Espaço físico e contato com as compras ainda têm importância
Quatro acontecimentos demonstraram, nos últimos sete dias, que nada é absolutamente definitivo no reino da identificação e análise de tendências do mercado de consumo. As lojas de cimento e tijolo foram reabilitadas. O aumento da demanda por livros de papel foi constatado por sensores do mercado editorial. A Intel registrou aumento das vendas de computadores pessoais. E finalmente, para alguma surpresa dos consumidores ávidos por produtos pioneiros, o Google anunciou um recuo estratégico nos planos de lançamento de seus óculos tecnológicos, o Google Glass.
A revalorização do papel e relevância dos pontos de vendas tradicionais foi comemorada, entre os dias 11 e 13 de janeiro, em Nova York, nos Estados Unidos, durante o NRF 2015, maior feira do setor de varejo do mundo. “Num passado recente, os futurólogos diziam que todo o varejo seria digital e que as lojas virariam showrooms”, salienta Alexandre Van Beeck, sócio diretor da GS&MD, empresa de consultoria, especializada em varejo, responsável por uma delegação formada por empresários brasileiros no evento. Para o executivo, ao contrário das previsões sobre os impactos negativos das inovações e do comércio eletrônico, as tecnologias ampliam o poder das lojas físicas. “E isso vai provocar ainda muitas mudanças no mercado”, assinala o executivo.
Segundo um balanço divulgado pela GS&MD, o evento nos EUA ofereceu a oportunidade de reavaliação sobre os desafios surgidos com a integração entre os mundos dos comércios nos ambientes eletrônico e físico. Palestrantes e visitantes fizeram questão de destacar que as vendas em lojas físicas ainda são responsáveis por 95% das compras totais realizadas pelos consumidores.
A “ressureição” da loja física foi comemorada por representantes de peso do comércio brasileiro, como Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza e do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), e o CEO da Riachuelo, Flávio Rocha. Para Luiza, foi um alívio. Para o executivo, a maior lição alcançada do evento foi a reabilitação do varejo físico, que era dado como morto nas edições anteriores do evento. “A loja de tijolo e cimento, com a consolidação dos multicanais de venda, voltou a ser vista com importância por todos os analistas”, assinalou Rocha.
Na verdade, houve uma depuração das análises sobre o papel desempenhado pelas lojas, mesmo com o avanço do comércio eletrônico. Segundo a JDA Software, responsável por uma das palestras do NRF 2015, 78% dos consumidores querem continuar comprando em pontos de venda tradicionais, pois consideram que nada supera a experiência física. “Em um cenário em que os sites de comércio eletrônico são muito parecidos, as experiências de marca que podem ser vividas num estabelecimento tradicional ganham relevância”, assinala.