O que no começo parecia ser um ajuste temporário de comportamentos para combater a pandemia de Covid-19 tornou-se um estilo de vida. Em março de 2020, precisamos adaptar o trabalho para o home office, as aulas passaram a ser online, transferimos tudo que era possível para a tela do computador ou do smartphone – idas a bancos, compras de supermercado e até a aposta na Mega Sena. A máscara de proteção facial e o álcool em gel tornaram-se obrigatórios e, mais que isso, nossos aliados para que ficássemos livres do vírus o quanto antes.
Passado pouco mais de um ano, porém, o vírus ainda não foi embora e a pandemia continua sendo um problema sério – mais até do que a maioria de imaginávamos no início. Mas, embora os números de infecções e óbitos ainda sejam altos no Brasil e em outros países, a vacinação está em curso por aqui e no mundo, e já é possível pensar em como será a vida pós-pandemia, quando todos estivermos imunizados e o vírus, controlado.
Hábitos adquiridos e olhares construídos ao longo destes meses de pandemia tendem a permanecer em nosso cotidiano. Aprendemos e mudamos muito, então, por que não levar essa bagagem positiva adiante?
Listamos a seguir cinco tendências de comportamento que devem fazer parte de nossas rotinas daqui por diante, e pedimos a palavra de especialistas sobre os assuntos. Quais deles você acha que ficarão em seu dia a dia de forma definitiva?
De tecidos a plástico-filme: quanto mais proteção contra vírus, melhor
Mesmo que não sejam mais necessárias quando a pandemia chegar ao fim, as máscaras de proteção facial deixam como legado a popularização dos tecidos antivirais. Aperfeiçoados, eles têm sido usados em larga escala na produção tanto de máscaras quanto de roupas de cama e acessórios que ajudaram o setor hoteleiro a manter as atividades com segurança.
E não para por aí: a compreensão dos benefícios de materiais antivirais naturalizou o uso de outros produtos protetores no dia a dia. É o caso do plástico-filme PVC antiviral da Alpes (empresa brasileira de embalagens), que contém micropartículas de prata e sílica que inibem a atividade do coronavírus em 79,9% nos três primeiros minutos e em 99,9% em 15 minutos de contato do vírus com o plástico-filme. Dá até um certo alívio saber que um balcão está coberto ou que um alimento está embrulhado por ele, não é mesmo?
“Desde 2014, a nossa linha de produtos AlpFilm Protect conta, em sua composição, com uma solução que evita a proliferação de fungos e bactérias, oferecendo uma barreira de proteção eficaz para a conservação de alimentos e outros produtos embalados com o plástico-filme. Diante dos desafios impostos pela Covid-19, decidimos voltar nossas atenções para a pesquisa e desenvolvimento dessa evolução do produto para a inativação do novo coronavírus por contato”, explica Alessandra Zambaldi, diretora de Comércio Exterior e Marketing da Alpes.
Atendimento médico pela tela do celular ou do computador
Desde o início da pandemia e enquanto perdurar a situação de emergência de saúde pública da Covid-19, a prática da telemedicina está autorizada no Brasil. Pela tela do celular ou do computador, casos não emergenciais podem ser orientados a distância com o apoio de médicos e receitas e atestados podem ser emitidos por documentos digitais intransferíveis e seguros, com validade determinada em certificado digital com a assinatura do especialista.
Os benefícios são gerais: evita-se aumentar a sobrecarga dos prontos-socorros, que já estão lotados, e os pacientes não caem na tentação de praticar a automedicação, que sempre é prejudicial à saúde. Claro que estamos falando de casos de sintomas simples e de acompanhamento de tratamentos; sinais físicos, como nódulos ou ínguas, ou que estejam causando dor ainda precisam da avaliação presencial de um médico.
E que tal continuar com as consultas virtuais após o fim da pandemia, evitando, assim, gastar tempo no trânsito ou no transporte público para ir e voltar das consultas? “A telemedicina estimula a busca por diagnóstico preciso e permite a tomada de decisões com respaldo médico. Melhora a eficiência do setor da saúde e, com encaminhamentos corretos, promove desfechos clínicos positivos”, explica Vitor Moura, CEO da startup de saúde VidaClass.
Sonho da casa própria volta a ter espaço nos planejamentos
A adoção do home office durante a pandemia levou muita gente a olhar para dentro de casa com mais atenção. E, com isso, a querer personalizar o espaço – pintar uma parede, criar uma abertura para ganhar uma cozinha americana, essas pequenas mudanças que fazem toda a diferença no ambiente. Só que, quando se é inquilino, tudo fica mais difícil nesse sentido. Afinal, um dia o imóvel precisará ser entregue como era inicialmente – e que trabalhão pensar em precisar reverter tudo!
Essa vontade de ter uma casa para chamar de sua, aliada a um bom momento financeiro – ainda que a Selic (que é a taxa básica de juros) tenha subido, ainda está em um nível considerado baixo (2,75%), o que tem permitido taxas de financiamentos imobiliários relativamente baixas – houve um aumento de 8% a até 35% da venda de imóveis, dependendo do lugar do país. Em todos os cenários, segundo levantamentos do Fipe/ZAP, a maioria é destinada à moradia.
“Com o novo formato de trabalho, em que não é mais preciso sair de casa todos os dias, as pessoas passaram a desejar viver em lugares mais espaçosos, com conforto e segurança. Buscar uma casa própria com características personalizadas é o início de uma tendência de comportamento”, analisa Dante Seferian, CEO da construtora e incorporadora Danpris.
Trabalho híbrido: um pouco em casa, um pouco no escritório
Por falar em home office, análises de especialistas apontam para um modelo de trabalho híbrido quando a pandemia acabar. Apesar de certa apreensão por parte dos empregadores no início das mudanças, em março de 2020, o desempenho remoto se mostrou igual ou superior àquele da produção no escritório.
Desta forma, empresas como Magazine Luiza, Siemens e Allianz já se preparam para dar aos colaboradores a oportunidade de trabalhar alguns dias da semana no escritório e outros, em casa. Os esquemas serão definidos com os líderes das equipes e levarão em consideração o equilíbrio entre produtividade e bem-estar.
“O sistema de trabalho híbrido já estava no horizonte empresarial, mas levaria algum tempo para ser adotado de forma definitiva, principalmente por haver dúvidas quanto à performance. Depois de um ano, isso deixou de ser um tabu. A mudança trazida pela pandemia deve passar a fazer parte da vida das pessoas”, esclarece o consultor em gestão, governança corporativa e planejamento estratégico Uranio Bonoldi, autor do livro “A Contrapartida”, sobre o desenvolvimento na vida pessoal, no ambiente corporativo e na sociedade.
Saúde mental ganha espaço prioritário nas necessidades pessoais
Os números relacionados à saúde mental no Brasil durante a pandemia chamam a atenção. Em um ano, as vendas de medicamentos antidepressivos tiveram alta de 17% (de acordo com levantamento do CFF – Conselho Federal de Farmácia) e os diagnósticos de ansiedade e de depressão subiram entre 80% e 90% (segundo estudos da UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro – da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – e do Hospital das Clínicas de São Paulo).
A boa notícia é que a busca por ajuda pelos pacientes e a oferta de serviços online por profissionais especializados também aumentou. Uma pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) indica que a terapia online teve 70% de crescimento no mundo neste ano de pandemia, e o CFP (Conselho Federal de Psicologia) mais do que quadruplicou o número de profissionais autorizados para a realização dessa modalidade de atendimento. Até o início de 2020, eram pouco mais de 30 mil; hoje, são mais de 120 mil psicólogos realizando consultas por computador ou apps.
“Não é por serem comuns que os novos problemas da mente devem ser aceitos passivamente. Colocar a saúde mental como prioridade é importante para manter as condições de trabalhar, de realizar as tarefas do dia a dia e mesmo para preservar a saúde física. Sabendo usar a tecnologia a seu favor, os pacientes encontram informação de qualidade e terapia online a poucos cliques de distância”, diz o psiquiatra Marcos Abud, proprietário do Canal Saúde da Mente, no YouTube, com mais de 1,4 milhão de inscritos.
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