Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Uma biomassa obtida através de levedura (da indústria cervejeira) e bagaços de uva (resultantes da produção de vinho) foi desenvolvida pela então aluna do curso de mestrado em Tecnologia de Alimentos (PPGTA) do Campus Campo Mourão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Fernanda Thaís Vieira Rubio, sob orientação dos professores do Departamento de Química e Biologia (DAQBi) do Campus Curitiba, Charles Windson Isidoro Haminiuk e Giselle Maria Maciel. O grupo de pesquisa começou a trabalhar com compostos bioativos em leveduras em 2013.
“Desde os primeiros estudos, foi percebido o grande potencial da técnica de biossorção para o enriquecimento do material biológico e para a produção de uma biomassa de leveduras com características antioxidantes”, explica Fernanda.
Segundo a aluna, a levedura foi lavada diversas vezes até que os resíduos de cerveja fossem completamente removidos e, depois, foi seca e tratada com hidróxido de sódio. Os bagaços de uva foram secos e moídos, obtendo-se um pó.
“Depois da obtenção desses materiais, foi feita a extração dos compostos fenólicos (antioxidantes naturais) dos bagaços de uva e, por fim, a biossorção dos compostos nas leveduras tratadas. A biossorção é uma técnica bastante simples e barata pela qual é possível reter compostos em um material biológico”, destaca a pesquisadora.
Outra vantagem da composição está relacionada aos estudos de simulação do sistema digestivo. Em uma simulação in vitro da digestão de leveduras antes e depois do processo de biossorção foi notado que, após a digestão, a levedura tratada apresentou atividade antioxidante 196% maior comparada à levedura sem tratamento. Além disso, a bioacessibilidade dos antioxidantes (parcela de antioxidantes disponíveis para absorção pelo organismo humano) em biomassa tratada foi 147% maior que a bioacessibilidade dos antioxidantes em levedura sem tratamento.
Os pesquisadores ainda destacam que a biomassa modificada e enriquecida apresenta um papel importante na preservação da capacidade antioxidante e na bioacessibilidade de compostos mesmo após uma digestão in vitro, o que aponta o produto como importante sistema de liberação de compostos no organismo para absorção.
“O consumo da levedura de cerveja Saccharomyces cerevisiae não é novidade, pois é amplamente utilizada como suplemento e também em formulações alimentícias. Portanto, seria facilmente aceita. Agora, além dos nutrientes encontrados na levedura, tais como proteínas, fosfolipídios e vitaminas do complexo B, ainda teria o adicional de apresentar antioxidantes naturais. O produto gerado pode ser utilizado não só em aplicações alimentícias, como também em formulações cosméticas e farmacêuticas”, ressaltam os pesquisadores.
Com os resultados, a pesquisa “Processo de obtenção de biomassa de Saccharomyces cerevisiae enriquecida com compostos fenólicos, por biossorção e modificação de leveduras, e produto obtido” obteve, em abril deste ano, a carta patente nº BR 102017015559-5, emitida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi).
A obtenção do registro de patente demonstra a importância da pesquisa, já que, anteriormente, não havia registro de biomassa de leveduras Saccharomyces cerevisiae modificada com hidróxido de sódio e enriquecida com compostos fenólicos ou antioxidantes pelo processo de biossorção.
Por ser um processo em que a técnica ainda contribui para o meio ambiente, já que reaproveita os resíduos industriais, o pedido foi enquadrado no programa “Patentes Verdes”, relacionado a tecnologias voltadas à preservação dos recursos naturais. Dentre os pedidos depositados pelo Campus Campo Mourão, trata-se da primeira patente de invenção concedida pelo Inpi.
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