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Para entender o futuro: preste atenção nos jogos de interesse

São os jogos de interesse que definem os principais acontecimentos da sociedade global

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro

Quem não suspeita que a falta de interesse da indústria em eliminar seus balcões de negócios impede a chegada de alguns remédios ao mercado? Quem não imagina que algumas doenças poderiam ter cura? Quem duvida que a lentidão da justiça em punir algumas pessoas e a rapidez em penalizar outras tem uma razões que a razão não desconhece? Por que as guerras continuam a existir pelo mundo? Por que a imprensa se cala sobre atrocidades e a injustiça da sociedade moderna? Por que certos ditadores não são apresentados como ditadores, apesar de todas as atrocidades cometidas. Por que genocídios não são tratados como genocídios e certas mortes banais ganham destaque especial no noticiário?

Por trás das perguntas, as respostas sempre chegam a uma resposta única. No mundo, há donos do poder. Grupos econômicos, políticos, sociais e religiosos que podem tudo. E que são determinantes na construção de futuros. Ao analisar conjunturas complexas, desvendar os interesses em jogo é como desvendar um labirinto. Cada ator, seja ele indivíduo, grupo organizado ou instituição, carrega consigo motivações, objetivos e agendas próprias. Compreender cada uma das forças dos atores é crucial para uma análise completa e perspicaz sobre acontecimentos presentes e distantes no tempo.

Crimes corporativos

Em 2016, o médico dinamarquês Peter Gotzsche comparava, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a indústria farmacêutica ao crime organizado. Ele considera o setor como uma ameaça ao desenvolvimento de uma medicina segura. “Isso é fato, não é acusação. A indústria sabe que determinada ação é errada, mas continua fazendo de novo e de novo. É o que a máfia faz. Esses crimes envolvem práticas como forjar evidências e fraudes”, afirmou na entrevista.

“A indústria farmacêutica na realidade não quer curar ninguém, e por um motivo bastante simples e direto: a cura é menos rentável do que a doença”, garantiu, mais recentemente,  o bioquímico e biólogo molecular inglês Sir Richard J. Roberts, vencedor do prêmio Nobel de medicina. Ele reconhece que as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas.

Para o Nobel de medicina, a indústria de remédios prioriza a receita, os resultados para os seus acionistas. Por isso, pesquisas, de repente, são desviadas para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crônica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação”. No início da década atual, médicos davam como certa a perspectiva de cura para doenças como o Alzheimer e alguns tipos de câncer. Ainda hoje, as promessas não se concretizaram.

Questão de método

Um profissional envolvido com análises de tendências, seja um jornalista, gestor da área de marketing, um planejador ou um futurista, comete sérios equívocos éticos ao não levar em conta a força dos atores envolvidos em suas narrativas. Aliás, na imprensa comercial, a superficialidade da cobertura de eventos locais e globais é uma estratégia. Dominado atualmente pelo sistema financeiro, jornalismo tradicional tem lado. Grupos de comunicação são empresas privadas, com placas na porta onde definem a missão de defesa da livre iniciativa. Têm lado.

Assim como consultores e futuristas, jornalistas se deixam levar pelo discurso superficial e generalista de relatórios sobre megatendências, sem destacar as disputas envolvidas no contexto de mercados e da sociedade.

Por exemplo, os avanços da robótica e da automação devem levar em conta relações de poder, mais do que os avanços das tecnologias. As tecnologias estão disponíveis e suficientemente avançadas para a disseminação. Mas, no final das contas, o que já retarda e tende a manter lenta a adoção das inovações é o fato de que, no caso brasileiro, a mão de obra barata, no ambiente de alto desemprego e queda da renda global, tende a ser uma garantia de preservação dos postos de trabalho para humanos.

Um trabalho bem feito de análise envolve a listagem e identificação de cada um dos atores e a classificação em grupos, para possibilitar a avaliação da correlação de forças. Leva em conta grupos econômicos, políticos e sociais. Podem existir grupos numericamente grandes, mas com pouco poder de influência. E o inverso é verdadeiro, umas poucas pessoas com grande força econômica ou política, capazes de definir o sucesso de um produto ou os rumos de um país.


Correlação de Forças: Desvendando a Dinâmica Social e Política

A correlação de forças é um conceito crucial para entender a dinâmica social e política, especialmente em momentos de transformação ou conflito. Ela representa a distribuição de poder entre diferentes grupos e setores da sociedade, influenciando decisões, ações e outcomes.

Desvendando os Fatores em Jogo:

Para desvendar a correlação de forças, diversos fatores devem ser considerados:

  • Atores sociais: quem são os envolvidos (indivíduos, grupos, classes sociais, instituições)? Quais seus interesses, recursos e capacidades?
  • Relações de poder: como se distribui o poder entre os atores? Há hierarquias, assimetrias ou dominação?
  • Mobilização social: qual a capacidade de cada ator de se organizar e mobilizar seus recursos?
  • Ideias e valores: quais são as ideias e valores que orientam cada ator e a sociedade como um todo?
  • Contexto histórico: qual o contexto histórico e social em que o acontecimento se desenrola?

Identificando a Correlação de Forças em Ação:

1. Análise de casos recentes:

  • Eleições recentes no Brasil: a correlação de forças entre diferentes projetos políticos foi fundamental para o resultado das eleições desde a década passada. A polarização política, a ascensão do bolsonarismo e a fragmentação da oposição influenciaram o processo eleitoral.
  • Manifestações contra Bolsonaro: as mobilizações contra o governo Bolsonaro em 2021 e 2022 demonstram a capacidade de organização e pressão popular, mesmo em um contexto de forte repressão.
  • Greve dos caminhoneiros em 2022: a greve dos caminhoneiros evidenciou a força desse setor na economia brasileira e sua capacidade de pressionar o governo.

2. Ferramentas de análise:

  • Análise de discurso: permite compreender as relações de poder presentes nas comunicações dos diferentes atores.
  • Mapeamento de redes: identifica os principais atores e suas relações, mostrando a estrutura de poder.
  • Análise quantitativa: quantifica dados como número de participantes em protestos, votos em eleições, etc., para avaliar a força dos diferentes grupos.

Importância da Compreensão da Correlação de Forças:

Compreender a correlação de forças é fundamental para:

  • Analisar a dinâmica social e política: entender as relações de poder, os conflitos e as transformações sociais.
  • Desenvolver estratégias de ação: definir ações e projetos com maior probabilidade de sucesso, considerando as forças em jogo.
  • Promover mudanças sociais: identificar oportunidades para fortalecer grupos subalternos e alcançar seus objetivos.

Compreender a correlação de forças é um processo dinâmico e exige análise crítica e constante dos diferentes contextos e acontecimentos. Através dessa análise, podemos construir um futuro mais justo e democrático.

A correlação de forças não é estática, mas está em constante mudança, sendo influenciada por diversos fatores. A análise crítica e a constante atualização de informações são essenciais para acompanhar essa dinâmica.

Tipos de Interesses:

1. Interesses Individuais:

  • Ambição pessoal: Busca por poder, status, reconhecimento ou riqueza.
  • Ideologia e crenças: Defesa de valores, princípios ou convicções pessoais.
  • Sobrevivência e segurança: Busca por proteção física, econômica ou social.
  • Realização pessoal: Desejo de alcançar objetivos, metas ou sonhos individuais.
  • Emoções e sentimentos: Raiva, medo, frustração, esperança ou amor podem influenciar decisões.

2. Interesses Grupais:

  • Coesão e identidade: Fortalecimento de laços entre membros do grupo.
  • Benefícios e vantagens: Busca por recursos, oportunidades ou privilégios para o grupo.
  • Preservação da cultura e tradição: Manutenção de costumes, valores e práticas do grupo.
  • Influência e poder: Ampliação da capacidade de influenciar decisões e políticas.
  • Justiça social e igualdade: Busca por direitos iguais e oportunidades justas para o grupo.

3. Interesses Organizacionais:

  • Lucro e crescimento: Maximização dos lucros, expansão da empresa ou aumento da participação no mercado.
  • Estabilidade e segurança: Manutenção da reputação, da imagem e da viabilidade da organização.
  • Inovação e competitividade: Desenvolvimento de novas tecnologias, produtos ou serviços para se destacar no mercado.
  • Influência e poder político: Buscar leis, políticas ou regulamentações favoráveis à organização.
  • Responsabilidade social e ambiental: Adoção de práticas sustentáveis e compromisso com o bem-estar da sociedade.

Desvendando Interesses em Diferentes Contextos:

1. Disputas Eleitorais:

  • Ideologia e plataforma política: Defesa de propostas e ideias para o futuro do país.
  • Apoio de grupos de interesse: Busca por coligações, financiamentos e votos de diferentes setores da sociedade.
  • Imagem pública e influência: Construção de uma imagem positiva e conquista da confiança do eleitorado.
  • Manutenção do poder: Preservação de cargos, privilégios e influência política.
  • Interesses de grandes doadores: Influência de empresas, grupos de pressão ou financiadores de campanhas.

2. Negócios:

  • Lucratividade e crescimento: Maximização dos lucros, expansão da empresa e aumento da participação no mercado.
  • Redução de custos e otimização: Busca por eficiência, redução de despesas e aumento da produtividade.
  • Desenvolvimento de novos produtos e serviços: Criação de soluções inovadoras para atender às necessidades dos clientes.
  • Competitividade no mercado: Busca por vantagens competitivas e liderança em seu setor.
  • Sustentabilidade e responsabilidade social: Adoção de práticas sustentáveis e compromisso com o bem-estar da sociedade.

3. Sociedade:

  • Justiça social e igualdade: Busca por direitos iguais e oportunidades justas para todos.
  • Acesso a serviços básicos: Educação, saúde, segurança e moradia de qualidade para todos.
  • Segurança pública e combate à criminalidade: Redução da violência e proteção da população.
  • Preservação do meio ambiente: Sustentabilidade ambiental e combate às mudanças climáticas.
  • Democracia e participação social: Fortalecimento das instituições democráticas e participação popular nas decisões.

Ferramentas para Desvendar Interesses:

  • Análise de discurso: Identificação de motivações e objetivos por meio da linguagem utilizada.
  • Mapeamento de stakeholders: Identificação e análise dos diferentes atores envolvidos em uma conjuntura.
  • Análise de mídias sociais: Monitoramento de debates, opiniões e sentimentos online.
  • Entrevistas e pesquisas: Coleta de informações com diferentes atores para entender suas perspectivas.
  • Análise de dados: Levantamento e análise de dados quantitativos para identificar padrões e tendências.

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