CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro
Durante a semana, o Google Trends, sistema de identificação dos interesses dos usuários do sistema de busca, identificou um aumento repentino da demanda por assuntos relacionados com o livro “Conto da Aia”. O interesse pode ser identificado, também, em comentários registrados em redes sociais, em podcasts e programas no Youtube.
Título da lista das publicações distópicas, com versão para a televisão fechada, a ficção de um futuro próximo relata a vida em Gilead, ex-Estados Unidos, depois da tomada de poder por uma religião cristã fundamentalista, denominada “Filhos de Jacó”. Quem narra é Offred, uma aia, ou seja, uma serva de famílias poderosas, que descreve a nova organização social.
Na república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes – tudo fora queimado. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos.
Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado. Offred, a narradora da história, integra a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar.
E DAÍ
Os acontecimentos políticos recentes no Brasil e no mundo coincidem com o crescimento das buscas por livros tipicamente distópicos, com destaques para as citações sobre o “Contos da Aia”.
No Brasil, razões religiosas e morais justificaram, durante a semana, a aceleração de projetos que restringem os direitos das mulheres em relação aos próprios corpos, com a criminalização do aborto. Em Israel, o fundamentalismo religioso está por trás do genocídio do povo palestino. Na Europa, cresce a influência da extrema-direita, moralista, preconceituosa e religiosa.
No momento em que as democracias estão correndo risco por todos os lados do planeta, as buscas no Google mostram porque “Conto da Aia”, lançado em 1985, um best-seller da literatura e da TV, volta a gerar interesse dos internautas. Não é um fenômeno local, como mostra o gráfico abaixo.
TENDÊNCIAS
A busca por temas distópicos reflete em parte a preocupação da população diante dos impactos dos acontecimentos sobre o futuro. Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha, em setembro de 2023, mostrou que mais da metade dos brasileiros apresenta sentimentos negativos em relação ao Brasil. Cerca de 61% da população afirmou estar triste, desanimada, insegura e com medo do futuro do país. A pesquisa ainda apontou que apenas 50% dos brasileiros se sentem tranquilos, enquanto 45% sentem raiva em relação à situação brasileira.
Em resumo