A pandemia de covid-19 tem impacto positivo no tráfego de redes, nos serviços baseados em nuvem e conteúdo, que representam oportunidades para o mercado B2C e B2B, e o “novo normal” vai acelerar o processo de transformação digital das empresas na América Latina, colocando as comunicações em um papel central. Apesar disso, o mercado de telecom na América Latina deve enfrentar uma desaceleração de US﹩ 4,3 bilhões.Esse foi o cenário apresentado por Luciano Saboia, gerente de Telecomunicações da IDC Brasil, em webinar realizado na quinta-feira, 7 de maio.
Segundo ele, telecom é um serviço essencial e existem outras despesas que as empresas vão cortar antes dos serviços de telecomunicações. “Há, inclusive, grande preocupação em empenhar equipes e fazer com que a qualidade permaneça. Mas a capacidade de geração de receita está diretamente associada ao desempenho econômico dos países e de quando e como sairão da crise”, explica.
Por hora, estudos da IDC indicam que 39% das empresas no mundo devem investir mais no mercado de telecom em 2020, mesmo em situação de pandemia. Já 25% afirmam que a covid-19 não causará impacto nos investimentos e 36% devem reduzir seus investimentos no setor. Na América Latina, 35% das empresas vão investir mais com a pandemia, 22% acreditam que não haverá impacto em seus investimentos e 43% devem reduzir os gastos em telecomunicações.
Neste período de quarentena, o aumento do tráfego foi de 30% em redes fixas e 10% em redes móveis, de forma geral dividido em 67% por consumidores e 33% por empresas. No mercado B2B, haverá renegociação de contratos com empresas e flexibilização de pagamentos, principalmente em serviços que envolvam canais digitais residenciais. “Em setores essenciais, está havendo uma readequação da infraestrutura e o uso de plataformas de inteligência para monitoramento da concentração de usuários”, aponta Saboia.
Impactos sobre 5G
No Brasil, os impactos da crise chegam até aos planos de implementação do 5G. “A previsão para o mercado é de suspensão de testes da rede 5G, adiamento do leilão devido ao cenário econômico, mas com implementação da tecnologia prevista para o primeiro trimestre de 2021”, prevê o gerente da IDC. Nos serviços de telecomunicações, os impactos positivos são: aumento no tráfego das redes de dados de cerca de 40%, adoção de serviços não tradicionais, como cloud e soluções de comunicação e colaboração, e aceleração do teletrabalho.
Já os impactos negativos são a paralisação de projetos e a receita média do cliente (ARPU) de rede móvel e fixa. “Durante o isolamento social a banda larga é uma possibilidade de entretenimento familiar, de estudar e desempenhar atividades remotamente em regime de home office. No Brasil, para aqueles que não possuem o serviço de banda-larga em suas casas, os smartphones são a única oportunidade de interface digital, até mesmo para receber os auxílios do governo, o que reforça a importância do setor e dos serviços de telecomunicações”, explica Saboia.
Na Argentina, os impactos positivos nos serviços de telecomunicações e o cenário do 5G são parecidos com o do Brasil. Já os impactos negativos devem envolver o adiamento de projetos de obras civis e instalações complexas, e a receita média do cliente (ARPU), principalmente em planos pós-pagos, e a suspensão de linhas.
Já o México está mais avançado em relação ao 5G por já ter realizado testes em áreas urbanas em outubro de 2019. Os impactos positivos em relação aos serviços de telecomunicação no país são: aumento no tráfego em redes de banda larga fixa entre 15 e 30%, conexões sendo feitas direto na nuvem e operadores capturando oportunidades de soluções de colaboração, comunicação e segurança administrada.
Projeções para os próximos anos
A IDC prevê que até 2023 o tráfego de dados em redes fixas deve aumentar 10,8%, enquanto em redes móveis, 29,2%. Para 2025, a expectativa é de que a quantidade de dados para dispositivos de IoT seja quintuplicada. “70% do tráfego serão gerados por câmeras, drones, sistemas de navegação, dispositivos de saúde, entre outros”, afirma o gerente da IDC Brasil.
Para os operadores de TI, a IDC afirma que as oportunidades estão em soluções de segurança, segmento que deve continuar forte até o final deste ano, com demandas de atualização da infraestrutura, de monitoramento de aplicativos críticos, implementação de soluções de SD-WAN, integração e proteção de pagamentos digitais, soluções de autenticação, entre outras. Soluções de comunicação e colaboração também são oportunidades para os operadores de TI e a adesão desses serviços deve aumentar 53% neste ano.
Luciano Saboia lembra que o mercado de telecom vive um movimento pendular desde a década de 60, intercalando entre arquiteturas centralizadas e distribuídas. “Hoje, edge computing proporciona consumo de serviço de cloud e aplicações de baixa latência, que podem ser exploradas e utilizadas combinando serviços com processamento de informações”, explica.
Segundo o executivo, a situação atual aumenta ainda mais a necessidade de diminuir a latência, pois os clientes estão necessariamente utilizando mais o canal digital para consumir produtos e serviços. “Como exemplo, em serviços de cloud privada on-premise e edge cloud a latência é baixa, mas o primeiro tem alto custo, escalabilidade limitada e é difícil de usar como serviço, já o segundo tem custo menor, maior escala e é mais flexível, permitindo o uso como serviço. De maior latência existe a cloud pública, que tem baixo custo, a mais alta escalabilidade, flexibilidade e permite o uso como serviço”, aponta.
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