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Pandemia cria oportunidade de visualização de variáveis do futuro da mobilidade urbana

A pandemia, por meio de bloqueios e outras restrições de movimento, mudou o fluxo das cidades quase da noite para o dia, e introduziu novas variáveis para projetos de mobilidade. Foto: Pixabay - pessoas de máscara atravessando a rua.
A pandemia, por meio de bloqueios e outras restrições de movimento, mudou o fluxo das cidades quase da noite para o dia, e introduziu novas variáveis para projetos de mobilidade.

Carlos Teixeira

A pandemia introduziu novas varáveis nos projetos de planejamento de mobilidade urbana em desenvolvimento no mundo. Uma oportunidade para pensar o futuro das cidades em outras condições de uso. Nas experiências sobre a gestão de espaços urbanos, a busca por soluções de mobilidade para o futuro passou pelo mesmo processo que atingiu vários setores, como os laboratórios da indústria farmacêutica. Projetos prioritários perderam sentido, pelo menos provisoriamente, enquanto a humanidade busca soluções para os problemas mais urgentes provocados pelo covid-19.

Em artigo publicado no site “The Business of Society“, a dinamarquesa Isabel Froes, pesquisadora de interação e designer de serviços e pós-doutora em ciências, salienta que “a pandemia, por meio de bloqueios e outras restrições de movimento, mudou o fluxo das cidades quase da noite para o dia”. De fato, até já convivemos com as cidades em períodos de férias escolares e final de ano, quando o fluxo do trânsito cria um alívio nos engarrafamentos cotidianos. Agora, está sendo diferente para os laboratórios de mobilidade urbana. “Pela primeira vez, desde o amplo desenvolvimento da cidade, focado nos automóveis, as cidades tiveram a chance de olhar para seus espaços públicos agora vazios e repensar seu uso e propósitos”, ressalta Isabel Froes.

Especialmente em localidades onde o isolamento é levado mais a sério, as mudanças forçaram os projetos de mobilidade a uma parada repentina, pois o envolvimento das pessoas com os espaços urbanos tem sido muito limitado. No entanto, enquanto espaços físicos de trabalho, lojas e muitas empresas fecham suas portas, com cidadãos principalmente em casa, as cidades encontram uma oportunidade sem precedentes de repensar o fluxo de movimentação das pessoas.

Experiências

O artigo publicado reforça o fato de que os desafios são imensos, já que as cidades são sistemas difíceis e complexos. Com suas políticas, distribuição e rotas definidas, as localidades oferecem espaço limitado para experimentação, com um limite baixo para qualquer tipo de interferência em seu fluxo regular. Neste contexto de ambientes dinâmicos, diz Isabel Froes, testar e prototipar na área urbana, além de lidar com procedimentos regulatórios, requer indicações claras do impacto positivo que esses testes podem trazer. Assim, qualquer mudança nos fluxos de rotina é perturbadora e não necessariamente bem-vinda por todos. Algo visível, por exemplo, quando uma cidade, como São Paulo, no Brasil, implanta infraestrutura para trânsito de bicicletas e o prefeito sobre uma enxurrada de críticas.

Com experiências concretas, de quem está envolvida com iniciativas importantes na Europa, Isabel Froes ressalta que algumas dessas dificuldades tornaram-se explícitas durante os processos realizados por várias cidades em quatro projetos de localidades financiadas pela União Européia — Cities-4-People, Sunrise, MUV e Metamorphosis. “Esses projetos reuniram cidadãos e outras partes interessadas da cidade para identificar e co-criar soluções e abordagens de mobilidade para lidar com os problemas locais.”

Cada projeto teve um objetivo distinto, mas todos fazem parte da iniciativa CIVITAS, focada no “planejamento sustentável da mobilidade de vizinhança” e estão em execução desde 2017, com três deles terminando em 2020 e outro em 2021. No caso das cidades Cities 4 People, operando nas cidades de Hamburgo, Istambul, Oxford, Trikala e Budapeste, cidades, cidadãos e autoridades de transporte trabalharam em conjunto para co-criar e implementar soluções que abordam congestionamentos, estacionamento de bicicletas, rotas seguras e novas para chegar ao transporte público e muito mais.

Convivendo com as rotinas comuns às grandes cidades, uma das maiores dificuldades dos pesquisadores na implantação de protótipos urbanos lida com permissões, compartilhamento de espaço, fechamento de partes de uma rua inteira ou calçada, alteração de rotas de tráfego etc. Segundo a especialista, “mesmo ao implementar aspectos que os cidadãos consideram valiosos e benéficos, como bicicletários, ciclovias, durante a construção, esses processos tendem a ser percebidos como um incômodo. Outro aspecto decorre do fato de que, a menos que seja planejada uma cidade ou bairro totalmente novo, a cidade, como tela, nunca fica em branco. Portanto, as cidades são constantemente obrigadas a desenvolver soluções, que são impostas sobre uma grade existente e fixa, com muito pouco espaço de manobra.

“Tudo era verdade. Até março de 2020”, reforça a especialista. Um dos principais méritos do artigo é de colocar em pauta a possibilidade de visualizar o futuro. A realidade acelerada pela pandemia coloca em evidência, por exemplo, que a mobilidade urbana pode ser afetada pelo trabalho em casa, algo que tenderia a ser adotado com maior frequência nos próximos anos. Ou a reestruturação de funcionamento das escolas, com adoção de experiência de aulas a distância. Nestes casos, o isolamento oferece a oportunidade de entender o que vem por aí.

Isabel Froes espera que, quando alguns dos projetos desenvolvidos antes da pandemia forem retomados em alguns meses, suas cidades e cidadãos poderão ter mudado. No entanto, em vez de considerar os dados que foram coletados nos projetos anteriores ao bloqueio como ‘desatualizados’ ou não mais válidos, esses projetos podem considerar redirecionar esses dados, usando-os como uma linha de base robusta para ser comparada com o bloqueio posterior. Do ponto de vista da mobilidade, esse ‘novo normal’ pode se provar um valioso ativo de mobilidade. À medida que as pessoas retornam às ruas, elas podem experimentar esses espaços conhecidos em novos formatos, encontrando novos padrões de mobilidade, onde pessoas e empresas podem repovoar as ruas de maneira diferente, reconfigurando os fluxos da cidade.

Além disso, algumas dessas mudanças temporárias podem vir a ser populares e se tornar permanentes, promovendo não apenas uma melhor mobilidade, mas também diminuem a poluição e melhoram a qualidade do ar [6] , ajudando indiretamente as cidades a saltarem para alcançar alguns de seus objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). A oportunidade de restaurar os centros urbanos movimentados é rara; no entanto, como ocorreu e continua ocorrendo com a pandemia, mais cidades e cidadãos têm a chance única de envolver e explorar a tela de suas cidades de novas maneiras para aproveitar seus dias.

Em resumo

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