Carlos Plácido Teixeira
Jornalista
Até 2030 serão vendidos 23 milhões de carros elétricos no mundo, 20 milhões a mais que em 2017. A projeção foi divulgada pela Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) como um alerta que reitera mais uma preocupação climática. A agência da Organização das Nações Unidas assinala que o mundo deve buscar meios para financiar o alto custo da bateria e em mitigar os efeitos sobre o meio ambiente de materiais utilizados na produção como lítio e cobalto. O crescimento na mineração de matérias-primas usadas para fabricar baterias de carros elétricos causa preocupações ambientais e sociais que devem ser tratadas com urgência.
Em todo o mundo, especialmente em países desenvolvidos, os consumidores compram, cada vez mais, carros elétricos. Segundo a Agência Internacional de Energia, as vendas destes veículos devem passar de 3 milhões, vendidos em 2017, para 23 milhões em 2030. As baterias recarregáveis devem ter um crescimento semelhante. As vendas de cátodo, que se encontra nas baterias de lítio, devem chegar a US$ 58 bilhões em 2024, bem acima dos US$ 7 bilhões de 2018.
Mostrar as contradições do processo de produção dos automóveis é um grande desafio a ser enfrentado por ambientalistas e pela sociedade. Ao contrário do que representantes da indústria disseminam, a sustentabilidade da alternativa é questionável. Reforçando a tese, a diretora de comércio internacional da Unctad, Pamela Coke-Hamilton, disse que “a maioria dos consumidores só conhece os aspectos positivos dos veículos elétricos porque a parte negativa do processo de produção não é visível.” Segundo ela, isso acontece porque a maioria dos consumidores vive em países industrializados, mas a maior parte das matérias-primas está concentrada em alguns países em desenvolvimento.
Impactos negativos
Mais da metade dos recursos de lítio do mundo, por exemplo, encontra-se nas salinas das regiões andinas da Argentina, da Bolívia e do Chile. A Unctad diz que a mineração desse metal já está causando dificuldades aos agricultores indígenas de quinoa e pastores de lhamas, que precisam competir com os mineradores por água numa das regiões mais secas do mundo. Algumas estimativas mostram que são necessários quase 2 milhões de litros de água para produzir uma tonelada de lítio.
No Salar de Atacama, no Chile, as atividades de mineração consumiram 65% da água disponível, causando esgotamento de mananciais subterrâneos, contaminação do solo e outras formas de degradação ambiental. Como resultado, as comunidades tiveram de abandonar assentamentos onde viviam há séculos. Segundo a pesquisa, à medida que a demanda por lítio cresce, os riscos ambientais também aumentam.
Outro elemento essencial, o cobalto tem quase 50% das reservas mundiais concentradas na República Democrática do Congo. O país é responsável por mais de dois terços da produção global do mineral. Cerca de 20% do cobalto vem de minas artesanais, onde 40 mil crianças trabalham em condições extremamente perigosas, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.
A poeira que resulta da escavação pode conter metais tóxicos, incluindo urânio, que causam problemas de saúde, como doenças respiratórias e defeitos congênitos. Os riscos ambientais são igualmente preocupantes. Estas minas podem conter minerais de enxofre, que geram ácido sulfúrico quando expostos ao ar e à água. Esse processo pode destruir rios e outros cursos de água por centenas de anos.
Os impactos ambientais da mineração de grafite são semelhantes. Cerca de 80% das reservas naturais deste material estão no Brasil, na China e na Turquia. O uso de explosivos pode gerar poeira e partículas finas na atmosfera, causando problemas de saúde nas comunidades próximas e contaminando os solos.
O relatório afirma que para reduzir esses impactos, é preciso investir mais em técnicas sustentáveis de mineração. E melhorar as tecnologias de reciclagem das matérias-primas usadas. A Unctad recomenda ainda que a indústria encontre formas de reduzir a necessidade de mineração. Um dos exemplos é o trabalho de cientistas que estão tentando substituir a grafite nas baterias por silício, um material muito mais abundante. Reduzir o uso destes minerais pode ainda baixar os preços para as baterias, o que tornará os carros elétricos uma melhor opção.
Em resumo