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Riscos no caminho da profissionalização

O mercado de estágios se adapta a um cenários de múltiplas transformações, determinadas, em parte, pelo baixo crescimento das economias
O mercado de estágios se adapta a um cenários de múltiplas transformações, determinadas, em parte, pelo baixo crescimento das economias

Radar do Futuro

Mudanças na dinâmica do mercado de trabalho, crises globais e no mercado interno e uma nova geração que começa a buscar oportunidades profissionais. Estas são as três forças centrais do futuro, de curtíssimo a curto prazos, do segmento de estágios. O mercado, em todos os sentidos, vai se ajustar a um cenário de múltiplas transformações, determinadas tanto pelo baixo crescimento das economias, o que muda o perfil do setor produtivo, até a entrada em campo dos novos candidatos a trabalhadores, definidos como integrantes da geração do milênio ou “geração z”, que inclui os nascidos a partir de 1990.

As crises econômica e política, vividas pelo Brasil vão se estender pelos próximos anos, criando um “novo normal” que afetará necessariamente o futuro de curtíssimo prazo do mercado de estágios, que abrange estudantes de nível superior e técnico e médio, escolas e organizações privadas e públicas. , que hoje tem oferta de um milhão de vagas, somando 740 mil para estudantes de nível superior e 260 mil dos ensinos médio e técnico.

Independente de mudanças de comando no governo federal, é certo que a política restritiva vai se expandir, como uma tentativa de ampliar o controle sobre as contas públicas, tendo como pano de fundo o controle da inflação. Com a economia andando lentamente, ou até mesmo mantendo o ritmo de perda de dinamismo, os efeitos serão sentidos em todos os polos da cadeia de valor do mercado de estágios. O que vai exigir de instituições que atuam na intermediação dos atores a revisão de estratégias de atuação.

CARACTERIZAÇÃO

Desde a primeira regulamentação, na década de 1970, o mercado de estágios evoluiu como alternativa para o sistema produtivo. Resolveu as principais vulnerabilidades da legislação, instituindo carga horária máxima de 36 horas semanais, seis horas diárias, estabeleceu a obrigatoriedade da bolsa-auxílio e criou regras de proporcionalidade de estagiários em relação ao número de funcionários (válido somente para o ensino médio, 20% de estagiários em relação ao número de funcionários.

A legislação atual permite que profissionais liberais contratem estagiários.

Áreas mais demandadas

Depende do tamanho das empresas e seus segmentos de atuação. O comércio e pequenas empresas contratam mais estagiários do ensino médio, já empresas de maior porte ou de áreas especializadas contratam mais dos cursos técnicos e de graduação.

O curso de administração, por ser bem genérico, é o que oferece maior número de vagas. Cursos como Comércio Exterior e Secretariado são os que sobram vagas, por falta de candidatos.

As funções são auxiliares, mas o estagiário pode ser promovido dentro do estágio, com graus de complexidade aumentando de acordo com sua evolução escolar e no próprio estágio.

Como se dá a política de incentivos e estímulo para a formação de profissionais mais capacitados?
Depende de cada empresa. Mas a regra geral é de não ter esta preocupação. Quanto aos benefícios é comum a empresas estender o que é ofertado aos funcionários aos estagiários, cesta básica, plano de saúde, etc. Mas não é obrigatório. O vale transporte o é e sem o desconto de seis por cento.

Devido às falhas da legislação ainda há muitas práticas abusivas, como o pagamento de bolsas muito baixas, o que é mais comum em épocas de desemprego.

Quais as carências mais reclamadas atualmente pelos potenciais contratantes?

Falta de interesse dos estudantes em levar o estágio além do ganho financeiro; despreparo das escolas para aspectos inerentes à formação, por exemplo, um estudante de arquitetura ou engenharia não aprender o software CAD na faculdade.

Muitos não conhecem esta ferramenta inerente ao curso, o que se aplica às áreas de design com os aplicativos Adobe (dona do Auto Cad, Photoshop e outros aplicativos destinados às criação gráfica e industrial), estes cursos são caros e muitos estudantes perdem oportunidades de estágio devido a esta falta.

Também há grande descompasso entre a realidade dos cursos e o mercado, que está sempre à frente, com viés maior para as áreas de tecnologia.

CONTEXTO

Em setembro de 2015, o comportamento do segmento parecia contrastar com o restante do sentimento que parecia contagiar o mercado brasileiro. Apesar do desânimo do cenário econômico, sites de ofertas de emprego garantiam ter registrado aumento surpreendente da demanda por estagiários. Matéria publicada pela versão brasileria do site da BBC, em 23 de julho, anunciava que o número de vagas de estágio anunciadas pela empresa de recrutamento Catho, nos primeiros cinco meses deste ano, teria passado de 30.382 para 41.215 – um aumento de 35,6%.

“No mesmo período, a abertura de vagas na economia caiu 14,2% segundo cálculos de Raone Costa, economista da Catho-Fipe”, ponderava o texto da matéria. Há controvérsias sobre os motivos do comportamento do mercado. Para Costa, da Catho-Fipe, a maior procura por estagiários faz parte de uma tendência mais ampla no mercado de trabalho ditada pelo imperativo do achatamento dos salários e o consequente achatamento dos salários.

As divergências “Os diretores estão sendo substituídos por gerentes, ou diretores que ganham menos, por exemplo”, diz Raone Costa na matéria da BBC. “No geral, não acho que as empresas estejam demitindo profissionais efetivos para contratar estagiários – até porque há regras sobre o programa de estágio que impedem essa substituição. Essa seria uma visão muito simplista. Mas, de fato, há uma tendência geral para a contratação de pessoas com salários mais baixos que parece estar favorecendo a entrada de estagiários nas empresas.”

Os recrutadores negam que a crise aumente o risco que os estagiários sejam usados pelas empresas como mão de obra barata. “É claro que pode haver abusos em casos específicos, de empresários ‘malandros’. Mas no geral as empresas sabem que estagiário não é mão de obra barata. Há uma lei sobre o tema que garante que o estagiário está lá para aprender, tem uma carga horária reduzida e precisa de um acompanhamento. Não dá para colocar um estudante de direito no telemarketing, por exemplo”, diz Eraldo Vieira, especialista em recrutamento e seleção da Webestágio.

“Na realidade, mesmo com a crise temos um aumento do investimento e da qualidade (dos programas de estágio), do desenvolvimento e acompanhamento destes estagiários”, concorda Esteves. “Nas empresas que desenvolvem esses programas estruturados, o estagiário está longe de ser mão de obra barata”, defende.

Desemprego de jovens

A abertura de oportunidades para os jovens faz parte da lista atual de preocupações de autoridades globais, debruçadas em análises sobre o futuro do mercado de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em especial, reflete a preocupação com as projeções de aumento do desemprego na faixa de idade. Hoje, segundo a entidade, há 75 milhões de jovens desempregados. E as perspectivas são de crescimento nos próximos anos. No mundo, a desocupação é mais que o dobro em relação aos outros segmentos em idade ativa.

Para Vinícius Pinheiro, diretor adjunto da OIT, o desemprego entre jovens pode representar a perda de uma geração. “Eles representam não somente uma perda econômica, mas uma perda política”, defende o executivo. A Organização Internacional do Trabalho reconhece em suas publicações digitais que “esses jovens que estão sem trabalho ou estudo estão mais insatisfeitos com sua sociedade do que seus colegas que estão em um trabalho ou no sistema educacional”.

Automação: extinção de de funções cobra constante aprendizado na operação de equipamentos e novos procedimentos

FATORES-CHAVE

  • Baixo crescimento das economias global e nacional
  • Desregulamentação da economia
  • Desemprego entre jovens
  • Desemprego geral
  • Automação: extinção de funções exige constante aprendizado na operação de equipamentos e novos procedimentos

 

 

Em números

740 mil no ensino superior
260 mil no ensino médio e técnico

O maior número de vagas oferecidas é para estudantes de

    • Administração (16,8%)
    • Direito (7,3%)
    • Comunicação Social (6,2%)
    • Informática (5,2%)
    • Engenharias (5,1%)
    • Pedagogia (4,2%)

Carreiras em que faltam candidatos:

  • Engenharia
  • Estatística
  • Matemática
  • Biblioteconomia
  • Química
  • Secretariado Executivo

São casos em que as empresas oferecem bolsa-auxílio mais alta.

LEGISLAÇÃO

A Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, foi a primeira a regulamentar a atividade de estágio Brasil. A lei tinha vários pontos fracos, como não definir a carga horária, nem estabelecer a obrigatoriedade do pagamento de bolsa-auxilio. Com isso muitas empresas utilizavam-se de artifícios para contratar estagiários com 8 horas diárias e bolsas irrisórias.

O Decreto nº 87.497, de 18 de agosto de 1982, incluiu o ensino médio na regulamentação do estágio “de natureza sócio-educativo”.

A Lei nº 11.788/08, a chamada Lei do Estágio, mantém a característica do estágio como atividade sem vínculo empregatício e a necessidade do auxílio dos agentes de integração.

 

 

 

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