Tendo em vista que o pagamento por QR Code não exige smartphones caros, a tendência é que ocorra uma grande inserção do público de baixa renda nas operações
*Por Rodrigo Petroni
A pandemia do novo coronavírus tem acelerado a adesão de novos meios de pagamentos no país. Se por um lado os brasileiros têm usado o dinheiro físico com menos frequência para evitar que alguma cédula contaminada toque as mãos, dando espaço para os pagamentos por aproximação, por exemplo, por outro, em decorrência das dezenas de shows digitais que estão sendo transmitidos ao vivo pelo Youtube nessa quarentena, a sociedade passou a criar uma certa familiaridade com o QR Code e as carteiras digitais, que realizam transações financeiras com praticidade, agilidade e segurança.
Com a chegada do Pix, ferramenta de pagamentos instantâneos do Banco Central do Brasil (Bacen) marcada para novembro, o mercado financeiro vai passar por uma mudança ainda mais significativa, já que o sistema vai permitir que pagadores e recebedores movimentem o seu dinheiro online para toda e qualquer entidade, empresa e pessoa física cadastrada em até dez segundos, 24 horas por dia, sete dias da semana – inclusive feriados – e com baixo custo. Esse método de pagamento exigirá apenas dados como o telefone, e-mail, CPF ou CNPJ do destinatário ou a leitura de QR Codes pelos smartphones.
Como os novos métodos de pagamentos dependem apenas de um dispositivo móvel, acredito que a inclusão financeira será o próximo efeito da Covid-19 por aqui. E já existem dados que vão na direção do meu pensamento: de acordo com um estudo sobre m-Commerce e m-Payment feita pelo Panorama Mobile/Opinion Box – conjunto de pesquisas periódicas sobre hábitos dos brasileiros no consumo de conteúdos e serviços móveis – em agosto, o número de pessoas que realizaram compras ou pagamentos via celular aumentou de 85% para 91% entre aqueles que acessam a internet pelo aparelho.
O levantamento citado também apurou que, em relação aos meios de pagamento, o QR Code foi utilizado por 48% dos consumidores, ou seja, o mobile payment deixou de ser uma promessa e hoje já é realidade. Faço ainda uma outra observação: tendo em vista que o pagamento por QR Code não exige smartphones caros, a tendência é que ocorra uma grande inserção do público de baixa renda nas operações, uma vez que a quantidade de fintechs que oferecerem esse tipo de pagamento ao custo muito inferior, é enorme.
Vejo que a mobilidade urbana precisa se modernizar e acompanhar as tendências do mercado para poder evoluir. Oferecer novos métodos de pagamento nos ônibus, metrôs e CPTM é de fundamental importância. Atualmente, os usuários de transporte público perdem muito tempo em filas para compra ou recarga de bilhetes e com a disseminação do pagamento por QR Code os trabalhadores teriam mais facilidade no dia a dia e ganhariam tempo para se deslocar pela cidade. A tecnologia é uma solução mais democrática e atende a todos, sem distinção.
O nosso país conta com 45 milhões de pessoas que não mexem na conta bancária há mais de seis meses ou que optaram por não ter conta em banco, mas que movimentam cerca de R$ 800 bilhões anualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles serão os grandes beneficiados dos métodos de pagamento que desburocratizam trâmites bancários e rompem barreiras. O Brasil estava precisando dessas mudanças para poder progredir. O caminho ainda é longo, mas demos o primeiro passo.
- Rodrigo Petroni é CEO e cofundador da UPM2, startup paulista que oferece soluções de mobile payment para desburocratizar transações por meio de QR Code.
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