Carlos Teixeira
Radar do Futuro
“Todos os profissionais de estética e beleza provavelmente vão se transformar em visagistas. Vai ser impossível atender um cliente sem conhecê-lo muito bem, sem saber quem ele é e do que necessita”. Em tempos de avanços tecnológicos, a previsão de Wanúbia Sena, visagista e cabeireira, confirma a tendência de valorização crescente da empatia no mercado de trabalho. O poder de entender as pessoas, entre desejos e personalidades, e criar penteados mais adequados, são as variáveis centrais das mudanças do mercado de trabalho nos próximos anos.
Visagismo é, em síntese, a atividade evolutiva dos tratamentos de beleza. Uma atividade profissional que envolve a arte de criar uma imagem pessoal. O resultado final de um penteado revela as qualidades interiores de uma pessoa, de acordo com suas características físicas e os princípios da linguagem visual, utilizando a maquilagem, o corte, a coloração e o penteado do cabelo, entre outros recursos estéticos.
Proprietária de um salão de cabelo em seu nome, em Belo Horizonte, Wanúbia Sena aposta nas mudanças do segmento. O que acontece atualmente é uma mudança de valores e de formas de tratamento. Cada vez mais, os salões de beleza deixam de ser um lugar onde as clientes chegam com respostas prontas, seguindo modas de momento, e são atendidas por trabalhadoras de qualificação limitada. O mercado requer profissionalização em todos os níveis.
Diversidade
A cabeleireira tradicional, que aprendia um ofício informalmente, às vezes por conta própria, perde espaço no cenário de mudanças de papeis femininos, de urbanização intensa e de novos comportamentos de consumo. Sinal de mudança, as referências do passado eram as atrizes de novela. Hoje, com o acesso democratizado da internet e o uso de aplicativos capazes de simular todo tipo de perfil visual. Os influenciadores também estão nas mídias sociais, como os youtubers transformados em grandes responsáveis pela disseminação das modas.
Wanúbia Senna está inserida em um contexto em que o excesso de inovações disponíveis na internet para quem busca soluções acaba se transformando em parte dos problemas. Ela reforça a necessidade de oferecer respostas humanas para demandas humanas, capazes de gerar melhores soluções. Uma das histórias mais ilustrativas das mudanças envolveu uma advogada, aprovada em um concurso para juíza. Com um rosto “mais infantil, angelical”.
“Ela desejava passar um ar de maior seriedade e credibilidade”, diz a visagista. A solução para a demanda passou por um corte mais reto e a cor do cabelo, que contribuíram para a transformação necessária. Para chegar ao ponto ideal de criação, o profissional vai ter de encarar tempo de estudos. Recém-chegada de um curso em Paris, ela se preparava para uma nova experiência internacional, em Lisboa, Portugal.
O crescimento dos profissionais da área de estética e beleza vai passar pela compreensão das mudanças de comportamentos sociais e individuais e do papel que será desempenhado pelas mulheres na sociedade digital dos anos 2020. Autonomia e liberdade são duas palavras sintetizadoras do processo de transformação dos próximos anos. Mesmo que lentamente, as clientes vão ocupando espaços em posições chave. Com mais responsabilidades. O que é, afinal, a marca delas.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo portal americano Coupon Cabin, 37% dos entrevistados acreditam que a cor dos cabelos pode influenciar na posição social ou profissional de um indivíduo. Enquanto isso, segundo estudo feito pela rede de salões australiana Bossy Hair, 62% das mulheres sentem-se mais profissionais e confiantes quando estão satisfeitas com as próprias madeixas.
A mulher, “multitarefas” de hoje, vai ter responsabilidades extras na criação de uma sociedade melhor. Mesmo que seja em um ambiente de crises climáticas, novas relações de trabalho e desemprego em alta. A mulher do futuro, ao mesmo tempo que exerce funções domiciliares, também pode se dedicar ao seu lazer, a suas conquistas profissionais, tarefas pessoais, maternidade e, ainda, gerenciar sua própria conta financeira, além de ocupar cada vez mais os postos de liderança em todos os ambientes, inclusive os políticos e corporativos.