Nas Notas de Conjuntura, as notícias da semana, quando a tragédia no Rio Grande do Sul predominou, destacam a explosão de fakenews como método destinado a acirrar o ódio e a radicalização. E mais
CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro
ACONTECIMENTOS & TENDÊNCIAS
Acompanhamento realizado pela USP aponta que número de fake news cresceu quatro vezes nas redes sociais nos últimos dias. As mentiras espalhadas atuam em três eixos principais com ataques ao governo, a instituições públicas e promoção do pânico moral e econômico.
O governo nada faz, civil salva civil” é o primeiro argumento utilizado pelos produtores e disseminadores das notícias falsas. No segundo eixo, “o estado atrapalha”, um dos alvos é o Exército, como uma vingança da direita contra a força armada, que não levou adiante o golpe para impedir a posse de Lula em 2023. O terceiro eixo, utiliza a possibilidade de desabastecimento de produtos para estimular corridas a supermercados e forçar aumento de preços, o que já foi negado pelo Ministério da Agricultura.
E daí
O comportamento da “fábrica de fake news” reforça os argumentos a favor das propostas de regulamentação das redes sociais, das empresas de tecnologia e da mídia corporativa.
Usuários do X/Twitter apontam restrições a quem denuncia manipulações, ao mesmo tempo em que dá liberdade absoluta para “influenciadores” que propagam falsidades. Com o intuito de criar um sensacionalismo barato, um programa do SBT produziu matéria afirmando que caminhões levando doações ao RS estavam sendo parados e multados. As informações foram contestadas por outras emissoras que têm jornalismo, pela ANTT e pelo governo federal. E a matéria “sumiu” dos sites do SBT.
Paulo Pimenta
Ministro das Secretaria de Comunicação
do Governo, ao comentar fake news
publicado pelo jornal Folha de S. Paulo
“Estamos enfrentando um esquema profissional de desinformação”
Tendências
A possibilidade de definição de regras para o funcionamento das redes sociais e das mídias digitais e tradicionais tende a ser pequena. O comportamento de influenciadores, de representantes de setores econômicos dominantes e de grupos políticos diante do fenômeno climático extremo no Rio Grande do Sul revela o tamanho do desafio a ser enfrentado por quem pretende construir uma sociedade minimamente civilizada. O cenário da produção de fake news é, em síntese, a vitrine do comportamento dos grupos extremistas nos próximos anos.
Movimento dos atores
Sionismo – Senadores dos EUA, em comportamento tipicamente mafioso, encaminharam carta ao Tribunal Penal Internacional com ameaças por conta da possibilidade de condenação de Israel por crimes de guerra.
- Depois da Alemanha, a França nega entrada a médico britânico que falaria sobre Gaza
- Congresso sobre a Palestina em Berlim é impedido por milhares de policiais
Extrema-direita – Milei cancela sinal da Telesur na Argentina: ‘Grave atentado ao direito à informação’. Depois de fechar a agência pública de notícias Télam, governo o ultraliberal ataca iniciativa latino-americana de comunicação
Imprensa – A mídia empresarial manipula interna e externamente. Na cobertura da tragédia do Rio Grande do Sul, explora os dramas, mas esconde responsabilidades. O Jornal Nacional ameniza as ações de Israel em Rafah, onde segue o massacre de palestinos, ao identificar o lugar como ‘o último refúgio dos terroristas do Hamas’.
- Estados Unidos usam inteligência artifical para vigiar fronteira com o México. O país anunciou exercício militar na Guiana e Venezuela responde: ‘É uma ameaça à paz regional’
Fenômenos climáticos
Apesar de tragédia climática no Rio Grande do Sul, projetos de destruição ambiental avançam no Congresso Nacional. Segundo um levantamento do Observatório do Clima, 25 projetos de lei e três emendas à Constituição avançam no Senado e na Câmara dos Deputados com propostas de flexibilização da proteção ao meio ambiente. Um dos projetos tem o objetivo de autorizar o desmatamento na Amazônia de uma área equivalente ao Estado do Rio Grande do Sul.
- Maioria de deputados do RS votou a favor de projetos que representam riscos ambientais
- ‘Pacote da destruição’ do meio ambiente tem três projetos de autoria de parlamentares do RS
- Senado adia votação que pode reduzir reservas de floresta em fazendas na Amazônia
- Após chuva no RS, ambientalistas criticam projetos e ‘negacionismo’ do Congresso
- Sem força no Congresso, governo assiste nova ‘boiada’ em regras ambientais
- Frente Ambientalista lista 40 projetos prioritários no Congresso diante de tragédia no RS
Seca no Pantanal – Relatório da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) apontou que a seca vivida nos últimos seis meses na região da bacia do Rio Paraguai, que banha o Pantanal, está afetando seu curso e pede que seja decretada a escassez hídrica na região, já que há possibilidade de prejuízos a navegação e também no abastecimento de Corumbá
- Desmatamento na Amazônia cai 21,8% e no Pantanal 9,2%. A redução no desmatamento ocorreu entre agosto de 2022 e julho de 2023, em comparação ao período anterior
Mar avança sobre cidades – Nível do mar no sul dos EUA tem aumento “alarmante”, diz jornal. Análise do “Washington Post” mostra que fenômeno climático extremo, como o que assola o Rio Grande do Sul, não é um caso isolado. Nos EUA, há risco em cidades costeiras de oito Estados (Poder 360).
- Tailândia registra 61 mortes por calor extremo em 2024
- Temperaturas recordes na Colômbia racham geleira
A tragédia das chuvas no Sul do País tem força de demonstração, até para os pessimistas, de uma face do Brasil onde há sinais de solidariedade e humanismo. Pelo menos em tese, é um País real, capaz de mobilizar a sociedade e as instituições de governo para salvar vidas em risco. Mas, sempre há possibilidades de engano ou erros de avaliação. Os mesmos pessimistas têm motivos de sobra para ter dúvidas sobre os efeitos do embate entre civilização e barbárie. Basta exemplificar com o caso de médicos que, no atual cenário de crise humanitária, serão investigados por disseminar fake news à respeito da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Alimentos que matam — O consumo excessivo de ultraprocessados resulta em 57 mil mortes prematuras por ano. A obesidade por má alimentação custa R$ 1,5 bi por ano ao SUS. Se nada mudar, gastos vão representar 3% do PIB até 2060
Explosão da dengue –– Em 24 horas, Brasil registra mais de 34 mil casos prováveis de dengue. Desde janeiro, 2.409 pessoas morreram de dengue no país. Nove Estados e o Distrito Federal (DF) já decretaram situação de emergência por causa da doença
- População quilombola tem perfil jovem e majoritariamente masculino
Segurança pública
A Procuradoria-Geral da República (PGR), em denúncia apresentada contra os irmãos Brazão ao Supremo Tribunal Federal (STF), concluiu que o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018, ocorreu para proteger os interesses econômicos da milícia.
- Polícia apura fala de pastor que disse ter beijado a filha na boca
- Pastor admite em vídeo ter abusado sexualmente de menina para a própria mãe
Cenário global
Com a extrema direita representando a segunda força política em mais de um terço dos países do bloco, ao que tudo indica, a Europa deve tomar rumos cada vez mais nacionalistas e populistas. A expectativa é revelada pela imprensa francesa que, com a proximidade das eleições europeias, avalia o cenário político do presente na tentativa de prever o futuro plenário do Parlamento Europeu, sediado em Estrasburgo. Entre os dias 6 e 9 de junho, ocorrerá o maior pleito transfronteiriço do mundo para o qual 400 milhões de eleitores estão inscritos.
- Disputa entre França e Itália pode tirar Mona Lisa do Museu do Louvre
Ambiente econômico
A redução dos juros da Selic, decidida pelo Banco Central durante a semana, ficou abaixo do que a queda dos meses anteiores, apesar de o país estar com uma inflação abaixo de 4% e com projeções inflacionárias estarem muito perto da meta. A decisão reforçou o caráter político das decisões e a impossibilidade de um “banco independente”. Os indicados pelo presidente Lula votaram a favor de um corte maior de juros. Os indicados por Bolsonaro reduziram o tamanho do corte.
Redução dos juros — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,50% ao ano.
Desoneração continua – Diante de derrota junto ao Congresso Nacional, o governo federal recuou e aceitou manter a desoneração da folha para 17 setores intensivos de mão de obra.
Garantia de abastecimento – Enquanto supermercados racionam venda de arroz, feijão, leite e óleo de soja por causa de enchente no RS, Associações dizem que estoque de arroz para o Brasil está garantido. Com as enchentes no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional, governo federal autorizou a importação do grão para evitar a especulação de preços.
Detergente contaminado — A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), determinou a retirada das prateleiras de todos os supermercados do país de lotes dos detergentes Ypê após identificar, em análise, um “potencial risco de contaminação microbiológica”.
Alívio na economia europeia — A zona do euro saiu da recessão no primeiro trimestre do ano com um crescimento mais robusto do que o esperado, e conseguiu manter a inflação sob controle, que poderão levar o Banco Central Europeu (BCE) a reduzir as taxas em junho.
Ambiente político-jurídico
“É preciso sim buscar os culpados pela tragédia”. Para ambientalistas e cientistas políticos, não há qualquer dúvida sobre a relevância de discutir o contexto da crise no Rio Grande do Sul. A emergência exige, de fato, que vidas sejam salvas. “Mas é impossível fugir da responsabilização”, avaliam, diante das evidências de falhas que foram cometidas pelos administradores públicos. As chuvas, que começaram no dia 29 de abril, foram previstas por institutos de meteorologia com pelo menos uma semana de antecedência. Mas os estragos já vinham sendo feitos há muito tempo, com ataques permanentes aos temas e infraestrutura de proteção ambiental.
- Terra de Arthur Lira ficou com dois terços de verba específica para prevenção de tragédias geradas por enchentes
Aprovação do governo — Uma nova rodada da pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira, dia 8, mostra que 50% dos brasileiros aprovam o trabalho do presidente Lula (PT), enquanto 47% que desaprovam, o que configura um empate técnico entre os dois grupos.
Mais do mesmo — O ex-presidente Jair Bolsonaro debochou de gaúchos ao dizer que “problematização climática é desinformação”. Internado, ele usou as redes para afirmar que a questão do clima é usada por governos para tornar as pessoas dependentes do Estado
. TSE marca as datas para o julgamento de Sergio Moro
Ambiente geopolítico
Ao participar nesta sexta-feira (10), em Joanesburgo, da primeira Conferência Global Anti-Apartheid pela Palestina, Naledi Pandor, chanceler da África do Sul, defendeu de forma contundente a necessidade de ações no âmbito do Direito internacional para responsabilizar Israel por crimes contra a humanidade praticados em Gaza. “Nunca foi tão urgente que a comunidade intenacional se mobilize em um esforço coletivo para pressionar pelo fim imediato do genocídio em curso na Palestina e do sistema de apartheid imposto pelo Estado de Israel na região”, afirmou a ministra das Relações Exteriores e Cooperação. “As contínuas atrocidades cometidas por Israel exigem ampla mobilização de todas as forças progressistas do mundo pelo fim do colonialismo na Palestina”. (GGN)
Ocupação de Gaza
Mais de 100 mil palestinos deixam Rafah diante do avanço de tropas israelenses na Faixa de Gaza. Na terça-feira, dia 7, Rafah recebeu intensos bombardeios de Israel e a passagem que leva mantimentos foi fechada. Mesmo sem a perspectiva de fornecimento de armas dos Estados Unidos, o primeiro ministro Netanyaru vai continuar o massacre de palestinos na região.
- Manifestações de estudantes franceses a favor dos palestinos vão continuar até que Governo ouça estudantes sobre este conflito
Assembleia Geral da ONU concede novos direitos à Palestina – Antes da votação, EUA anunciaram que iriam votar contra a resolução, tendo instado os restantes estados-membros a fazerem o mesmo.
Dia da Vitória — Putin diz que Rússia ‘fará tudo para evitar um confronto global’, mas não permitirá ameaças. O tradicional discurso de Putin tem críticas ao Ocidente e paralelos entre a Segunda Guerra Mundial e a guerra da Ucrânia
Ambiente tecnológico
A década que viu nascer a Inteligência Articial mostrou como uma tragédia ambiental de amplas proporções pode receber ajuda das novas tecnologias. No Rio Grande do Sul, iniciativas digitais estão usando gigantescas bases de dados e Inteligência Artificial para cruzar informações, encontrar vítimas e animais. (GGN)
Cidades-esponja — Inundações em áreas urbanas despertaram o interesse pelas chamadas “cidades-esponja”, uma abordagem ampla para a mitigação de enchentes urbanas que utiliza projetos inovadores de paisagismo e drenagem para reduzir e retardar o escoamento, permitindo que certas partes da cidade sejam inundadas com segurança durante condições climáticas extremas. As técnicas da cidade-esponja diferem de outras abordagens de gerenciamento de águas pluviais porque são dimensionadas para tempestades muito maiores e precisam ser aplicadas em quase todas as superfícies urbanas. (GGN)
- Deficientes visuais e auditivos também poderão vibrar com as competições olímpicas
Contexto: indicadores essenciais
Cresce índice de brasileiros que acham que ação humana não é a única causa de tragédias naturais, aponta Quaest. Em meio a tragédia no Rio Grande do Sul, muitos internautas religiosos têm relacionado os eventos climáticos a ações sobrenaturais.
Segundo pesquisa do instituto Quaest, os eventos climáticos extremos, como as fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul, ainda não são vistos como consequência única da ação humana por 36% dos brasileiros.
- caiu de 73% para 58%, de dezembro pra cá, o percentual de entrevistados que acham que as mudanças climáticas estão acontecendo por causa da ação humana
- 27% dizem que a ação humana é um fator, mas existem “outros motivos”
- 9% se mostram convictos de que a ação humana não tem nenhuma responsabilidade sobre o cenário
- o perfil dos entrevistados no levantamento, soma uma maioria cristã – com 59% de católicos e 34% de evangélicos.
Violência policial – A polícia do Reino Unido matou três pessoas em 2023, e duas em 2022. Com uma população de 66 milhões. Só a polícia militar de SP matou 211 pessoas apenas no 1º trimestre de 2024. Nessa média, seriam 844 no ano. População de 44 milhões. (Gabriel Feltran /XTwuitter)
Fontes: Notas de Conjuntura
Valor, O Globo, Congresso em Foco, Correio Sabiá, BBC Brasil, Revista Fórum, Forbes, O Dia, Brasil 247, Brasil de Fato, GGN, TVT, ICL Notícias, Google Notícias, Notícias Bing, AlJazeera, Rádio França Internacional
Em resumo