Francisco Júnior*
A mobilidade urbana é um tema atual e preocupante. Cada vez mais o assunto ganha repercussão e protagonismo entre os líderes mundiais e os cidadãos, que são os principais envolvidos nessa complexa questão. O assunto é tão sério que o governo brasileiro tem um programa denominado Avançar Cidades, com mais de R$ 11 bilhões em financiamentos destinados às ações de mobilidade para melhorar o sistema viário e de transporte público urbano não motorizado.
O trânsito caótico das cidades gera prejuízos gigantescos, tanto com relação ao tempo dos deslocamentos quanto ao gasto dos combustíveis. Como se não bastassem tais custos, o trajeto entre casa-trabalho-casa acaba tendo desdobramentos psicológicos graves que certamente influenciam no cotidiano das pessoas.
Segundo dados da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), divulgados no ano passado, e também baseado na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017 – 2018 do IBGE, o gasto com transporte dos brasileiros já é mais oneroso que as próprias despesas com alimentação. Para se ter ideia, o custo socioeconômico da mobilidade urbana, partindo de levantamentos de 2016, foi estimado em R$ 483,3 bilhões anuais, sem falar no passivo ambiental que os veículos automotores geram.
De acordo com estudo elaborado pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), a partir de dados da PNAD/IBGE e Ministério do Trabalho e Emprego em 2012, apenas em tempo perdido foram R$ 111 bilhões que deixaram de ser produzidos na economia do País. Emissão de poluentes, acidentes de trânsito, poluição sonora e estresse são alguns dos exemplos.Essa triste situação deixa claro que o Brasil investiu muito mais no modelo individualista de transporte do que no coletivo. Basta ver que a construção das vias e rodovias sempre tiveram em primeiro lugar na preferência dos governantes.
Ciclovias e ciclofaixas fazem parte da arquitetura dos grandes centros urbanos há pouco tempo, e o total de quilômetros implantado ainda está muito aquém da necessidade dos usuários. E como, por exemplo, incentivar que as pessoas se desloquem a pé se as calçadas são danificadas, malconservadas e, em alguns trechos, elas sequer existem?
As campanhas educativas de incentivo ao uso de bicicletas, patinetes e até os deslocamentos a pé, não são antigas e precisam ser diárias para que gere motivação e conscientização no cidadão. Qualquer criança sabe que esse tipo de transporte não agride o meio ambiente e é muito mais saudável e econômico do que aqueles que utilizam combustível fóssil.
Fica evidente, portanto, que as cidades cresceram em velocidade superior à capacidade de planejamento urbano e à oferta de transporte. Por isso, não é incomum ver carros de passeio com apenas o motorista e, no máximo, mais um passageiro, o que vem agravando os congestionamentos. Essa cena só mudará se tivermos transporte público de qualidade e em quantidade suficiente para atender à demanda.
Das 31 cidades analisadas pela pesquisa, São Paulo ocupa o penúltimo lugar no ranking da mobilidade urbana, ganhando apenas de Nairóbi (Quênia). Os primeiros lugares ficaram com Berlim (Alemanha), Auckland (Nova Zelândia), Moscou (Rússia), Nova Iorque (EUA) e Munique (Alemanha). Em outras palavras, o Brasil está muito mal posicionado nesse quesito.
Da mesma maneira que campanhas publicitárias foram exaustivamente veiculadas na imprensa e incentivaram a adoção consciente de práticas como reciclar, reutilizar, reaproveitar e reduzir, é preciso fazer o mesmo para a área de transporte. Um sistema multimodal, compartilhado e sustentável é a solução. Atualmente, é inconcebível falar em desenvolvimento sustentável sem levar em consideração que é necessário que cada habitante abra mão do seu próprio conforto em prol de um mundo menos poluído, barulhento, estressado e violento.
Não há alternativa: para uma mobilidade urbana eficaz, além da adoção de um plano de financiamento para a renovação da frota de ônibus e caminhões, e a consequente redução da emissão de gases poluentes, especialmente o CO², é necessária uma interação estruturada e conectada com os demais modais de transporte.
- Francisco Júnior é deputado federal pelo Partido Social Democrático de Goiás