A adoção de sistemas de reconhecimento facial evolui aceleradamente levando junto polêmicas sobre seus impactos
Aeroportos brasileiros começaram a testar um sistema de reconhecimento facial que pretende agilizar o processo de embarque dos viajantes. O primeiro teste da tecnologia, desenvolvida em parceria com a multinacional Idemia, ocorre nos aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Confins, em Belo Horizonte. Nos aeroportos de Florianópolis e Salvador o projeto está sendo testado desde o ano passado.
Segundo os responsáveis pela implantação, a novidade cria a primeira ponte aérea com biometria de rosto no mundo. É a agilidade contra a burocracia, com a integração da experiência de digitalização e de foco em segurança. O “Embarque + Seguro 100% Digital” utiliza reconhecimento facial para autenticar a identidade do usuário no portão de embarque. Graças ao uso da tecnologia, o passageiro não precisa apresentar documentos ou comprovantes para entrar no avião, o que ajuda a evitar o contato físico em tempos de pandemia.
A novidade ainda está em fase de testes, com aplicação limitada. Para participar do teste, o passageiro precisa fazer um cadastro durante o check-in e fornecer dados como CPF e uma foto. A iniciativa no aeroporto brasileiro dá destaque para a tecnologia, que entra na lista das tecnologias emergentes, com adoção acelerada e prestes a amadurecer.
Mas o reconhecimento facial permanece envolta em polêmicas. E há a insegurança sobre o poder dado a quem administra os recursos. E sobre os resultados que podem ser gerados. Na Europa, diz uma matéria publicada pelo site Tilt, duas entidades de defesa da privacidade pediram oficialmente que as autoridades proíbam o uso de inteligência artificial, a base do sistema, para o reconhecimento de pessoas.
As cidades de Cambridge e São Francisco, nos Estados Unidos, são dois locais que proibiram o uso do reconhecimento facial. O motivo, diz o texto da matéria, é que as tecnologias ainda erram. Este é o argumento central para que o Conselho Europeu de Proteção de Dados e a Autoridade Europeia para a Proteção de dados pedem a “proibilição geral de qualquer uso de IA para o reconhecimento automatizado de características huymanas em espaços acessíveis ao público, como o reconhecimento de rostos, de marcha, impressões digitais, DNA, voz, teclas e outros dados biométricos.
Uso em expansão
Dissociados dos debates, os investimentos começam a crescer em todos os cantos, inclusive no Brasil. Em Praia Grande, no litoral paulista, o reconhecimento facial faz parte dos recursos de segurança. A prefeitura municipal assegura que houve uma queda de 80% na criminalidade em áreas da cidade onde foram instaladas as câmaras do sistema de vigilância. O projeto é resultado de um acordo com a empresa Digifort e RealNetworks, responsável pela instalação do o SAFR, um software de visão computacional e reconhecimento facial de alto desempenho.
Segundo a desenvolvedora, o software de reconhecimento facial da RealNetworks tem uma taxa de 98,87% de precisão de reconhecimento para faces no mundo real e 98,85% para rostos com máscaras. O perímetro da cidade de Praia Grande recebeu mais de 2.500 câmeras de segurança para vigilância monitorada. Do total, 180 são integradas com o SAFR.
No Rio de Janeiro, a Prefeitura do Rio tem planos para ampliar o Centro de Operações Rio, na Cidade Nova, no Centro, e, consequentemente, o monitoramento da cidade. Em pontos estratégicos da capital fluminense serão instaladas 10 mil câmeras, sendo 40% delas com tecnologia de reconhecimento facial. Em Feira de Santana, no interior da Bahia, equipamentos estão sendo instalados no terminal de ônibus para ajudar a identificar e prender suspeitos de envolvimento com crimes na cidade.
Aplicações diversificadas
Nem só no reino da segurança vão crescer as aplicações do reconhecimento facial, aproveitando as tecnologias em disrupção. Ainda na Bahia, a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) instalou duas câmeras no pórtico principal de acesso ao campus. Uma das câmeras é para leitura de placas de veículos e a outra para o reconhecimento facial. A instalação foi realizada pela Unidade de Infraestrutura e Serviços (Uninfra/Uefs), em continuidade às ações definidas pelo plano de retomada das atividades presenciais da instituição.
No interior do Paraná, em Londrina, o Super Muffato da Madre, passou a contar com o Payface, um sistema que permite o pagamento de compras com o uso apenas do rosto. “Ir ao supermercado sem levar nada; nem bolsa, ou carteira, não é mais coisa do futuro”, comemorou, pela imprensa local, o gerente de tecnologia do grupo, Fábio Donadon. Usar o Payface é simples e fácil. Ao baixar o aplicativo, basta cadastrar o cartão de crédito ou débito desejado e, na primeira vez, o CPF em qualquer um dos caixas. Depois disso, o cliente pode realizar e concluir suas compras.
Segundo a consultoria tecnológica e agência de pesquisa Juniper Research o uso de tecnologias de reconhecimento facial, como o Face ID da Apple, deve aumentar em 120% até o ano de 2025. A tendência deve revolucionar a forma de autenticação de pagamentos digitais. De acordo com o estudo, o número de pessoas que usarão a tecnologia ao redor do mundo deve ultrapassar 1,4 bilhão daqui a quatro anos.
A multiplicidade de aplicações é um dos efeitos mais importantes deste momento de maturidade tecnológica de equipamentos e sistemas de inteligência artificial. O campo para as iniciativas está aberto, impactando na transformação do cenário dos espaços urbanos coletivos e individuais. E cria novas atividades profissionais e empresariais. Porém, a expansão acelera, também, a avaliação sobre os impactos dos novos serviços e produtos. Além das oportunidades naturais, há os riscos para levar em conta.
Matéria publicada pelo site UOL revelou que, em São Paulo, um publicitário foi vítima de um golpe em que a imagem dele foi usada para a obtenção de um financiamento de um carro. Mesmo empresas de tecnologia, como a Amazon, questionam se o momento já é adequado para algumas aplicações. Em uma postagem no blog da empresa em junho de 2020, a Amazon anunciou que estava planejando uma moratória de um ano no uso de sua tecnologia por parte da polícia. A razão por trás disso foi aguardar até que as leis federais dos EUA entrassem em vigor, para proteger os direitos humanos e a liberdade civil.
Nos Estados Unidos, um grupo de 50 investidores que gerenciam mais de US$ 4,5 trilhões está convocando empresas de desenvolvimento e uso de tecnologia de reconhecimento facial, como Amazon e Facebook, a fazê-lo de maneira ética. O grupo, liderado pela gestora de ativos Candriam, divisão europeia da empresa norte-americana New York Life, afirmou em comunicado que a tecnologia pode infringir os direitos de privacidade de um indivíduo, dada a falta de consentimento dos identificados. E que muitas vezes não há supervisão oficial.
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Em resumo