Nas Notas de Conjuntura: como a batalha discreta na sucessão do papa Francisco envolve causas muito mais mundanas do que cristãs. O jogo é geopolítico. A religião é apenas perfumaria

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro

Sucessão de Francisco: a batalha que impacta o futuro
O enterro do papa Francisco no sábado, dia 26 de abril, abriu a temporada de articulações que marcam efetivamente o processo de sucessão na liderança da Igreja Católica. Até o dia 7 de maio, data marcada para o início do Conclave, a reunião dos cardeais votantes, a cobertura da imprensa sobre o ambiente visível esconde a guerra nos bastidores das negociações. A batalha discreta de interesses envolve causas muito mais próximas de demandas mundanas do que cristãs. O jogo é geopolítico. A questão religiosa é apenas perfumaria.
A agenda divulga a realização de eventos oficiais em que os cardeais se encontram para conversas sobre a Igreja, seu relacionamento com o mundo, os desafios futuros e as qualidades esperadas do novo papa. Incluem temas sobre evangelização, as relações com outras religiões e até a questão dos abusos. Mas são as conversas em reuniões reservadas que, de fato, influenciam o ambiente após o fechamento à chave da Capela Sistina, onde os eleitores com menos de 80 anos de idade ficarão isolados do resto do mundo.
A fumaça branca vai revelar não só o “Habemus Papam” – temos o novo papa. O mundo saberá então de qual lado estará a instituição no jogo geopolítico global Se a prioridade será para a continuidade das ações adotadas por Jorge Mário Bogoglio, de questionamento das desigualdades. Ou o retorno dos conservadores, o grupo que apoia mantem o vínculo do catolicismo com interesses políticos econômico e sociais dos detentores do poder.
E daí: é a geopolítica, estúpido
Não é a importância de Francisco e de suas realizações e denúncias à frente da Igreja. Nem a fé religiosa. E muito menos o espírito de solidariedade. O que levou cerca de 200 líderes de países de vários continentes a Roma para as cerimônias de enterro foi a geopolítica. De outro modo, as guerras, o ódio às diferenças, a defesa de interesses, digamos, paralelos às demandas da maioria da população. Não foi por solidariedade aos que passam fome, de quem Francisco era porta-voz.
Nada mais simbólico do que a presença do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. É muito pouco provável que seja por desconhecimento de protocolos que o principal líder da direita global compareceu à cerimônia em um terno azul, mascando chicletes e conferindo mensagens no celular.
Para Trump, Milei, Georgia Meloni, Zelensky, entre outros membros do grupo, o momento marca a oportunidade de neutralizar a igreja progressista.
Influência da direita
Vicenç Lozano, jornalista e sociólogo, especialista em Vaticano, denuncia em seu livro, Vaticangate, a existência de uma “conspiração” para manipular a eleição do próximo papa que vai além da Santa Sé.
Matéria do site Brasil de Fato destaca que Lozano aponta “o epicentro da resistência ao papado de Bergoglio” nos Estados Unidos. Há, além do dinheiro, uma forte extrema direita católica e organizações ultraconservadoras como o Napa Institute, que reúne opositores conhecidos de Francisco, como o cardeal alemão Gerhard Müller, o arcebispo Samuel Aquila, de Denver, e o bispo Roberto Morlino, de Madison.
Tendências: conservadorismo tem a força
Profundo conhecedor das entranhas da igreja, frei Beto acredita que o próximo Papa tenda a ser de centro direita, refletindo uma postura entre mais moderada e conservadora. Não há possibilidade de ilusões. O cenário pode ser o oposto à opção radical pelos mais pobres, marginalizados e vulneráveis, adotada por Francisco. Ele foi, na Europa, em tempos recentes, a figura mais proeminente em defesa dos direitos humanos. Nenhum chefe de estado era uma figura tão respeitada quanto ele.
A substituição por um conservador elimina uma pedra no sapato da direita. Será uma autoridade a menos, com repercussão planetária, para questionar o genocídio, o crescimento da desigualdade social, a perseguição a migrantes e a defesa da inclusão de setores desempoderados.

MOVIMENTO DOS ATORES
60 anos de Globo: decadente, mas ainda poderosa
A rede Globo de televisão comemora, em abril, 60 anos. Como uma velha rainha de um país decadente, mas que se mantém como nobre, graças à fortuna resultante da exploração de seus súditos imbecilizados. Mesmo com queda de audiência, faz a cabeça de milhões de pessoas diariamente. Mas também colhe os efeitos da ignorância que plantou.
Neste período de décadas, a Globo realmente teve méritos em algumas produções, como no caso de novelas e séries especiais. E alguns poucos programas de conteúdo crítico, como os humorísticos apresentados em horário inadequado para a maioria das pessoas, exatamente para não serem vistos. Na média, foi responsável pela criação de um público alienado, incapaz de compreender o tamanho da manipulação realizada em toda a trajetória, desde quando recebeu o aval dos militares e dos Estados Unidos.
Quem soube ver, percebeu o apoio a alguns partidos e políticos, especialmente de direita, e a rejeição a outros, definidos como de esquerda. Acompanhou a edição criminosa de entrevistas, a defesa de interesses de grupos econômicos e a perseguição a personalidades contrárias aos seus credos liberais, como Leonel Brizola. Eventos registrados na história marcam a trajetória de crimes da emissora. Mas a pior herança, a ignorância, foi o comportamento permanente, sutil, de manipulação. O verdadeiro padrão globo. As mensagens subliminares deram voz e força para os estúpidos.
10 exemplos de manipulação explícita de acontecimento em 60 anos, segundo estudiosos de comunicação e política:
- Apoio e benefício da ditadura militar de 1964, com a Globo usando a rede física criada pela ditadura para expandir seu monopólio e legitimar o regime.
- Manipulação da cobertura das Diretas Já em 1984, ocultando manifestações e distorcendo informações para favorecer o regime militar.
- Tentativa de manipulação na cobertura das eleições presidenciais de 1989, especialmente no debate entre Collor e Lula, com edição tendenciosa do Jornal Nacional.
- Censura interna de reportagens críticas a políticos aliados, como a não exibição de uma reportagem contra um candidato do PSDB em 1990.
- Cobertura parcial e tendenciosa nas eleições de 2006, prejudicando a campanha de Lula e censurando reportagens contra candidatos aliados da emissora.
- Manipulação da apuração eleitoral em 1982, com esquema para favorecer Wellington Moreira Franco contra Leonel Brizola, incluindo substituição fraudulenta de votos.
- Distorção da cobertura das manifestações de 2013, minimizando protestos contra o governo e exaltando manifestações favoráveis à elite.
- Influência na nomeação de ministros, antecipando e influenciando decisões políticas via cobertura jornalística.
- Cobertura das operações Mensalão e Lava Jato: manipulação e orientação política na cobertura jornalística para moldar a opinião pública conforme interesses da emissora e seus aliados.
- Reescrita da história para parecer vítima da ditadura, apesar de ter sido um dos principais apoiadores e beneficiários do regime autoritário.

TENDÊNCIAS
A estupidez não tem limites
O padrão globo dá origem nova tendência “bebês reborn”. São bonecas ultrarrealistas que imitam recém-nascidos. No YouTube, “mães” mostram encontros públicos de suas “
A onda ganhou destaque extra com um vídeo da influenciadora Carol Sweet. Ela simulando o “parto” de um bebê. A iniciativa viralizou nas redes sociais, ultrapassando 3,6 milhões de visualizações. Conhecida por seus conteúdos de relaxamento, Carol recriou um nascimento hiper-realista, com direito a bolsa amniótica cenográfica e cordão umbilical.
A precarização das relações de trabalho com apoio jurídico
O futuro da proteção trabalhista e da ordem constitucional democrática de 1988 está ameaçado pelo avanço da pejotização com a condescendência do Supremo Tribunal Federal. Com apoio explícito do ministro e empresário Gilmar Mendes, o STF discute a flexibilização de direitos dos trabalhadores. A intervenção prevê, inclusive, a possibilidade de se retirar da Justiça do Trabalho a competência para analisar e julgar casos envolvendo contratações precárias e a transferência dos julgamentos para a Justiça Comum
Essa prática, muitas vezes, disfarça a relação de emprego, com o trabalhador abrindo uma empresa (geralmente com CNPJ) para prestar serviços a uma única contratante, mantendo a mesma dinâmica de trabalho e subordinação de um empregado CLT.
Os sindicatos definem a pejotização como uma fraude trabalhista reiterada na atualidade, travestida de modernização, defendida por grandes grupos econômicos, cujas decisões poderiam prevalecer sobre direitos sociais constitucionalmente garantidos e sobre as leis trabalhistas em vigor no país.
- Segundo dados do Dieese e do Ipea, a pejotização nos últimos anos cresceu de 8,5% em 2015 para 14,1% em 2023.
- As estimativas apontam para a existência de cerca de 18 milhões de pessoas pejotizadas no Brasil, considerando os milhões de MEIs ativos e outras formas de atuação com CNPJ, muitas vezes inseridos em vínculos de dependência que ocultam relações empregatícias.
Dissonância cognitiva
Dois trabalhadores domésticos foram resgatados em Planura (MG), região do triângulo mineiro, onde viviam em condições análogas à escravidão. As duas vítimas foram atraídas através do Facebook e do Instagram e no local estiveram submetidas a torturas, abusos sexuais e violência.
Um deles teve o corpo tatuado com a inicial “AJ”, indicando as iniciais de dois dos três patrões, como forma de demonstrar que a vítima era uma propriedade.





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