também está malhando de novo – pesando 22 quilos no banco e praticando suas tacadas de golfe. “Você tem uma nova chance na vida. Você realmente não pode desistir”, disse ele.

Como acontece com qualquer transplante, o perigo de rejeição é maior no início, mas dura indefinidamente. Os medicamentos que toma também o deixam vulnerável, pelo resto da vida, a infecções. “Você nunca está livre desse risco”, disse Klassen. “O transplante para qualquer paciente é um processo que dura um longo período de tempo.”

Ainda assim, Rodriguez disse que está surpreso ao ver que DiMeo foi capaz de dominar habilidades como fechar o zíper da jaqueta e calçar os sapatos. “É muito gratificante para todos nós. Há um enorme orgulho.”

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