Iniciativa vai identificar o potencial econômico das iniciativas culturais
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
O projeto Mercado Brasil Criativo, que vai mapear o perfil socioeconômico e o potencial do segmento da economia criativa no Rio, foi lançado na quinta-feira, dia 14, no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro. A iniciativa é do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional) e do Instituto Alvorada Brasil, em parceria com o Sebrae-RJ.
O projeto já foi lançado no Distrito Federal e está em andamento em Salvador (BA), informou a pesquisadora Elizete Ignácio, coordenadora regional do projeto Mercado Brasil Criativo no Rio de Janeiro. Em seguida, a iniciativa será lançada em Belo Horizonte.
O fórum de lançamento no Rio reuniu representantes de 25 setores da economia criativa, entre eles agentes culturais, publicitários, fotógrafos, chefes de gastronomia, que vão definir, por meio de questionários, os setores considerados fundamentais para o desenvolvimento do estado. Essas pessoas terão entre 15 e 20 dias para responder às questões formuladas. “A partir daí, a gente dá prioridade a cinco ou seis setores. É feito um estudo qualitativo com os setores considerados prioritários”, disse Elizete.
Paralelamente, será feito um estudo sobre o que já existe em termos de produção nessa área. Devido à realização da Olimpíada e da Paralimpíada, o projeto será interrompido no final de julho até setembro, retomando então a aplicação de questionários para preparar a pesquisa quantitativa. A conclusão do projeto está prevista para dezembro, quando os resultados do Rio de Janeiro serão repassados ao Sebrae Nacional, que reunirá os dados obtidos de todas as praças em uma publicação.
Elizete Ignácio destacou que a economia criativa é importante para o desenvolvimento de todos os países. O debate começou na Austrália, onde o conceito de economia criativa surgiu com base no termo indústrias criativas, inspirado no projeto Creative Nation, em 1994. O conceito foi difundido depois na Inglaterra, que começou a perceber o valor da criatividade e da inovação como formas de desenvolvimento econômico. “Na Inglaterra, a economia criativa é trabalhada como uma área transversal a todas as indústrias, porque se acredita que todas as indústrias têm setores criativos”, disse a pesquisadora.
No Brasil é seguido o modelo definido pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que lista os setores que têm mais proximidade com a ideia de criatividade e que geram valor, principalmente por meio da propriedade intelectual e do direito autoral. “A partir desse conceito macro, cada instituição que está lidando com a questão da economia criativa no Brasil desenha quais são os setores que ela vai trabalhar”.
Elizete lembrou que as oportunidades da economia criativa para o desenvolvimento trazem embutida a característica do brasileiro de ser empreendedor e buscar sempre formas inovadoras de lidar com os problemas. Acrescentou que isso não era observado anteriormente, porque o país tinha um olhar muito forte para a indústria tradicional. A economia criativa faz esse diálogo e mostra, hoje, que segmentos como a cultura, por exemplo, podem e devem ser vistos como vetores econômicos de geração de renda, de desenvolvimento, de emprego.
Artesanato formal
Estudo feito pela pesquisadora revela que em 2013, só no setor formal, o artesanato brasileiro gerou R$ 505 milhões em renda, em massa salarial. “Isso é equivalente ao emprego de 39 mil artesãos no Brasil inteiro. Mas a gente sabe que o Brasil tem um número bem maior de artesãos”. Uma abordagem macro indica que estão cadastrados como microempreendedor individual 93 mil artesãos. “Fazendo uma regra de três simples, dá uma massa salarial individual de cerca de R$ 1,3 mil mensais e para os 93 mil, a gente teria mais de R$ 1 milhão de massa salarial no artesanato”, comentou.
Considerando os artesãos que trabalham no país de maneira informal, cujos números não se consegue registrar, o resultado deve ser muito mais amplo, estimou. Elizete Ignácio afirmou que a economia criativa tem essa característica de trabalho informal não só no Brasil, mas em todo o mundo, com um controle mais difícil em relação à transferência dos recursos. “Mas isso não significa que o dinheiro não circula”.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estimam que o segmento de economia criativa movimenta no Brasil entre 1,2% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços produzidos no país, respondendo por 1,5% da massa salarial e por 2% da mão de obra empregada. Outra pesquisa, feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), prevê que o setor formal da economia criativa respondeu por 2,5% do PIB brasileiro em 2013.