Funções roteiras serão as primeiras a perder espaço no mercado de trabalho
Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro
O avanço das tecnologias, incluindo o poder da inteligência artificial, impulsiona o temor entre os humanos comuns em relação aos efeitos das inovações sobre o mercado de trabalho. Quem sobreviverá ao avanço das máquinas inteligentes e da informatização sobre as funções desempenhadas pelos funcionários de fábricas, comércio, fazendas e prestadores de serviços? A pergunta que ficava no ar até alguns dias atrás agora projeta sua sombra sobre o futuro da sociedade, que já experimenta hoje o cenário de aumento de desemprego.
O enigma sobre o futuro das profissões passa pela atenção à palavra rotina. Sabe aquela pessoa que diz que o trabalho dela é muito monótono? Todo dia faz tudo sempre igual? Pois é, ela tem bons motivos para se preocupar. Quanto mais fácil descrever alguma função por meio de um passo a passo, maior sua possibilidade de ser transformada em um programa de computador. É isso que a informática faz, no final das contas, ao lidar com comandos resumidos por “se” alguma coisa, “então” faça.
Certamente é necessário tomar cuidados com as generalizações. Em várias atividades, apenas algumas funções podem ser transferidas para sistemas automatizados ou robôs. Por exemplo, no jornalismo, a rotina de fechamento dos resultados das bolsas de valores já pode dispensar um jornalista humano. Basta conectar o jornal diretamente com o sistema do mercado de ações. Hoje, por sinal, já existem softwares, adotados por grandes veículos, capazes de produzir textos compreensíveis, com estilo.
Mas há atividades que poderiam ser até exercidas por robôs, mas que resistirão mesmo diante da constatação de que são permeadas pela rotinas. Exemplo: enfermeiros que, às duas horas da madrugada devem levar um remédio para o paciente José Silva. O funcionário recebe as instruções para retirar o remédio no balcão, ir ao quarto 1204, acordar o paciente, perguntar se está tudo bem, encher um copo de água, acordar o paciente, alertar sobre o remédio, entregar, perguntar se deseja mais alguma coisa, se está tudo bem etc etc. Um sistema automatizado faria o mesmo, com a ajuda de um robô? Sim, de olhos fechados. E o paciente, acharia melhor ser acordado e receber o remédio de uma máquina ou das mãos de um ser humano, capaz de se mostrar interessado em saber se ele está bem, se as cobertas estão suficientes?
Humanos farão diferença, constatam vários estudos desenvolvidos pelo mundo, por especialistas sinceramente interessados em descobrir o futuro do mercado de trabalho. Como um artigo publicado pela Harvard Business Review, que constata a sobrevivência de postos de trabalho que requerem habilidades humanas por excelência, como o poder de comunicação. Desde 1980, nos Estados Unidos, diz o documento, os empregos com altos requisitos de habilidades sociais têm experimentado maior crescimento relativo. Inclusive com ganho de renda superior em relação a outras funções.
A combinação de habilidades cognitivas e sociais faz a diferença para quem pretende sobreviver. Retornando ao caso do enfermeiro. Ele deve ser capaz de ir além da entrega eficiente do remédio. Algo como, reconhecer sinais faciais do paciente que denotem, por exemplo, um mal estar não explícito.