Em mais três a cinco anos, um usuário de transporte público de qualquer cidade, ao entrar em um ônibus, é imediatamente identificado. O reconhecimento vai resultar na cobrança da passagem, sem a necessidade de utilização de cartão ou a entrega de dinheiro para um trocador, que nem vai estar lá, por sinal. Sensores de reconhecimento facial e internet em todas as coisas — ubíqua — serão o suficiente para que o sistema faça o débito automático na conta dele. Pelo fone de ouvido, ele receberá um aviso do momento de desembarque.
O cidadão terá acesso, nesse futuro muito breve, a facilidades que parecem pouco prováveis no momento. Como a possibilidade de programar, ainda em casa, a utilização de várias modalidades para os deslocamentos, não só na cidade onde reside ou trabalha, ou em caso de viagens nacionais e internacionais. Se condições ideais de temperatura e pressão sociais e mercadológicas ocorrerem, os passageiros terão mais conforto, agilidade e segurança para no uso do transporte.
Os passos para a viabilização do cenário futurista estão, hoje, em fase de implantação acelerada, graças à maturidade das tecnologias. Para que as inovações sejam viabilizadas, transportadoras e fornecedores investem na evolução de recursos de inteligência artificial, da internet das coisas, da velocidade das redes e big data. Nos próximos anos, as inovações vão viabilizar a adoção dos novos sistemas de pagamento e a integração de modalidades, para que o uso de ônibus e metrô passem a ter maior utilização pela população das cidades.
Até mesmo em soluções de transporte coletivo sob demanda. O itinerário alterado para buscar e levar o passageiro. Em Goiânia está em desenvolvimento, hoje, um projeto-piloto com a utilização de 14 micro-ônibus. O passageiro faz solicitação e o aplicativo faz o levantamento e traça roteiro. O sistema utiliza a inteligência artificial, aprendizado de máquinas, big data e internet das coisas para buscar e deixar o passageiro de uma forma mais facilitada.
Fatores críticos
“Pagamento é fator crítico de sucesso do futuro do transporte público”, resume Romano Garcia, diretor comercial da Empresa 1. A desmaterialização do dinheiro já está a caminho. No desenvolvimento de sistemas voltados ao setor, a companhia brasileira foi adquirida pelo grupo canadense Volaris que, no Brasil, tende a fortalecer as iniciativas de modernização do sistema, em processo de transição para um novo cenário. As apostas incluem a disseminação do ABT Tiquete, sistema de tarifação eletrônica baseado em conta sem uso de cartões, e a Mobilidade como um serviço (MAAS, da sigla em inglês), um\ assinatura que possibilita configurar o pacote de mobilidade como um serviço.
Controles de acesso e de contas, aplicativos sob demanda, conexão entre modais fazem parte de um quadro em que as tecnologias já existem várias iniciativas em andamento. “Depende de muita interoperabilidade entre sistemas, define Romano Garcia”. O esforço de compradores e fornecedores de soluções envolve a padronização de sistemas de transporte, o que inclui até mesmo a integração com estacionamentos.
“A disruptura chegou”, garante Garcia. A maturidade de tecnologias é o fator determinante para explicar a aceleração de projetos tecnológicos no setor. Cidades como Salto e Sorocaba, no interior de São Paulo, têm iniciativas pioneiras de eliminação uso de tarifação com o uso de cartões, que agilizam a vida dos usuários. A diferença agora é que tecnologias, como a inteligência artificial, assegura avanços importantes. “Nos próximos cinco anos, os pagamentos serão facilitados, todo integrados, com diversas opções de forma de deslocar, sem dinheiro”, reforça o executivo da Empresa 1.
Cenários desafiantes
Atrair usuários de volta ao o transporte público no Brasil é o maior desafio do setor que, nas últimas décadas, vem perdendo continuamente passageiros e receitas para outras modalidades de transporte, inclusive individual. Segundo o relatório 2017/2018 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o sistema público teve uma perda diária de 3,6 milhões de passageiros em 2017. Uma redução média da demanda de 9,5% com relação ao ano anterior.
Nas últimas décadas, o transporte público deixou de ser um negócio restrito a ônibus e táxis. “Há dois anos, não se imaginava a micromobilidade, representada pelas bicicletas compartilhadas e pelas patinetes”, ressalta Romano Garcia. Na Copa das Confederações, em 2013, motoristas de táxis acreditavam que um negócio chamado Uber jamais chegaria ao Brasil. O setor entende que está mais complexo. E que precisa olhar para soluções como o Intelligent Transportation Systems, que monitora em tempo real tudo o que acontece no sistema de ônibus de uma cidade.
As empresas do setor estão de olho no público de jovens. Não só pelas facilidades da geração nascida e crescida com a internet. Mas também por mudanças de hábitos. O executivo da Empresa 1 destaca as pesquisas que garantem a abertura das gerações para as novidades. Elas têm um papel importante no fato de que todas as grandes cidades aderiram em massa à micromobilidade, que define as formas de deslocamentos mais curtos, que tem a ver com a última milha do transporte. Além disso, é uma geração que tende a mostrar desinteresse pelos carros.
Em resumo