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Quanto as pessoas podem ganhar com a economia circular?

Para que se possa ganhar com a economia circular é necessário um novo mindset, no qual a sociedade precisa entender que ganhar não se limita a monetizar experiências.
Para que se possa ganhar com a economia circular é necessário um novo mindset, no qual a sociedade precisa entender que ganhar não se limita a monetizar experiências. Foto: divulgação

Marcelo Souza *

Apesar da pandemia da Covid-19 e da má distribuição de renda, a cada dia presenciamos o aumento da geração de riqueza, afinal somos criados em uma sociedade onde ganhar e ter representam o Santo Graal da felicidade, dinâmica muitas vezes expressa no ato de comprar. Contudo, esse comportamento não impediu que doenças emocionais como a depressão e ansiedade se multiplicassem até nas classes com maior poder aquisitivo.

Em geral, muitos compram aquele objeto dos sonhos e na semana seguinte já estão pensando em outra aquisição, assim alimentamos a economia linear e a receita de ouro da obsolescência programada. Ao contrário de experiências e momentos que podem nos marcar por toda uma vida toda. Por essa lógica, focada em ganhos e bens materiais, vimos também o conceito de ter um propósito ganhando cada vez mais relevância em nossos dias.

Agora o que tudo isso tem a ver com a economia circular? E qual a relação de ganho? São perguntas válidas e que representam muitos desafios para quem atua no dia a dia com economia circular, sendo explicar o conceito, falar sobre a importância e a urgência, alguns exemplos de obstáculos a serem superados diariamente.

Nesse sentido, é importante contextualizar os dois modelos para chegarmos em como as pessoas podem ganhar com a economia circular:

Economia linear

Estabelecida principalmente na era das revoluções industriais e de forma mais acentuada a partir do século XIX, acompanhamos a crescente oferta de produtos e bens de consumo, debruçados sobre o conceito da obsolescência programada, criada pelo presidente da General Motors, Alfred P. Sloan durante a década de 20, que trata-se do planejamento, pelo fabricante, do momento em que seu produto se tornará obsoleto ou não funcional, com o único propósito de forçar o consumidor a adquirir uma nova geração de equipamentos.

O que Sloan não se atentou foi que em 2050 seremos aproximadamente 10 bilhões de pessoas no planeta, consumindo e consumindo, de forma linear. Com o crescimento populacional e naturalmente o modelo linear precisando ser cada vez mais eficaz, para o atendimento da crescente demanda, o colapso do sistema que é pautado em extração, produção, uso e descarte, fica cada dia mais evidente.

Economia Circular

Propõe que todos deixem de consumir linearmente os diversos recursos disponíveis, reduzindo extração e perdas nos processo. Além de otimizar o uso dos materiais e fazer os produtos circularem mais e melhor pela sociedade, retornando os itens a novos ciclos, tudo isso com utilização de energia renováveis e aproveitamento de água, são alguns dos pilares desse novo e inteligente modelo. Como, por exemplo, optar pelo transporte coletivo para se locomover no lugar de comprar um veículo, é uma escolha que representa esse novo modelo econômico.

Fazemos parte dessa história. Para que se possa ganhar com a economia circular é necessário um novo mindset, no qual a sociedade precisa entender que ganhar não se limita a monetizar experiências, como temos na economia linear.

Quando mudamos nosso mindset e nossos hábitos de consumo, objetivando e usufruindo de produtos provenientes da economia circular existe o crescimento do sentimento de pertencimento, algo similar com o observado na pesquisa de Michael Norton sobre a felicidade que se pode ter com o dinheiro. Norton, professor e palestrante na renomada universidade de Harvard, juntamente com a professora de psicologia da University of British Columbia, Elizabeth Dunn, realizaram uma pesquisa em que distribuíram notas de 5 e 20 dólares aleatoriamente para estudantes e orientaram que parte do grupo deveria gastar o valor recebido consigo mesmo e a outra parte com terceiros.

No final da pesquisa, o grupo que gastou consigo mesmo mal se lembrava como o tinha feito, muitos com um simples café, mas a outra parte do grupo, tinha vivido uma sensação de gratidão e alegria por terem presenteado alguém. Assim, quando utiliza-se um produto que fomenta a economia circular sente-se uma sensação de pertencer a algo maior. Não estamos simplesmente ganhando, comprando e descartando, mas estamos coexistindo com o mundo, com o todo.

Saber que usamos um produto em casa que não possui pegada de carbono, não polui rios, não foi feito por trabalho escravo ou infantil e que economiza recursos naturais é obter um ganho intangível e não monetário, é ter a consciência e o sentimento de fazer de viver algo novo e em um mundo vivo. Isso é economia circular!


  • Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox , pioneira na reciclagem de refrigeradores com destruição dos gases do efeito estufa.

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