A biopolítica é um termo cunhado pelo filósofo francês Michel Foucault para descrever as formas pelas quais o poder é exercido sobre os corpos e as populações humanas. A biopolítica se concentra no controle dos processos biológicos e na gestão da vida e da saúde das populações.
Foucault argumenta que a biopolítica emergiu no século XVIII, quando o Estado moderno começou a se preocupar com a saúde e a vida de seus cidadãos, em contraste com o poder soberano anterior, que se concentrava principalmente na punição de crimes. A biopolítica abrange uma ampla gama de práticas e instituições, desde políticas de saúde pública e planejamento familiar até programas de controle de natalidade e intervenções médicas em larga escala.
A biopolítica também inclui a criação de categorias sociais baseadas em raça, gênero e sexualidade, que são usadas para exercer controle sobre a vida e a reprodução de diferentes grupos sociais. Foucault argumenta que a biopolítica é uma forma insidiosa de poder, que se esconde atrás da aparência de preocupação com o bem-estar das pessoas, mas que na verdade serve para reforçar as hierarquias de poder existentes.
A biopolítica é a prática de biopoderes locais. No biopoder, a população é tanto alvo como instrumento em uma relação de poder.
“Os instrumentos que o governo se dará para obter esses fins [atendimento as necessidades e desejos da população] que são, de algum modo, imanentes ao campo da população, serão essencialmente a população sobre o qual ele age”
(Foucault, 1978)
Biopoder é uma tecnologia de poder, um modo de exercer várias técnicas em uma única tecnologia. Ele permite o controle de populações inteiras. Em uma era onde o poder deve ser justificado racionalmente, o biopoder é utilizado pela ênfase na proteção de vida, na regulação do corpo, na proteção de outras tecnologias. Os biopoderes se ocuparão então da gestão da saúde, da higiene, da alimentação, da sexualidade, da natalidade, dos costumes, etc, na medida em que essas se tornaram preocupações políticas.
A emergência do biopoder só se dá a partir da firmação da governamentalidade. Governamentalidade um conjunto de instituições, práticas e formas de pensamento próprias desta forma de exercer o poder, em que temos a população como alvo principal, a economia política como saber mais importante e os dispositivos de segurança como instrumento técnico essencial.
A biopolítica contrasta como modelos tradicionais de poder baseados na ameaça de morte. Ela representa uma “grande medicina social” que se aplica a população a fim de controlar a vida: a vida faz parte do campo do poder. O pensamento medicalizado utiliza meios de correção que não são meios de punição, mas meios de transformação dos indivíduos, e toda uma tecnologia do comportamento do ser humano está ligada a eles. Permite aplicar a sociedade uma distinção entre o normal e o patológico e impor um sistema de normalização dos comportamentos e das existências, dos trabalhos e dos afetos.
As disciplinas, a normalização por meio da medicalização social, a emergência de uma série de biopoderes e a aparição de tecnologias do comportamento formam, portanto, uma configuração do poder, que, segundo Foucault, é ainda a nossa.
Daniel Fenandes e Gabriela Resmini
Referências:
Foucault, M. (1978). A governamentalidade. Em Michael Foucault, Microfísica do poder (pp. 277-293). Rio de Janeiro: Graal.
Revel, J. (2005). Michael Foucault conceitos essenciais. (C.P.Filho & N. Milanez, Trad.). São Paulo: Claraluz.
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